História Loser [HIATUS] - Capítulo 03- Sonhos

-Noona, o que a mãe quer? – Perguntei para Jimin ao vê-la desligar o telefone. Sua cara não era das melhores e aquilo me assustava.

-Eu... Cuida do Chani pra mim, tudo bem?

 Saiu pela porta da sala me deixando sem entender nada. Como eu, com meus recém-completados 13 anos, iria cuidar de alguém?

...

O dia não podia ficar pior, estava chovendo, era velório dos meus pais e eu não pude nem me despedir deles. Fiquei sentado próximo a arvore mais afastada de onde eles seriam enterrados, queria ficar sozinho. Não sei como meus irmãos aguentavam todas aquelas pessoas com seu falso pesar.

-Juho-ssi. – Levantei a cabeça ao ouvir meu nome ser chamado. – Posso me sentar com você?

Eu não era o único que estava sofrendo. Seokwoo abaixou-se ao meu lado, também se escorando a arvore.

-Não foi culpa do seu pai, ok? Não foi culpa de ninguém. – Falou virando-se para mim.

...

Saí correndo da sala de aula. Tinha tomado coragem para falar com Rowoon, precisava encontrá-lo o mais rápido possível.  

-Ei, magrelo! – Senti um pé ser posto na minha frente. – Cuidado por onde anda.

Fiquei estirado no chão por um tempo, até ter uma mão posta em minha frente, ajudando a me levantar. Rowoon parecia um anjo quando sorria. Seokwoo era um anjo na verdade, sempre ali quando eu precisava. Fomos andando até nossa rua, éramos vizinhos à anos e me alegrava saber que nunca estaria sozinho.

-Hey, porque está olhando para baixo? – Ele perguntou, levantando minha cabeça com seus dedos. – Olha pra frente. Isso. Fica melhor assim.

-Rowoon-ah...

-Não precisa se preocupar com aqueles caras ok? Sempre irei te proteger.

-Eu gosto de você. – Soltei tudo de uma vez, entrando o mais rápido possível em casa.

...

Haviam se passado cerca de um trimestre desde que eu me declarara apressadamente para meu melhor amigo. Dois dias depois voltamos a nos falar normamente, parecia que ele ignorava o fato. Dawon ria da minha cara de desespero todas as vezes que o via com alguma garota, ou com os amigos populares dele. Eu tinha medo que ele contasse...

Novamente, voltávamos para casa em silêncio. Não tinha muito que se conversar. Não percebi que o deixara para trás até ser tocado no ombro. Não raciocinei muito e nem consegui perguntar o que ele queria. Apenas senti seus lábios nos meus, um breve selar, um toque rápido que fez com que eu perdesse todo o meu chão.

-Eu gosto de você...

No dia seguinte ele não morava mais na casa amarela do outro lado da rua. Nem estudava na sala ao lado. Ou ainda pegava o mesmo ônibus que eu as seis e meia da manhã.

.....

-Ju-ah, acorda. – Era chacoalhado pelos ombros. – Foi apenas um sonho. Acorda

Eu suava frio ao abrir os olhos. Jimin parecia preocupada, desesperada na verdade. Me apertou em um abraço quase que me sufocando. Apenas retribuí. Estava emocionalmente abalado. Odiava quando esse sonho aparecia. Constantemente eu era obrigado a rever o passado e o aperto que sentia ao acordar, nunca era diferente do que eu sentia naqueles dias.

Ao ver minha expressão, minha irmã pareceu entender do que se tratava. Não precisávamos de muitas palavras. Apenas um tapinha no ombro e uma xícara de chocolate eram o suficiente.

Levantei um pouco grogue devido ao sono e pus-me a tomar banho e consegui ter meus músculos relaxados ao cair à água sobre meu corpo. Não sei ao certo se passei muito tempo no chuveiro, me perdia em pensamentos avulsos e só despertava com o bater na porta. Vesti uma bermuda qualquer dando passagem para meu dongsaeng. Queria saber como havia sido seu dia, se estava sozinho ou fizera amizades.  Contudo sabia que ele não me contaria nada, principalmente depois da forma como eu agira de manhã.

Fiquei largado no sofá da sala, com a televisão ligada no primeiro canal que apareceu. Não fazia a mínima ideia de o que estava passando, na verdade era algum show de variedade onde ídolos precisavam sobreviver na selva. Á princípio eu iria deixar o programa rodando na tela até que desse a hora do jantar, mas acabei me interessando mais do que eu esperava. "Um dia irei participar desse reality". Quando se é Idol não apenas canta e dança em cima de um palco, você tem abertura para muito mais coisas. Ganha um contato maior com os fãs e várias novas portas se abrem. A música sempre fez parte da minha vida, participar dos torneios underground de Seul fazia com eu crescesse cada vez mais, ganhasse confiança em mim, e eu queria ser mais. Queria ser reconhecido por todos. Aparecer na televisão e cativar os outros não só com minhas letras, mas com minha personalidade, com quem eu sou de verdade.

Não conhecia muitas maneiras de realizar este meu desejo. Apesar de crescer com a batida, com a rima, nunca havia procurado muito a fundo sobre o que fazer. Em meus pensamentos, havia apenas uma pessoa capaz de me auxiliar e me levar para o topo. Mesmo não o idolatrando como os outros, como minha Noona¸ eu reconhecia seu trabalho, seu esforço e sua capacidade e faria de tudo para chamar sua atenção.

Eu não tinha muita ideia do que estava fazendo, nem do que me esperava, mas sabia que não podia levar meu rap apenas como um hobbie. Dessa vez eu iria ganhar, não importa quem eu tivesse que enfrentar, iria passar para a última faze do nosso “Diss Battle” e receberia o apoio de Jay Park. Trabalharia junto a ele na OAMG e cresceria na mídia, conseguiria fama e sucesso.

Preciso ser o melhor, preciso virar um idol. Serei o melhor rapper. Serei alguém de quem possam se orgulhar.

-Você quer ser ídolo ou quer ser um rapper junto ao Jay? – Levei um susto ao ouvir a voz de Jimin atrás de mim. – Sabe que ele odeia idols. Então veja qual é seu sonho.

-Oi? – Não havia entendido direito.

-Só... Faça o que tem que ser feito. Ganhe o torneio. Se a empresa não for o que deseja, se quiser um grupo e algo fora desse meio alternativo...  Esse ano abrirá audições em algumas agências. – Falou antes de se virar. – O jantar está pronto.