História Logo você? - Friends with benefits

- Bem... Você sabe que ele tá certo, né? - Eu disse sem querer irritar a Maria Julia, mas a nossa amizade é do tipo que a gente fala tudo.

- Eu sei, Ana Carolina! - Ela disse revirando os olhos. - O que me irrita é ele me conhecer tão bem. 

- Ele foi bem babaca de dizer que você sempre deu em cima dele também. - Eu disse.

- O que não é mentira... - Ela disse dando de ombros.

- Mas eu achei fofo ele dizer que você tinha que ser só dele! - Eu disse rindo. - Pro Alex isso é praticamente um pedido de casamento, Maria Julia.

- Eu sei! - Ela disse batendo as mãos da mesa. - Isso me assustou! Muito! - Ela completou arregalando os olhos. 

- Mas faz sentido, né? Ele é super possessivo, eu mais do que ninguém sei disso. E ele mesmo disse que não iria ficar com você se não tivesse certeza. - Eu ponderei.

- Não foi bem isso que ele disse... - Ela disse séria. - Ele disse que a gente podia ficar com outras pessoas, mas que sexo era só entre a gente. 

- E o que mais você queria? Namorar? Dormir de conchinha todos os dias? - Eu disse rindo, mas ela estava séria ainda. - Você quer namorar com o Alex? - Eu disse ficando séria.

- Eu nunca tinha pensado nisso, mas... Você acha que tem alguém melhor do que ele para mim? - Ela disse e eu gargalhei. Alto mesmo! Metade das pessoas ao redor olhou para mim.

- Qualquer um, Maria Julia! - Eu disse assim que me controlei. - O Alex não vale o ar que respira, você mesmo já me disse isso um milhão de vezes. Você tem todos esses problemas de confiança com homens por causa do seu pai e ai resolve que quer namorar um dos caras mais cafajestes que você conhece? 

- Eu não estou pensando em namorar com ele agora, Ana Carolina! - Ela disse revirando os olhos. - Mas depois que eu pensei sobre o assunto, com a mente mais tranquila, eu acho que a proposta que ele fez é boa, sabe? Eu não costumo sair transando com qualquer um por ai mesmo, então não vai ser nenhum esforço. Pelo contrário... - Ela disse rindo de lado.

- Eu não quero pensar em você e meu irmão nesta situação, pelo amor de Deus! - Eu disse fechando os olhos. 

- Mas, como eu ia dizendo... - Ela completou rindo. - Depois de um tempo disso rolando, ou eu vou me entregar de vez ou vou desencanar. E ele a mesma coisa. E se no final das contas tudo der certo, o que eu não acho que vai acontecer... - Eu revirei os olhos, para mim era óbvio que os dois iam acabar se apaixonando. Ou um se apaixonando e o outro não, o que ia ser horrível. - Eu acho que ele é o namorado perfeito para mim. 

- Porque nenhum de vocês presta? - A pergunta era retórica.

- Você ia amar ser minha cunhada! - Ela disse me dando lingua.

- Ia mesmo! - Eu disse sorrindo. - Mas cuidado, OK? Com você e com ele. Você é minha melhor amiga, mas ele é meu irmão. Se você machucar ele, eu te mato! E se ele te machucar, nunca vou perdoar ele. - Completei séria.

- Calma, Ana Carolina. - Ela disse rindo. - Eu só vou aceitar o que ele me propôs, e por enquanto não tem nada sério entre nós.

---------------------------------

A Maria Julia foi para casa e eu fui comprar as telas que eu queria. Por sorte quando voltei a vaga em frente ao prédio estava vazia de novo, e eu consegui estacionar. Preciso achar um estacionamento por aqui. O Lucas e o Alex já usam as vagas de garagem do nosso apartamento, e como eu cheguei por último vou ter que me virar. 

Entrei no apartamento e não tinha ninguém na sala, mas quando passei em frente ao quarto do Lucas ouvi as vozes da gravação de ontem. Ele devia estar editando o vídeo. Fui em direção ao meu quarto e coloquei as telas perto do cavalete que eu já tinha deixado perto da janela durante as minhas arrumações. 

Eu nem estava muito inspirada, mas ai coloquei uma musiquinha, meus fones para não atrapalhar os meninos, e em menos de 10 minutos eu já estava rascunhando em um papel o que eu queria pintar. Eu ia me arriscar em um auto-retrato meio pop arte. Eu sempre quis fazer um, mas achava muito narcisista. Mas quer saber? Eu estava precisando de um pouco de amor próprio depois que o Lucas meio que pisou na minha auto-confiança. 

Quando eu terminei o desenho no papel preguei ele na parede perto do cavalete e comecei os traços na tela. Depois comecei a misturar as tintas e isso me tomou um baita tempo, porque eu queria muitas cores e sabia exatamente o tom de cada uma delas. E eu sou muito perfeccionista! Acho que todo artista é. No fim nem senti que horas e horas se passaram. Eu estava sentada em frente da tela já meio trabalhada, ouvindo Ed Sheeram e gastando todo o tempo do mundo nos traços do meu cabelo, quando eu senti que tinha alguém atrás de mim. 

