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História Lobisomem: Os Destituídos - S01EP04 - Fama


Escrita por: Malk_

Notas do Autor


Neste capítulo, vamos conhecer um pouco mais da nova figura: Hazel Storm..

Capítulo 4 - S01EP04 - Fama


           Nova York, 18 de Julho de 2015.
                     Irmandade Zeta. – Campus Columbia. – 00:30.

Hazel saiu do Rockfeller Center e foi de encontro à Camila, melhor amiga e colega de quarto. As universitárias combinaram de fazer companhia uma a outra numa calourada perto do campus.

A noite tinha ganhado contornos de madrugada quando o Ford Fusion vermelho estacionou em frente ao local marcado. Uma casa transformada em irmandade comandada por alunos de Matemática. Muitos homens, poucas mulheres. Copos de plástico espalhados pela grama e música alta.

A ativista desceu e percorreu os metros até a festa acompanhada. Um vira-lata que mexia no lixo de uma casa vizinha grudou como se fosse seu guarda-costas particular. Pouco depois, outro cão com curiosidade no olhar se aproximou. Hazel achou graça nos vira-latas e até pensou em fazer carinho, mas vai saber quando haviam tomado banho, sem contar as pulgas, carrapatos e.. Não. Eles só não seguiram Hazel até o interior da residência porque uns bêbados baderneiros arremessaram pedras e cerveja contra os animais.

Camila estava na varanda quando avistou a amiga. Batendo palminhas de entusiasmo, largou a rodinha em que estava e foi ao encontro. Os cabelos negros da brasileira em intercâmbio realçavam seus olhos esverdeados. Um conjunto que encaixava mais que bem no corpo bem desenhado e no sorriso receptivo.

Os passos foram acelerados. Chocou o corpo no da amiga com força, não conseguiu segurar. — Hazel! Eu vi tudo! Acabou com o babaca ao vivo! Estamos todos comentando sobre isso na festa. — Havia brilho nos olhos. Embora não fosse parente, a filha do casal de famosos era alguém especial por tudo que representava sendo quem era.

Assim que viu Camila, Hazel abriu um enorme sorriso. — Hey! — Cumprimentou animada. — Você viu? Nossa, eu queria dar um soco na cara dele! — A garota então soltou uma risadinha. — Mas estou satisfeita com o resultado! — Hazel olhou por cima do ombro da amiga em direção à festa e então voltou-se para a morena. — Uh... Como estou?

— Diva como sempre! — A brasileira respondeu depois de dar uma boa olhada que, na verdade, era o mesmo que nada olhar. — Vem, vamos entrar. Tem uns rapazes legais aqui hoje. — Enlaçou o braço no da amiga arrastando-a para dentro. — Sua mãe ligou? Ela deve estar eufórica também, né? Sempre te quis na TV.

— Não assim, não por isso... Ela deve se sentir envergonhada e humilhada por me ver defendendo “os gordos” na TV. — Seu tom evidenciava a revolta pela falta de suporte familiar, mas logo a garota suspirou e balançou a cabeça. Lola adoraria se Hazel tivesse o corpo de Camila, mas ela não tinha e estava bem com isso agora. De verdade. Nem tinha mais tantos problemas com rapazes. — Mas não vamos falar de coisas ruins! Afinal, é uma festa e quero me divertir!

As amigas invadiram a sala transformada em pista de dança. O cheiro de fumaça e o melado de cerveja não demoraram a colar nos corpos. Ambas sorriam com sinceridade. Gritar para conseguir ser ouvida era um dos poucos problemas. Hazel quase teve torcicolo de tanto acenar com a cabeça. Filha de famosos e símbolo do ativismo contra a Ditadura da Beleza, a garota era conhecida. Boa parte dos presentes só queria cumprimentar para chegar em casa se gabando de conhecer alguém que normalmente é visto em revista e televisão.

As músicas foram tocadas sem parar, e com o avançar das horas a festa tornou-se algo mais libidinoso. Drogas eram vistas aqui e acolá e o movimento de jovens subindo e descendo as escadas na direção dos quartos aumentou muito. Os mais apressadinhos sequer esperaram a vez de usar os cômodos. Uma boa olhada bastava para ver os esfregões e um pouco mais pela casa.

Hazel e Camila quicavam na fila do banheiro quando uma voz masculina se fez presente. Seu dono era moreno, alto e estampava olhos verdes como esmeraldas. O perfume agradava o olfato e tinha trejeitos de homem, não de adolescente recém-aprovado no vestibular.

— Boa noite, senhoritas. — Usou o plural por educação. Deixou claro que seu olhar tinha dona: Hazel. — Vi você na NBC hoje. Parabéns. — Sorriu convidativo. Arriscou e esticou a mão para um cumprimento. — Meu nome é Steve Blake.

