Eu não estava bêbada, mas também não estava sóbria. Sabe aquele estágio onde a cabeça fica meio leve e quando você fecha os olhos o mundo fica meio girando? Então, era assim que eu estava. Eu tenho 18 anos, não faz tanto tempo assim que eu comecei a beber, então acho que ainda sou meio fraca para bebida mesmo. Mas ali, quando o Lucas me beijou, e começou a aprofundar o beijo, enquanto enfiava os dedos no meu cabelo para meio que guiar o beijo, eu fiquei sóbria na hora! Real! Deu um estalo dentro de mim e eu me entreguei de uma forma naquele beijo como nunca antes com ninguém eu tinha de deixado levar. Quando o beijo foi ficando mais calmo a gente ainda ficou um tempo com os lábios colados, sentindo a respiração se acalmar, e ai que eu percebi que haviamos deitado na minha cama e estavamos abraçados, com as pernas entrelaçadas. Eu abri os olhos finalmente, e ele estava já com os olhos abertos, e separou os lábios do meus.
- É errado eu não me arrepender nem um pouco de ter te beijado? - Ele me perguntou baixinho, sem fazer nenhum movimento de que pretendia se separar de mim.
- Não mais errado do que eu querer que você faça de novo. - Eu respondi sorrindo de lado. Ele não sorriu de volta.
- A gente não pode. - Ele disse, e eu percebi que ele estava com os olhos pesados. Eu sabia que ele tinha bebido muito, e provavelmente não teria me beijado se estivesse sóbrio. Não que ele não quisesse, tenho certeza de que ele queria. Mas ele não teria tido coragem se não fosse pela bebida. Talvez eu também não tivesse coragem. Eu afastei a franja dele e ele fechou os olhos. Em menos de dois minutos ele estava dormindo. Eu sorri de novo e tirei o boné dele. Me separei devagar e levantei. Fui até a sala ver como estava o estado dos demais. A porta do Alex estava fechada, mas eu não ouvia nada do lado de fora. Que bom, porque eu sinceramente não quero ouvir minha melhor amiga e meu meu irmão se pegando. Na sala o Chris e o Mauro dormiam no sofá, e o Julio e Igão matavam a garrafa de tequila.
- Vocês vão dormir aqui? - Eu perguntei. - Espero que não estejam planejando voltar dirigindo para Osasco neste estado.
- Vamos cair aqui mesmo! - Disse Igor já pegando o colchão inflável que estava no canto e jogando no chão.
- Eles estão na minha cama! - Julio olhou para o sofá e disse.
- Mauro e Chris, vocês dormem na cama do Lucas. - Eu disse acordando os dois.
- Eu não ia dormir no Alex? - Perguntou o Chris meio sonolento ainda.
- Só se ele estiver disposto a dividir a Maria Julia com você, o que eu duvido muito. - Eu disse rindo e ajudando o Mauro a se levantar. - O Lucas já capotou na minha cama mesmo, então vocês podem ficar no quarto dele.
- Uhnnn... Tá rolando romance? - Disse o Julio antes de deitar no sofá, tirando o tênis em seguida.
- Boa noite! - Eu disse fingindo que aquilo não fazia nenhum sentido. Mas... Será que fazia?
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Eu abri os olhos e instantaneamente lembrei de tudo o que aconteceu na noite passada. Até porque o Lucas estava tão perto de mim, com as pernas em cima de uma das minhas e a cabeça no meu travesseiro, que não tinha como não lembrar. Ainda bem que eu acordei antes do Alex ver esta cena. Acho que ele entenderia que o Lucas tinha dormido na mesma cama que eu porque todos os outros lugares da casa já estavam ocupados, mas não nesta intimidade. Eu estava bem comportada até, de calça de moletom e top, mas o Lucas em algum momento da noite tirou a camisa e a situação realmente parecia comprometedora. Levantei, peguei um shorts jeans e uma camiseta amarela larga e fui tomar um banho. Acho que era tudo o que eu precisava agora para colocar as ideias no lugar, antes do Lucas e do Alex acordarem. O que eu faço? Finjo que não lembro? Não posso fazer isso com ele. Acho que nem consigo. Mas... E se ele não lembrar? Como eu vou me sentir? Ou pior, se ele disser que foi o pior erro da vida dele? Ai meu Deus! Não! Calma. Respira. Isso.
