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História Lonesome - Um


Escrita por: mambabeyo

Capítulo 1 - Um


Lauren’s point of view

 

Do meu camarim eu já podia ouvir as vozes que aqueciam o meu coração e me inspiravam a subir naquele palco. Hoje seria o último show da turnê mundial, em Nova York, cuja data coincidiu com o meu aniversário. Meu aniversário. Vinte e um anos. Apenas vinte e um anos e já considerada um dos principais ícones da música internacional.

– Lauren? – A voz de Ally, minha agente, me despertou dos meus devaneios. Chequei uma última vez o meu visual de rock star. Coturno, calça de jeans rasgado, blusa de gola alta e a inseparável jaqueta de couro. A cor? Preto. Dos calçados ao último fio de cabelo destacando a minha pele estupidamente pálida. Andei pelo curto corredor até o palco onde não havia mistério para o meu aparecimento. Simplesmente entraria cantando como sempre foi do meu agrado, sem exageros. Pude ouvir o som exagerado de um cronômetro soar no palco assim que pisei no mesmo, aguardei o sinal para aparecer e assim que o cronômetro zerou, Adam, o guitarrista, iniciou a introdução de Never Coming Down e vinte e cinco segundos depois eu estava no centro do palco iniciando a primeira música da noite.

A guitarra de Adam e o baixo de David entravam como uma corrente elétrica em meu corpo, juntando-se ao meu sangue, aquecendo o meu corpo. A bateria de Neal invadia o meu coração, fazendo-o pulsar ao seu ritmo. E do mais profundo do meu ser a minha voz surgia como o complemento final.

Eu nunca fui boa em algo além da música. Tudo o que me cercava os meus ouvidos transformavam em música. Desde a buzina de um carro até os ventos que sopram à beira-mar. Música era o meu alimento, música era o meu amor, música era o meu refúgio. Tudo o que eu tinha era a música. O meu pai me abandonou, a minha mãe, bom, eu não a conheci e a minha avó, a única que se importou em cuidar de mim, faleceu há alguns meses. E o que me restou? Música.

Estávamos na última música. Um cover de Habits (Stay High) da Tove Lo. Eu não segurava o microfone no pedestal, eu me apoiava nele, era a hora de descarregar, de me permitir sentir o limite. Deixar o meu coração doer a ponto de fazer a minha voz falhar.

– Você foi embora e eu tenho que ficar chapada o tempo todo. – Eu cantava, apertando os meus olhos, esmagando o microfone. – Para parar de pensar em você. – Lágrimas saiam dos meus olhos sem permissão. – Passando os dias trancada em uma névoa. – A minha perna direita levantava e voltava, pisando forte no chão do palco para me certificar de que eu estava em um terreno sólido. – Tentando esquecer você e eu caio novamente. – Soltei a minha mão esquerda do microfone indo para a minha nuca. - Tenho que ficar chapada a vida toda. Para esquecer que estou sentindo sua falta. – Minhas unhas cravando-se na pele da minha nuca, descendo para a frente do meu pescoço. Voltei a segurar o microfone para manter o equilíbrio.

Eu sentia falta dos meus pais, da minha avó, de uma família que se orgulhasse das minhas conquistas, de um amor que me esperasse em casa após um dia desgastante de trabalho. Eu sentia falta de algo além da música. Algo que pudesse preencher o vazio que se apossava de mim noite após noite. Algo que me prendesse aqui, uma razão para viver além de apenas existir.

O show chegou ao fim e o meu único desejo era estar em casa. Felizmente eu morava em NY, então dali eu partiria para o meu apartamento.

– Aí está ela! A chefe dos palhaços. – Neal, o baterista, exclamou sarcástico assim que me viu no corredor. Todos os membros da banda – Adam, o guitarrista, David, o baixista e Patrick, irmão de Neal, que era dj. – Estavam ali com mais alguns membros da equipe de produção da turnê. – Será que eu devo prestar reverência a vossa alteza? – Fingiu uma reverência ao se aproximar de mim.

