1. Spirit Fanfics >
  2. Loup Garou: Herege >
  3. Possessão

História Loup Garou: Herege - Possessão


Escrita por: InvisibleWriter

Capítulo 60 - Possessão


Fanfic / Fanfiction Loup Garou: Herege - Possessão

 

 

Medo. Desde que eu nasci esse era um perfume que meus sentidos sempre captaram. A natureza do medo era estranha para a maioria das pessoas, afinal elas já observaram o que o medo é capaz de fazer, as guerras e outras coisas igualmente ruins estão aí para provar esse ponto, tudo começou porque alguém teve medo de alguma coisa. Ele altera os comportamentos, distorce as noções básicas e muitas vezes o limite daquilo que é certo e do que é errado. Pessoas com medo costumam fazer idiotices ou simplesmente não fazem nada, o que de certa forma é pior. Muitas vezes você já deve ter deixado de fazer algo por medo e depois ter se arrependido, talvez depois de tanto tempo ainda se pergunte como teria sido se você não tivesse ficado com medo e tivesse feito diferente.

Vou dizer, o medo é uma perca de tempo e se eu fosse mortal como você, não gastaria muito do meu limitado tempo com medo das coisas. Se arriscar faz parte do que somos, nossa essência, nossas paixões. É o que nos faz funcionar, é o que nos torna melhores a cada nascer do sol. Acredite você vai se sentir melhor depois que se desafiar a deixar o medo um pouco de lado a cada vez, vai perceber que o mundo é maior do que imaginava e que você também é. E essa é a sensação mais incrível do mundo.

Só que o medo que eu vi estampado nos olhos daquela demoníaca era diferente, é um medo que não dá pra lutar contra. Era o medo que só aparece quando você sabe que encontrou o fim da linha.

- Vou perguntar uma vez só e se mentir eu abro sua garganta e não farei isso com a faca. – eu disse, mostrando minhas presas a ela. Seus olhos se arregalaram um pouco mais. – Onde está a mulher que vocês capturaram comigo?

- Nós a jogamos na fornalha. – disse ela, a voz tremula.

Imediatamente acertei seu rosto com as costas da minha mão, com um rosnado a peguei pelo pescoço e rebati seu corpo contra a parede. Ergui-a do chão, suas mãos tentando aliviar meu aperto de sua garganta enquanto ela engasgava pra respirar.

- Onde ela está?! – perguntei, tentando não berrar. Eu tinha que ficar atento a possíveis ouvidos do lado de fora.

- Na...fornalha. – engasgou ela.

- Mentira! – bati sua cabeça contra a parede. Ela choramingou, seus pés longe do chão. Usei a injunção para fazê-la parar de mentir, suas pupilas se dilataram. – Onde. Ela. Está?

- Fornalha.

Joguei-a do outro lado da sala, então fui até ela e chutei suas costelas, peguei-a pelo pé e a arremessei para o alto, a cada vez ficando mais furioso. A demoníaca cuspiu sangue, gemeu de dor, o odor do medo ficando mais forte nela ao se arrastar para longe enquanto eu ia até ela lentamente.

- Você vai me levar até onde ela está. – suas pupilas se dilataram de novo, o rosto ficando vazio. – Vai fazer isso agora.

Ela se levantou, mancando e segurando suas costelas. A respiração estava ofegante, difícil. Eu devia ter fraturado alguma de suas costelas, ela deu um leve piado de dor. Julia andou até a porta e eu a fiz parar e olhar pra mim.

- Você não vai gritar por ajuda e nem vai tentar pedir de forma alguma. Se cruzarmos com alguém no corredor você irá fingir que sou seu prisioneiro e se perguntarem vai dizer que estou sendo transferido para outra cela sob ordens da comandante. Entendeu?

Julia fez que sim, o rosto vazio. Fiz sinal para que ela andasse, ou mancasse. Saímos da cela, ela pegou no meu braço. O esforço a fez choramingar por causa das costelas quebradas, minha vontade era cutucar só para ver sua careta de dor, era morde-la lentamente e provar de sua carne para tentar aplacar a minha fome. Os demoníacos estavam muito ferrados, era como se tivessem prendido uma raposa faminta dentro de um galinheiro enorme. Eu ia devorar um por um. Eles pareciam tantos quando cheguei, agora seus números já não eram o suficiente.

Ao invés de subirmos de elevador, nós descemos e fiquei surpreso por haver algo mais abaixo. Então, me lembrei do hangar.

