História Lost - The Past 4

~Á SEIS MESES ATRÁS~

Ele fechou a porta atrás de si sentindo os ombros pesados, enquanto caminhava pela entrada do apartamento de classe média alta, o mesmo jogou a sua mochila no sofá assim que entrou na sala, sendo abordado por passos pequenos e apressados em sua direção, coisa que o surpreendeu por conta do horário, a vozinha dele fazia de certa forma o coração do Jiyong se acalmar, como se o mesmo não fosse a pior pessoa do mundo por ter um filho como ele tinha.

- a-appa.. – o garoto fofo de apenas dois e meio de idade correu com os braços abertos até o pai que abaixou e abraçou o garoto com um sorriso no rosto, na verdade ele sentia uma grande tristeza forte em seu coração, não aguentava mais ser este pai, este pai que aparecia só depois de dias, e que ainda assim chegava tarde em casa nos dias que chagava.

- Kiyong.. – Jiyong disse respirando fundo e desfazendo o abraço olhando para o filho meio pançudo, parecia que ele crescia mais a cada vez que Jiyong chegava em casa.. – já está tarde.. por que não foi dormir? – ele disse vendo os olhos de sono do garoto que parecia uma exata mistura dele com a Kiko.. no fundo ele lamentava por tal coisa, afinal provavelmente era culpa dele de novo.

- onma ... disse que v-você vinha hoje... – ele disse com um meio sorriso embalado de sono e voltou a abraçar o pai passando os pequenos bracinhos em volta do seu pescoço, Jiyong se levantou entrelaçando os braços em volta do filho o carregando no colo, ainda com o mesmo agarrado em si, ele sentia tanta a falta daquele pequeno, as vezes ficava até uma semana sem vê-lo por conta das longas viagens, a sua vida era assim, correria pura, ele nunca estava em casa, no fundo ele sentia que nunca deveria ter se casado, se iria viver deste jeito, mas ao sentir as pequenas mãozinhas fazendo carinho em seus cabelos, ele tinha certeza que não podia se arrepender daquilo. Ele foi caminhando até chegar na cozinha, o mesmo deveria passar ali pra enfim chegar no quarto do Kiyong... assim que ele chegou naquele cômodo, Kiko se afastou da pia aonde terminava de secar uma louça e se virou o encarando, ela não disse nada a princípio.. estava chateada, Jiyong podia ver os olhos dela ligeiramente vermelhos, ele estava a três dias fora... e estava, umas cinco horas atrasado, ele chegou a dizer que ia jantar com eles naquela noite, mas já era quase onze e meia da noite... Kiko se virou apoiando na pia olhando pra mesma limpa de louça, louça da qual não foi suja pelo seu marido mais uma vez... ela respirou fundo e se virou voltando a olhá-lo.

- leve ele pra cama pelo menos.. – ela olhou pra baixo e colocou o pano de pia em cima da mesa e saiu em direção ao banheiro, ele já tinha visto aquela cena antes, ela iria chorar escondido, talvez por medo de Kiyong ouvir, o que era desnecessário pois o mesmo já dormia em seu colo, e-ele se sentia péssimo... queria saber exatamente aonde foi que tudo começou dar errado na sua vida, mas ele parecia ter tanta coisa na cabeça que nem conseguia raciocinar, então Jiyong foi caminhando até o quarto do filho acendendo a luz com cuidado e colocando-o no berço, o mesmo parecia ter pegado no sono rápido.. “claro idiota é quase meia noite”... os seus próprios pensamentos o condenava, ele estava cansado... saiu do quarto do filho indo diretamente pra suíte do casal, Kiko estava no banheiro social, então ele aproveitou o momento pra ir tomar um banho... sozinho, ele se despiu com a cabeça ainda pesada e entrou debaixo do chuveiro querendo que aquela água o limpasse por dentro se tal coisa fosse possível, na verdade ele já tinha tomado um banho naquele dia, m-mas foi um banho acompanhado... os olhos ligeiros da morena que roubava os seus pensamentos passou pela sua cabeça fazendo o mesmo fechar os olhos e levantar a mão no rosto, no momento em que aconteceu.. a umas quatro horas atrás, aquilo era tudo o que ele queria, estar com a Dara, receber o carinho dela... m-mas agora que ele estava em casa.. ele nem sabia dizer se aquela casa era realmente sua pois nunca ficava ali... e-ele se sentia mal, o barulho da porta do banheiro se abriu e ele se virou vendo Kiko entrar de camisola ali, se olhando no espelho, ela era linda... alta, magra porém com curvas... um rosto meio mestiço... mesmo assim ele não sabia dizer porque ela não era suficiente para ele... a mesma começou a escovar os dentes enquanto ele terminava o banho, ela nem chegou a olhá-lo... tinha mais de um mês que eles não estavam muito bem, na verdade desde que ele começou a sair com a Dara, que ele não conseguia agir da mesma forma com ela, e-ele sabia que não era certo, e por mais que a sua esposa também o atraia, ele não sabia mais o que fazer.... Jiyong desligou o chuveiro saindo do box, e Kiko já havia saído do banheiro.. provavelmente estava já deitada, o homem se secou vestindo uma cueca branca e saindo do banheiro caminhando em direção a sua cama, ela estava deitada virada para o outro lado, da qual não dava para ver o seu rosto.

