História Look to the other side - Evolução

Não havia voltado a falar com a Camila naquele dia antes da noite. Eu ajudei minha mãe em seu lugar na floricultura enquanto ela seguiu em uma conversa longa com o homem de mais cedo. Por hora, minhas pernas eram impacientes esperando que minha mãe fechasse a porta da loja e que Camila atendesse o celular, mas ela não o fez, o que me deixou pior ainda.

- Lawrence, pare de ser bobo. Talvez ele a tenha levado para casa. – Mamãe disse percebendo minha impaciência.

- Ela deveria ter me mandado uma mensagem ou atendido ao celular então. – Falei rápido. Papai estava nos esperando no carro. – Eu preciso saber se ela está bem.

- Entre no carro, amor. Ela vai retornar depois. Talvez tenha descarregado seu celular. – Deu de ombros e caminhou para o carro.

- Eu preciso saber se... – Fui interrompido por alguém me abraçando por trás.

- Hey! – Camila disse quando virei em sua direção.

- Onde você estava? Você está bem? – Perguntei tentando encontrar algo de errado nela, mas parecia bem, as mãos levemente frias.

- Eu estou bem. Fui conversar com aquele homem, mas a Dinah apareceu e eu fiquei conversando com ela porque já tinha passado do meu horário e ela não me deixou voltar. – Riu. – O que foi?

- Eu estava preocupado. – Seu sorriso diminuiu e ela tinha agora uma expressão indecifrável. – Por que não atendeu o celular ou me mandou uma mensagem? Eu pensei que ele tivesse te levado embora.

- Eu esqueci meu celular no seu bolso. – Enfiou a mão no bolso da minha calça e pegou seu celular de volta. – Ele ficou no silencioso. Desculpa.

- Eu estava te ligando esse tempo todo e o seu celular estava comigo? – Eu tive que rir porque aquilo pareceu ridículo.

- Desculpa. – Ela me abraçou como pedido de desculpa e eu finalmente encarei de volta o carro dos meus pais.

- Tudo bem. Só não... Não esqueça o celular comigo de novo. Eu poderia ter jogado fora sem saber.

- Você não faria isso. – Me beijou a bochecha.

- Quer carona pra casa? Nós estamos partindo. – Voltei a segurar sua mão. Mamãe e papai estavam nos encarando com um sorriso engraçado no rosto. Era estranho porém.

- Ei, vocês dois. Porque não entram aqui e nós vamos jantar algo fora. Ninguém está com coragem para preparar o jantar. – Papai gritou de dentro do carro. Eu encarei Camila em busca de uma resposta. Ela apenas sorriu mais largo e deu de ombros antes de começar a nos guiar em direção ao carro. Ela não recusaria comida de graça.

- Tem certeza que querem me levar pra jantar? – Perguntou em um tom divertido fazendo meu pai franzir as sobrancelhas.

- Por que não iríamos querer te levar para jantar? – Ele perguntou partindo com o carro quando fechamos as portas e colocamos os cintos de segurança.

- Porque talvez ela possa comer sozinha um jantar para 5 pessoas. – Comentei a encarando e ela tentou usar sua expressão surpresa, mas estava quase gargalhando. Eu ainda queria saber sobre sua decisão após a conversa da oferta de trabalho.

- Não!! – Papai gargalhou primeiro.

- Você deveria ver o que ela come no lanche. Não sei para onde toda essa comida vai. Ela é tão pequena. – Mamãe riu também.

Talvez eu soubesse exatamente para onde toda essa comida ia, e era uma das minhas partes favoritas em seu corpo, mas eu não tinha permissão para a tocar ainda. Camila poderia ser pequena e magra, mas ela definitivamente tinha uma bunda enorme e aquilo me matava toda vez em que eu a via. Era como se fosse um mundo inteiro bem ali. Não, Lawrence, esses pensamentos agora não.

- A comida nos abastece, então eu simplesmente como. – Ela deu de ombros entrelaçando os dedos nos meus.

- Eu sinto falta de ter um metabolismo trabalhando rápido assim. Deus, eu estou perdendo a forma. – Mamãe comentou olhando seu próprio corpo. Papai a olhou rapidamente e negou.

- Não, você está cada vez mais maravilhosa, querida. – Ele falou dobrando em um dos cruzamentos. A mulher ao seu lado agora com um sorriso mais confiante. Eu poderia me ver tento isso com alguém no futuro.

- Sobre o que está pensando? – Camila sussurrou quando se aproximou mais de mim.