- O que são aquelas coisas que vocês estão construindo? – perguntei. Julia não respondeu, apenas apertou os lábios. A obriguei a olhar pra mim e repeti a pergunta olhando dentro de seus olhos.

- Projeto Golias.

- E para que serve? – pergunta idiota. Eu sabia que serviria para um único propósito: Derrotar os angelicais.

- Destruir as correntes de Asferia e mandar de volta para os celestiais.

- Então, as glândulas de dragão que vocês estavam extraindo eram para os gigantes de metal, assim eles poderiam derreter as correntes e mandar a Cidade dos Anjos para a Umbra Alta?

- Sim. – disse ela, contida. Torci os lábios.

- Conte-me tudo o que sabe.

- Projeto Golias. Gigantes com trezentos e oitenta metros armados com poder bélico o bastante para destruir qualquer coisa. Especialmente preparados para destruir os pilares de Asferia.

- E destruir os angelicais. – testei.

- Não. Apenas mandar a cidade de volta.

- Por que? Achei que seu intuito fosse destruir todos os emplumados.

- Os angelicais não nos interessam, eles apenas estão no caminho. Existe algo com eles que pertence a nós e que deve ser devolvida a seu lugar original. – disse ela, a voz soando robótica enquanto despejava tudo.

- E o que seria? – me retesei. Será que ela estava falando de Emily?

- A Arca da Aliança.

Eu tive que rir. A relíquia bíblica mais procurada do mundo sob o poder dos demoníacos? Okay. Eu ia fingir que acreditava, pois não tinha tempo a perder.

- A Arca pertencia a vocês?

- Helene conhece a história, ela estava lá no dia. Eu não a ouvi, estava muito interessada nos meus novos brinquedos para prestar atenção no discurso.

- Brinquedos?

- Prisioneiros novos.

Reprimi a vontade de bater nela outra vez, ela se retraiu um pouco, provavelmente sentindo o que eu queria. O elevador se abriu e com ele uma rajada de ar seco, quente e desagradável. Saímos para outro corredor, passamos por guardas que subiam para o elevador.

- Hey, vocês!

Nós olhamos, Julia pegou no meu braço. Ele olhou estranhamente para nós, então voltou seus olhos para Julia.

- O que estão fazendo aqui embaixo? – ele nem mesmo estava suando. Nem ele, nem os outros guardas perto dele. Claro, eram demônios, estavam acostumados com o calor. Mas, eu não. Eu já sentia minha pele orvalhar, o calor desagradável sugando minhas energias aos poucos.

- Transferência de cela. Ordens da comandante. – disse ela, juntando as sobrancelhas. O guarda apenas assentiu, mas olhou para Julia de um jeito estranho.

- E desde quando você é tão descuidada, Julia? Seu prisioneiro está sem correntes. – disse ele, os olhos atentos nas minhas correntes quebradas.

- Ele sabe o que acontece se fugir. Além do mais, estamos no subsolo. Não há muito lugares para onde ele possa ir. – respondeu ela, o tom debochado. Achei aquilo bem convincente.

Dois guardas riram, o grandão não pareceu tão convencido, mas apenas deu de ombros e deixou as portas do elevador se fecharem. Prendi um suspiro de alivio e vi um brilho decepcionado aparecer nos olhos de Julia.

- Esperava ser salva? Se fizer o que eu mandar, eu posso liberta-la. Agora vamos, leve-me até ela.

Julia suspirou e continuou seu caminho. Do lado direito do corredor, a parede era feita do mais grosso vidro e iluminada pelo metal liquido incandescente das fornalhas no hangar do outro lado. Era um espaço enorme, totalmente preenchido por maquinários e pessoas trabalhando com o fogo fazendo armas, armaduras e outras coisas, assim como peças gigantes que só deviam ser para o tal projeto Golias. Aquela realmente eram as minas.

A minha esquerda haviam centenas de portas diferentes, todas com brechas retangulares para passagem de ar. Limpei o suor da minha testa que escorria para o meu rosto. Era um calor infernal aqui, imaginei se era naquele lago de fogo que jogaram os anjos. Eu podia imagina-los se debatendo no metal líquido e se fundindo com ele.

Julia parou diante de uma porta no corredor, tirou um molho de chaves de suas roupas cyber e enfiou na fechadura, girou um quarto para a direita, um painel se abriu e ela usou sua digital para entrar. A porta deslizou para o lado. Espionei para dentro. Lá estava ela, deitada no fundo da cela escura.

- Mãe. – ofeguei, indo até ela. Olhei para Julia. – Entre e feche a porta.