– Me deixe em paz Neal. – Passei por ele esbarrando em seu ombro. Mas antes que eu pudesse alcançar a porta do meu camarim senti o aperto de sua mão em meu braço.

– Não me ignore sua vadia ingrata. – Disse ao me puxar para ficar frente a frente com ele novamente.

– Deixe-a em paz Neal. – Adam interveio afastando Neal e se colocando a minha frente. – Não banque o babaca.

Desde que anunciei a minha saída da banda, Neal tem estado empenhado em fazer da nossa convivência um inferno, mais do que ele já fazia nos tempos de “paz”.

– Não defenda essa ingrata seu otário. – Neal empurrou Adam contra o meu corpo e por pouco não caímos.

– Otário é você que arruinou a banda. – Adam rebateu.

– Eu arruinei a banda? – No inicio, Neal era a nossa pessoa favorita na banda. Ele iniciou a The Clowns. Chamando um a um. O pouco que Adam sabia sobre guitarra, Neal aperfeiçoou, ensinando-o tudo o que o seu pai, um excepcional instrumentista, lhe ensinou. David era um prodígio no baixo, mas não tinha condições de comprar um, então Neal deu um a ele. E eu? Bom, Neal me flagrou cantando em uma das aulas com o Sr. Clarke, seu pai e me chamou para ser a vocalista.

– Se não fosse a sua estupidez e ganancia estaríamos em paz. – Disse Adam. Eu não ousava rebater as agressões de Neal, desisti de discutir com ele quando o mesmo chegou ao ponto de me agredir fisicamente. Depois disso eu apenas o ignorava. Os outros apenas assistiam a discursão, mas preparados para agir caso as coisas saíssem do controle.

– Essa filha de putos é que não faz o trabalho dela direito. Deve ser por isso que os pais dela não a quiseram. – Foi como um solo mal feito de guitarra. Uma batida sem ritmo nos pratos da bateria. Um falsete irritante. Aquelas palavras não só me irritaram como me enfurecerão.

O que aconteceu a seguir foi rápido demais para que qualquer um dos meninos fosse capaz de reagir. Avancei em Neal com uma fúria desconhecida por mim até aquele momento. As minhas mãos eram baquetas furiosas enquanto o rosto de Neal era um tambor estirado no chão. O meu ataque foi tão rápido e furioso que ele não conseguia revidar, só parei quando Adam envolveu os braços em minha cintura e me tirou de cima dele, me arrastando para o camarim.

Uma semana depois eu saí oficialmente da banda. Adam também saiu. Ele era o meu melhor amigo, nos conhecíamos desde o colegial e desde então ele vem cuidando de mim.

– Sabe quem eu encontrei hoje? – Disse Adam antes de se jogar ao meu lado no sofá da sala do meu apartamento.

– Não faço a mínima ideia. – Respondi distraída no jogo em meu notebook.

– Camila Cabello.

Camila Cabello foi o mais próximo que eu já estive de um romance. Ela estudava conosco. Saímos algumas vezes e quase namoramos. Mas a The Clowns estourou, eu vim pra Nova York com os meninos, ela ficou em Miami e perdemos o contato.

- O-onde? – Voltei a minha atenção para Adam.

- Sabe aquele café que inaugurou ali na esquina? – Assenti. – Então, é dela, quer dizer, dela e da Kordei.

Eu ia perguntar mais alguma coisa a ele, mas fomos interrompidos pelo som da campainha. Deixei o notebook no sofá e fui atender a porta imaginando ser Dinah, já que estávamos apenas esperando por ela.

– Olá. – Uma voz infantil, muito animada exclamou assim que abri a porta. Eu sempre gostei de crianças e não pude deixar de sorrir com a empolgação do garoto ruivo a minha frente.

– Olá? Quem é você? – Sai um pouco da porta pra avaliar se havia mais alguém no corredor. Ninguém.

