História Look At Me - A resposta

Não havia conseguido dormir, parecia que nada mais podia dar certo. Eu havia ido para casa de Yahi depois que tudo aconteceu, ela me acolheu e estava fazendo de tudo para que eu ficasse pelo menos um pouco melhor, mas eu sentia como uma parte de mim houvesse morrido quando vi Yoongi naquela cama com Yura. Sempre que eu pensava nisso tudo o que eu conseguia fazer era chorar cada vez mais.

Eu estava na sala sentada abraçando meus joelhos, desde que eu havia chegado eu me neguei á dormir, á comer, eu só queria ficar sozinha tentando fazer aquela dor parar, mas a cada minuto eu sentia que em meu peito só havia aquela dor como de repente todos meus momentos ruins com Yoongi viessem á minha mente de uma forma inevitável e ficavam se repassando como um filme repetido. Levantei a cabeça ainda com os olhos inchados de tanto chorar e vi Yahi entrar na sala e se sentar ao meu lado com um sorriso gentil, passando a mão em meus cabelos calmamente.

- Ei... Tem que comer alguma coisa, desde ontem que está aqui assim – ela falava me olhando preocupadamente – Vamos conversar sobre o que aconteceu só quando você quiser... Tá? Taehyung passou mais cedo e trouxe algumas coisas suas, tá tudo bem você ficar aqui quanto tempo precisar...

Concordei com a cabeça querendo agradecer ao que estava fazendo, mas nenhuma palavra saía. Eu ainda estava em um completo choque, me aproximei e deitei a cabeça em seu colo ficando em silêncio fechando meus olhos com força ao me lembrar de Yoongi e Yura. Eu não queria acreditar, de todas... Tinha que ser logo ela? Eu me magoaria de todas as formas, mas... Era justo a garota que me empurrou e fez com que eu sofresse o acidente que havia feito com que eu perdesse meu bebê, a mesma garota que me perseguiu e fez da minha vida um inferno. Yahi passava a mão em meus cabelos com calma até que eu suspirasse profundamente me contorcendo um pouco querendo que aquela dor fosse embora.

- Por que ela...? De todas, por que logo Yura? – perguntei para mim mesma com a voz trêmula, Yahi me olhava encolhendo os ombros, ela estava tão em choque quanto eu estava. Então me olhava sem conseguir ficar quieta.

- Eu não devia tocar no assunto, mas... Quem sabe ele não te confundiu mesmo? Yoongi parecia tão apaixonado por você e...

- Ela fez da minha vida um inferno, Yahi – me sentei a olhando sem conseguir evitar voltar a chorar – De todas as pessoas que ele poderia ter me traído, ela é a pior... Eu não paro de pensar nos dois, ainda mais quando ele havia me prometido que não me magoaria novamente... Eu... – abaixei a cabeça voltando a chorar, ela me abraçava respirando profundamente.

- Calma, eu sei que deve estar doendo tanto ainda... Olha, assiste um pouco de televisão, eu tenho que comprar algo para fazer o nosso jantar – ela sorria levemente – Consegue ficar bem sozinha...? Prometo que não demoro, o mercado é aqui perto.

Fiz que sim com a cabeça a vendo sorrir mais uma vez tentando me tranquilizar, saía pela porta enquanto eu ligava a televisão da sala tentando manter minha cabeça ocupada, mas cada vez era ainda mais impossível. Yahi no fundo queria que eu repensasse e que aceitasse atender no mínimo á uma ligação de Yoongi, mas como eu conseguiria? Sempre pensaria que uma hora ou outra eu me magoaria novamente, eu não conseguiria mais olhar em seu rosto sem pensar em ele com Yura. Eu havia confiado tão cegamente nele que essa minha parte que o aceitou sem nenhum recuo agora estava ferida, é como se a raiva que eu sentia não fosse nada perto da tristeza pesada em meu peito. Eu queria apagar para que não sentisse aquilo novamente, eu me sentia tão fraca e idiota que mal conseguiria descrever. Escutei a campainha e me levantei devagar andando até a porta, eu estava com um pijama que Yahi havia me emprestado e abri a porta pensando que ela havia esquecido algo, mas era Jungkook com um leve sorriso de lado. As poucas pessoas que eu estava vendo estavam me olhando com aquela mesma expressão como se pensassem “você estava chorando, não é?”. Taehyung ia e vinha falando em voz baixa com Yahi como se me contar qualquer coisa fosse cruel demais.