Asynjor estava com os cabelos negros empapados de suor, os lábios pálidos e os olhos cabisbaixos. Estava fraca, a pele ainda mais sem cor do que de costume, suas íris azuis claras me fitaram quase sem acreditar.

- Vince? – sussurrou. Me sentei no chão e peguei-a no colo.

- Sim, sou eu. – fiz um pequeno filete de gelo na palma da minha mão. Só aquilo quase minou minhas forças, o calor ali dentro era insuportável. Eu passei apenas alguns minutos ali e já estava implorando para sair, fiquei imaginando como ela suportou por tantos dias. O gelo na minha mão derreteu quase que no mesmo instante e derramei a água em seus lábios ressecados. Ela fechou os olhos, quase gemendo de prazer. Resfriei um pouco sua pele com o restante do poder que eu tinha. – Por que você mentiu? Você disse que a tinha jogado na fornalha.

- Aqui é a fornalha. – disse Julia, revirando os olhos. Estreitei os meus para ela, então ela engoliu em seco. – Chamamos de Fornalha essa parte das docas porque fica muito próximo das minas e o calor é praticamente insuportável. Jogamos aqui nossos prisioneiros angelicais.

- Achei que vocês os matavam.

- Nós nunca matamos ninguém. É a lei.

Por um momento achei que fosse o calor distorcendo os meus sentidos e fazendo com que eu ouvisse tudo errado. Como assim os demoníacos não matavam os angelicais? Espera, pelo modo como ela disse...

- Como assim “ninguém”? Vocês não podem matar ninguém?

- Nenhuma criatura viva tem direito sobre a vida de outra, por tanto não matarás. É a quinta lei divina. – respondeu. Abri meus olhos e os fechei de novo. – Os angelicais pensam que nós os queimamos, nós nunca tentamos desmentir.

- Um inimigo confuso é um inimigo manipulado. – eu disse, sabendo muito bem como funcionava. Era assim que eu fazia com a maior parte das minhas vitimas, deixava-as pensarem o que quisessem sobre mim, fazia-as me subestimar, achar que eu era fraco para só então mostrar minha força. – Vocês capturam angelicais há séculos. É isso o que vocês fazem? Os prendem aqui?

- Alguns são convertidos para a nossa causa, outros permanecem aqui até o fim de seus dias. Mas, sempre oferecemos uma oportunidade de trabalhar para nós, alguns acabam aceitando por tédio, enquanto outros preferem morrer a nos ajudar. Escolha deles, não nossa.

Isso explicava porque exatamente aqueles cientistas demoníacos pareciam tão desesperados para me ressuscitar na sala do raio. Seria uma transgressão as suas ridículas regras. Então, como é que explicavam todos aqueles corpos de almas calcinadas?

- E os mortos na sala do raio?

- Transgressores. Almas que tiramos do sofrimento eterno do Tártaro para morrerem aqui.

- Então, vocês matam sim pessoas.

- Não matamos, damos outra existência para elas, tem uma diferença. – disse ela, quase com raiva. – Na sala do raio sua energia é removida e o que sobra lá é apenas sua casca. A energia deles permanece viva em outro lugar, nós não a destruímos. Isso é matar, homem-lobo. Destruir a essência de vida de uma criatura e não dar outra existência para ela.

Esse era um modo um tanto torto de ver as coisas. Senti a mão de Asynjor na minha quando ela sinalizou que já estava se sentindo melhor. Ajudei-a a se erguer. Ela parecia menos pálida agora, as bochechas coradas. Como eu, sua essência também era o gelo, e o calor tem a tendência de nos drenar aos poucos, eu já me sentia um merda.

- Ela está dizendo a verdade, Vincent. – disse ela, sua voz fraca. Ela olhou para a demoníaca. – Você usou a Animália?

- Sim. Mas, não é forte o bastante, é necessário fazer contato visual com ela e usar muito do meu poder. Logo menos estarei esgotado. – eu disse, já lutando pra respirar. Me virei para a demoníaca. – Tire suas roupas.

Ela arregalou os olhos, então começou a tirar contra sua própria vontade. Peguei as roupas que ela tirava e as dei a Asynjor, ela olhou confusa.

- Você vai dar o fora daqui.

- Mas, e você? – disse ela, se vestindo rapidamente com as roupas militares/cyber. Ela colocou a boina de Julia sob os cabelos escuros selvagens.

- Preciso colocar nosso plano B em prática. Os demoníacos estão construindo gigantes de metal do tamanho do Empire State Building para derreter as correntes de Asferia e mandar a ilha flutuante de volta para a Umbra Alta.

