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História Cuimhne (Memórias) - Longa Distância


Escrita por: MSirius

Notas do Autor


Oi pessoal, espero que gostem dessa fic, é a minha primeira em não sei quantos anos. Também foi traduzida do inglês, que foi como a escrevi originalmente, então espero que não esteja muito estranha em termos de estrutura e tals. Sintam-se livres pra imaginar o Aizawa lindão com o rabo de cavalo (do capitulo epico #121) porque eu TOTALMENTE imaginei ele assim enquanto escrevia. A personagem é uma OC, que eu gosto d epensar que elaborei bem, espero que gostem dela.

Disclaimer: Todo e qualquer personagem de Boku no Hero Academia pertencem ao maravilhoso Horikoshi, essa história é para fins de entretenimento e apenas isso.

Capítulo 1 - Longa Distância


Ela acordou subitamente, um grito estrangulado preso na garganta. Ofegante, encarou o teto escuro, buscando se situar ao ambiente, tentando se separar do pesadelo que a acordou. Seu coração batia descompassado, como que tentando escapar de seu peito. Sentia como se estivesse lutando para respirar e, por um momento desesperador, achou que talvez não fosse mais conseguir. Não, não, não pense assim, ninguém nunca morreu por causa de um pesadelo antes.

Ela fechou os olhos, diminuindo o ritmo da respiração, inalando e expirando lentamente. Obrigou-se a relaxar os músculos de seu corpo, ordenando o seu coração a normalizar o ritmo. Está tudo bem, eu estou bem.

Depois do que lhe pareceu uma derradeira eternidade, seus batimentos cardíacos começaram a diminuir de velocidade. Vendo-se livre do pânico inicial, sua mente lhe permitiu divagar sua atenção para outras sensações, afim de encontrar alguma coisa na qual se ancorar. Hesitante, moveu um pouco as pernas, mudando-as ligeiramente de posição, tentando se reconectar com o resto do seu corpo. A brisa gentil que adentrava a janela acariciou sua pele, fazendo gelar o suor que a cobria, seus pelos se arrepiando em um protesto silencioso contra o choque térmico. Sons distantes começavam a se fazer notar: o alarme de um carro, o pacífico farfalhar de folhas das árvores próximas, o solitário pio de um passarinho ecoando no escuro. Os tipos de sons que a noite tem. Uma voz grave, sussurrando em seu ouvido, fazendo com que os cabelos de sua nuca se arrepiassem em terror, “você acha que pode escapar de mim, garota?”.

Não, não. Isso não é real, eu estou sozinha aqui, eu sei que estou. Em um reflexo de autopreservação ela fechou os olhos com força. Sentindo então, com renovada angústia, seu batimento cardíaco acelerando novamente, com um tranco. Seus músculos tremiam, sem que ela pudesse determinar se era devido ao frio ou ao medo que a tomava. De repente, sentiu o formigamento de um toque sob seus pulsos, segurando-a. Não, pare, é só a sua mente pregando peças, não é real. Um lamento seco escapou de seus lábios, abafado pelo repentino som de um carro acelerando do lado de fora. Trêmula, apertou os lençóis com o máximo de força que conseguiu, trincou os dentes, sentindo-se desesperada. Olhou para a janela, buscando alguma coisa, qualquer coisa, em que fixar seu foco. Algo que pudesse ajuda-la.  

Eu posso controlar isso, ninguém vai me machucar, está tudo bem. Ela repetia incessantemente para si mesma, como se fosse um mantra. Em aflição, voltou a focar-se na própria respiração. Inspirar, e expirar. Inspirar, e expirar. Devagar, sempre devagar. Eu estou bem, está tudo bem. Sua respiração oscilava, mas seu coração estava começando a se normalizar. Sim, é isso mesmo. De repente, sem aviso prévio, o ápice do pânico engolfou-a por completo e viu-se correndo para o banheiro, mal chegando em tempo de vomitar na privada. 

