História Lost In Paradise - Sand and sea!

O carro parou em frente á casa, aquela já conhecida por mim, mas nem tanto assim por ele. Respirei longamente, engolindo o choro teimoso que veio forte... Fiquei olhando pela janela, vendo o mar revolto lá fora, acometido por ventos fortes, como um temporal se formando. Um temporal dentro de mim. Era assim que era. Sem ele, meus dias eram nublados, escuros, sem um único resquício de brilho.

Ele tocou a minha mão, enlaçando nossos dedos devagar.

- Não vai se despedir de mim?!- ele tinha um sorriso calmo e sereno, me olhando.

- Não quero me despedir... – senti minha voz embargada pelo choro.

Olhei pra ele, aos prantos, sem conseguir me conter mais.

- Não é bom que fique assim- sua expressão era séria agora- Não é bom pra ela- disse olhando pra minha barriga.

- Tenho medo de que... De que me esqueça- desabei no choro, escondendo o rosto entre as mãos.

- Liv- Kevin suspirou- Vamos nos ver. Logo!- me assegurou, tocando meu rosto de leve.

Sem me importar, me atirei nos braços dele, segurando forte sua camiseta, me agarrando nele.

- Quando?!- olhei em seus olhos- Me promete que vai ser assim, que não vai mudar de ideia quanto ao que me prometeu...

- Não seja ansiosa- me pediu- Nada vai mudar. Sabe disso! Mas preciso voltar pra minha vida, pro meu trabalho...

Eu sabia que ele tinha razão. Ele tinha uma vida além de mim. Tinha compromissos. E uma família também! Disso, eu sempre soube... Ele jamais me trocaria por eles. Eu estava destinada a ser a segunda opção. Sempre!

- Amo você!- falei unindo minha boca na dele- Não demore a voltar pra mim, por favor!- alisei o rosto dele amorosamente- Preciso de você. Ela também!

- Não é como se nunca mais fossemos nos ver- ele riu, talvez achando graça do meu drama- Assim que possível, vamos estar juntos de novo- ele me beijou, roçando o nariz no meu.

- Vai me ligar?!- o encarei.

- Vou!- sorriu pra mim- Quero me manter a par sobre a gravidez. Quero que se cuide, que se alimente bem e que me ligue se precisar de alguma coisa, qualquer coisa...

- Keith vai vir- assenti, entendendo- Eu já sei!

O abracei de novo e ele me beijou demoradamente. Desci do carro, Keith carregando minhas malas. Não olhei pra trás. Apenas bati a porta, sentindo que metade de mim estava ali, indo pra ela, voltando pra onde de fato ele pertencia... Isso era o que mais me doía. Saber que ele ia voltar. Ter a certeza de que ele ia... De que iam ficar juntos. Isso me enlouquecia! Eu não conseguia sequer suportar imaginar algo assim.  (...)

Quase dez dias haviam se passado. E mais uma vez, tudo o que eu tinha dele era o nada. Nem ao menos uma ligação. Era como se eu não existisse. Como se nós não existíssemos... Tudo o que havíamos vivido simplesmente não existia! Ele parecia fazer questão de me ignorar, de me punir... Talvez fosse o modo dele de me fazer sofrer. Me usando, me iludindo e depois simplesmente me ignorar totalmente.

Eu tinha voltado á faculdade. Aliás, a universidade era tudo o que eu tinha! Eu vivia em um mundo a parte, praticamente isolada de tudo e de todos, andando sempre com medo por aí. Eu nem sequer podia dizer quem era o pai da minha filha. Sempre que me perguntavam, eu inventava uma história qualquer, de que o pai dela morava na Irlanda, que tínhamos nos conhecido em um show, que eu havia engravidado depois de um tempo e que iriamos morar com ele assim que ela nascesse!

Minhas amigas do Brasil eram as únicas pessoas com quem eu conversava quase que diariamente. Elas e o pessoal que trabalhava na casa. Eu não tinha amigos. Não podia chamar ninguém pra ir até aonde eu morava. Não podia ir á festas ou sair. Tecnicamente eu estava vivendo em um relacionamento, me comportando como uma mulher comprometida, mas sem de fato ser.