- Com que intenção? Não entendo.

- Ao que parece tem algo a ver com uma relíquia milenar que os angelicais possuem: A Arca da Aliança. Agora para quê os demoníacos precisariam dela na Umbra Alta isso é um mistério. Por que o interesse de vocês nela? – perguntei, olhando para Julia apenas de calcinha na minha frente. Ela ergueu o lábio em desprezo, as narinas infladas em fúria.

- Eu já disse, ela nos pertence. Eu estava mais ocupada em brincar com os novos prisioneiros do que prestar atenção na lenga-lenga de Helene. Ao que parece, a Arca pode ser restaurada na Umbra Alta, mas para isso acontecer ela deve voltar em primeiro lugar. Coisa que os angelicais não farão, já que existe uma lei de que estão proibidos de ir até lá.

- Se for restaurada...o que acontece? – perguntou Asynjor. Julia não respondeu.

- Responda a pergunta. – rosnei, mostrando a ela os meus olhos. Ela grunhiu ao se esforçar pra não responder, é claro que perdeu a luta.

- Seu poder é restaurado e com isso o elo perdido entre nós e a Voz.

- A Voz? Espera, você quer dizer Deus? Vocês demoníacos viraram as costas pra Ele. Eu não estou entendendo mais nada. – eu disse, passando a mão pelo cabelo. Suspirei e fiquei inquieto ao ouvir sons próximos. – Se Asynjor estava viva, significa que todos os anjos que vocês capturaram também estão. Onde está o anjo que vocês capturaram comigo?

- Tarde demais para ele. O anjo já foi recrutado. – disse Julia, um sorrisinho se abrindo. – Ele agora é um de nós.

Lembrei dos grandalhões com olhos brancos desfocados e com a armadura romana. Pietro agora devia estar como eles, preso em uma ilusão e feito de escravo. Eu não podia fazer mais nada por ele, já não dava mais tempo, logo notariam minha ausência.

- Vamos seguir com o plano B. Você sairá daqui e voltará até a fronteira com Niflheim para reunir todos os lobos que você puder para ajudar os angelicais na batalha, não sei se eles podem dar conta do que virá, mas é melhor prevenir. Será daqui a três dias, talvez mais. Espere pelo meu sinal e saberá onde me encontrar. – eu disse a Asynjor.

- Os Golias estarão prontos daqui a algumas horas, homem-lobo. Você não tem ideia de quantos demoníacos vem trabalhando nisso e a quantidade de poder que temos colocado. – disse Julia, seu tom cruel. Vi a preocupação se assentar nos olhos azuis claros de Asynjor.

- Vincent, e se seu plano der errado? Não vou poder ajuda-lo de fora. – disse ela, pegando minha mão.

- E eu não pretendo sair. Existe algo dos demoníacos que eu preciso e isso vai além do nosso plano B.

- Plano B? – grunhiu Julia, erguendo uma sobrancelha. Não fazia mal contar a ela, já que ela iria morrer de qualquer jeito.

- Por que exatamente você acha que eu entrei aqui? Se trata mais do que descobrir seus segredos. Eu quero o líder de vocês, o cerne de seu poder.

- Helene. – disse ela, arregalando os olhos.

- Sim. Ela vai saber o que houve com você. Provavelmente vai ver nas imagens de segurança o modo como saímos e vão procura-la para questiona-la. – me aproximei um pouco mais, parando ao ficar exatamente na frente dela e a poucos centímetros. – Só que nem terão a chance.

Antes que ela pudesse exatamente entender minha reação, eu abocanhei sua garganta rasgando profundamente com as minhas presas e segurando seus ombros para impedi-la de se debater. Seu sangue forte banhou minha boca, o gosto de sua carne começou em mim o frenesi e fiquei vagamente consciente de Asynjor pulando para a saída, o rosto verde ao tentar não olhar pra mim. Dilacerei a demoníaca, me banhei na vida que ela deixava, a fome em mim mal sendo aplacada. Eu precisava de mais, eu queria mais.

Quando voltei a prestar atenção ao que me cercava eu estava rosnando baixo para uma pilha de membros decepados e uma enorme poça de sangue. Não havia sinal de Asynjor em lugar nenhum. Eu não podia culpa-la, minha selvageria não era para todos os olhos, acho que nem minha mãe estava imune a isso.

Assim que terminei com minha bagunça com o cadáver e já me sentia pelo um pouco melhor, encontrei com Asynjor no corredor. Ela olhou para o sangue em mim e apenas ignorou.

