Querido Lenny,
Não, muito infantil.
Lord Leonard Lennor Whistall,
A Corte de Caeseris já tem os preparativos prontos para chegada da Corte Italiana nesta agradável semana. Estou ansiosa para vê-lo em breve.
Amacei a carta e atirei-a na lareira. O que tinha de errado comigo? Se uma rainha não pode escrever uma simples carta, como pode ser capaz de subir no altar com alguém que mal conhece?
♔
Nem todos os contos de fadas começam com Era Uma Vez.
E, certamente, muitas princesas não possuíam um final feliz.
Se tinha alguém que sabia disso era a Rainha não coroada de um reino cheio de problemas, prestes a se casar com um quase estranho e praticamente órfã.
-Então, Vossa Graça?
-Uhm?-Perguntei e levantei a cabeça, parando de fitar o chão e olhando para o chefe de cozinha do palácio a minha frente.
-Estava falando-lhe sobre o grande banquete, Alteza.
-Ah, sim. E então?
-Precisava de vossa aprovação para o cardápio.
-Ah, claro. Está ótimo. Pode ir.
Vendo-o acima do trono, percebi seus paços inseguros indo em direção a porta. Eu não havia escutado sequer uma palavra e ele sabia disso, é claro. Mas ninguém contrariaria uma Rainha.
Levantei-me e comecei a descer as escadas. As grandes janelas do salão deixavam entrar o sol da manhã, mas eu continuava com sono por não ter podido dormir na noite passada. Mas não estava reclamando. Essas noites valiam a pena e eu ficaria com sono de bom grado.
-Você está com uma cara péssima.
Eu já estava no corredor quando vi Aramina apoiada na porta, com a usual cara de deboche.
-Sei disso.
-Deus, você é quase a Rainha, vá dormir. Tem servos para fazer essas coisas.
Endireitei a postura e comecei a andar pelo corredor e Aramina começou a andar ao meu lado. E mesmo que fosse para implicar comigo, gostava desses momentos. Por mais que ela estivesse se afastando de mim, ainda era minha melhor amiga. Não só a Lady de companhia da Rainha.
-Não é só colocar uma coroa na cabeça, sabia? Tenho minhas obrigações, Aramina. E amanhã chegará a corte Italiana e tudo deve estar em perfeito estado. Não gosta tanto de andar por aí na vila? Então sabe o quanto Caeseris precisa disso.
Ela bufou e parou de me acompanhar dando meia volta. Dês de pequena sempre me vencia em diálogos com a língua afiada, mas eu sabia muito bem falar de política e ela odiava.
Mas quando entrei no meu quarto, reparei no garoto alto no canto da sala, vestido com trajes ricos e os cabelos negros que já deveriam ter sido cortados há tempos. Fechei a porta rapidamente e ele se virou, os olhos azuis encontrando os meus. Corri pra abraça -lo, mas ele não retribuiu, e me afastei surpresa.
-Cohen? O que aconteceu?
-Jura, Minerva?
Ele estava bravo. Ótimo.
Por um tempo fiquei só encarando-o. O que mais eu poderia fazer?
-Bonito vestido. Vai usar amanhã? Pra ele?
-Pare.
-E isso é uma ordem? Minhas sinceras desculpas, Vossa Graça.
-Pare com isso. Por que está agindo assim comigo? Sabe que não tive escolha. E você sabia disso muito antes.
-Disse que podíamos tentar. Que tentaria adiar ao máximo. Mas agora está preparando banquetes, eu não significo mais nada pra você?
-Você significa tudo pra mim. Mas o meu povo também, e eu sabia que você entendia. Você faz parte do meu Conselho, sabe que nosso país está em crise. Sem uma aliança política, não sei quanto tempo Caeseris vai durar...
-Então quando decidir colocar a sua felicidade acima da dos outros, me procure de novo.
Ele se virou pra porta com passos largos e eu segurei o braço dele. O homem por quem eu me apaixonei não era assim, não era egoísta a ponto de achar que eu deixaria todos do meu país morrendo de fome por caprichos...
Mas ele puxou o braço de volta com força, fazendo o meu doer, e só não bateu a porta ao sair pois ninguém poderia nos ver juntos.
Mas depois, repensando, até que aquilo havia sido bom. Lord Leonard ou o Rei Rodolfo não poderiam saber que eu nutria sentimentos por outro se eu quisesse tirar meu país de suas péssimas condições. Eu faria de tudo por essa aliança com a Itália.
Porém, eu não era de ferro. Não era forte como a minha mãe. Então limpei as lágrimas e mandei chamarem Liana na sala do trono. Estava decidida a resolver tudo antes do jantar, para visitar depois a pessoa que sabia que poderia me ajudar. Pois naquele momento eu estava me sentido perdida...