Eu o amava e muito! Jamais passou pela minha cabeça me envolver com outro. Não! Eu não queria isso. Meu coração não queria. Eu sabia que não poderia ser de mais ninguém além dele. E Kevin também parecia notar isso. Parecia notar tanto que estava imensamente seguro de si, sem precisar se dar ao trabalho de ao menos me ligar, certo de que eu estaria ali, sempre, esperando... Eu não me importava em agir assim. Não me importava que ele me visse assim. Eu seria o que ele precisasse que eu fosse, faria o que ele quisesse que eu fizesse... Só que eu queria, desesperadamente, o mínimo de atenção! Somente isso...

Alguns dias depois, recebi um telefone rápido de Keith. Eu já havia lido nas redes sociais do grupo, acompanhando diariamente qualquer resquício de noticia, qualquer informação... Keith havia me contado que ele estava em turnê. Eles estavam, os Backstreet Boys! A pausa tinha terminado. E isso parecia justificar a ausência dele. Pelo menos era isso o que ele queria, se justificar. Aceitei, sem dizer absolutamente nada. O medo de perde-lo, de afastá-lo de mim, era maior do que a minha decepção.

Eu mesma havia aceitado a situação. O que eu podia querer?! Se ele estava disposto a dar o mínimo de seu tempo á mim, então eu estava disposta a aceitar, de bom grado, sem reclamar... Qualquer milésimo de segundo com ele era melhor do que o nada. Eu não poderia ficar sem ele Isso não. Nunca!

- Diga á ele... Quando ele puder me ligar... Por favor, Keith!- pedi, quase implorando.

- Tudo bem, Liv- concordou- Vou dar o recado! Mas não espere muito. Sabe que não deve esperar...

- Eu... Eu sei- senti as lágrimas correrem pelo meu rosto- É tão horrível tudo isso. Me sinto tão sozinha... – reclamei, mesmo sabendo que ele não tinha nada a ver com isso.

- Por que você não sai?! Com suas amigas da Universidade?!- me sugeriu.

- Vou tentar- menti- Praia talvez!

- Faça isso!- me disse do outro lado da linha- Assim que possível eu volto a ligar. Fique bem e até mais!

Deixei o celular cair pro lado, junto com meus livros e anotações jogados em cima da cama. Eu me entregava ao curso, literalmente, tentando preencher meu tempo e minha mente, tentando me ocupar arduamente com algo que valesse a pena, com algo real, algo que de fato mudaria a minha vida pra algo melhor! O término dos estudos e Mila eram o único futuro que eu via pra mim!

Liguei o Skype, me sentando na cadeira confortavelmente. Tentei uma chamada de vídeo com o Brasil, com as meninas, mas não obtive sucesso. Minutos depois vi uma foto delas em uma balada! Felizmente elas estavam aproveitando e eu ficava imensamente feliz por elas! Eu não podia estragar tudo, reclamando como vinha fazendo, enchendo-as com os meus problemas... Não era certo. Elas tinha uma vida! A minha tinha mudado drasticamente e eu nem podia reclamar quanto á isso. Eu mesma havia me colocado ali, havia desejado com todas as minhas forças...

Entrei no Facebook pra ver minhas notificações. Havia uma mensagem no meu inbox. Abri imediatamente, surpresa com que estava lendo... George!

“ Hey baby, como vai?! Sinto sua falta. Beijo”.

Vi que a mensagem tinha sido mandada há menos de cinco minutos atrás e que ele ainda estava online!

“Oi! Estou bem e você?! Também sinto sua falta”.

“Onde você está?! Brasil?”.

“Não! Hahaha Estou morando nos EUA. Los Angeles!”

“Que ótimo! Alguma chance de nos vermos?! Estou chegando em quinze dias se me disser que sim!”

“Sim! Hahaha Acho que podemos nos ver!”

“Ainda tenho seu numero salvo. Te ligo pra combinarmos!”

“Vou ficar esperando. Até mais, George!”

“Te vejo em breve, baby. Você ainda me deve um jantar!”