- E agora?

- Agora nós vamos até o hangar e vou atuar. Vou fingir uma fuga e causar muita confusão, você aproveita para dar o fora daqui. Você pode ser a única esperança dos anjos agora, precisa ficar a salvo. Traga todos que puderem e esperem o meu sinal para saber onde me encontrar. Assim que eu causar a confusão, os guardas irão me deter e vou tentar glamurizar um ou dois para dar a eles uma amostra do meu poder. Depois disso não terão escolha a não ser me levar até a tal Helene. De lá, eu acho que sei o que eles farão e eu preciso me preparar mentalmente para isso.

Ela assentiu e pegou no meu braço, nossos passos largos enquanto dávamos o fora dali. Subimos de elevador usando o cartão de identificação de Julia e a senha que eu tinha observado antes, reprimi um gemido de prazer quando a temperatura caiu uns vinte graus assim que entramos naquele cubículo. Me perguntei como os prisioneiros dos demoníacos não morriam desidratados de tanto suar, me perguntei como diabos Asynjor sobreviveu.

Assim que as portas se abriram nós demos para o túnel estranho da mina e pegamos outro elevador para subir. Assim que as portas deste se abriram, nós nos deparamos no hangar outra vez, só que agora estava diferente. Como Julia havia prometido, os Golias estavam praticamente prontos. Maquinas enormes e criaturas escravizadas juntavam as peças dos Golias. Eles eram vermelhos e gigantescos, estavam cheios de engrenagens e grandes mangueiras. Em seu peito havia um enorme buraco, uma energia vermelha fluorescente corria pelos tubos ligados neles. Era de arrepiar.

Vi guardas atentos lá em cima, andando para lá e para cá em passarelas de metal. Também havia vários deles na parte térrea, os olhos atentos em cada um. A hora havia chegado.

- Está na hora. Pronta? – sussurrei. Asynjor travou a mandíbula e fez que sim.

Assim que passamos por quatro guardas que escoltavam um cientista cheio de parafernálias, eu segurei seu braço e a joguei com tudo em uma das peças de metal. Asynjor se espatifou atrás de algo de vidro, sumindo com suas roupas cyber esquisitas.

- Hey! – berrou um dos guardas. Isso fez a atenção de todos eles se voltar pra mim.

Corri para fugir deles, guardas romanos e cyber saíam de todos os lados ao tentar me perseguir. Então, eles simplesmente pararam de tentar e ouvi o som de tiros no ar. Me acertaram nas costas, uma picada de cada vez. Malditos. O que havia acontecido com as boas e velhas balas de metal? Para quê usar a merda de tranquilizantes? Tentei usar meu dom em alguns que passavam perto demais, só que apenas servia para atordoa-los.

Grunhi e continuei tentando correr. Eles pararam de atirar e continuaram a correr atrás de mim, embora não com a mesma energia. Sabiam que era apenas uma questão de tempo para que o sedativo fizesse efeito e eu começasse a babar igual a um cão. Não demorou muito para minhas pernas ficarem cansadas e minha visão meio embaçada. De repente o chão se aproximou rápido demais e me vi caindo de cara. O impacto foi surreal, apesar de eu saber que deveria doer eu apenas pude sentir alivio. Era o mais próximo de uma cama que eu teria.

Os demoníacos me ergueram do chão, os rostos meio anuviados, embora eu pudesse notar seus rostos furiosos enquanto me pegavam pela axila. Um deles recebeu uma ligação no comunicador e ele discutiu por um tempo enquanto eu lutava para não dormir. Lutei contra eles da melhor forma que pude, tentei usar a injunção em vários, coisa que só os assustou mais.

Então, veio a pancadaria. Chutes, ponta pés, coronhadas. Todos os guardas tiveram sua vez, felizmente todo aquele sedativo fez efeito, ainda que eu pudesse sentir o gosto na boca. Então ouvi a voz furiosa de alguém mandando parar e logo reconheci a comandante de antes. Ela veio correndo, empurrando os soldados de seu caminho, então se ajoelhou e colocou dois dedos no meu pescoço para sentir minha pulsação. Apenas ouvi o nome “Helene” e “cela zero”.

Fui arrastado de novo, só que dessa vez com menos gentileza. Eu entrava e saía da consciência. Me perguntei se Asynjor tinha conseguido escapar, provavelmente sim já que eu tinha causado toda a confusão para mim mesmo. Como sempre.

Agora eu só precisava esperar. Eu odiava esperar.

                                                              

 

***

 

- Sei que está acordado.