- Que você ainda deveria ter me avisado que estava bem. Eu realmente estava prestes a surtar. – Eu sorri, mas era verdade. Eu podia ver seu rosto sendo iluminado parcialmente pela iluminação vinda da rua. Era como se cada pequeno detalhe do seu rosto se realçasse em cada luz diferente. Ela era bonita demais para não ser observada 24 horas por dia.

- Me desculpe. Eu só... Você conhece a Dinah, ela não me deixou voltar até que tivesse que ir embora de verdade. Eu vou ficar te devendo uma por te deixar preocupado. Não farei novamente. Eu prometo. – Descansou a cabeça no meu ombro e relaxou mais ao meu lado. Sua mão agora na minha coxa. Eu nunca havia tido alguém tão próximo de mim e mesmo que me fosse estranho, era confortável e eu queria mais.

- Acho que gosto do fato de você me dever algo. Eu posso te levar para sair quando eu quiser? – Perguntei também em sussurro. Meus pais tento uma conversa mais animada na frente.

- Eu iria sair com você o tempo todo, mas ainda preciso da permissão dos meus pais e da sua mãe e você também precisa da permissão deles. – Respirou fundo. Ela parecia cansada por um segundo. – Você pode cobrar outra coisa porém.

Eu não deveria ter levado isso para o outro lado, mas não é como se minha mente pudesse ajudar quando o seu perfume estava me deixando em êxtase. Apenas sorri.

- Eu vou pensar sobre o que cobrar. – O carro parou segundos depois e ela voltou a se afastar.

- Estarei esperando. – Franziu o nariz em um sorriso fofo. - Deus, eu realmente estou com fome, mas não vai ser uma noite de prejuízo para vocês.

Meus pais riam agora da animação da garota ao meu lado na mesa. Camila estava observando o cardápio e falando qualquer coisa engraçada para nos fazer rir. Talvez minha mente sempre fosse querer ser invadida por ela quando estávamos perto. Os seus detalhes, sua voz, sua gargalhada, o nariz franzindo com seu sorriso largo. A forma como ela levava o cabelo para trás. O brilho nos seus olhos quando ela me olhava. Eu estava caindo tão profundamente cada vez mais, que foi estúpido pensar que um dia eu me perguntei se realmente estava gostando dela. Quem não gostaria?

- Eu vou querer o mesmo que você. – Falou orgulhosa de si quando fiz meu pedido ao garçom.

- Eu só vou comer salada, Camz. – Sorri.

- Nós só vamos comer salada. – Confirmou seu pedido. Meus pais nos encarando de volta com o sorriso estranho. – Eu só acho que preciso melhorar minha alimentação, sabe? O Lawrence disse que devemos jantar algo mais leve e eu vou tentar fazer isso.

- Isso quer dizer que nosso filho é um bom exemplo? – Papai perguntou me encarando.

- Completamente um bom exemplo.  Eu costumava comer pizza para o café da manhã e agora tenho iogurte, salada de frutas ou cereal. Acho que ele é o que tem a cabeça no lugar no nosso grupo de amigos do Colégio. Os outros são bem... Loucos, talvez? – Me encarou para que eu confirmasse. Eu afirmei com a cabeça, mas não pude concordar sobre eu ser o que tem a cabeça no lugar. Eu costumava ter a cabeça bem fora do lugar, na verdade. Era o garoto que tinha crises de ansiedade e chorava nos braços do pai por ter medo de não ser aceito.

O jantar foi divertido. Camila tinha uma relação boa com meus pais e qualquer assunto na mesa era motivo de gargalhadas entre eles. Os mais velhos continuaram com os olhares engraçados e estranhos sobre nós por algum tempo também.

Ao deixa-la em casa, Alejandro nos recebeu na varanda e nos convidou para um almoço no fim de semana. Eu fiquei nervoso e ao mesmo tempo feliz. Seria bom ter mais contato com sua família, uma vez que Camila estava bem próxima da minha, mas em relação aos seus pais, eles mal sabiam algo realmente sobre nós.

Tive que dormir com esse sorriso no rosto quando Camila cantou para que eu dormisse. Ela usou da sua voz doce e suave quase como se cantasse uma canção de ninar, mas parecia uma balada recente. Guardei para a perguntar sobre a conversa com o cliente da minha mãe somente na manhã seguinte. Quis que o sentimento bom daquela noite durasse um pouco mais.