- ... – Jiyong respirou fundo assim que se deitou na cama com a barriga pra cima, o cabelo dela havia crescido um pouco.. ele ficou a olhando de costas pra ele, “eu nem reparei nisso..” ele deu um riso triste e se virou na mesma posição em que ela estava, e para o mesmo lado... ele sabia que ela não estava dormindo, porém tinha medo de falar qualquer coisa e eles começarem a discutir... assim como já foi em várias outras vezes, porém aquele silêncio parecia o corroer... “você vai falar com ela hoje Gd?” a voz de Dara a sua mente veio, e o mesmo se sentiu em uma espécie de beco sem saída... ele levantou uma mão para se aproximar do ombro desnudo dela, mas é como se ele mesmo o impedisse.. “ela vai aguentar a verdade?” ele a olhava sem saber o que dizer ou o que fazer, não era a primeira vez que ele vivia essa situação, até que um ato de repente fez o seu coração disparar... Kiko se virou ficando de frente pra ele e o encarando fixamente, estavam um de frente para o outro, e Jiyong fechou a boca que estava semi-aberta sem saber o que fazer, os olhos dela vacilaram olhando o seu rosto e por fim voltou a fixar seus olhos, já ele se sentia temeroso demais pra falar qualquer coisa.

- ... v-você, ainda me ama? – ela não parecia querer chorar, mas parecia visivelmente triste e sozinha, como se estivesse precisando dele, enquanto o mesmo não estava ali... o que era realmente o que acontecia, Jiyong sentiu a sua boca ficar seca de uma hora por outra, o cheiro de frutas vermelhas que saia dela era algo que sempre o envolvia, ele fechou os olhos por um momento respirando aquele cheiro adocicado, e então voltou a encará-la.. desceu o olhar do seu rosto para o decote da camisola que ela vestia, na verdade aquela camisola foi um presente que o mesmo deu pra ela.... a-aquela pergunta fazia seu coração tremer, fazia uns sete anos que eles estavam juntos e apenas uns três de casados, ele a engravidou e pelo fato da mesma ter pais muito conservadores, e como ele a amava também, achou que poderia ser bom para ambos, tudo estava bom nos primeiros seis meses de casados, até que Dara entrou para a sua “tripulação”, ela era tão forte.. tão genial.. a sua postura, o seu simples jeito de andar, falar, agir... era como se ela não pudesse ser comandada por ninguém, aos poucos ela foi ganhando toda a sua atenção, e num ato impensado em que ele estava sozinho com a mesma, ele quis arriscar algo, ele a beijou na cabine, e-ela era tão prepotente, como se não estivesse abaixo de ninguém, e isso parecia um verdadeiro desafio para ele, era pra ela ter perdido no momento em que cedeu ao beijo dele, mas ele sentiu que perdeu junto também, nada nunca mais foi o mesmo depois daquele beijo roubado... – J –Jiyong... – ele voltou a atenção pra ela e viu os olhos da mesma se encher de lágrimas de novo.... “idiota idiota idiota..”

- K-kiko.. – ela se virou para o outro lado novamente, sendo altamente audível o seu choro agora, a-aquilo doía nele, ele detestava vê-la chorar... Kiko sempre foi um verdadeiro refugio pra ele em tantos momentos, ele podia confiar totalmente nela... a verdade é que ele nem sabia o momento exato em que se apaixonou por ela, pois foi tudo tão natural, tão tranquilo.. sem nenhuma pressão.. um flashback começou a passar pela cabeça dele, quando eles foram para Paris.. um riso de automático brotou no rosto dele, ela era tão introvertida e aos poucos ela foi abrindo o seu mundo para ele, sua timidez deixava tudo ainda mais incrível, pois ele era o único com quem ela se abria... o choro dela começou a se intensificar e a mesma se sentou na cama, no mesmo instante Jiyong se sentou também sentindo a garganta travada, ele não queria vê-la assim, ele queria vê-la bem... sorrindo feliz... assim como ela era feliz a três anos atrás... p-porém ele sabia que se falasse a verdade, ela poderia nunca mais ser feliz de novo...  – e-eu te amo Kiko, m-me perdoa... – ele disse de uma vez colocando uma mão no ombro dela, ele nem sabia exatamente do que se desculpava...

 - Será m-mesmo?! – ela se virou ainda sentada o encarando, as lágrimas desciam de forma pesada pelo rosto dela, como se ela estivesse segurando aquilo por dias... ela não sentia mais aquela aproximação dele, Jiyong estava cada vez mais distante, e ela o amava tanto que tinha medo dele se afastar de mais e a mesma não conseguir tê-lo nunca mais, entretanto ela estava desgastada que nem sabia se valeria a pena viver daquele jeito... “meus pais deviam estar certos..” ela chegava a cogitar tais palavras em sua cabeça enquanto o olhava sem muitas esperanças, se ele tivesse outra seria o fim com toda certeza, ela não poderia aguentar tanta dor.

Jiyong se sentia fraco ao ouvir tais palavras, ele mesmo não sabia responder muita coisa, mas ele sabia que Dara provavelmente ficaria uma ou duas semanas sem olhá-lo na cara se mais uma vez ele omitisse, mesmo assim.. e-eram sete anos... e um filho... a-além do mais, por mais que tudo estivesse tão difícil.. ele ainda sentia algo quando olhava a Kiko, era como se o amor tivesse esfriado, mas não estava totalmente morto... e-ele sabia que era horrível, que não merecia, nem a Kiko e nem a Dara, mas ainda assim ele não estava pronto pra quebrar o coração de uma das duas.. ele era o mais egoísta de todos e tinha ciência disso, mas não podia também ver a sua vida se desmanchar aos poucos – eu prometo.. – ele disse com a voz meio falha, como se quisesse ter certeza de suas palavras... – a-amanhã... só me dê o dia de amanhã pra tentar fazer o certo!