– Eu sou o Larry. É um prazer conhecer você. – Seu sorriso era contagiante. O ruivinho estendeu a mãozinha pra mim e eu o cumprimentei.

–- É um prazer conhecer você também Larry. – Eu não conseguia parar de sorrir para aquele pequeno. – Você está com alguém aqui?

– Sim. Com a minha irmã. – O sorriso do menino aumentou, se é que isso era possível.

– E onde ela está? – Mais uma vez olhei pelo corredor a procura de alguém.

– Está aqui. – Ele riu e apontou pra mim. Certo. Aquilo foi bem estranho. Sai da porta e dei uma volta no corredor a procura de alguém.

– Desculpa. – Voltei para onde o garoto estava. – Eu acho que você errou o apartamento, eu vou chamar o..

– Você é Lauren Jauregui? – Ele questionou sorridente. Aquele garoto não conseguia parar de sorrir ou seu rosto estava congelado naquela expressão?

– S-sim. Mas eu não tenho irmãos, desc...

– Na verdade somos meios-irmãos. – Ele puxou a mochila de suas costas e procurou algo nela. Alguns segundos depois ele estendeu para mim um envelope azul bebê. – Mamãe pediu que te entregasse isso. – Ele disse orgulhoso.

Mãe? Eu estava petrificada com aquela informação. Senti uma pontada no peito. Olhei o envelope em minhas mãos e depois o garoto a minha frente. Ele sorriu e fez um gesto com as mãos me incentivando a ler o que estava no envelope. Minhas mãos estavam tremulas. Abri o envelope e tirei o papel perfeitamente dobrado que havia nele. Olhei para o garoto uma ultima vez e comecei a ler.

Querida Lauren,

Perdoe-me por surgir assim em sua vida, eu imaginei este momento de um jeito totalmente diferente. Em um parque de grama muito verde com grandes arvores. Larry correria até você e depois eu iria até vocês e os tomaria em meus braços. Passaríamos a tarde conversando sobre nossas vidas, eu beijaria os dois e os levaria para casa onde viveríamos felizes para sempre. Mas infelizmente eu não pude fazer isso.

Antes que decida rasgar esse papel ao meio, descubra as razões que nos separaram e a razão pela qual estou confiando a vida de Larry a você.

Há vinte e dois anos atrás eu conheci um jovem guitarrista em uma das festas da faculdade. Nós nos envolvemos e do nosso relacionamento nasceu o ser mais lindo que eu já vi na vida. Mas o jovem guitarrista não se sentia preparado para assumir um compromisso comigo e com aquele pequeno anjo. Então ele nos deixou. Eu tentei cuidar de você, mas eu não consegui. Então Grace apareceu na minha vida e eu confiei a ela o meu tesouro. Saí em busca de uma vida melhor para que um dia eu pudesse voltar e dar a você tudo o que uma princesa merece ter. Mas algumas circunstancias não me permitiram fazer isso.

Há dez anos atrás eu estava voltando para o meu apartamento quando uma fatalidade aconteceu. Dessa situação nasceu o pequeno Larry que está diante de você agora. Eu não pude abandona-lo, eu já havia perdido você, não podia perdê-lo também. Não após ver aqueles olhos idênticos aos seus. Mas novamente a vida não foi muito boa para mim.

Eu estou doente, na verdade, eu estou morrendo e estou certa de que assim que Larry estiver diante de você, eu não estarei mais aqui. Ele não tem mais ninguém além de você, meu anjo. Ele precisa de você e eu sei que você precisa dele.

Eu amo vocês. Me perdoe por não poder dizer isso pessoalmente. Me perdoe por não estar presente. Mas eu quero que saiba, eu preciso que você saiba. Eu me orgulho demais do que você alcançou, da mulher maravilhosa que você se tornou e tenho certeza de que Larry será um homem maravilhoso por sua causa.

Com amor e saudades, mamãe. 


Notas Finais


Twitter: mambabeyo


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