Acordei um pouco mais cedo após esse sonho estranhamente agradável. Talvez fosse a quantidade maior de homônimos em mim ou minha mente querendo algo mais dentro de uma relação. Eu mal havia namorado alguém, então nunca havia dado esse passo maior para mim e outra pessoa. Ao mesmo tempo que parecia ser prazeroso, aquilo me invadiu de medo. Como eu poderia fazer isso com alguém se mal aceitava meu corpo como ele estava agora?

A minha mente morreu um pouco em relação a sexo, mesmo eu sabendo que eventualmente, isso aconteceria. Teria que esperar e trabalhar minha mente para ter confiança o suficiente. Eu confiava na Camila, mas não confiava em mim mesmo sobre como me sentir. Não era o corpo que ela esperava ver por baixo das minhas roupas. Não era o corpo que eu queria ou deveria ter.

Minha manhã se perdeu um pouco com tanto pensamento. Mamãe não comentou nada, mas ela também estava mais calada, assim como o meu pai. Parecíamos não ter acordado em um bom dia.

- Precisa de dinheiro para o lanche? – Mamãe perguntou vasculhando sua bolsa quando entramos no carro.

- Não. Eu vou ficar bem. – Dei de ombros e respirei fundo observando o movimento do lado de fora enquanto meu pai fazia o mesmo percurso de sempre.

Pegamos Camila em sua casa. Essa por sua vez, estava mais animada que na noite anterior. Como alguém poderia estar tão animado durante a manhã? Nem o clima do dia era tão agradável, mas me fez sorrir a ver feliz.

Havíamos todos nos cumprimentado quando ela sentou ao meu lado. Foi perceptível a diferença no humor de cada um, então ela apenas franziu as sobrancelhas suavemente, inclinou a cabeça para a esquerda e deu um sorriso curioso, mas não falou nada a mais também.

Mamãe ficou na floricultura e Camila e eu desembarcamos em frente ao Colégio. Caminhamos para o corredor principal ainda em silêncio. Eu estava sentido o meu peito sufocar, mas não havia apenas um motivo para tal sentimento.

- Você está bem? – Perguntou sem me olhar enquanto abria o seu armário em outro corredor.

- Sim, só... Eu não sei. Tive um sonho estranho e é só. Você está bem? – Devolvi a pergunta observando o seu perfil.

- Sonho estranho? Sim, estou bem. – Sorriu me olhando rapidamente. – E está tudo bem na sua casa? Seus pais pareciam estranhos essa manhã.

- Acho que não é uma boa manhã para os Jauregui. – Tentei sorrir também. – Eu não sei o motivo de eles estarem tão quietos. As vezes acordamos assim.

- As vezes eu acordo assim também. Quer dizer... Todos temos essas manhãs. – Deu de ombros e trocou os livros na mochila. – Quer falar sobre o seu sonho estranho?

- Não. Eu estou bem. – Como eu contaria para ela que estava tendo esse tipo de sonhos? Eu não poderia.

- Okay, sr. Estranho. Vou deixar você ficar mais quieto hoje, mas por favor, se tiver algo acontecendo de errado, só me avise, eu posso tentar ajudar se você quiser. – Camila me beijou por alguns segundos e eu quase senti como se nada mais pudesse perturbar minha mente se eu a tivesse comigo, mas era exatamente o que me perturbava a mente.

- E aí, seus heteros. Como estão? – Harry e Louis chegaram gargalhando ao nosso lado.

- Hey, garotos. Tudo bem? – Camila os cumprimentou com abraços enquanto eu apenas sorri.

- Estaríamos melhor se tivesse mais gente apoiando o Collins. – Harry olhou pra mim. - Sim, Lawrence, eu estou falando de você.

- Vou me inscrever hoje. Não se preocupem. – Respirei fundo. Louis com um olhar surpreso.

- Mais um hetero na lista do Collins. Isso é ótimo. – Se apoiou no ombro do namorado. – Por que decidiu fazer isso só agora? Até ontem você estava dizendo que precisava pensar. O que mudou?

- A Camila me convenceu a entrar nesse grupo pra apoiar o Sr. Collins, então...

- Se a namorada pede, eles fazem. Isso é tão clichê. – Harry revirou os olhos. - Certo, heteros. Nós temos que procurar outros heteros para apoiarem o Collins também. A gente se vê no debate no intervalo.

Os dois se foram exatamente na mesma hora em que todos os outros apareceram. Camila não estava ajudando minha mente sobre me livrar do sonho de mais cedo quando ela estava de costas abraçando alguém com essa calça jeans branca que marcava bem suas curvas. Eu podia sentir meu coração acelerar.

