História Lost Lovers - NamJin - Prólogo

Eu e Jin andávamos tranquilamente por uma praça. O fim da tarde era comemorado pelo sucesso de nosso primeiro encontro, e a prova de que tinha dado tudo certo era o fato de nossas mãos estarem entrelaçadas. Jin sempre fora um cara tímido, mas quando eu peguei em sua mão e ele não recuou eu soube que daqui em diante seriam só flores.

Pela manhã fomos a um shopping, jogamos no fliperama, e eu até consegui pegar uma pelúcia do Mário em uma daquelas máquinas com uma garra. Almoçamos em um restaurante familiar, recomendado por Jin, que, segundo ele, tem a melhor comida de Seoul.

A tarde fora mais animada. Após o almoço, fomos a uma sorveteria e Jin pediu um milk shake de morango e eu um de chocolate. Em seguida fomos a um famoso aquário da cidade, onde passamos a maior parte da tarde por sinal. Para falar a verdade, acabamos de sair de lá e estamos indo para uma sessão de cinema bem diferente.

Às sete da noite haverá uma sessão de cinema em um parque. Haverão mantas no chão para as pessoas se sentarem, e carrinhos de pipoca espalhados pelo cinema improvisado, segundo o que dizia no panfleto. Como ainda havia tempo, passamos em uma loja de conveniências perto da praça onde estávamos para comprar duas garrafas de refrigerante e alguns chocolates.

Ao chegar no local marcado, vimos um enorme telão preso em um suporte metálico e um projetor. De fato haviam mantas e carrinhos de pipoca, assim como disseram. Ainda não haviam muitas pessoas pelo simples fato de ainda serem seis e meia. Jin insistiu que queria ficar no fundo, concordei e fui comprar pipoca.

- Namjoon, aqui! - Jin se levanta e acena pra mim.

Comecei a ir a sua direção com dois potes de pipoca na mão. Ele deve ter notado que eu havia me "perdido", mesmo sem uma grande quantidade de pessoas no local. Ora, eu sabia que ele estava no fundo, mas não sabia onde, afinal não o vi sentar.

- Demorei muito? - disse entregando-lhe um balde de pipoca.

- Achei que tinha ido embora e me deixado sozinho. - fez um biquinho triste e olhou para baixo.

- Ô, Jin. - pus minha mão em seu queixo, fazendo-o olhar pra mim. Em seguida coloquei minhas mãos uma em cada bochecha. - Eu nunca vou te deixar sozinho. - dei ênfase no nunca e o vi corar.

Não conseguia tirar os olhos de seu rosto. Fui me aproximando devagar e notei que ele havia fechado os olhos. Ele queria o mesmo que eu. Fui sentindo seu cheiro doce ficando mais forte conforme eu chegava mais perto. De repente sinto, finalmente, seus lábios macios sobre os meus. Ah! Nada como o primeiro beijo.

O selinho se transformou em um beijo suave. Logo pedi passagem com a língua e ele cedeu. O beijo era calmo, delicado, apaixonado. Nunca senti nada parecido enquanto beijava alguém. Mas infelizmente o que é bom dura pouco. Parei o beijo, relutante, porque se fôssemos adiante eu não seria mais responsável pelos meus atos. Fui afastando nossos lábios devagar, e colei nossas testas.

- Você tem gosto de morango. - disse enquanto passava meu polegar pelo seu lábio inferior suavemente. Mesmo com os rostos bem próximos pude notar sua face ganhar uma coloração rosada. 

- Seu bobo. - riu anasalado. 

- Foi por isso que você escolheu a última manta para sentarmos? Sabia que eu iria te beijar? 

- Em parte. Eu sabia que nós nos beijaríamos uma hora ou outra nesse encontro, e por isso escolhi um lugar mais reservado. Não queria pessoas nos olhando feio. 

- Deixe as pessoas olharem! Eu não me importo com o que esses idiotas pensam ou deixam de pensar sobre nós. Eu amo você e não vai ser uma cara feia que vai me fazer mudar de ideia. Não ligue pra isso, Jin. 

- O-O que você disse?

- Pra não ligar pra isso.

- Não... Antes disso.