Com lágrimas de dor escorrendo pelos olhos, ela sentou-se no azulejo frio, abraçando as pernas e inclinando a cabeça para trás, encostando-a contra a parede. Concentrou-se em respirar, sentindo-se com energia suficiente para apenas existir. Acabou, passou, o pior já passou. Deus, como ela estava cansada. Seu corpo todo tremia, sua cabeça latejava dolorosamente, seu estômago se contorcia. Consequências naturais após o excesso de adrenalina que a havia dominado.

Após o que lhe pareceu um tempo infinito, começou a se sentir humana de novo. Levantando-se vagarosamente, ela apoiou as mãos na pia, usando-a como apoio, suas pernas ainda muito fracas para a sustentarem por completo. Lavou o rosto e enxaguou a boca, sentindo-se miserável. Encarou-se no espelho, seus olhos vermelhos e inchados olharam-na de volta. Esse tipo de incidente tornara-se raro nos últimos anos, mas quando acontecia acabava por ser destrutivo em excesso. Poucas coisas a ajudavam quando estava nesse estado, e por regra ela apenas tinha que aguentar.

Era sempre mais fácil com ele por perto.

Apoiando-se no umbral da porta, olhou para a cama, desencantada. Ela precisava descansar com urgência, mas não achava que fosse possível depois de tudo, e a possibilidade do ciclo se repetir não a atraia. A absoluta exaustão a mantinha ligeiramente suspensa, de certa forma anestesiada, sentindo-se uma estranha no próprio corpo. Resignada, enrolou-se nos lençóis. A brisa que adentrava o quarto era gentil, mas sentia-se enregelada e fraca, porém não se arriscava em fechar a janela; os sons da cidade eram sua única companhia. Suspirando, sentou-se na bancada na janela, olhando para fora. O relógio marcava quatro da madrugada e céu ainda estava escuro, ou tão escuro quanto o céu de uma cidade grande conseguia ficar. Ela podia ver as luzes amarelas dos postes, um ônibus noturno tranquilamente navegando a rua vazia, prédios escuros e apagados. Como era comum às cidades, nenhuma estrela se fazia visível. 

Quando ele estava junto, mesmo quando esse tipo de coisa acontecia, ela sempre podia voltar pros seus braços, para o seu calor. Aconchegar-se no seu abraço, permitindo com que a respiração dele e seu coração batendo a embalassem de volta ao sono. Mas ele estava no Japão, há milhares de quilômetros de distância. Com espanto, sentiu o início de lágrimas tocarem seus olhos, e reprimiu-as com vigor. Por acaso ela era uma criança? Já perdera a conta de quantas noites como esta havia passado sem ele ao seu lado, era perfeitamente capaz de sobreviver a outra sem precisar ficar com pena de si mesma.

Como que esperando sua deixa, seu celular escolheu este momento para vibrar sobre o criado-mudo de madeira, o som súbito e invasivo assustando-a no processo. Tudo bem, é só o telefone.

Ela sentou-se na beirada da cama, pegando o celular com uma mão, a outra sobre o peito, sentindo o coração palpitante, tentando acalma-lo. Não sentia-se no estado mental correto para ter qualquer interação humana no momento, mas poderia ser algo importante do trabalho. Olhou para a tela.

- Eraser

Seu coração pulou, dessa vez por razões diferentes. Ele lia mentes? Que horas eram no Japão? Cansada demais para pensar logicamente, ela atendeu a ligação por puro instinto; bem sabia que o preocuparia se não o fizesse.

- ...Alô? – atendou, a voz um tanto rouca, torcendo para que não soasse tão trôpega quanto se sentia.

- Claire? Te acordei? – A voz profunda de Shouta Aizawa falou do outro lado da linha. O mero som da sua voz era como um bálsamo pra sua alma, e sentiu-se ridiculamente próxima de chorar – Merda, já é madrugada pra você, me desculpa.

Como parecia que ele ia desligar no ato, Claire se apressou em responder – Não, não se preocupe. Eu estava acordada – ele suspirou em alívio, – Não desligue ainda, por favor. É... é muito bom. Ouvir sua sua voz. – disse, conseguindo por pouco impedir com que sua própria voz tremesse.