- A Yahi saiu... – foi tudo o que consegui falar, ele me mostrava a minha mala, abri a porta para que entrasse dando graças a deus que eu não teria que ir até lá pegar minhas coisas – Obrigada por trazer minhas roupas...

 Ele levantava a mala e então me olhava sem dizer muita coisa, com certeza sabia o que havia acontecido. Estava bem óbvio na minha cara que nada estava bem.

- Está no quarto de hóspedes, não é? Não precisa fazer esforço, eu deixo lá para você – ele sorria gentilmente e antes que eu pudesse responder ele seguia pelo corredor para deixar a mala no quarto em que eu estava dormindo. Mesmo que eu estivesse tão triste como agora, ver tanta gentileza só fazia com que eu me sentisse algo digno de piedade. Andei até o sofá me sentando e olhando para a televisão me forçando a não chorar novamente, ele voltava á sala e se sentava no mesmo sofá, mas com certa distância de mim ainda em silêncio como se procurasse cuidado, escolhendo o que poderia falar comigo.

- Sinto muito, Hyejin... Eu nem cheguei á ir para lá, fui na casa do Namjoon e, bem, acredita que acabamos jogando poker até tarde? Eu acabei desanimando para ir... – ele me olhava mais uma vez sem conseguir evitar abaixar a cabeça e respirar profundamente visivelmente incomodado a me ver daquele jeito – Eu só quero dizer que eu sinto muito...

- Eu só queria poder arrancar essa dor, isso não vai passar tão cedo... Eu sei disso. – falei abaixando a cabeça tentando limpar as lágrimas que insistiam em cair por meu rosto, ele então sorria gentilmente como se entendesse o que eu queria dizer e se levantava indo até a cozinha voltando com dois copos colocando sobre a mesa de centro á frente do sofá em que estávamos, tirava da mochila uma garrafa de whisky e enchia os dois copos de entregando um deles.

- Regra minha e do Namjoon. Toda vez que estamos com a vida um tanto... Triste, complicada, tomamos whisky. Não melhora nada, mas pelo menos nos dá coragem para falar o que está preso em algum lugar de nós. – ele me olhava até que eu pegasse o copo e desse o primeiro gole, o gosto era forte, tal como o que eu sentia a ponto que eu respirasse profundamente como se tentar me acostumar com aquela bebida fosse um pouco mais fácil a cada gole, talvez pelo sabor se assemelhar á tudo o que eu sentia, ele tomou alguns goles e ficava a me olhar suspirando baixo – Eu sei como está, Hyejin. Infelizmente isso não vai passar tão cedo, vai parecer que a cada dia que tudo possa piorar cada vez mais... Mas, se quer um conselho, guardar isso para si mesma só irá aumentar a dor. O sofrimento acaba por se diminuir quando o compartilhamos.

- Eu... Confiei tanto nele e agora quando penso nele... dói. É como se de repente algo tivesse destruído a parte de mim que ainda acreditava em algo – bebi mais um pouco e fechei os olhos com força sentindo as lágrimas caírem – Parecia que nada era bom, sabe? Todos os dias eu sofria alguma humilhação e aquilo era tão constante que eu acabei pensando “vai ser eu mereça isso” e ele me fez acreditar que eu merecia pelo menos um pouco mais, fez com que eu acreditasse que eu tinha motivos para sorrir e me fez me sentir bem com tudo o que eu era – falei abrindo meus olhos sentindo as lágrimas caírem – Mesmo que algo diferente tenha acontecido, eu o vi com Yura e pensei “acabou, ela tirou tudo de mim agora”. Eu sinto que cada vez que amo algo ou que acredito que as coisas podem melhorar, ela ou Jin vão arrancar isso de mim... – olhei a bebida em meu e o senti limpar uma umas lágrimas que caíam pelo meu rosto.