Em geral, Hazel tentava ser gentil e simpática com todos. Por sua posição era preciso, até para manter o favor público sempre consigo. Claro que às vezes enchia o saco, mas era mais fácil de lidar com isso em uma festa. Todos querem ser o centro das atenções numa festa. “Uma pena que isso não me dê passagem VIP na fila do banheiro.” Pensou de maneira um tanto quanto impaciente quando foram interpeladas por um garoto. “Opa! Garoto não... Não mesmo. Wow, de onde esse cara saiu?” — Obrigada e muito prazer... — Respondeu sorrindo e apertando a mão do rapaz.

— Oi. Boa noite. — “Alguém me segura. Que pedaço de homem”. Olhava o sujeito de cima a baixo perdida em vontades que teria vergonha em revelar. — Camila, prazer. Muito prazer.

Steve cumprimentou as duas com a maior educação possível. Sentir as mãos quentes em sua pele era orgástico. Quando as largou, afastou um pouco respeito o espaço individual. Assisti-las balançando sugeriu uma abertura para quebrar o gelo. — Por que vocês demoram tanto no banheiro? A fila feminina sempre é mais demorada. — O tom era divertido, uma provocação bem humorada.

A mão do moreno era fria como vento ártico. Não incomodava, pelo contrário. Dava vontade de seguir apertando por mais tempo. O bonitão era luxúria em forma de gente. Educado, voz gostosa e se lembrava de ser cavalheiro ao seu jeito, sem cafonice.

“Depois de ver esse cara tenho uma ideia do porquê demoram tanto no banheiro feminino.” Hazel pensou, mas ao invés disso, apenas soltou uma risadinha. — Me empresta o seu celular? — Perguntou ainda sorrindo e se forçando a soltar a mão dele, não queria bancar a esquisitona.

A pergunta pegou Blake de surpresa. — Claro. — Pegou o aparelho no bolso e o ofereceu à garota. Olhou para Camila e contorceu os ombros numa fala sem voz: “O que ela quer com isso? Está entendendo?”

Camila devolveu seu melhor sorriso para o aceno do rapaz. “Gente, que calor. Até a ingenuidade dele é charmosa”. Enfiou os dedos no cabelo e começou a enrolá-los.

Ser humilhada a vida inteira por diferentes tipos de pessoas faz com que a vítima siga por dois possíveis caminhos: o primeiro é o que ela se torna tímida e introvertida, o segundo era o que ela se tornava cara-de-pau. Hazel passara a maior parte de sua vida no primeiro caminho, mas já fazia algum tempo que caminho no segundo e era muito mais feliz assim. Digitou algo e entrou o aparelho ao rapaz. — Meu número, se por um acaso desvendar o mistério por trás dessa demora no banheiro feminino não deixe de me ligar. Eu adoraria saber.

— Ei! Anota o meu também! — A brasileira deu um gritinho sem constrangimento. — Pode me ligar até se não desvendar. — “Ok. Vai me achar oferecida, sou mesmo. Foda-se! Se der certo, ótimo. Se der errado, depois eu culpo o álcool”. — Pode ser?

— Vou te mandar uma mensagem para confirmar. — Steve comentou com Hazel. Olhou o visor e disparou o texto. — Acho que deu certo. — Olhou com surpresa para Camila. Abriu um sorriso e respondeu. — Claro. Pode falar. Vai ser um prazer, desvendando ou não. — Brincou.

— O número é 920-618-5813. — Camila aguardou Steve registrar. Quando o viu guardando o celular, seguiu puxando assunto. — Ei. Nunca te vi no campus. Tenho certeza. Você não é dessas imagens que passam despercebidas, sabe? — Riu baixinho.

— Não sou estudante. Formei há dois anos. Sou especialistas em toxinas. Ambulatório era muito chato.

Hazel respondeu a mensagem com uma carinha piscando para o rapaz. Àquela altura já perdera toda e qualquer esperança de que ele fosse se interessar por ela. Não quando sua amiga magra e bonita estava jogando todas as suas cartas de maneira desesperada. Ciente da derrota a garota apenas virou para frente e se focou na filha do banheiro para deixá-los “a sós”.

Steve sentiu desconforto com a frieza apresentada por Hazel quando Camila aumentou suas investidas. O moreno seguiu com sua educação e elegância. A prosa dos dois durou mais alguns minutos até que a vez da famosa se aproximou.

— Ei. — Blake chamou a atenção de Hazel com a voz. — Tenho que ir. Viajo cedo amanhã. Vou escalar o Pico Algonquino nos Montes Apalaches. Pego a estrada cedo. Foi um enorme prazer conhecê-las. Espero que não me ignorem quando eu contatá-las. — Riu e colocou um olhar de cachorro molhado no rosto. — E mais uma vez, parabéns pela entrevista de mais cedo.