- Antes..? - corei. - Eu te amo, Jin. Amo você há anos, desde meu primeiro ano no colegial. Quando eu te vi pela primeira vez eu senti algo inexplicável por você. Quando descobri que você cursaria a universidade local e jurei a mim mesmo que cursaria lá também. Mesmo você sendo dois anos mais velho que eu, e mesmo nós dois cursando cursos diferentes, não pude me impedir de te amar. - corou, muito.

- N-Namjoon... Eu não sei o que dizer... Eu...

- Não precisa falar nada, hyung. - disse me afastando. - Me desculpe, eu... eu não deveria ter falado nada. Não deveria ter te beijado. Não deveria ter te chamado pra sair hoje. Poderíamos ter continuado bons amigos, e agora eu estraguei tudo. Vou entender se você nunca mais quiser me ver. 

- Namjoon! - elevou um pouco o tom de voz, ainda bem que o filme não começou e ainda bem que as pessoas estão fala do alto. - É... Você está certo, não quero mais ser seu amigo. - senti meu coração doer. - Quero ser mais que um amigo pra você. Eu sinto o mesmo que você, desde a primeira vez que te vi. Eu te amo. - deu o sorriso mais lindo que já vi na minha vida, e eu retribui. 

- Sei que pode ser cedo, mas você quer namorar comigo?

 - É tudo que eu mais quero. - disse rindo de orelha à orelha e pulou em mim, rodeando seus braços em meu pescoço. O abracei forte, nunca vou te decepcionar, Jin.

- Jin, o filme já vai começar.

- Que se foda o filme. Tenho uma ideia melhor.

- No que você está pensando?

 - Nisso. - sinto sua mão por cima de minha calça.

- Jin! Aqui não. - ele vai me deixar louco. Nem parece ser o Jin que eu conheço! Gostei desse lado mais ousado dele.

- Vamos para um lugar mais... reservado, Nammie. - sussurrou meu mais novo apelido.

- Como quiser, princesa. 

- Princesa? - indagou.

- É porque você se parece com uma e é uma, a minha. 

- Tá certo. - riu. - Agora vamos. - disse me puxando para longe do cinema.

Andávamos para fora do parque a procura de um motel. Quando encontramos um, pegamos uma chave e subimos para o quarto. O mesmo era simples, sem nada daquelas fantasias mirabolantes de alguns quartos. Fui em direção à cama e me sentei. Jin vinha em minha direção, se sentou do meu lado, pôs a mão em minha bochecha e me encarou.

- Não me esqueça. - disse.

- Como assim?

- Não me esqueça.

- Jin? O que está acontecendo com você? - comecei a me desesperar e já sentia meu olho lacrimejar. - Jin! Você quer terminar comigo é isso?! Nós mal começamos e você já quer um fim? 

- Não é isso, Namjoonie! Você vai entender quando chegar a hora.

- Entender o quê?! Seokjin, me responde! - as lágrimas já tomavam conta de meu rosto.

- Nam, eu te amo e é o que importa. Não se esqueça disso nunca. - disse limpando minhas lágrimas com o dedo. - Não se esqueça de mim. - ele começou a se afastar.

- J-Jin... não... espera! - não conseguia me mexer, por mais que eu tentasse. Meu corpo começou a ir pra trás, até que eu caí num buraco e tudo ficou escuro.

~

Acordo ofegante, com muita dificuldade para respirar, suando, e chorando. Percebo que estou no chão, devo ter me debatido tanto que acabei caindo da cama. Pego o celular e vejo que são seis horas da manhã.

- Foi tudo um sonho. - falei e passei as mãos na cabeça, tentando me acalmar. - talvez seja melhor eu ligar para o Jin. - peguei o telefone e parei. - Se bem que em Londres devem ser umas dez horas da noite, ele já deve estar dormindo. Vou deixar uma mensagem.

~ Mensagem on ~

Princesa (visualizado pela última vez às 20:38)

Eu: Princesa, me liga assim que acordar. Preciso falar com você *3*

~ Mensagem off ~

Hoje é sábado e eu acordei às seis da manhã, que maravilha! Tentei voltar a dormir, mas não consegui. Olho as horas e são seis e meia. Mas que saco! O tempo não passa e eu não estou com a menor vontade de levantar agora. O que eu vou fazer? Ah! Vou ligar para o Yoongi!

~ Ligação on ~

- Alô? - disse com uma voz que nem mesmo sonolenta deixa de ser ameaçadora. 