Abri meus olhos devagar, a luz forte estava completamente voltada pra mim e me cegava de um jeito estranho. Demorou alguns instantes para que eu percebesse porque eu sentia a minha cabeça tão pesada. Era porque eu estava de cabeça para baixo. Minha camisa em farrapos fora arrancada, meus pés estavam presos juntos e meus braços abertos como se aqueles malditos estivessem prestes a me crucificar de cabeça para baixo. As correntes eram grossas demais, não dava para rompê-las e eu já não tinha muito poder para congela-las e quebra-las. E nem queria.

Mais ao fundo, escondida nas sombras estava uma mulher de cabelos cor de chocolate, olhos negros como obsidiana, face indiferente e armadura romana completa, ela estava escondida sob as sombras de modo que mal dava pra ver seu rosto. Haviam quatro centuriões no halo de luz, todos com bastões que faiscavam eletricidade na ponta, cada um deles dispostos em um canto da sala. Uma mulher loira estava logo ao lado, mas estava com as roupas no estilo cyber. Não havia sinal da comandante.

- Mais uma sessão de tortura? Não sei se sua comandante já lhe disse, mas não sou exatamente o cara mais fácil de se matar. – eu disse, rolando os olhos.

A mulher não esboçou reação, apenas deslizou seus olhos para a loura que voltou seus olhos cor de lava pra mim.

- As torturas acabaram, homem-lobo. O que vem agora é muito pior. Senhora?

- Ao meu comando. – disse a mulher, sua capa carmim ondulando levemente quando se mexeu. Ela fixou seus olhos em mim.

- Helene? – perguntei, olhando bem pra ela. Suas sobrancelhas se ergueram apenas. – Então, é você quem pretende me matar? Espero que não se canse tentando.

- Matar? Sua morte não me interessa, Garou. – disse ela, indiferente e a voz fria. – O que me interessa é o motivo de estar aqui. Pela sua mente posso ver que era exatamente isso o que queria, estar aqui, bem na minha frente. Você queria me conhecer. Por que?

- Com certeza não é por causa do seu charme. – debochei.

- Está aqui para proteger uma nefilim.

Meu rosto perdeu a cor. Como diabos...? Ela apertou os olhos pra mim.

- Não existe mente que eu não possa invadir e enquanto você dormia eu pude ver tudo. Todos os seus mais sórdidos segredos, seus pecados, as chagas na sua alma. Você é o lobo Fenrir. – disse ela, inclinando a cabeça para o lado.

Pensei em qualquer coisa, pensei até em unicórnios, mas não que ela estava mais próxima da verdade do que qualquer outro demoníaco esteve nos últimos dias. Essa mulher era mil vezes mais forte do que Julia. Julia era nada comparada a ela. Helene nem parecia estar tentando entrar na minha mente, eu não podia nem mesmo senti-la me forçar. Trinquei os dentes e em resposta ela franziu as sobrancelhas.

- Ainda assim, sua mente...é absolutamente forte. Extraí muito, mas existe algo que você se agarra e não permite que ninguém veja. Um segredo relacionado a alguém, uma angelical. É incrível o simples fato de você ter conseguido desviar minha atenção. Você resistiu a incursão de quatro demoníacos de uma vez tentando entrar na sua mente e sob tortura. Só que dessa vez não haverá resistência, pois não quero seus segredos.

- E o que você quer? – perguntei depois de um instante. Helene se desencostou da parede.

- Eu vi o seu passado, vi a profundidade das trevas em sua alma e posso dizer que você seria muito, muito valioso para as nossas forças. Você nasceu para comandar a morte. Não, homem-lobo, não quero seus segredos. Fique com eles. O que eu quero de você é a sua submissão.

Demorou um instante para que eu entendesse exatamente o que ela estava dizendo. Aparentemente minhas habilidades mentais não serviram apenas para manter meu segredo ruivo a salvo, mas também para despertar o interesse do comando demoníaco. Minha submissão? Não consegui prender uma gargalhada exausta. Eu ri tanto que chorei, ri tanto que minha barriga começou a doer. Os demoníacos ficaram mais pálidos a medida que eu ria, seus olhos desviaram do rosto frio de Helene para o meu. Só consegui dar uma resposta depois que pude controlar a vontade de rir.

- Eu? Submisso? Nem em um milhão de anos. Eu mandaria você ir para o inferno, mas você é uma demoníaca, então acho mais apropriado mandar você visitar São Pedro. – eu disse, mostrando um enorme sorriso.