♔
Terminei tudo a tempo e disse que estava indisposta para o jantar. Pedi a Helena que preparasse uma cesta com o meu jantar e que dobrasse a comida é levasse ao meu quarto com a mesma descrição de sempre. Vesti um vestido mais simples de um azul marinho discreto e chamei quatro dos guardas de minha guarda pessoal. Um deles levou a pesada cesta para mim e fomos sem sermos notados até as escadarias que levavam á torre-norte. Chegando lá em cima, peguei a cesta e os dois outros guardas em frente à porta abriram-na ao ver-me, e fechando -a logo que entrei.
O quarto era grande, com uma porta para um pequeno banheiro na lateral. Estava cheio de velas espalhadas pelo quarto mas não muito perto da cama. Também havia um guarda roupa e uma mesa de escrivaninha, onde deixei a cesta e sentei-me na beirada da cama.
Se descobrissem, eu poderia ser decapitada. Mas quando eu tinha treze anos foi a única decisão em que consegui pensar, e agora aos dezoito, próxima a me casar e ser coroada, ainda era a úncia solução da qual conseguia pensar.
- Pai? - Chamei-o e mexi de leve em seu ombro pra que acordasse. Meu pai, o bom Rei James |||, doente e fraco em uma cama em uma torre escondido e isolado... Mas ainda era melhor do que de baixo da terra, onde as pessoas achavam que ele estava...
Ele acordou e me olhou sorrindo, tentado se levantar um pouco.
-Olá, Emmaline. Eu tive uma boa noite de sono, e você?
Ele estava com a voz rouca devido a velhice, e ouvir aquelas palavras doía muito, cada vez que ele as dizia.
-Pai. Sou eu, Minerva. Sua filha. Mamãe não está aqui.
-Não está? Onde está Emmaline? Chame-a Minie, estou sentindo um cheiro ótimo de comida, podemos jantar os três...
-Papai, mamãe não está aqui. Lembra-se? Ela não está aqui a muito tempo.
Não está aqui a dezoito anos... Mas não iria dize-lo em voz alta.
Ele ficou me encarando sem expressão por um tempo até que se recompôs e ficou com uma cara triste mas tentou disfarçar.
-Me desculpe, minha princesinha. É essa maldita doença, Minerva, me de desculpe...
-Não tem que se desculpar. Está tudo bem.
Sorri e peguei uma bandeja de madeira para colocar na cama e ele não precisar levantar, colocando a comida em pratos e suco em taças. Então sai para dizer aos guardas que acendessem a lareira e sentei-me com ele na cama.
-A comida está ainda melhor do que ontem, minha filha. Agradeça a Helena por mim? Ela ainda cuida de você, não cuida? Ela era muito bondosa, espero que ainda seja a mesma.-Helena era empregada do palácio mas sempre cuidou de mim. Ela não poderia substituir a falta que eu tinha da mãe que nunca conheci mas chegava perto. Era ela quem cuidava dos meus machucados quando caia, quem me aconselhava quando brigava com Aramina...
-Ela cuida sim.
-E a carta que estava escrevendo ontem, conseguiu terminar? Ficou até tarde tentando escrever. Você é a Rainha, tem de estar sempre bem disposta.
-Não sou a Rainha ainda.
-Seria, se aqueles membros do Conselho fizessem algo que não fosse critica-la. É um ultraje que tenha que se casar para que tenha seu trono por direito.
Foi você quem decretou assim, antes de ser dado como morto...
-Está tudo bem pai. A aliança com a Itália beneficia aos dois países.-Expliquei para ele outra vez- Lord Leonard é como um filho para o Rei Rodolfo. Caeseris é ao lado da Itália, e o Rei não quer o seu protegido longe, e vai casar-se com uma Rainha, e ter a coroa matrimonial, enquanto Caeseris vai ter todo o suporte da Itália e do Vaticano que precisar.
-E quanto a sua felicidade?
-Não é como se não nos conhecemos. Conversávamos por carta desde que soubemos sobre o casamento, quando eu tinha treze anos.
-Então por quê a dificuldade com a carta de ontem, Minie?
Porque não conversamos a dois anos e o que eu deveria dizer? Ele chegaria amanhã e logo já iríamos casar, e não era o que eu queria, mas o que meu país precisava...
Mas não queria prolongar o assunto. Então conversamos sobre outras coisas e quando acabamos de comer e ele adormeceu, resolvi que não estava tarde para escrever uma outra carta.
♔
Minerva Adelaide Rosette, setembro, 1587
Queria Mamãe...
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