“Quando quiser Hahaha!”

Parei a conversa por aí. Eu não queria e não podia estender mais do que o necessário. Ao menos não pela internet. Se ele me procurasse, teríamos muito oque conversar. Eu realmente esperava que ele fosse confiável, que pudesse me entender e me apoiar. Eu estava realmente precisando de alguém pra conversar! Eu não sabia como ele iria reagir diante de tantas mudanças, mas ele me inspirava confiança, acima de tudo!

Meu celular tocou. Estiquei a mão e o peguei em cima da escrivaninha. Havia duas chamadas perdidas do numero conhecido. Kevin. Atendi na terceira vez, irradiando felicidade só em poder ouvir a voz dele!

- Kevin?!

- Oi Liv- ele riu abafado- Como está?!

- Bem e você?!- perguntei- Falei com Keith agora há pouco. Ele te disse algo?!

- Disse!- voltou a rir- Digamos que ele me contou que você estava desesperada pra falar comigo, se é que podemos colocar assim...

- Sim, eu estava!- respondi- Estou, na verdade... Ele não mentiu!

- Aconteceu alguma coisa?! Tá tudo bem mesmo com você e com a Mila?!

- Sim eu só... Eu só estou com saudades. Só isso!- falei o mais sinceramente possível.

- Saudade- ele repetiu, mas em português- É uma palavra que só existe no português!

- Sim, é!- ri dele- Acho que saudade expressa muito bem o que sinto agora. Queria tanto que você estivesse aqui... – choraminguei.

- Talvez possamos nos ver daqui a alguns dias... – me contou.

- É tudo o que eu mais quero. Por favor... Só me diz quando, onde e eu irei. Ou te esperarei se quiser vir!- disse á ele.

- Estava quase desistindo de te ligar- ele mudou de assunto- Pensei que não quisesse falar comigo...

- Imagine!- ri- Não faria isso. Não com você!

- Estava estudando?!- me perguntou, parecendo querer estender o assunto.

- Sim, mas eu estava falando com alguém. Na internet!- comecei.

Eu realmente esperava que ele perguntasse. Eu não sabia o porquê, mas mal podia esperar pra contar. Alguma parte de mim queria que ele soubesse, que imaginasse que talvez não fosse o único pra mim...

- Uma de suas amigas?!- ele parecia interessado.

- Não- falei- Com o George!

Um pequeno silencio de alguns segundos se instalou. Eu podia ouvir a respiração lenta dele do outro lado, analisando a situação, analisando o que deveria ser dito a seguir...

- George?!- a voz dele parecia ter se alterado significativamente.

- Ele me deixou uma mensagem. Queria saber como eu estava...

- Não sabia que falava com ele- Kevin me disse, pigarreando do outro lado da linha!

- Eu não falo. Foi só hoje- contei- Te incomoda que eu fale com ele?! – o questionei abertamente.

- Não- a voz dele parecia tensa- Não me incomoda... Preciso ir agora. Ensaio. Te ligo outro dia!

- Pra combinarmos de nos vermos, não é?!- insisti no assunto de antes, me sentindo culpada.

- Ok. Combinamos então!

- Kevin, eu... Amo você!- falei me despedindo- Sinto sua falta. Muita!

- Eu também. Também sinto a sua... Tchau Liv!

Esperei que ele desligasse. Eu pressentia que talvez tivesse feito merda! Eu não devia te-lo envolvido nisso. Era óbvio que ele não sentia ciúmes de mim! George não era páreo pra ele, nunca havia sido... Na verdade, nenhum homem era! E ele parecia saber muito bem disso. Mas algo me soava estranho. Kevin parecia não gostar, embora tentasse fingir, até pra si mesmo quem sabe, que qualquer homem se aproximasse de mim!

Talvez fosse o sentimento de posse, de gostar de saber que eu era unicamente dele. Talvez ele não estivesse disposto a me dividir com mais ninguém. Tínhamos o que tínhamos, no nosso pequeno mundo e isso parecia bastar pra ele. E pra mim também! Pelo menos era o que sentia. Por hora. (...)