- É feio espiar as pessoas por cima dos ombros. - Eu disse sem me virar. Eu sabia que era ele, porque o Alex há esta hora estava na academia. 

- Você é muito incrível. - Ele disse chegando perto do desenho do rascunho.

- Eu já te desenhei um vez. - Eu sei lá porque eu disse isso, mas ele me olhou com uma cara tão fofa que eu nem me arrependi.

- Você ainda tem esse desenho? - Ele me perguntou.

- Tenho. - Eu levantei, limpei as mãos na blusa mesmo, e fui em direção aos meus cadernos. Eu sabia exatamente onde estava aquele desenho. Nem fazia muito tempo que eu tinha feito, foi no último Natal. Eu tenho mania de tirar fotos das pessoas sem elas perceberem, e eu tirei uma muito fantástica dele sorrindo e olhando para baixo. A foto estava grampeada junto com o desenho e ele mais uma vez fez cara de bobo quando eu mostrei para ele.

- Acho que eu nunca me senti tão importante. - Ele riu de leve. 

- Você é importante pra mim, Lucas. - Eu disse sorrindo. - Sempre foi, e sempre vai ser.

- Você também é. E o Alex também. - Ele disse e meu sorriso vacilou, mas acho que consegui manter o rosto neutro. 

- Fica tranquilo, se depender de mim o Alex nunca vai saber de nada. E a gente pode fingir que nunca aconteceu. - Aquilo doia. Será que a Maria Julia está certa? Eu sou apaixonada por ele? Ou é só orgulho ferido?

- Eu não quero esquecer, Ana. - Ele disse. - Na verdade eu quero lembrar o tempo todo. Mas eu não posso. - Meu coração disparou real quando ele disse isso. 

- Eu também não quero esquecer, Lucas. - Eu disse me aproximando dele, e ficando na ponta dos pés para passar os braços em volta do pescoço dele. - Eu não consigo esquecer. - Eu completei aproximando nossos rostos e tocando o meu nariz no dele. Ficamos nos encarando por um bom tempo, até que ele me beijou. E não foi qualquer beijo, foi um beijo daqueles de te tirar do chão. Estou começando a achar que todos os beijos dele tem este efeito em mim. Mais uma vez eu não sabia onde estava ou o que estava a minha volta. 

- Eu não posso... - Ele disse, quase gemeu na verdade, entre um beijo e outro. Só que assim como eu, ele também não tinha controle nenhum sobre o corpo dele.

- Lucas... E se o Alex chegar? - Eu disse quando ele começou a beijar o meu pescoço, enquanto as mãos dele já estava quase desabotoando o meu sutien por baixo da blusa. 

- Que merda! - Ele gritou, e se afastou. - Eu cai sentada na cama, meio assustada com a reação dele. - Porque você deixa eu te beijar desta forma? Porque você me deixa fazer isso com você?

- Porque eu também quero, Lucas. - Eu disse me levantando e andando até ele. Ele estava uma graça, descabelado depois de ter tirado o boné. - Você acha que eu sou de ferro? Você me beija deste jeito e quer que eu sozinha tenha toda a força de vontade de parar? Então entende uma coisa: Eu não quero parar! 

- Você merece algo melhor do que eu, Ana. - Ele disse com uma das mãos na minha bochecha. - Você é incrível, é linda, inteligente... E eu não consigo nem encarar o seu irmão para ficar com você. Eu sei que você tá chateada comigo por eu ter dito que te beijar não tinha sido nada demais. Eu tô chateado comigo por isso! Mas o Alex é meu melhor amigo, eu me sinto horrível por saber que tô traindo a confiança dele.

- O Alex não deveria se meter na minha vida, isso sim. - Eu disse com raiva. - Lucas, eu quero você. E eu não estou acostumada a receber não como resposta.

- A gente se beijou umas 3 vezes no total, você acha que eu valho a pena o estresse que vai ser com o seu irmão? - Ele disse recolocando o boné. Meu Deus, ele é muito lindo. 

- E eu, valho a pena? - Eu respondi com uma pergunta porque na real eu não sabia a resposta para a pergunta dele. O Lucas vale a pena, mas eu não sabia se eu queria algo de verdade com ele. Se fosse só curtição é claro que não valia a pena.

- Você não faz ideia né? - Ele disse rindo. - Você nunca percebeu que eu sou a fim de você há anos!

- Cê é louco, Lucas? Você nunca demonstrou nada. - Eu disse assustada.

- Até seu irmão sabe disso, Ana. - Ele disse rindo. - Ele me sacaneia pacas dizendo que eu sou apaixonado por você.

- E é? - Eu perguntei assustada. Eu não podia deixar ele ter nenhuma ilusão quanto a mim. Eu gosto dele, mas não é nada tão grande assim.