Fiquei uns 20 minutos embaixo d'água gelada e acho que minha cabeça estava bem mais leve agora. Sai do chuveiro, me enxuguei e me vesti. Quando abri a porta a primeira coisa que vi foram os olhos dele. Ele estava escorado com as duas mãos no batente da porta, me impedindo de sair. Eu não aguentei. Passei meus braços ao redor do torso dele e o abracei forte, e senti o quanto o meu corpo estava gelado em relação ao corpo quente dele, de quem acabou de sair da cama. Ele me abraçou de volta, beijou o topo da minha cabeça e eu suspirei. Antes que a gente conseguisse falar ou fazer qualquer coisa a porta do quarto do Alex abriu e a Maria Julia saiu de lá quase correndo, vindo na direção do banheiro.
- Vocês tem 2 segundos para se desagarrar, seu irmão esta vindo ai. - Ela sussurrou e entrou no banheiro, trancando a porta atrás dela. Nos separamos mas continuamos ali. Foi o tempo certo para o que o Alex saísse do quarto.
- Droga. - Meu irmão disse, e levou a mão à cabeça, visivelmente de ressaca.
- Bom dia. - Eu disse rindo, e olhei de canto de olho pro Lucas que parecia estar em outro mundo.
- Onde você dormiu? - Perguntou o Alex olhando para o quarto do Lucas e vendo que o Mauro e o Chris dormiam na cama dele.
- Comigo. - Eu disse, e senti o Lucas prender a respiração ao meu lado. Ele acha o que, que eu sou louca? Que eu vou contar algo pro meu irmão. Ou talvez ele não queira que eu conte porque quer esquecer tudo isso e nem vale a pena falar nada e chatear o Alex. E pior, acabar com a amizade deles. Eu definitivamente não valho o mesmo que a amizade dos dois, eu sei disso! Ei! Pera lá! Eu tô viajando aqui... Ainda bem que o Alex interrompeu os meus pensamentos totalmente aleatórios.
- Menos mal. Em você eu sei que eu posso confiar. - Sim, foi isso que o o Alex disse, e com certeza na cabeça do Lucas tudo ficou ainda pior. Cara, o Alex nunca confiou em nenhum amigo dele comigo, e vou te dizer que até do Lucas ele já teve ciúmes no passado. E agora isso?
- Pronto! - Disse Maria Julia saindo do banheiro. - Todo seu. - Ela completou e o Alex entrou no banheiro em seguida. Ela empurrou eu e o Lucas para dentro do meu quarto e começou a falar sussurrando, mas bem séria.
- Vocês são loucos? Se pegando no meio do corredor? - Ela disse com as mãos na cintura.
- Tá maluca, Maria Julia? A gente só estava abraçado. - Eu disse ficando vermelha.
- MaJu, você não pode falar nada disso para ninguém. Você entendeu? Isso vai morrer aqui. - O Lucas disse, e eu olhei boquiaberta para ele. Então era isso mesmo, ele ia negar até a morte que havia me beijado.
- Eu não preciso nem perguntar porque vocês estão com cara de culpados. E se o Alex não estivesse com uma ressaca do tamanho do ego dele teria percebido também. Então é melhor mesmo vocês tomarem muito cuidado antes de resolverem que lance é esse que está rolando entre vocês. - Eu nunca tinha visto a Maria Julia falar sério deste jeito, e olha que a gente se conhece desde o jardim de infância.
- Não tem lance. - Disse o Lucas rápido. - A gente estava bêbado, certo Anoca? - Ele usou meu apelido de infância, que só a família e os amigos muito próximos usam. E eu sei que ele só usou esse apelido agora para me lembrar que nós somos praticamente irmãos. - O Alex não precisa saber de nada. Até porque não foi nada demais.
- Isso. - Eu disse. Nada demais? Cara, foi o melhor beijo da minha vida! Obviamente eu não ia falar isso para ele, talvez nem para a Maria Julia.