- Yoongi, sou eu.

- Namjoon? Ah seu maldito! É hoje que você morre por ter me acordado num sábado às... seis e meia da manhã?! Tu tá fodido!

- Eu sei, Yoongi. Tudo bem, me bata o quanto você quiser. Tem com vir aqui em casa? Estou preocupado com o Jin e não quero ficar sozinho.

- Que que tem o Jin? Aconteceu alguma coisa? 

- Eu não sei. Mandei uma mensagem para ele pedindo para me ligar assim que acordar.

- Por que você não liga pra ele?

- Porque ele está dormindo, são dez e meia da noite em Londres, esqueceu?

- Ah seu miserável! Quer dizer que você não pode ligar para o seu namorado porque você não quer acordá-lo? "Não, deixa eu acordar o Yoongi, aquele otário do caralho!" - disse imitando a minha voz.

- Vai tomar no cu, Yoongi. - não pude deixar de rir. - Tá estressadinho porque ninguém quis te dar ontem? 

- Vai se ferrar, Namjoon. - disse rindo. - Eu to puto com você, mas eu já estou indo só porque se trata do Jin hyung.

- Beleza, cara. Valeu ai, na moral. 

- Hyungs servem pra isso, não esquenta.

~ Ligação off ~

Sabendo que Yoongi está a caminho eu fico um pouco mais relaxado, mas ainda assim estou muito preocupado com Jin. Vou tentar ligar pra ele, mesmo lá sendo quase onze da noite pra ele.

O telefone chamou uma, duas, três vezes e nada. O Jin não tem um sono tão pesado para não ouvir o telefone tocar. Não parei de insistir nem um minuto. A pesar de ligar a todo instante, eu esperava na linha durante os cinco primeiros toques, desligava e ligava de novo. Desta vez vou esperar até o final.

~ Ligação on ~

- Jin..! 

- Alô, aqui é o Kim Seokjin e estou ocupado no momento, deixe seu recado que eu te retorno mais tarde. Tchau tchau!

~ Ligação off ~

- Caixa de mensagens. AISH!

*Ding Dong*

- Já vai! - vou em direção à porta e olho no olho mágico, é Yoongi. - Ué, cara? Por que não entrou? 

- Porque sou educado.

- Ah sim, com certeza! Um poço de educação! - caí na risada.

- Vai se ferrar. - riu junto. - E então? Tem alguma notícia? 

- Não, cara. Eu já estou desesperado! - disse me sentando no sofá. - Ele não atende as minhas ligações, nem responde minhas mensagens! 

- Quando foi a última vez que ele visualizou as mensagens?

- Às oito e trinta e oito da noite no horário dele.

- Que são?

- Não sei. Talvez umas quatro e trinta e oito da manhã no nosso horário. - olhei no relógio. - Caramba! São dez horas da manhã, Yoongi! Por que demorou tanto pra vir?! Agora que eu percebi!

- É que... Eu dormi de novo.

- Yoongi!

- Que que foi? Fui dormir às três da madrugada por causa da festa e você me acordou às seis! Você queria o que? Eu disse que viria, não que viria em quinze minutos!

- Aish! - respirei fundo. - Tudo bem. Me desculpa, hyung. É que eu já nem estou pensando direito.

- Tudo certo. Mas aqui, quantas mensagens você mandou?

- Não sei... Umas vinte ou trinta desde a hora que eu acordei.

- Caramba! E ligações? Fez quantas?

- Deixa eu ver. - abri o registro de chamadas e arregalei os olhos. - Quarenta e duas! 

- Quarenta e duas?! Namjoon do céu, você está certo em se preocupar.

- Você disse o óbvio. - disse esfregando minhas mãos no rosto.

- Ave! - disse virando os olhos. - Você não quer conversar sobre o porquê de tanta preocupação?

- Bom, é que eu sonhei com o Jin hoje, com nosso primeiro encontro, sendo mais específico. Mas não foi tudo como nosso primeiro encontro.

- Como assim?

- Aconteceu tudo certo até a parte que fomos ao motel. Você sabe o que aconteceu de verdade, não preciso entrar em detalhes.

- Sei sim, você amarelou e não transou com ele.