- Não. - Ele respondeu meio rindo ainda. - Mas para mim você é a mulher mais linda do mundo. 

- Mais que a Ariana Grande? - Eu perguntei e ele riu.

- Sem comparação. Você é muito mais linda. - Ele me puxou para um abraço, e me olhou nos olhos.

- O que eu não entendo é porque o Alex confia em você comigo então. - Eu disse.

- Porque ele sabe que eu nunca faria nada que você não quisesse, e acha que você só me vê como irmão. - Ele respondeu, me abraçando e cheirando meu cabelo. - Eu achava isso até ontem também. 

- Eu também. - Eu disse sorrindo. Ele sorriu também, e a gente ia se beijar, mas ouvimos a porta da sala abrir e as vozes do Alex e da Maria Julia. Fomos para a sala juntos, mas os dois nem olharam para a gente. Estavam no meio de uma discussão.

- Eu já disse que não tenho nada para falar com você. - Disse o Alex. Ele tinha acabado de sair da academia, isso era óbvio. E pelo jeito ela tinha esperado ele sair de lá para cercar ele. Ela já tinha me dito que tentou ligar para ele o dia inteiro e ele não atendia. 

- Dá para você parar de ser cabeça dura e me ouvir? - Ela disse de braços cruzados, com a voz bem mais calma que a dele. Eu e o Lucas nos entreolhados e pelo jeito ele já sabia o que tinha rolado. Ele o Alex são duas moças, falam tudo um pro outro. Bem, quase tudo né? Com certeza o Lucas não tinha contado que tinha me dado uns beijos noite passada. 

- Acho que você já falou o que tinha para falar, Maria Julia. - Ele respondeu. - E também, eu tava tão bêbado ontem a noite que me deixei levar. Eu não devia ter falado nada daquilo. 

- Devia sim! Você estava certo sobre mim. - Ela disse, e ele finalmente olhou para ela. Por essa ele não esperava. 

- Não é sobre isso que eu estou falando. - Ele disse depois de ter se recuperado do susto. 

- Então você não quer mais um relacionamento aberto comigo? - Ela perguntou. Cara, a Maria Julia não existe. Ela não tem vergonha de nada, e tava cagando que eu e o Lucas estavamos ali assistindo de camarote.

- Quero o que, Maria Julia? Você é louca? - Ele riu e por um segundo eu vi ela ficar meio insegura. Mas foi rápido. Ela logo retomou a pose, mas ele não deixou ela falar. - Eu não divido o que é meu.

- Eu obviamente não sou sua. - Ela disse cruzando os braços. - Nem você é meu. Eu tinha entendido que nós seriamos exclusivos só para sexo, e eu concordo com isso.

- O que eu disse é que se a gente ficar junto, é só nós dois. - Ele disse chegando perto dela. 

- Isso se chama namoro, Alex. - Ela disse levantando uma das sombrancelhas. 

- Isso se chama amizade colorida, Maria Julia. Só que exclusiva. - Ele disse dando de ombros.

- Agora eu é que tô achando que você tá com medo. Com medo de um nome. Medo de relacionamento! - Ela disse boquiaberta, e eu também estava na mesma situação. O Lucas também estava. 

- Eu quero você. Você me quer. A gente é amigo. Eu não sei até quando eu vou querer você, nem você sabe até quando vai me querer. Para que rotular isso? - Ele disse. Os dois ficaram se olhando alguns segundos, e ele virou para mim e para o Lucas. - E vocês não tem nada melhor para fazer do que ficar bisbilhotando não?

- Como se ela não fosse me contar depois... - Eu disse dando de ombros.

- Alex! - A Maria Julia estava vermelha. Sério, eu nunca vi isso! - Oito horas, na minha casa. - Ela virou e saiu. Real! Quando a porta fechou o Alex começou a rir. 

- Você ouviu isso? - Ele disse com o sorriso do tamanho do mundo. - Eu deixei a MaJu sem palavras. - E começou a gargalhar.

- Eu tô impressionado. - O Lucas riu junto e eu revirei os olhos.

- Babacas! - Eu resmunguei. - Você queria o que? Proposta mega estranha esta sua! Um dos dois vai se ferrar.

- Nós dois somos bem grandinhos já. - Ele disse andando em direção ao quarto.

- Engraçado que a Maria Julia tem a minha idade né? O problema deve ser comigo mesmo. - Eu disse fingindo estar séria e o Lucas riu. Olhei para ele e ele parou na mesma hora. Precisei me segurar para não gargalhar. O Alex se virou.

- Você não é a Maria Julia. - Ele disse. - Ela é bem esperta e sabe que não é para se apaixonar. Já você, do jeito que é toda romantica pode acabar caindo de amores por qualquer babaca.

- Eu vou ignorar este seu comentário. - Eu disse revirando os olhos. Vi o Lucas de olhando meio sério, mas me levantei do sofá e fui para o meu quarto. - Porque no fundo eu sei que você tá certo... - Eu disse para mim mesma quando já estava longe o suficiente para ele não me ouvir.