- OK! - Disse Maria Julia com uma cara bem desconfiada. - Eu vou pegar uma roupa sua emprestada, Ana Carolina. - Ele disse já andando em direção ao meu armário e me deixando de frente para o Lucas, que me olhava sem saber o que dizer.
- Eu vou acordar os muleques. - Ele disse e já ia saindo do meu quarto.
- Lucas... - Eu disse baixinho, e ele virou. Eu vi nos olhos dele que ele queria ao máximo evitar falar qualquer coisa comigo. - Eu não quero que você me trate diferente por isso, OK?
- Eu só preciso de um tempo. - Ele disse e passou as mãos pelo rosto. - Eu trai o meu melhor amigo. - Ele completou em um sussurro, e ia falar mais alguma coisa, mas a porta do banheiro abriu. A Maria Julia passou no meio de nós dois e entrou de novo no banheiro, provavelmente para tomar banho. É impressão minha ou ela não está olhando para o Alex direito? Meu irmão entrou no quarto dele e também não olhou para ela, para mim ou para o Lucas. Estranho! O Lucas já estava entrando no quarto dele quando eu voltei a olhar para frente, e só me restava voltar para o meu quarto e pensar. Pensar muito!
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- OK! Pode me contar tudo! - Disse Maria Julia colocando na minha frente uma caneca de café e um pão de queijo na chapa com requeijão. A gente resolveu tomar café fora de casa porque tinha muita coisa para conversar e não podia ser lá em casa.
- Tudo? Ele me beijou, depois se arrependeu, dormiu do meu lado e acordou hoje querendo igonorar tudo o que aconteceu. - Eu disse dando de ombros.
- E você está chateada com ele por isso. - Ela disse bebericando o café dela. - E eu totalmente te entendo. Eu também ficaria chateada, mas também entendo o lado dele...
- Eu sei. - Eu disse mexendo o meu café e sentindo meus olhos encherem de lágrimas.
- Não chora, amiga. - Ela disse pegando a minha mão. - Até ontem você nunca tinha percebido que era a fim dele!
- Eu não sou a fim dele! - Eu disse indignada.
- É claro que é! - Ela disse revirando os olhos. - E eu preciso te contar que não é de hoje... Sempre foi: O Lucas é um fofo! O Lucas é um príncipe! Qualquer garota quer um Lucas na vida dela! - Ela completou falando algumas das frases que eu realmente já tinha dito algumas vezes antes.
- Mas eu só dizia isso porque eu conheço ele! E eu continuo pensando assim, mas dai estar a fim dele... - Eu disse, mas ela me interrompeu.
- Amiga, eu nunca disse nada para não te incentivar porque acho isso uma maluquisse, mas você é apaixonada pelo Lucas desde que a gente nem pensava em garotos com segundas intensões.
- Você tá louca. - Eu disse revirando os olhos.
- Pode ser, mas é o que eu acho. E você estar chateada porque ele quer esquecer que vocês se beijaram só confirma o que eu já achava antes. - Ela disse dando de ombros.
- É claro que eu estou chateada! Se o Alex virasse para você hoje de manhã e mandasse você esquecer tudo você ia gostar? - Eu disse já tentando entrar no assunto que estava me mantando de curiosidade, e de quebra sair deste assunto que estava me deixando bem desconfortável.
- E o que te faz pensar que aconteceu alguma coisa entre eu e o seu irmão? - Ela disse cruzando os braços.
- Ah! Faça-me o favor né, Maria Julia? - Eu disse rindo.
- Acredite ou não, nós brigamos e dormimos. Bunda com bunda. Nem uma conchinha rolou. - Ela disse desviando o olhar.
- Brigaram? Porquê? - Por essa eu realmente não esperava.
- Eu ontem tinha decidido que ia rolar! Sério mesmo! Você sabe que eu nunca quis que nada rolasse entre eu e o seu irmão, por diversos motivos, mas o principal era porque a gente se conhece bem demais. Eu e ele. Mas ontem eu achei que isso não tinha mais problema, que nós estavamos bêbados e que aquilo serveria como álibi caso rolasse alguma arrependimento. A gente entrou no quarto ele me abraçou.
