História Lost in the Moment - Capítulo 8

As lembranças da noite interior invadiam os pensamentos de Emma durante aquele início de manhã a fazendo quase cantarolar enquanto jogava a panqueca para cima várias vezes. Só notou a presença de Regina quando a morena já estava especialmente perto dela. Encostada no balcão segurava a xícara de café preto que acabara de servir enquanto assistia ao pequeno show de Emma, com um silencioso sorriso nos lábios.

A loira desviou o olhar para a panqueca que fazia.

- Bom dia, querida. – saudou zombeteira, e viu Regina largar a xícara no balcão e parar ao seu lado.

- Não sabia que cozinhava. – murmurou, estendendo a mão e servindo-se de um pedaço da panqueca já pronta, coberta de calda, que descansava no balcão. Emma a viu mastigar por alguns segundos e então engolir. – Está gostosa.

- Não pareça tão surpresa... David me ensinou.

- Oh, então é uma receita dos Charming? – Regina pegou outro pedaço com o garfo. – Está realmente gostosa, Emma.

O elogio sincero fez Emma sorrir genuinamente feliz, antes de tirar a outra panqueca do fogo. Colocou no prato junto da que Regina comia e derrubou um pouco mais de calda.

- Fique à vontade, então. Fiz para você.

Regina sorriu agradecida.

O clima entre elas parecia tão natural. Na noite anterior haviam feito amor por mais vezes que podia contar, de tantas formas que Emma chegava a corar apenas em lembrar-se. Era natural, claro. Já deviam ter feito aquilo umas centenas de vezes. Ainda assim, parecia como se fosse a primeira vez, como se fosse mais especial do que qualquer outra noite que já deviam ter compartilhado. E a loira tentava a todo custo não deixar transparecer sua ansiedade. Queria saber se para Regina era assim também. Mas o jeito tão tranquilo e casual que a morena se comportava agora, deixava certo que tudo não passara de mais uma noite.

Emma se afastou batendo as mãos sujas de farinhas na calça jeans que usava para limpar-se.

- Tenho que ir.

- Você não vai comer? – perguntou Regina já se servindo de mais panqueca.

- Eu já comi – respondeu distraída, procurando pelas chaves do carro. – Preciso ir. Fiquei de encontrar Violet para conversarmos sobre os preparativos.

Regina baixou o olhar, lembrando-se novamente do iminente casamento de seu filho. Suspirou. Quando Violet pediu sua ajuda na noite anterior para organizar tudo, Regina não pareceu tão disposta, então Emma, como a grande salvadora que era, ofereceu-se em seu lugar.

- Se precisar de ajuda... – começou, mas Emma a interrompeu.

- Tudo bem, Gina. Eu cuido de tudo. – e como se de repente tivesse se lembrado, Emma deu alguns passos para trás até a morena, beijando-lhe os lábios lentamente. – Nós vemos mais tarde, sim?

- Sim – murmurou incapaz de não sorrir.

E viu Emma sair, antes de apoiar-se no balcão e pegar mais um pedaço de panqueca, mal contendo toda alegria que invadia seu peito.

A manhã passara rapidamente. A cidade andava tão tranquila que Regina se perguntava se era realmente necessário que houvesse uma prefeita.

Um vento entrou pelas janelas derrubando alguns papéis no chão. Regina levantou-se para pegá-los, quando se ergueu novamente encontrou uma loira a encarando.

- Malévola?

- Sentiu minha falta?

Os pelos da nuca de Regina se arrepiaram.

- Como não sentir? – então sorriu, mas não era um sorriso simpático. – O que a traz a Storybrooke?

A loira usava roupas mais casuais. Uma calça de tecido branca que fazia suas pernas parecer ainda mais longas do que Regina lembrava-se, uma blusa preta com um decote generoso, saltos altos e o sorriso malicioso costumeiro dançava em seus lábios carnudos. Os cabelos soltos caíam em cascatas por seus ombros.

- Você, querida. – disse perturbadoramente calma. – O que mais poderia ser?

Regina sorriu confusa. Com algum esforço tentou pensar sobre o que a mulher dizia. Nada. Sua memória realmente parecia bem mais falha naqueles dias.

- Oh, você esqueceu. – Malévola continuou ao notar o olhar confuso da outra mulher. – Deixe-me fazê-la lembrar.

E se aproximou tão rapidamente que Regina não teve tempo para reagir. Os lábios da mulher sobre os seus a transportou para outro lugar. Agora Regina assistia a ela e Malévola na cabana de Gold, as duas juntas na pequena cama. Malévola beijava-lhe o pescoço enquanto Regina fechava os olhos parecendo completamente satisfeita. A loira afastou os lábios e sorriu, esperando por sua reação.

Regina não sabia o que fazer ou dizer. Seus olhos continuavam travados, encarando uma contente Malévola à sua frente.

- Não pode ser – murmurou. A cabeça de repente tonta. – Você inventou tudo isso!

- Vamos, Regina, para de ceninha! – o sorriso de Malévola finalmente se desfez, e a mulher revirou os olhos. – Ah, é... Esqueci-me de sua pequena crise de consciência.

Porque sua cabeça estava um turbilhão, Regina deu um passo para trás e apoiou-se na mesa, tonta demais para conseguir manter-se em pé sozinha.

