Depois que Regina passou por uma nova bateria de exames, nós a instalamos em seu novo quarto. Não demorou muito até que outro médico viesse e se apresentasse. Ele era um dos membros da equipe do Dr. Bolton. O Dr. Bolton seria o médico responsável por Regina, como explicou o médico associado, e viria examiná-la bem cedo na manhã da próxima segunda-feira. Como estávamos em uma sexta-feira, teríamos o fim de semana todo para nos acostumarmos com aquele ambiente antes que Regina começasse sua terapia, dali a alguns dias. Embora eu nunca pudesse imaginar que estaria em um centro de reabilitação depois de apenas dois meses de casada, tinha um bom pressentimento a respeito daquele lugar. O hospital era especializado, mas os quartos eram como os de qualquer outro: móveis simples e paredes pintadas em um tom que ficava entre o amarelo e o bege. O quarto de Regina ficava diretamente abaixo do heliporto, então nós, frequentemente, ficávamos incomodados com o barulho dos helicópteros pousando e decolando. Ela também teve o privilégio de ficar num quarto vizinho ao de uma senhora que apelidamos de Dama dos Gemidos, porque ela passava horas gemendo. Entretanto, apesar do barulho que vinha de todos os lados, também tínhamos momentos de paz e tranquilidade. O quarto de Regina tinha uma janela que dava para um pátio interno, cheio de canteiros de flores e passarelas. Não havia nada florindo na primeira semana de dezembro, mas eu ansiava pela possibilidade de, algum dia, poder dar um passeio por ali com ela ao meu lado. Ela já havia progredido bastante, e estava recebendo o melhor tratamento possível. Imaginei que não demoraria muito até que estivéssemos do lado de fora do quarto olhando para as flores e conversando sobre voltar para o nosso apartamento e nossa vida. Durante Alguns dos outros pacientes haviam passado por acidentes como o dela, enquanto outros haviam sofrido AVCS ou aneurismas. No dia seguinte, uma enfermeira e eu levamos Regina para dar seu primeiro passeio em outra parte do hospital. Nós empurramos a cadeira de rodas de onde ela estava até o refeitório dos pacientes para almoçar. Entretanto, Regina não estava preparada para ver outras pessoas com problemas neurológicos debilitantes. Percebi que ela estava com medo assim que entramos no salão.
— Isso assusta você, não é? — Eu disse, quase involuntariamente, sem saber se realmente havia dito aquilo em voz alta ou se havia apenas formulado o pensamento.
— Sim. — respondeu, com a voz ainda um pouco rouca depois de passar cinco dias com um tubo de oxigênio enfiado em sua garganta. Eu não esperava que ela me respondesse, e senti uma explosão de alegria apesar do estresse que eu sabia que ela estava sentindo. Voltamos para o quarto, e Regina fez suas refeições ali até que estivesse em condições de ir para o refeitório geral do hospital. Nosso médico aprovou o plano, pois ele não queria que ela tivesse que encarar constantemente os efeitos negativos e permanentes que afetam as pessoas com lesões no cérebro. Em vez disso, ele, assim como eu, queria que ela recuperasse sua força e se concentrasse em melhorar a cada dia. Embora tivesse uma reação bastante ruim ao ambiente do refeitório, o gosto da comida, verdadeiramente, era um dos poucos prazeres que a alegravam . O horário das refeições acabou por se tornar um momento feliz para nós dois. Ela simplesmente gostava de comer. E eu adorava as refeições, pois eram praticamente as únicas vezes no dia em que Regina se mostrava mais animada. Enquanto passávamos aquele tempo juntos, ela começou a conversar mais, e parecia estar um pouco mais próxima a mim durante as nossas conversas. Durante aquele primeiro fim de semana em , fomos informados sobre a programação diária de Regina. Ela começaria o dia com uma sessão de terapia ocupacional, na qual reaprenderia habilidades pessoais, como tomar banho e se vestir. A seguir, passaria por um fonoaudiólogo, que identificaria possíveis deficiências da fala causadas pelas lesões e ensinaria como superar aqueles problemas. Sua terceira sessão do dia seria com um fisioterapeuta. Durante esse tempo, ela trabalharia para melhorar a coordenação entre as mãos e os olhos, o equilíbrio e habilidades motoras. Finalmente, faria uma pausa para o almoço. Depois, ela passaria as tardes trabalhando com tarefas caseiras básicas, tais como cozinhar, passar o aspirador de pó e arrumar a cama. Era difícil acreditar que ela não tardaria a ter uma agenda cheia de tarefas. Afinal de contas, ela ainda estava tecnicamente em coma. Na verdade, os médicos não considerariam que ela tivesse saído totalmente do coma indicado pela escala de Glasgow até alguns meses após o acidente. Quando chegamos no hospital, menos de duas semanas após o desastre, ela ficava acordada apenas durante algumas horas por dia, e estava extremamente desorientada. Em sua primeira noite em , ela acordou durante a madrugada e tentou ir ao banheiro sozinha, mas acabou ficando presa na grade de proteção da cama que havia sido colocada ali para sua própria segurança. Daquele ponto em diante, sempre havia alguém dormindo no quarto com ela, todas as noites. Aquela tarefa geralmente ficava a cargo da mãe dela, pois eu ainda não estava em condições de fazer muita coisa devido aos meus próprios ferimentos. Como Regina ainda estava dormindo mais de 20 horas por dia e não conseguia acompanhar uma conversa por mais de um minuto ou dois.
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