- As pessoas te odeiam por um motivo. Muitas vezes quando recebemos críticas de um grande número de pessoas e notamos certa raiva, é por que estamos fazendo algo certo. Desde que me lembro falarem sobre você naqueles corredores, pensei “ela é tão péssima para falarem isso?”. Aí eu vi que era por que você simplesmente dava um sorriso gentil quando alguém pedia por sua ajuda, nenhuma vez te vi insultar alguém, estava simplesmente lá, em silêncio. Mas era boa em tudo o que fazia, como se dissesse “se aceito alguma coisa, vou fazer com todo o empenho que tenho”. As pessoas se irritavam quando você se saía bem em algo, em como sempre se mantinha de pé mesmo com as críticas – ele sentava mais perto me abraçando passando a mão em meu cabelo – Pessoas ruins são essas que querem pisar naquilo que não conseguem ser. Você é mais forte que isso, eu sei que é. – ele sabia ser gentil daquela forma, me olhava sair do abraço e voltar a chorar com o que havia dito, Jungkook desviava o olhar como se talvez tivesse falado além da conta, bebia longos goles da bebida pensando em uma forma de me fazer parar de chorar. Eu não conseguia entender como ele conseguia me ver de uma forma tão boa, tomei mais alguns goles e balancei a cabeça negativamente.

- Eu não entendo como consegue pensar assim de mim, eu... – falei tentando realmente compreender de onde ele conseguia me olhar daquela forma, mas antes que eu falasse o vi encostar o copo na mesa e me abraçar novamente.

- Dói te ver assim. Droga, eu tinha raiva de você com Yoongi, mas pelo menos você sorria e quando te via feliz daquele jeito tomando seu café e me dando bom dia, meu dia melhora pelo menos um pouco. – ele afastava o abraço levando a mão ao meu rosto limpando minhas lágrimas cuidadosamente encostando seus lábios nos meus de uma forma inesperada em um beijo doce, acariciando meu rosto querendo prolongar um pouco aquele toque, me assustei e me afastei o afastando de mim,  o olhando com o rosto vermelho sem esperar que ele fizesse aquilo, me levantei ainda sem saber o que dizer.

- O que está fazendo, Jungkook...?! – falei ainda assustada por ele ter mesmo me beijado, por impulso em minha mente aquilo era trair Yoongi. Tudo estava confuso e por mais que eu me sentisse traída e triste, eu ainda amava Yoongi o bastante para ver que aquilo era errado. Eu jamais trairia Yoongi mesmo com o que havia acontecido mais cedo.

- Desculpa, eu não pensei direito, foi tanta coisa passando pela minha cabeça... Foi a raiva dele ter de traído, foi a vontade de fazer você parar de chorar – ele se levantava ainda me olhando levando a mão aos cabelos sem saber o que fazer – Eu sei que você está ainda em choque por tudo o que aconteceu e, droga, está parecendo que eu aproveitei que você estava frágil... Eu não queria te assustar, mas foi algo automático.  – ele bufava e me olhava voltando a se sentar fechando os olhos respirando profundamente – Qual é o problema comigo? Eu acabei de te assustar, mas quero te beijar de novo...

- Jungkook, não posso, eu me sinto como se estivesse traindo Yoongi, eu ainda o amo apesar de ter dormido com Yura, eu nem consigo pensar nele sem chorar... Mas...

- Não termine essa frase – ele falava se levantando me olhando fixamente, abaixava a cabeça soltando um prolongado suspiro fechando os punhos – Toda vez que eu falava para você o que eu sentia e você dizia “não”, doía. E toda vez que eu imaginava qualquer coisa que fosse, eu só conseguia ver seu rosto dizendo “minha resposta para você sempre será negativa”, é como algo que não consigo alcançar. Eu insisto em não desistir, sei que tudo está acontecendo muito rápido á sua volta, mas não fale “não”. Apenas não fale nada, deixe-me ter a ilusão que por uma questão de segundos... Que eu pude imaginar um sim.