- Resumirei para você, meu amor. – a última palavra fez Regina engolir a seco. Não seria possível... Seria? Ela e Malévola tiveram um caso? A cabeça sacudiu novamente e Regina obrigou-se a parar de pensar. – Da última vez que estive na cidade, sua vida com a Salvadora parecia estar bem monótona. A ponto de que depois de algumas noites de diversão entre nós duas as coisas acabaram em... – o sorriso da mulher alargou-se. -... Oh, bem, em mais diversão ainda.

Regina mal podia acreditar. Mas conforme a loira falava, as lembranças voltavam à sua memória, deixando um leve gosto de amargo na boca da morena, que de repente sentiu sede. Ela queria tanto que aquilo não fosse verdade. Mas era. Havia traído Emma.

Seu coração apertou-se ao lembrar-se da mulher, da noite que haviam compartilhado, da manhã tão agradável, das panquecas feitas especialmente para ela. Talvez fosse por isso que a sensação de que tinha sido sua primeira noite com Emma era tão presente. Havia sido a primeira vez em que pareciam realmente conectadas, que haviam feito amor da forma mais insana que podia pensar.

A primeira depois de sua traição. O amargo em sua boca intensificou-se e precisou voltar a sua cadeira para repor-se. A lembrança dela confessando a Malévola o quanto a sua vida amorosa com Emma era horrível. O quanto não sabia muito bem por mais quanto tempo aguentaria ser apenas Regina, e como sentia falta de ser a Rainha Má. Depois a forma como ela beijara Malévola, implorando para que a fizesse sentir-se Má outra vez.

Oh, ela havia errado. E errado feio.

- Continue – pediu apoiando os cotovelos na mesa e a cabeça nas mãos, sem forças para sequer abrir os olhos.

- Aí você se arrependeu, pediu para que eu guardasse segredo. – Regina a olhou. – E assim eu fiz. Guardei segredo. Mas você me procurou novamente uma semana depois.

- Não me diga que... – Regina sentiu seu sangue gelar nas veias.

- Não, amor, você não me procurou para isso. – respondeu Malévola, com um sorriso cúmplice em seus lábios. – Você queria esquecer. Eu te dei uma porção e pronto. Lá estava você de novo em sua vida patética com a Salvadora.

Regina respirou fundo. Aquilo parecia o pior de seus pesadelos.

- E o que quer agora, Malévola?

A loira deu a volta na mesa e parou perigosamente perto de Regina. Levou uma mão aos lábios entreabertos de Regina e tocou delicadamente a cicatriz no lábio superior da morena.

- Queria fazer você lembrar, Regina. – a voz sedutoramente baixa. – Porque não houve um dia que eu não tenha lembrado. E isso serviu apenas para me fazer – fez uma pausa e aproximou seu rosto ao da mulher, beijando-lhe os lábios devagar. – Querer mais.

X

Oh, aquele dia não podia ficar mais desastroso. Depois da pequena, porém tenebrosa, visita de Malévola ao seu escritório, Regina não conseguia parar de pensar na confusão em que se metera. Queria chutar algo, ou alguém, apenas livrar-se da raiva que sentia de si mesma. Como pudera ter feito algo daquele tipo? Com Emma? Sabia o quanto a honestidade era importante para Emma. A mulher jamais a perdoaria se descobrisse.

Por isso, quando Malévola deixou claro que não desistiria tão fácil, Regina não soube o que dizer. Tinha medo de enfurecer a mulher, que para se vingar poderia contar tudo a Emma. Fechou os olhos tentando afastar esse pensamento.

Malévola parecia apaixonada. Seria cômico se não fosse tão trágico. Mas não por ela, não por Regina. Malévola queria a Rainha Má. A versão cruel e impiedosa de si. A única por qual Malévola era capaz de se apaixonar, por serem tão iguais.

Apesar de Regina deixar claro que não levaria em frente um relacionamento entre as duas, Malévola não pareceu desencorajada. Apenas tomou toda a situação como um desafio pessoal.

Regina revirou os olhos, lembrando-se da maneira como a mulher dizia que acabaria por conquista-la. Lançou um olhar para o escritório antes de desligar a luz e fechar a porta.

Olhou no celular a mensagem que recebera de Henry, alguns minutos antes, e agradecida pôs o celular no bolso do casaco. Fora graças à emergência de Henry que tivera um motivo para encerrar a conversa com Malévola.

E porque estava atrasada, sumiu em sua fumaça roxa aparecendo em seguida em frente à porta do antigo apartamento dos Charming. Que agora pertencia a Henry. Quando erguia a mão para bater na porta, ouviu passos atrás de si.

Emma sorria. Um sorriso tão calmo e tranquilo, que Regina quis afundar-se em seus braços mais uma vez. A loira se aproximou e lhe deu um beijo rápido.

- O que está fazendo aqui? – quis saber, enquanto batia a porta por ela.

- Henry me chamou. Como foram as coisas com Violet?

- Legais. – disse com pouco convicção. Regina ergueu uma sobrancelha, esperando. O sorriso de Emma murchou. – Eu não levo muito jeito para escolher vestidos e sabores de bolos... Ou tomar decisões.

- Você quer que eu ajude?

- Mas você não quer.

- Eu quero... – tocou o ombro de Emma. – Eu realmente quero. Podemos fazer juntas.

O sorriso quase infantil tomou conta dos lábios de Emma novamente.