— Talvez você esbarre comigo na fila de algum banheiro em Albany. — Hazel exclamou rindo. — Tenho um compromisso para aqueles lados amanhã... E obrigada, foi divertido. — Disse com um sorriso simpático. — Boa escalada.

— Ah, claro! Seria ótimo. Quem sabe descubro a resposta até lá? — Ele riu mais descontraído. — Boa viagem.

“Ótimo. Me fodi. E não foi do jeito bom”. O olhar da brasileira perdeu um pouco do brilho. Não tinha viagem marcada, só uma maratona de aulas. — Prazer, Steve. A gente se esbarra.

O moreno agarrou as mãos das jovens mais uma vez num cumprimento firme. Dessa vez a palma estava na mesa temperatura que a das garotas. Quando o sorriso se apagou, o médico que se especializava em toxinas partiu.

A festa seguiu até a hora que o azul roubou o céu do negro. Hazel e Camila despencaram na cama e entraram em torpor graças ao cansaço.

A ativista acordou pouco antes do meio-dia. Seus bocejos acompanharam espreguiçadas que pareciam de um urso despertando no fim do inverno. Levantou-se, preparou suas coisas e comeu uma besteira na cozinha. Chegou o quarto da amiga: cama vazia. Não se surpreendeu. Assistiu um pouco de TV esperando dar a hora de viajar.

Os arranha-céus diminuíam no retrovisor, as montanhas cresciam no para-brisa. A migração da metrópole para o interior foi saborosa. Hazel trocou o ar-condicionado do carro pelo vento da autoestrada. Respirava fundo e espremia os olhos em satisfação. Serpenteou a pista que cortava planícies de campinas e montanhas com gelo no topo mesmo no verão.

Quando o tom alaranjado do ocaso brilhou no horizonte, a placa “Bem-Vindo a Albany” passou por cima do sedan. Era início de noite quando a jovem estacionou no Gran Hotel-Fazenda Albany, uma construção antiga, dois andares e arquitetura colonial, usada por Tom Adams, um dos primeiros presidentes dos EUA, tido como Pai da Nação.

A movimentação na entrada era grande e confusa. Dois grupos isolados pela polícia davam trabalho. Uns seguravam placas que ofendiam obesos. Eram contra-atacados por baixas que defendiam o fim dos padrões estéticos. A turma delirou com a chegada de Hazel. Uma disputa de aplausos e vaias.

Hazel sabia que sua parte favorita naquela viagem seria dirigir todo o caminho de ida e volta, curtia o vento no rosto, enquanto o rádio tocava suas músicas favoritas e ela se divertiu sozinha cantando todas em voz alta. Quando chegou ao evento estava super animada só pelo final de tarde divertido que tivera. Mandou uma mensagem para Camila avisando que estava viva e chegara em Albany e se preparou para enfrentar a multidão. Como sempre, ignorou as ofensas e as vaias. Acenou, posou para fotos, soprou beijos e sorriu até as bochechas doerem. Sempre simpática.

Um funcionário com espinhas na cara carregou a bagagem da garota e a conduziu até a recepção. O hall estava cheio de gente. Os palestrantes de mais tarde, repórteres e curiosos. Hazel foi o alvo de muitos olhares e sorrisos. Porém uma pessoa chamou mais atenção. Um quarentão com bastante volume na barba, olhar que causava arrepio e cicatrizes que o tempo não mais escondia, vigiou a famosa sem piscar. Hazel sentiu o desconforto, ainda que estivesse acostumada. Minutos mais tarde ela foi abordada.

— Senhorita Storm? — O homem aproximou-se mancando.

Era impressionante como achava aquelas entradas cansativas, mais do que qualquer coisa, talvez por sempre ver sua mãe seu pai dando tanta importância a chegada em tapetes vermelhos. Hazel desconfiava que tinha uma espécie de “trauma controlado”. Entrar no hotel a aliviou, mas não totalmente. Ela ainda precisava continuar sorrindo e acenando, cumprimentava algumas pessoas pelo nome sempre que conseguia lembra-los. A princípio tentou evitar olhar o quarentão, mas ainda sentia o olhar dele em si. Considerou estar paranoica, mas toda vez que virava, ele a estava olhando. Começou a considerar se aproximar e puxar conversa para descobrir o motivo dele olhá-la tanto. Já teria feito isso normalmente, mas o cara tinha uma aparência meio sinistra. — Uh, sim... Posso ajudá-lo? — Tentou soar simpática, mas era impossível não deixar um pouco do nervosismo transparecer naquela situação.