Ele saía pela porta me deixando ali ainda completamente assustada, era lógico que minha resposta negativa, eu era desesperadamente apaixonada por Yoongi. Fui até o quarto e me sentei tentando organizar meus pensamentos, eu sabia que havia a possibilidade de que Yoongi tenha sido drogado assim como eu, mas o que eu poderia pensar sendo que ele havia transado com Yura? Sempre que eu olhasse em seus olhos eu me lembraria disso. Tudo ainda me machucava como se eu recebesse várias pancadas de uma vez só, eu me via cada vez mais cercada. Olhei minha mochila no canto do quarto ao lado da mala e andei até a mesma pegando meu celular sentindo mais uma vez meu coração doer. Yura tinha feito minha de minha vida um inferno e agora havia conseguido me destruir, sabia que eu o amava mais do que tudo e agora parecia que minha vida estava pesada, como se eu não conseguisse ter nada que me fizesse feliz. Pensei em ligar para Yoongi e escutar sua voz, saber de alguma explicação... Mas assim que eu escutasse a voz que eu tanto amava, eu choraria. Eu o amava tanto que chegava a doer e isso estava acabando comigo, toda vez que pensava em seu toque, em como me beijava, a noite em que pediu para que eu prometesse ficar sempre com ele. Se o amor era tão bonito, por que parecia tanto me destruir? Vi meu celular e uma mensagem chegar, mas não era de Yoongi e muito menos de Jungkook. Era Jin.

- “Aceita o acordo? Sim ou não?” – li em voz alta e me lembrei de sua proposta. Logo começariam as aulas e segundo o que Jin havia dito, Yoongi seria humilhado e agredido todos os dias, de uma forma pior do que acontecia comigo, ele sofreria todos os dias e sentiria na pele tudo que passei por tanto tempo. Se eu aceitasse a proposta, ele seria evitado de tudo e Jin o deixaria em paz, lhe devolvendo tudo o que perdeu. A mãe o aceitaria de volta, a casa do pai dele jamais seria destruída e Yoongi teria para sempre aquela lembrança única dele que ainda restava. Eu estava machucada e perdida, tudo estava em perfeito caos ao meu redor, mas era inegável... Eu o amava mais do que eu podia tentar falar. Ainda me sentia traída e como se meu coração tivesse sido partido em milhares de partes, tantas que eu não conseguiria reuni-las para tentar me reconstruir. Mesmo se eu pegasse todos os meus pedaços eu sentia que jamais poderia voltar a ser o que eu era, passei tanto tempo me sentindo sozinha e quebradiça que mal me lembrava quando foi que eu tinha sido completa. Pensei mais uma vez em Yoongi e uma lágrima escorria por meu rosto, meu amor por ele era tão grande que mesmo na situação em que eu estava eu havia me decidido, eu faria o suficiente para que ele fosse poupado de mais dor, de mais perdas. Não sei se eu estava sendo ingênua, fraca ou qualquer outra coisa. Eu sei que por mais que eu chorasse ao pensar nele com Yura e como eu desabaria se tentasse olhar em seu rosto ou escutasse sua voz, nunca aguentaria vê-lo ser tão humilhado como eu fui, passar todos os dias sendo odiado a ponto de ficar isolado em um canto de uma sala se perguntando “por que eu insisto em acordar todos os dias?”. Não, eu não queria isso para ele... Era o Yoongi, o que tinha me salvo tantas vezes, aquela pessoa envolvente que fez com que eu o olhasse e sentisse seu toque intenso e seu jeito estranho que era rude e irritado, depois tão carinhoso e apaixonante. Era aquela pessoa que mesmo me magoando, eu ainda podia me lembrar de seus beijos e o jeito que falava meu nome pela manhã. Outras garotas falariam “eu queria odiá-lo por ter me traído”, mas eu não conseguiria nem ao menos falar isso naquela situação... Raiva era algo que eu não conseguia sentir por ele. Procurei o número em minha agenda e liguei pensando que eu faria a coisa que seria mais humilhante do que tudo até agora, eu sei que eu ia voltar a ter dias em que tudo pareceria pesado, mas eu quis que Yoongi não sofresse mais, que tivesse de volta tudo o que perdeu... A mãe que era a única família que lhe restava, a casa que era a única lembrança viva de seu pai, poderia pelo menos ter aquele ano sem que ninguém o machucasse... Jin o deixaria em paz, esse era o acordo.

- Hyejin? Já tem sua resposta? – ele atendia á ligação falando calmamente, abaixei a cabeça sentindo meu corpo tremer de medo apenas por escutar sua voz, mas eu tinha que fazer aquilo para poupar Yoongi de sofrer mais nas mãos dele. Eu teria que mentir para Yoongi se o visse, me afastar ao máximo, só assim ele não seria perseguido, apenas desse jeito que ele teria tudo de volta. Tudo o que Jin havia tirado dele.

- Eu aceito a proposta.