- Não é que eu "amarelei", Yoongi. Jin me disse que seria sua primeira vez, então resolvi parar e deixar acontecer num momento especial. De fato ele estava bem atirado, mas ele é assim mesmo nessas horas.

- Ai que fofo. - disse irônico.

- Deixa eu acabar. Jin começou a dizer umas coisas estranhas e nossos corpos foram se afastando até eu cair num buraco escuro e acordar desesperado.

- Eita porra. O que foi que ele disse?

- "Não me esqueça."

- Oxe, relaxa que foi só um sonho. Tá tudo bem com o Jin hyung, calma. Vamos fazer alguma coisa para te distrair.

- Tipo?

- Sei lá. - deu de ombros. - Vamos ver um filme qualquer.

- Pode ser.

Passamos o resto da manhã vendo um filme bem tosco na televisão. Confesso que não prestei muita atenção no filme, meu pensamento estava voltado cem por cento ao Jin. Yoongi foi fazer um miojo pra gente, já que não estou a fim de cozinhar e é a única coisa que ele sabe fazer.

- Namjoon, você precisa comer alguma coisa. 

- Não estou com fome.

- Aish... - suspirou. - Ok, você quem sabe, mas depois não quero você desmaiado aqui não!

- Ok, hyung... Você venceu.

Me forcei a comer uma tigela do macarrão e voltei para a sala. Peguei meu celular para ver as horas e noto que são duas da tarde aqui em Seoul, então devem ser seis da manhã em Londres. Jin já deveria ter acordado, ele gosta de levantar cedo. Resolvi ligar pra ele mais uma vez e nada. Jogo o celular do outro lado do sofá e me deito bruscamente.

- Namjoon.

- Que? 

- Seu celular tá tocando.

- Tá o que?! - voei para o celular e vi o nome de Jin no visor. - Jin! Que bom, eu...

- Alô? - inglês? 

- Quem está falando? - pergunto em inglês também. Ainda bem que sou fluente.

- Meu nome é Bruce, Dr. Bruce Brown. - doutor? - Você é parente do senhor Seokjin Kim? 

- É... Mais ou menos isso, ele é meu namorado.

- Ah sim. Posso saber o seu nome?

- Claro, me desculpe. Meu nome é Namjoon Kim. O que aconteceu com o Jin?

- É que ontem à noite houve um acidente de carro por volta das nove e meia da noite. - sinto meu coração apertar. 

- A-Acidente? - sinto um nó na garganta. 

- Sim. O sr Seokjin estava preso às ferragens. Nossas equipes paramédicas chegaram ao local do acidente rapidamente e conseguiram retirar Seokjin do veículo, porém ele estava em estado grave. - sinto meu coração pular uma batida. – O levamos para o hospital às pressas, mas ele sofreu várias paradas cardíacas ao longo do caminho, e nossos homens seguiram fazendo reanimações durante o trajeto. 

- E? 

- E infelizmente não conseguimos salvá-lo. Fizemos de tudo, mas ele morreu a caminho do hospital. - sinto meus olhos se enchendo de lágrimas. 

- Q-Que horas ele morreu? - pergunto chorando.

- Por volta das dez da noite. - seis da manhã aqui em Seoul... A hora que acordei... Ele... Ele veio se despedir de mim, foi isso? - Seu corpo será enviado para a Coréia hoje, ele sairá de Londres às nove da manhã no horário local. Meus pêsames.

 - Obrigado. - tento falar, mas as palavras mal saíram de minha boca.

Desligo o telefone e caio de joelhos no chão. Meu rosto fora tomado pelas lágrimas insistentes, minhas mãos trêmulas foram de encontro ao meu rosto. Soluços tomavam conta do ambiente por completo. Yoongi me encarava sem entender nada, esqueci que ele é um completo pamonha em inglês.

- Namjoon? O que que aconteceu? - me perguntou quando eu diminui o choro um pouco. 

- O Jin... Ele... Ele... - tentava falar, mas a cada palavra que saía a vontade de chorar só aumentava. - Ele... Não vai mais voltar...

- Ele achou alguém melhor lá na Inglaterra, resolveu ficar por lá e terminou contigo por telefone? 

- Antes fosse isso, Yoongi... - respirei fundo. - Ele se foi... pra sempre.

- Espera... Quer dizer que...