- Hmm? Ainda assim é tarde pra você. Tem certeza que não tem problema?

- Sim, não se preocupe – ajeitou-se melhor na cama, abraçando os joelhos, um pequeno sorriso no rosto. Ali estava, seu porto seguro. Procurou por algum assunto para conversar – Foi hoje a festa de aniversário do Hizashi, né? Eu adoraria ter ido.  

- Não perdeu nada. Só um bando de pessoas escandalosas e bêbadas.

- E você, bebeu muito? É sempre uma diversão te ver bêbado – provocou ela, sabendo perfeitamente bem que ele estava sóbrio.

- Não, eu era o motorista, para a sua informação – Ele respondeu, secamente – Por pouco consegui impedir que Nemuri vomitasse dentro do carro.

Ela estalou a língua de forma compreensiva, apreciando que a conversa estava começando a distrair sua mente – Ah, Nemuri sempre foi fraca pra bebidas.

- Sim, foi só incomodação. É bom estar de volta em casa – Ele completou, soando tenso e soltando um suspiro cansado.

Eles caíram em silêncio. Ela apertou o lençol entre os dedos com força, lutando contra a bílis que lhe subia a garganta. Sentia como se seus dentes estivessem quase tiritando, mas a noite não estava fria. Ouviu um miado vindo do outro lado da linha. Era Miku, a gata deles. Shouta fez um som para a gata, a chamando – Está com fome? Vem comer, Miku.

- Talvez ela esteja com saudades de mim – Ela brincou, embora na realidade adoraria ter a gata por perto agora e afundar o rosto no seu pelo macio, Miku sendo uma gata também muito carinhosa.

- Até parece. Ela só quer comida, essa criatura interesseira – Ele respondeu, seu tom de voz afetuosos traindo a aspereza da frase. Na realidade, Shouta adorava gatos.

O silêncio dominou de novo, mas dessa vez confortável. Ela procurou relaxar nos sons caseiros e cotidianos dele servindo a ração, conversando com a gata distraidamente, como ele sempre fazia. Fechando os olhos, ela quase podia se transportar para casa, para perto dele.

- ... Talvez eu esteja – ela o ouviu falar com ela, de forma longínqua.

- Hmm? Desculpa, o que você disse? Eu não ouvi direito.

- ...Com saudades. Talvez eu esteja com saudades de você – Ele repetiu, suavemente. – A Miku também, eu acho – ele concluiu, por falta do que falar.

E fácil assim, o nó na sua garganta retornou, bloqueando sua voz, as lágrimas perigosamente próximas da superfície. Deus, como ela queria sentir ele perto. Incapaz de responder sem chorar, ela permaneceu em silêncio, procurando controlar suas emoções. Respirou fundo, sem notar que sua respiração tremia. Ela não queria preocupá-lo, não gostaria que ele pensasse que ela não era capaz de lidar com os próprios problemas.

- Claire.

- ...Sim?

- Você está bem? – Ele perguntou delicadamente, a preocupação apenas insinuada. Um dos tons de voz que ele usava quando sabia que ela estava escondendo algo. Droga, ele não deixava nada passar.

Ela abriu a boca, fechou-a novamente, insegura – Eu... estou bem. Apenas cansada – Ela tropeçou na última palavra, a voz tremendo. Merda.

Ele fez um som baixo, do fundo da garganta. Sinal seguro de que ele não se deixaria enganar.

- O que houve?

Ela mordeu a parte interna da bochecha, sentindo-se dividida. Ela não queria mentir para ele ou esconder o que acontecera, mas também não se sentia preparada para revisitar seu pesadelo, não enquanto ainda sofria as consequências físicas deste. Talvez eu esteja ficando fraca. Eu deveria ser mais forte que isso.

- Claire, eu estou aqui. Você pode conversar comigo. – Shouta insistiu gentilmente, a voz tranquilizadora.