**Flashback**
- Você não pode ser real. - Maria Julia ouviu ele falando no ouvido dela, enquanto sentia as mãos dele na lateral do seu corpo. - Se eu acordar deste sonho de novo eu vou precisar de outro banho frio.
- Alex, você vai se arrepender de ter falado isso amanhã. - Ela disse gargalhando, mas logo em seguida sentiu os lábios dele no seu pescoço, e o riso morreu na sua garganta e virou um suspiro.
- Amanhã você pode me fazer relembrar tudo o que nós vamos fazer hoje. Quantas vezes você qusier. - Ele disse segurando o rosto dela, e por um segundo ela perdeu todo o ar. Aqueles olhos deixavam ela meio tonta. - Eu não vou te deixar fugir mais, ouviu? Você vai parar com isso.
- O que? - Ela disse meneando a cabeça. Ele realmente estava bêbado, não estava fazendo sentindo.
- Se você decidir agora que vai ser minha, é só minha. Entendeu? - Ele perguntou, e colocou um pouco mais de força nas mãos que agora seguravam o rosto dela.
- Você está louco. - Ela disse e saiu do embrace dele.
- Maria Julia, eu até estou um pouco bêbado, mas louco não. - Ele disse segurando o pulso dela e a virando novamente para ele. - Ou sou eu e você, ou nada feito.
- Não tem eu e você, Alex. - Ela disse séria. - Tem eu. Tem você. E pode ter a gente junto, hoje a noite. E só. Eu não quero nada sério.
- Eu também não quero namorar, mas sexo com você para mim é sério. - Ele disse e até parecia mais sóbrio. - Você quer sair por ai beijando outros caras, beleza. Mas se a gente transar, é só comigo.
- E você vai ser só comigo também? - Ela perguntou descrente.
- Eu te respeito, Maria Julia. Se você fosse só mais uma para mim já teria rolado há muito tempo. - Ele disse e ela se soltou.
- E o que te faz pensar que você tem todo o controle da situação? Até onde eu sei se EU quisesse já teria rolado há muito tempo. - Ela disse cruzando os braços.
- Maria Julia, pelo amor de Deus! - Ele disse passando as mãos no cabelo e rindo. - Você sempre me deu o maior mole. No início eu não queria nada com uma pirralha, e depois era porque você é a melhor amiga da minha irmã... Mas agora, isso já não tá mais dando para segurar.
- Você é ridículo, Alexandre. - Ela disse bufando e indo em direção a porta.
- Ridícula é essa sua atitude de negar o que sente, de fugir das pessoas. - Ele disse e deitou na cama. Ela virou com raiva e antes que ele percebesse ela já estava sobre ele dando tapas em todos os lugares que ela alcançava. Não durou muito, ele logo conseguiu virá-la na cama, e prender os braços dela. - Eu não quero te machucar. Admite que você tem medo de se entregar, que você no fundo tem medo de se apaixonar.
- Me apaixonar por você? Tenha dó. - Ela disse revirando os olhos. Ele era muito mais forte que ela, não adiantava lutar.
- Se apaixonar por qualquer pessoa. - Ele disse. - Seu pai ter trocado a sua mãe pela perua da sua madrasta fudeu com a sua cabeça. Você não acredita em amor, não acredita em relacionamentos, não acredita em nada.
- Nem todo mundo tem a sorte de ter uma família perfeita como a sua. - Ela disse cínica.
- Para de atacar para se defender e aceita: Você tem medo. - Ele disse e aquilo foi como um tapa. Talvez tenha sido a bebida, mas as lágrimas começaram a rolar e o choro foi ficando mais e mais intenso. Ela soltou os braços dela e tentou abraça-la.
- Sai de perto de mim. - Ela disse virando de lado, de costas para ele. - Eu nunca te odiei tanto quanto eu te odeio agora, Alex.
- OK, Maria Julia. - Ele disse suspirando, e virando de costas para ela também. - Faça como achar melhor. Demorou para ambos pegarem no sono, mas no dia seguinte quando acordaram parecia que nenhum dos dois havia dormido.
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