- Isso mesmo, hyung... - olhei para o teto e meus olhos se lacrimejaram de novo. Quando o encarei novamente eu só vi um Yoongi borrado. - Houve um acidente de carro e... Ele não resistiu... - cai no choro mais uma vez.

- Meu Deus! Namjoon, eu... eu sinto muito! - Yoongi se aproximou e me abraçou. Pude notar que o mesmo chorava também, mas não tanto quanto eu. O abracei ainda mais forte, precisava aliviar minhas dores.

Yoongi se afastou, me sentou no sofá, foi até a cozinha beber água e me trouxe um copo. Olhava para o copo em minhas mãos e mal conseguia distinguir uma forma da outra. Minha visão estava turva, meu rosto inchado, meus olhos sem brilho, meu corpo sem um coração, minha vida não fazia mais sentido sem Jin, meu chão havia se desmoronado. Minha vida se tornou uma existência vazia.

Por volta das sete da noite Yoongi me levou até meu quarto e eu me deitei na cama. Ele havia deixado umas garrafas de água, alguns lanches e meu telefone sobre a cômoda do lado da cama e me disse para ligar pra ele se precisasse de qualquer coisa. Yoongi me perguntou que horas o corpo de Jin chegará a Seoul e eu respondi que provavelmente ele já deverá estar aqui por volta das oito ou nove horas da noite de hoje.

Yoongi disse que tinha que ir embora porque segunda-feira ele tem uma prova fodida na faculdade e precisa estudar pelo menos um pouco. Passei as horas olhando para o teto, Jin se foi e levou minha alma junto. Por que teve que ser ele? Por que não eu? Ele era tão alegre, não merecia ter ido tão cedo.

Ele tinha tantos sonhos, queria ser um grande chefe, o maior e melhor de Seoul. Ele acabou a faculdade de gastronomia ano passado, e esse ano ele foi selecionado para um intercâmbio de um mês em Londres para aprender com os melhores chefes do mundo.

Ele voltaria semana que vem, e quando voltasse eu o pediria em casamento, já havia até mesmo comprado as alianças. Me levanto parcialmente da cama e giro meu corpo em direção à cômoda, abro a gaveta e encontro uma caixinha de veludo rosa.

Fiz questão de pedir uma dessa cor, já que era sua cor favorita. Eu iria pegá-lo no aeroporto, seguiríamos de carro até o parque onde "assistimos" o filme em nosso primeiro encontro e eu finalmente o pediria em casamento, depois de cinco longos anos de namoro.

Estou no meu penúltimo ano de faculdade, então nos casaríamos daqui dois anos. Fiz planos que nunca serão concretizados. Me sinto um lixo, um inútil por não conseguir proteger quem amo.

Antes de perceber eu já estava chorando de novo. Me levanto, saio do quarto, desço a escadas e vou até a cozinha. Abro a geladeira à procura de qualquer coisa com álcool e acho duas garrafas de vodka e três de cerveja. Faço duas viagens para levar todas as bebidas até o quarto, essa noite eu iria descontar tudo no álcool.

~

Acordo com a campainha tocando e com uma dor de cabeça insuportável.

- Namjoon, não me ouviu tocar a campainha?! - Yoongi chega no meu quarto meio que berrando. - Namjoon?! O que que aconteceu aqui?! Realmente eu não devia ter te deixado sozinho!

- Para de gritar, hyung, que inferno. 

- Namjoon, olha a bagunça que você fez!

Olhei em volta e vi que o quarto estava uma zona total. Aos poucos lembranças falhas da noite passada foram surgindo em minha memória. Eu bebia, bebia e bebia, joguei alguns vasos na parede e no chão, e chorei mais ainda. Era tudo o que lembrava. Me dei conta que segurava um objeto em meu peito, era um retrato de Jin numa moldura. Coloquei cuidadosamente a foto na cômoda e voltei a deitar.

- Ei! - diz puxando as cobertas de mim. - Vai tomar um banho e vai se arrumar.

- Pra que, Yoongi? 

- Como assim "pra que"? Pro velório do Jin, seu vacilão! - ah é... o velório...

- Que horas que vai ser? - pergunto baixo.

- Daqui duas horas.

- Que horas são? 

- Sete da manhã. Agora vai tomar banho que eu vou comprar alguma coisa pra tomar café.