Assim instigadas, suas emoções encontraram a superfície, na forma de lágrimas abundantes, seu calor um contraste contra o frio de sua pele. Tentando engolir o soluço que se seguiu, ela levou a mão aos olhos, secando-os apenas para que se molhassem de novo – Eu não menti... Realmente é bom. Ouvir a sua voz. – Lutando contra o pranto, sua voz estava fraca – É só que... às vezes é difícil pra mim. Umas noites mais difíceis que outras. Só isso.

- Eu sei – ele falou, transtornado – Eu sei – repetiu, mexendo-se e mudando de posição na cama onde estava sentado – Se eu estivesse aí... Não, não tem lógica em pensar assim, não tem utilidade. – Falou, com um quê de frustração. Ela riu fracamente, imaginando com clareza ele passando os dedos pelos cabelos, como era seu hábito quando estava pensando – É realmente tarde pra você, Claire, você não quer dormir?

- Sim, eu quero. – Respondeu, devagar. Interrompeu-se então, procurando pelas palavras certas, e pela coragem para ser capaz de admitir a própria fragilidade. Ele apenas esperou, paciente. – Eu estou com medo de dormir. É estúpido. – ela acrescentou apressadamente, forçando uma risada nervosa, secando as lágrimas que ressurgiram, a mão trêmula. De súbito sentindo-se esgotada, ela apoiou a testa nos joelhos dobrados, como que tentando achar algum ponto de segurança dentro de si mesma. – É estúpido – repetiu, debilmente.

- Não, não é estúpido. Não tem problema. – Ele murmurou, compreensivo. Grunhiu levemente para si mesmo, pensando. – Você está na cama?

- Sim – suas lágrimas pararam, diante da pergunta inusitada – E você?

- Também. – Ele soltou um suspiro, alongando o corpo – Eu vou te fazer companhia, então... Você pode dormir tranquila. – Sussurrou, como se compartilhando um segredo – Eu não posso estar aí, nesse momento. Mas vou ficar acordado com você, até você conseguir dormir, okay?

Lentamente ela se deitou na cama – Não precisa se incomodar. Mesmo. Eu percebi que você está cansado, Shouta. – Falou, hesitante em aceitar a proposta, lembrando o quão pesada era a carga de trabalho dele. Ao mesmo tempo, era quase desconcertante a prontidão com que seu próprio corpo o obedeceu, seus músculos relaxando pela primeira vez em horas.

- Não tem problema. Eu também vou dormir, assim que você conseguir.

- Me desculpe por te incomodar assim – ela sussurrou, sentindo-se culpada – Mas... – continuou, atropelando o que ele estava para dizer – Obrigada. – ela deixou um suspiro escapar seus lábios – Fico feliz que tenha me ligado.

- Não se preocupe. – Ele olhou para o teto, sentindo seus olhos secos arderem. Fechando-os, ele tentou imaginá-la perto – Eu também gosto de ouvir a sua voz.

Ele continuou conversando com ela, em tons sussurrados. Sobre o que tinha feito durante o dia, tudo sobre o aniversário do Hizashi, alguma notícia interessante que ele havia visto recentemente. Ela prestou pouca atenção ao conteúdo do que ele falava, tranquilizada pelo ritmo de sua voz, a profundidade desta, lentamente relaxando nela da mesma forma que faria nos braços dele. Fechando os olhos, deixou-se embalar, imaginando-o ao seu lado. Sem que notasse, o sono a tomou.

Ele não parou, falando de qualquer evento que lhe viesse à mente por mais alguns minutos. Finalmente parou por um momento, escutando atentamente à respiração suave e rítmica dela, assegurando-se que ela dormia. – Eu te amo – Ele murmurou sem perceber, deixando o sono leva-lo também.


Notas Finais


Esta aí o/ fiquem a vontade pra me falar se amaram, gostaram, odiaram, ou qualquer outra emoção :D tentei deixar o Aizawa o mais perto da personalidade original possivel mas né >_< essa é uma personagem original que eu penso faz tempo e provavelmente vou acabar postando outras one-shots deles dois. Talvez até uma história linear com direito a plot e tudo, veremos como vou conseguir planejar :)


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