A cabana era quente, aconchegante, convidativa, talvez até demais, mas eu não ligava, não tinha nada a perder mesmo. Logo que entramos, ele foi até a lareira atiçar o fogo baixo, que soltou algumas fagulhas saltitantes e brilhosas. Reparei que por dentro, a casa não parecia tão abandona assim. Tinha uma cama arrumada impecavelmente, uma mesinha ao lado com dois livros em cima, bastante desgastados aliás. Uma cadeira de balanço solitária ao lado da janela cuja a parte inferior do vidro estava rachada. Ele reparou em meus olhos analisando a pouca mobília, mas não disse nada.
- Você mora aqui?- pergutei, mais calmamente dessa vez. Parece que funcionou.
- Não, venho pra cá de vez em quando. De vez em sempre. O lugar me acalma.
-Parece bastante aconchegante.
Nesse momento ele se virou para mim. Olhou nos meus olhos, mas rapidamente desviou.
-É. Estranho ouvir isso de você, Ana.
-Por quê? Vai continuar com esses joguinhos inúteis?
-Você realmente não lembra de nada não é? Foi você quem me trouxe aqui. Essa cabana é sua, que droga... E pare de falar assim comigo.
Ele parecia agora bastante concentrado em por algumas ervas numa panela com agua, enquanto o silêncio pesava e eu processava as suas palavras. Então nós realmente nos conhecíamos e pelo seu tom éramos próximos, mas o quão próximos? Depois de alguns minutos ele tirou a panela do fogo e pôs o líquido em duas xícaras.
- Não se preocupe é só chá, nem morde.
Eu estava começando a gostar do seu jeito sarcástico/delícia de ser.
- Nossa obrigada. Bom saber.
- Não há de quê.- eu estava esperando ele dar a primeira golada e assim ele fez.
- E então... Dá pra falar por que eu estava correndo? Assim, só pra saber mesmo.
-Fugindo.
-Deus.
- Do hospício que te internaram e de mim, acho. -ele disse com um tom de voz triste.
- Dá pra explicar?- meu coração já estava acelerando de novo eu olhava pra ele em busca de alguma resposta em seus divinos olhos cor de jade, mas nada mudava.
-Vou te falar tudo, mas primeiro se acalme. -e então ele se aproximou de mim e me envolveu em seus braços num longo abraço. O melhor abraço do mundo, encostou o queixo na minha cabeça, depois a boca e o nariz, e deu um longo suspiro.
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