Assenti e fui em direção ao banheiro. Encarei minha imagem no reflexo, estava acabado, me despi, liguei o chuveiro e entrei num banho frio. A medida que a água caía, minha mente vagava cada vez mais. Lembranças de Jin vieram em minha mente, seu sorriso, seu olhar, seu cheiro, sua pele, seus beijos, seu tudo. Cai de joelhos debaixo do chuveiro, deixando com que a água corrente levasse minhas lágrimas para longe.

- AAAAAAAH! - gritei com todas as minhas forças. O choro se tornou ainda mais forte, decidi acabar com minha dor naquele banheiro mesmo.

Quando me recuperei tomei meu banho e sai. Vesti o meu melhor terno preto e fui para a cozinha, onde Yoongi me esperava.

- Come alguma coisa pra gente poder ir, Namjoon.

- Ok. - dei duas mordidas na torrada e beberiquei o café. - Acabei, vamos?

- ... Tudo bem.

Yoongi dirigia, porque eu claramente não estava com cabeça pra aquilo naquele momento. O caminho todo fora silencioso, nem ao menos o rádio estava ligado. Observava a silhueta da cidade pela janela, estava tão distraído que nem vi o carro parar.

Entramos no velório e de imediato pude ver os pais de Jin se acabando de tanto chorar perto do caixão. Ao mesmo tempo que eu queria ver Jin pela última vez, eu também estava com medo de vê-lo naquela situação. Haviam até muitas pessoas no velório, afinal Jin era muito simpático e tinha vários amigos. Alguns da faculdade, outros que eu não conhecia, provavelmente amigos de colégio, e, é claro, seus familiares estavam todos lá. Atravessei o aglomerado de pessoas discretamente, e fui em direção aos meus, agora ex, sogros.

- Senhora Kim. - chamei-a pondo a mão em seu ombro. 

- Oh, Namjoon, querido! - me abraçou enquanto chorava, eu tentava ao máximo ser forte.

- Eu... Eu... - não pude impedir as lágrimas que caiam novamente pelo meu rosto. Abracei-a bem forte, e seu abraço me fez bem, ela é como uma mãe pra mim. Parei o abraço relutante, limpei meu rosto e me dirigi ao pai de Jin.

- Senhor Kim. - o abracei também, e o mesmo retribuiu. O abraço não foi tão longo, mas foi igualmente reconfortante.

Assim que me afastei tomei coragem para finalmente encarar Jin no caixão. Assim que me viro vejo-o trajando um belo terno branco, e notei que o acolchoado era de um rosa bebê bem sutil. Ver minha princesa deitada sem vida me destruiu de tal forma que não tenho nem como explicar com palavras.

~

Cheguei em casa exausto e cansado de receber tantos olhares de pena das pessoas que descobriram que namorávamos há cinco anos. Tiro meu terno, ponho uma calça de moletom cinza bem confortável e visto uma blusa larga branca e me jogo na cama. Peguei meu celular e abri minha conversa com Jin, procurando seu último áudio.

- Nammie, meu amor! Só quero dizer que te amo e que semana que vem estou de volta! Estou morrendo de saudades de você! Beijos!

Uma lágrima isolada rola por minha bochecha. Apresso-me para enxugá-la antes que outra onda de choro comece. Durmo olhando para o lugar vazio ao meu lado. Passei a tarde toda dormindo, só levantei para beber água, comer alguma coisinha e para usar o banheiro. Olhei no relógio e vi que já eram quase sete horas da noite. Perdi o meu dia dormindo? Sim, e não me arrependo.

~

Acordo e vejo Jin sentado na beirada da cama. Ele me observava com um olhar calmo, transmitindo amor.

- Jin! - vou à seu encontro e o abraço.

- Meu amor, não tenho muito tempo, quero conversar com você. Nammie, não faça isso com você.

- Isso o quê, Jin?

- Não se destrua por minha causa! Não se deprima, meu amor! Siga em frente, sempre. 

- Ah, Jin.. Se fosse fácil assim...

- Fácil não vai ser, Namjoonie. Mas me prometa uma coisa.

- O que quiser, princesa. 

- Me prometa que será feliz. - diz colocando sua mão esquerda em minha bochecha direita.