Helene não disse nada, não esboçou nada. Diferente dos outros, ela não perdia a linha. Parecia controlada, não titubearia em me esmagar se fosse necessário e ela parecia ter exatamente a calma de um guerreiro. Como Kyra, como minha mãe...como eu. Ela também era uma predadora. Sabia exatamente o jeito de me atingir e iria provar esse fato agora.

- Antes que eu dê a ordem, preciso lhe mostrar algo. Talvez assim você entenda que os angelicais são uma causa perdida. Enviar sua mãe para trazer ajuda não vai adiantar, pois a arma que possuímos os angelicais não podem combater. Nenhum de vocês pode.

- O projeto Golias. Maquinas gigantes feitas para derreter as correntes de Asferia e manda-la de volta para a Umbra Alta e restaurar o poder da Arca da Aliança. – eu disse, meu tom cheio de zombaria.

Seus olhos ficaram alaranjados e uma imagem veio a minha mente, algo que ela introduzira. Tudo era um faixo de losangos cinzentos e esbranquiçados que se remexiam lentamente, demorou para que eu entendesse que aquilo eram escamas. A imagem começou a desfazer o zoom, se afastando aos poucos e só quando tive a visão completa foi que percebi o quanto o destino era uma merda. Ver aquilo fez o meu coração disparar, minha respiração parar na garganta. Era a imagem mais errada que eu já vira em toda a minha vida distorcida. Nada havia me preparado para aquilo.

Vi os anjos caindo do céu, Asferia com suas correntes rompidas, os Golias sendo combatidos pelos angelicais, hordas de guerreiros combatendo do chão. Serpenteando as correntes, destruindo-as com mais facilidade do que os Golias, havia...havia...

- Não pode ser. Ninguém tem esse tipo de poder. – sussurrei, ofegando.

- Faça, Alicia. – disse Helene, a voz suave e fria.

Os centuriões pularam em mim, cada um me cutucando ao mesmo tempo com o arpão de choque. Não foi pior do que a sala do raio, mas foi tão ruim como aquilo. Meus dentes quase saltaram da boca, por pouco eu não decepei minha língua e quase ao mesmo tempo eu pude sentir uma presença na minha mente, algo que perfurava as minhas defesas com facilidade e tentava espreitar meus segredos.

Automaticamente passei para minhas lembranças com Gabrielle. Seu riso ridículo, sua voz suave e o modo como estava sempre correndo com o vento. Parecia mais uma força da natureza do que eu. Também senti outra coisa dentro da minha cabeça, um sussurro em uma língua que não conheci. Eu de repente queria obedecer aquela voz, queria fazer sua vontade.

Não. Eu não serei seu escravo.

Pensei mais em Gabrielle. Quase no mesmo instante a eletricidade aumentou, senti chicotes nas minhas costas e o gosto de algo metálico na minha língua. Era prata. Eles estavam usando chicotes untados em prata. Tentavam me enfraquecer. Foi só no meio daquele jogo doentio que entendi a jogada de Helene. Ela realmente era uma filha da puta inteligente.

Com a tortura, ela me obrigava a ficar no aqui e agora. Estando de ponta cabeça, eu não podia escapar para a minha inconsciência como eu havia feito nos últimos dias, pois o sangue vindo para o meu cerebro me impedia de desmaiar. A demoníaca mais fraca lutava para entrar na minha mente, forçando minhas barreiras e tentando me fazer pensar no meu segredo. E Helene, jogava sua própria injunção na minha mente, tentando me forçar a cair em seu encanto demoníaco e acabar virando um zumbi como todos os seus lacaios. Só que não era tão simples. Não era da minha natureza ser submisso de ninguém, ser lacaio de ninguém. Nunca mais seria. Eu agora era dono de mim mesmo. Dono do meu próprio destino.

 - Alicia?

- Estamos perto. Estamos quase lá! Ele é muito forte.

- Aumentem a carga.

- Senhora, está no máximo!

- Então tentem mais!

De novo o chicote desceu sobre minhas costas e a eletricidade aumentou tanto que não pude reprimir meus berros de dor. A prata no meu sangue estava me deixando mais fraco, a fome, a sede, a demoníaca tentando entrar, Helene tentando me fazer obedecer. Eram coisas demais para me concentrar, caminhos demais para seguir. Eu não ia desistir. Tinha que protege-la, tinha que salva-la. Eu vivia por ela, apesar de toda essa merda ela era meu único pensamento. Ela era minha. Só minha. Para sempre minha. Eu pensei muitas coisas, berrei mais alto para extravasar meu ódio, minha frustração e a exaustão.

