História Lost Memories - Capítulo único: Memory.

Mesmo que você não se lembre de mim, as lembranças que você me proporcionou são os bens mais importantes em minha vida.

Por mais que sua memória seja apenas um breve um borrão, eu ainda continuo lhe visitando, tentando encontrar algum mísero resquício de que ainda se lembrara de mim.

Já passei muitas noites em claro pensando em como seria minha reação quando eu chegasse no hospital e você dissesse que se lembrava de mim, que sabia quem eu realmente era. E assim como eu já passei noites em claro, ainda passarei.

Você é como o meu porto seguro, que mesmo sem ter você realmente comigo, me sinto protegido. Sua presença já basta para me fazer sorrir como bobo.

O dia de seu acidente fora de longe o dia mais triste em minha vida. Tudo mudou do colorido arco-íris para o preto e branco sem graça. Claro que, mesmo minha vida tendo se tornado nessa droga que se tornou, você conseguira mudar tudo com um simples e singelo sorriso.

Você no início se assustava comigo sendo tão carinhoso mesmo que não me conhecesse. Depois de um tempo você aprendeu a gostar de mim, certamente não da forma em que gostava antes, mas ainda sim gostava de mim.

Algo me diz que um dia você se lembrara de mim, um dia eu chegarei naquele monótono hospital e você dirá que se lembrou de tudo. Os médicos dizem que se você se lembrar de tudo, logicamente demorará muito. E já se passaram três meses de dolorosas –ou alegres, dependendo do meu humor- visitas. Você continua hospitalizado pois está sob observação constante, a qualquer momento sua saúde pode se deteriorar e voltar para estaca zero.

Nos primeiros dias em que eu lhe visitava, quando você estava em coma, eu apenas acariciava sua mão, pois seu rosto era coberto por uma máscara de oxigênio; mesmo assim continuava lindo.

Se eu sofro por você não se lembrar de mim? Claro que não. Mas já sofri. Se você não se lembrar de mim saiba que eu vou refazer todos os nossos momentos, um por um, por mais que demore anos. Eu não deixarei que um simples acidente faça nosso passado todo se apagar.

As noites frias em que ficávamos abraçados em baixo dos cobertores e que você pegava minhas mãos geladas para esquentá-las e as assoprava. Eu te abraçava mais forte ainda, lhe tratando como um ursinho de pelúcia.

Os dias quentes em que saíamos para tomar sorvete e mesmo estando calor, você me obrigava a ficar de mãos entrelaçadas ou até mesmo abraçados. Eu reclamava, mas você sempre me calava com seus lábios.

Os dias de outono em que saíamos para passear pelo parque que fica próximo de nossa casa, e que você ficava pisando nas folhas secas só para ouvir o barulho das mesmas quebrarem. Eu ria baixinho para não chamar muita atenção, você sempre foi muito fofo, e quando percebia que estava rindo baixo você ria alto só para chamar a atenção de todos; seus risos sempre foram escandalosos.

Os dias de primavera você me levara à um parque mais distante, repleto de flores. Você sempre sentava sob uma cerejeira que até já tinha denominado nossa. Nossas inicias estavam gravadas em si: H & Y. Nesses dias eu me sentia mais especial do que todos; você sempre pegava um ramo de cerejeira e colocara uma flor atrás de minha orelha, dizendo que eu era como uma delas. Você sabe ser romântico quando quer.

Você pode ser o cara mais bem-humorado que eu conheço, porém consegue ser o mais sério quando o assunto era me elogiar. Você sabe que eu amo elogios, mas sempre me sinto envergonhado, por isso você sempre falava tudo com uma seriedade indescritível.

Eu realmente nunca lhe mereci. Eu sou totalmente o seu contrário; enquanto você é uma pessoa alegre e engraçada, eu sou sério e sem graça. Enquanto você é agitado e adora uma bagunça, eu sou quieto e adoro o silêncio. Você é a minha bagunça no meio de tanto silêncio caótico. E eu amo isso.

Ah se eu pudesse voltar ao tempo em que sentávamos juntinhos no sofá para assistir um filme, enquanto estávamos enrolados em um cobertor, saboreando um pote de sorvete. Depois de um tempo eu descobri que o meu sabor favorito era o doce sabor de seus lábios mesclados ao sorvete, se eu pudesse, passaria horas e horas saboreando seus doces lábios.

Seu olhar carrega um universo de cores, e eu sempre me pego vagando por lá. Um olhar sedutor e ao mesmo tempo fofo. Um infinito de borboletas voando pelo meu estômago. Me sinto extasiado quando seus orbes negros encontram os meus.

Há três anos Johnny me dizia que eu estava apaixonado pelo moreno, mas eu sempre negava. Até que um dia ele me mandou uma mensagem, algo bem diferente das mensagens amigáveis que normalmente trocávamos.

“Saranghae”

Já havíamos dito coisas parecidas, mas nada tão do nada. Eram quatro horas da manhã, e ele só mandou isso. Meus dedos tamborilavam pela tela do celular, em busca das palavras certas. Meu coração palpitava, minhas mãos suavam. Em meio a essa guerra de sentimentos, acabei respondendo-o:

“Esse amor é recíproco”

Fora apenas isso que consegui escrever.

Ele ignorou a mensagem por dois dias, pensei que tudo fosse apenas engano, que algum amigo seu houvesse pego seu celular e feito uma façanha. E eu estava completamente enganado...

Ele havia planejado tudo: um encontro, o pedido, o lugar, a comida; enfim, como eu disse antes: tudo.

Devo agradecer ao Chittaphon (mais conhecido por Ten) por nos apresentar. Aquele tailandês retardado veio com uns papos de que devíamos nos conhecer, mas até hoje eu não sei porquê, pois nem nos conhecíamos direito, eu apenas o observava de longe. O Ten sempre foi amigo de Yuta, sei disso por que eu sempre o observei desde que o vi rindo com seu sorriso encantador. Foi amor à primeira vista.

Sou interrompido de meus devaneios. Ele acabou de acordar.

Sua mão foi de encontro à minha. Meu coração palpitava.

-H-Hansol...

-Oi?! –Minha mão soava.

-Eu... eu lembro de tudo...

-Tudo o que? –Perguntei tendo ideia do que seja sua resposta.

-Você. –Ele sorriu.

Eu o abracei e meus braços foram de encontro à sua nuca. Depositei um beijo em seus lábios. Respirei fundo e sorri abertamente pela primeira vez em três meses.