- Jinnie, eu... eu não prometo que serei feliz, mas eu prometo tentar... - digo pondo minha mão sobre a sua e inclinando minha cabeça para o lado em busca de mais contato. 

- Isso já serve. Você não merece sofrer, Namjoon. Você merece ser feliz.

- O problema é que eu não me vejo feliz sem ter você comigo, Jin! 

- Mas eu vou estar sempre contigo, Nammie. Aqui. - pôs sua mão em meu coração. - Eu te amo, Namjoon. 

- Eu também te amo, Jin. - encostei nossas testas. - Ei... Sabia que eu ia te pedir em casamento quando voltasse? - disse chorando. 

- Namjoon... - disse chorando também e me abraçou. 

- Eu sinto tanto sua falta... 

- Nammie, eu estarei sempre com você, estarei te protegendo. Seja feliz, encontre alguém especial.

- Jin, eu...

- Namjoon, você precisa dar uma chance para as pessoas, você precisa de um novo amor. 

- C-Como assim? O que você quer dizer com isso?

- Quero dizer pra você não ficar preso à mim, Namjoon. Acha que eu fico feliz te pedindo para amar outra pessoa? Não, não fico. Mas se eu pedisse pra você ficar sozinho, depressivo e infeliz pelo resto da sua vida eu estaria sendo egoísta! 

- Tudo bem, Jin. Eu entendo. Farei como me pede, se é o que deseja. Tentarei ser feliz, não por mim, mas por você. Eu te amo, princesa.

- Eu também te amo, não se esqueça. 

- Não vou. – Jin sorri e se levanta e caminha para longe de mim. - Jin? Aonde vai?

- Meu tempo acabou, Namjoonie. Abriram uma exceção pra eu poder te visitar com a esperança de esclarecer a sua mente.

- Você virá mais vezes?

- Infelizmente não. Eu já atravessei, Namjoon. Não era nem para eu estar aqui agora, mas viram que eu sofria vendo você se destruíndo e me deixaram vir aqui por uns minutos. 

- Eu te amo, Jin. - uma lágrima caiu pelo meu rosto.