Havia essa conversa boba sobre os teste e eles voltaram a perguntar sobre o motivo de só agora eu aceitar apoiar o Sr. Collins. Não era como se eu não o apoiasse antes, é claro que ele era o meu candidato favorito, mas me pareceu arriscado quando o professor Pearson me chamou para o grupo de trans.

Lucy e Vero estavam me olhando como se soubessem exatamente o que havia na minha mente. Lucy principalmente. Ela estava sorrindo e talvez eu tenha encontrado incerteza nela também. Compartilhávamos tanta histórias juntos, mas depois de tudo o que Camila havia dito no dia anterior, simplesmente decidi encarar quem eu era de verdade. Não teria de contar a menos que fosse questionado sobre e por agora, ninguém parecia desconfiar.

...

- Eu nunca pensei que fosse dizer isso, mas a Camila nos bateu em questão a namorado bonito, Mani. O Lawrence é lindo e é como um namorado ideal. – Dinah fez uma expressão quase chateada e triste ao mesmo tempo enquanto comentava com Normani durante a aula.

- Era exatamente o que eu estava pensando. Lawrence, essa bunda é sua de verdade? – Normani perguntou e Camila engasgou na cadeira a minha frente antes de virar e lançar um olhar reprovador para a amiga. – O que? Você já viu o tamanho da bunda do seu namorado? Nem o Chris, aquele namorado da Dinah que jogava baseball, tinha uma bunda tão grande e lembra que ele estava na academia todos os dias malhando? A do Lawrence parece natural. É natural?

- Mani!! – Camila revirou os olhos. Eu tive que rir.

- Sim. Eu nasci com ela, então...

- Você não precisa falar essas coisas pra elas, L. Elas vão achar que tem direito de te zoar mais tarde. – Camila piscou pra mim e Dinah a empurrou o ombro rindo. – Eu estou falando sério.

- Okay, Lawrence, a sua bunda pode ser melhor que a do Chris, mas você já viu a da Camila, certo? Deus, Mani, eles serão aqueles casais gostosos no futuro. É a primeira vez que posso dizer que a Camila passou da gente de verdade em namorados. – Dinah quase choramingou. Eu estava querendo rir porque Camila ficou vermelha e virou o rosto para frente quando Dinah comentou sobre sua bunda. É claro que eu havia percebido isso. Era algo impossível de não se notar.

- Dinah, pare, okay? Se não encontrarmos nenhum garoto gostoso o suficiente, então ficamos uma com a outra. – Normani gargalhou sozinha enquanto Dinah a olhava surpresa.

- E não seria a primeira vez. – Camila sussurrou fazendo as duas se calarem. Todos sabiam o que elas haviam feito no acampamento.

O intervalo iniciou minutos depois e lá estavam todos de volta para os debates na quadra. Dessa vez, Sr. Collins reforçou seus projetos e manteve a palavra com outros já iniciados nos anos anteriores. Hans, por outro lado, foi ridículo mais uma vez.

...

- Camila, senta aí com o Lawrence. – Normani empurrou a amiga para cima de mim e Camila acabou sentando no meu colo. Droga, minha mente correu longe outra vez. Eu senti meu rosto esquentar.

- Espero não ter nada ficando duro aí embaixo, garoto. Camila precisa da minha permissão e ela ainda não tem. – Dinah me ameaçou com seu cachorro quente fazendo o resto do nosso grupo rir no refeitório e eu corar ainda mais.

- Mas não tem nada duro ali, Dinah. Pode ficar tranquila. – Vero falou rindo e levou uma cotovelada da Lucy que fechou a cara. – O que foi? Eu estou brincando.

- O Lawrence sabe se comportar. – Lucy falou séria fazendo com que as gargalhadas diminuíssem para sorrisos estranhos. Camila parecia imóvel.

- Deixem de ser ridículos. Deixaram os dois desconfortáveis. – Troy falou negando com a cabeça. – Desculpem aí, mas vocês sabem como são os amigos de vocês.

- Por que não falamos do Troy e da Ally então? – Dinah sugeriu com a cara mais pervertida do mundo. Foi a vez da Ally engasgar com seu lanche.

O resto do intervalo pareceu divertido para o grupo, mas Camila se mostrou quieta como minha família estava mais cedo. Eu pensei que talvez ela estivesse com algo em mente. Apenas continuou sorrindo pra mim timidamente. Eu não deveria ser o único a pensar sobre o assunto então.