— Torci para não vir. — Ele esboçava caretas por conta da dor na perna. — Não deveria. Não na fase atual. — Disse sem saber quais palavras usar. Notou que não estava conduzindo bem a situação e buscou melhorias. — Desculpe-me por sair falando assim. Meu nome é Lawrence, Mark Lawrence. Aposentado da construção civil de Albany. Tenho seu pai como grande amigo. Vi ontem na TV que você se apresentaria no Seminário. Liguei para seu velho e prometi ficar de olho. Sei que ele estará ocupado. Bem-vinda a nossa cidade. — Sorriu sem saber se conseguiria.

Hazel tinha olhos treinados para ter uma primeira impressão mais honesta das pessoas. Encarou o esquisitão atenta aos movimentos, ao tom de voz e ao jeito de sentir dor. Havia verdade e mistério.

— Oh... — A garota estranhou saber que seu pai conhecia um homem tão estranho quanto aquele. Gerald sequer dissera que haveria um “Mark Lawrence” lá. Se eles haviam se falado por telefone achava que seu pai poderia, pelo menos, ter comentado algo ao invés de deixa-la lidar com um velho esquisitão. Ao menos agora sabia porque ele não parara de encará-la, aparentemente o senhor Lawrence levava suas promessas muito a sério. Claro que poderia ter duvidado das palavras do homem, mas costumava reconhecer uma mentira quando a via e não parecia ser o caso ali. — Obrigada, senhor Lawrence! Pelas boas vindas e por cuidar de mim. — Agradeceu de maneira gentil. — Mas não sei se entendi. “Fase atual”? — Repetiu as palavras do coroa, confusa. — Há algo acontecendo em Albany?

— Não viu lá fora? — Ele respondeu tentando parecer engraçado. — Nunca vi tanta gente assim por conta de números na balança. — Deu de ombros. Na verdade não se senta apto para argumentar qualquer coisa.

— Ah, isso? É esperado. Tenho certa culpa no cartório por aquela confusão, então não podia deixar de vir... — Respondeu ainda sorrindo, mas achou a “desculpa” estranha. O homem sabia disso, não sabia? Sabia quem ela era e o que estava fazendo ali. Teve a impressão de que a “fase” se referia a alguma outra coisa que Mark tentava ocultar. Observou-o mais atentamente. — Meu pai não mencionou seu telefonema.

— Estranho. Talvez ele esteja de cabeça cheia. — Mark sacou um cartão do bolso com seus dados para contato. — Aí tem meu telefone e meu endereço, se precisar. Pode contar comigo para qualquer coisa, Senhorita Storm. Agora tenho que ir. Se não for pedir demais, durma com a janela fechada, sim? — “Ficou estranho isso”. — Venta muito de madrugada.

— Eu gosto do vento. — Brincou ela achando a recomendação estranha. — Mas vou me lembrar disso e obrigada pelo cartão. — Guardou-o dentro da bolsinha. — Até mais e foi um prazer, Senhor Lawrence.

Mark mancou até a saída do hotel. O homem resmungava palavras que pareciam de um idioma antigo e ritmavam como de cânticos. O sujeito foi embora conversando com um amigo imaginário. Hazel ouviu e estranhou o quão familiar o som pareceu. Suspirou e teve a atenção arrastada para o balcão de check-in.

Os funcionários trabalhavam sem organização. Um corre-corre de improvisos feito por adolescentes fantasiados de vermelho. Aos poucos os hóspedes encontraram seus quartos. Vários panfletos avisavam o horário de funcionamento do restaurante e a senha do wi-fi.

Um lustre se impunha sobre o salão. Sua classe remetia a tempos em que os detalhes importavam. Hazel namorava a peça quando um rapaz a chamou. — Por aqui, senhorita.

Os pés bateram na escada e alcançaram um corredor comprido e estreito. Dezenas de portas recheavam o segundo andar do hotel-fazenda. O carpete verde combinava com o branco das paredes. O cheiro de tinta fresca incomodava um pouco.

Hazel entrou no seu aposente. A cama era de madeira boa, daqueles que duravam séculos. Os desenhos na cabeceira saltavam aos olhos e arrancavam uivos de admiração. Tirando o móvel, o resto do ambiente tinha arquitetura contemporânea. Uma TV de plasma pregada na parede feito pintura e um banheiro com torneiras de água quente e fria. A banheira era espaçosa.

Enquanto desarrumava as malas e apoiava livros sobre o criado mundo, as janelas do quarto abriram pela força do vento. As cortinas de seda esvoaçaram. O frescor agradou a pele de Hazel. Então uma voz reverberou em seus ouvidos. — Pagarás pela traição, Uratha.



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