- Eu te amo, Namjoon. Adeus.

~~~~

Minha vida foi boa, depois daquele sonho com Jin, anos atrás, resolvi ser feliz. Quando estava no meu último ano na faculdade, um cara se aproximou de mim e nos tornamos amigos. Um tempo depois esse mesmo cara se confessou para mim, e, lembrando do que Jin havia me falado, resolvi dar uma chance à ele.

Contei-o que não o amava, mas que eu estava disposto a aprender a amá-lo. Depois de cerca de um ano e meio de namoro eu finalmente me apaixonei por tal cara, ainda não o amava, mas estava quase lá. Ele vivia dizendo "eu te amo" pra mim, e eu respondia-o com um beijo, porque tanto eu quanto ele sabíamos que eu não o amava ainda.

Quando quase completamos dois anos de namoro eu finalmente me declarei. Consegui amar novamente. Lembro-me até hoje que quando eu disse-lhe "eu te amo" pela primeira vez, ele me abraçou forte e começou a chorar. Depois nos beijamos e a noite foi bem longa, se é que me entendem.

Outra coisa que fora bem difícil no começo eram os toques. Tocar e ser tocado por outra pessoa, sentir os lábios de outro, estar dentro de outro, aquilo estava sendo complicado, estranho. Com o tempo, felizmente, eu me acostumei. Mas uma coisa é fato: eu nunca senti com esse cara o que eu sentia com Jin, o que tínhamos era uma conexão fortíssima que ia além do corpo físico.

A primeira coisa que fiz no dia seguinte de minha declaração foi levar esse meu parceiro ao túmulo de Jin. Lembro-me até hoje do que eu disse: "Jin, por muito tempo eu te amei e ainda vou amar. Você sempre será único pra mim e eu nunca te esquecerei, mas eu encontrei alguém que me ensinou a amar de novo, com ele aprendi a ser feliz de novo. Jin, consegui cumprir a promessa! Essa é a pessoa que eu amo e com quem quero ser feliz!"

Depois disso meu namorado me abraçou e caiu em prantos, ele sabia sobre Jin, sempre soube. Sempre deixei claro que ninguém, absolutamente ninguém, jamais ocuparia o lugar de Jin. Esse meu companheiro apenas nunca imaginou que eu me confessaria a ele na presença de Jin.

Quando fizemos quatro anos de namoro o pedi em casamento. Estávamos numa praia em Busan quando o surpreendi com o pedido, e ele aceitou sem pensar duas vezes. Resolvemos nos casar em Daegu um ano depois.

Com dois anos de casados, resolvemos aumentar a família então adotamos um cachorro, uma Yorkshire branca, Snow era seu nome. Depois procuramos um orfanato, queríamos alguns serumaninhos correndo e gritando pela casa.

Jin sempre quis ter uma filha mais velha, eu, por outro lado, nunca quis ter filhos, mas Jin havia falado tanto sobre a ideia que me convenceu. Eu e meu marido conseguimos, depois de muita burocracia, adotar uma linda bebê que chamamos de JooMi. Quando nossa filha fez três anos ela queria porque queria ter um irmãozinho.

Ela não entendia que não podíamos ter filhos, por motivos óbvios, e dizíamos a ela que iríamos tentar adotar um menininho a todo custo. Uns meses depois, meu marido havia chegado com JooMi de sua escolinha, como um dia qualquer, mas o que ela não sabia é que eu estava em seu quarto com seu irmãozinho, Baekhyun. Ela ficou tão feliz e tão fascinada com o bebê que nem queria sair de perto dele.

Os anos seguintes foram muito bons, as crianças cresceram, se formaram, entraram na faculdade. Lembro-me de quando JooMi apareceu em casa com seu primeiro namorado, eu juro que quase esganei o maldito por tocar na minha pequena. Depois me acostumei com a ideia de que minha neném havia se tornado uma mocinha crescida.

Hoje em dia JooMi é uma das maiores engenheiras de Seoul, resolveu seguir minha profissão, é casada e tem duas filhas, Rise e Sojung. Baekhyun é um renomado cardiologista da Coréia, é casado e tem três filhos, um menino, Chanyeol, e duas meninas, BitNa e EunBi. Meus filhos são quarentões e meus netos, em sua maioria, são adolescentes. Meu casamento fora bom, fomos felizes, mas infelizmente meu marido veio a falecer dois anos atrás de causas naturais, ou velhice, como preferir.

E agora cá estou eu em um hospital, internado em estado terminal. Não me arrependo da minha vida, fui feliz. Frequentemente sonhava com Jin, sempre ia visitá-lo em sua lápide, sempre lembrava dele, nos momentos felizes e tristes da minha vida. Fico imaginando em como teria sido minha vida se Jin nunca tivesse sofrido o acidente. Ele seria um dos maiores chefes da Coréia e eu seria um dos maiores engenheiros de Seoul, assim como de fato fui.

Meus filhos e netos vieram me visitar ontem, estavam todos muito tristes, chorando muito. Disse a eles que ficará tudo bem. Menti. Finalmente poderei me juntar a Jin, esperei tantos anos por isso, cinquenta e dois pra ser exato. Jin e eu nos separamos quando eu tinha vinte anos, agora tenho setenta e dois. Tudo fica escuro e uma figura familiar aparece em minha frente.

- Nammie. - sorriu e me estendeu a mão. - Vem.

- Jin. - sorri de volta e quando estendi minha mão para pegar a sua tomei um susto, minha mão estava jovem de novo. - Eu senti tanto a sua falta.

- Eu também, meu amor. Agora poderemos ficar juntos finalmente. - disse passando a mão em meu rosto. 

- Pra todo o sempre. - peguei suas mãos e beijei-as.

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- Muito bem, classe. Sentem-se! - ordena o professor de química.

Eu já estava sentado, perdido em minhas rimas, que adorava escrever em meu tempo livre. Olho em volta e vejo o professor conversando com um aluno novo, cujo não pude ver o rosto pelo fato de ele estar de costas. Ele fala alguma coisa e aponta para o lugar vazio em minha carteira, que são aquelas carteiras de dupla. Ignoro e volto ao meu mundo.

- Oi. É... Da licença, o professor disse para eu me sentar aqui.

- Claro, sem proble... - ao olhar em seu rosto eu me congelo, senti algo forte em meu peito. Me perdi em seu olhar, pude notar que ele também estava estático. - Como... você se chama? 

- S-Seokjin. E... você?

- Namjoon.

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