Helene continuava com seus ataques, assim como todos os outros. Foi aí que senti mais mentes tentando entrar na minha. Eles queriam saber quem ela era, o que ela era. Queriam saber tudo o que eu sabia sobre ela. Eu não ia dizer, eu não ia nem mesmo pensar, nenhum deles iria me obrigar. Eu sou o dono de mim mesmo. Sou Vincent Mckinley, porra! E não um demoniozinho qualquer! Eu matava onde desejava, devorava quem eu desejava, fazia o que me dava na telha sem medo das consequências! Esse era o meu cerne!

- Mais rápido, Alicia!

Meu corpo começou a se debater, a respiração já não era o bastante nos meus pulmões. Eles iam sobrecarregar minha mente e meus sentidos, quanto mais eu resistia mais força eles usavam e meu corpo parecia já ter chegado em seu limite. Eu não ia morrer sem saber dela, eu não ia me deixar virar nada naquele lugar sem antes deixa-la segura e vê-la mais forte do que a criatura frágil de meses atrás. Eu sabia que agora ela estava mais forte e eu queria ver isso, queria me orgulhar dela. Só que eu não podia pensar nisso, não podia nem mesmo imaginar, havia muitos olhos e ouvidos na minha cabeça.

Pesei minhas opções e não gostei do que eu tinha. Eu podia deixá-los me matar e meu segredo seria queimado comigo. Deixar que os demoníacos exaustos soubessem qualquer coisa sobre ela não era uma opção, assim como morrer também não era uma opção. Uma hora eles conseguiriam forçar minha mente, se Helene quisesse saber meus segredos bastava ela mesma entrar, ela já não tinha descoberto mais coisas do que Julia? E isso sem nem suar? Eu sabia porque não era ela forçando minhas defesas. Ela estava mais interessada em me ter como soldado do que obter meus segredos.

Se eu resistisse por mais um pouco, acabaria morto ou revelando coisas sobre ela, o que era bem pior. Então, tive de tomar a decisão mais infeliz da minha vida. Para proteger Emily tive de optar por ser o submisso. Para dar tempo a ela, tive de me deixar levar pela voz de Helene e escolhi ser o escravo pela ultima vez na minha existência. Não deixei minhas defesas caírem enquanto a deixava entrar, pois os outros poderiam entrar também.

Pensei em Gabrielle, me refugiei em seus braços nas minhas lembranças e mais uma vez ela me protegeu. Eu já podia vê-la sorrindo pra mim naquele baile idiota de comemoração, aquele baile em que fui obrigado a andar sobre duas pernas e a parecer humano. Eu sabia o quanto ia me custar ficar preso naquela ilusão, eu já podia sentir no meu corpo cada molécula tentando escapar da injunção de Helene. Não havia outro jeito.

Para proteger Emily, era preciso estar com Gabrielle e ser dominado por Helene. Para impedi-los de tomar as minhas mais fortes lembranças eu tive que me deixar reviver aqueles dias. Talvez durasse dias, semanas, meses...anos. Eu não sabia quando ia voltar a mim, eu só esperava que aquilo tudo servisse para alguma coisa no final, quando me deixei ser a marionete daquela maldita demoníaca inteligente. Ponto pra ela, por enquanto. Mas, quando eu acordasse...

Abri meus olhos e ouvi a voz suave me chamando acima da grama verde.

- Vamos, Vincent. – riu ela. Estava com as roupas leves cinzentas, os cabelos negros esvoaçando enquanto corria para longe. Parecia uma criança, só que uma criança de dezenove anos, enquanto saltitava pela grama alta até a margem da floresta.

- Gabrielle. Espere. – chamei. Eu sabia que era uma ilusão demoníaca, nunca estivemos nessa parte da floresta antes, não deu tempo de mostrar a ela. Ela morreu antes disso.

- Está muito lento. – reclamou ela, correndo ainda mais.

Eu a persegui na floresta, correndo o mais rápido que eu podia até alcança-la. Gabrielle segurou minha mão enquanto corria sem parar.

- Você nunca cansa? – eu disse, olhando-a pelo canto dos olhos. Ela me deu um sorrisinho travesso.

- Não quando há trabalho a ser feito.

É claro. Ela nunca conseguia deixar nada de lado.

- Que trabalho pode haver? Deveríamos estar deitados, aproveitando o sol e o silêncio e a paz. Finalmente paramos de fugir de Asrael. – reclamei.

- O trabalho inacabado. Você ainda não viu tudo. – disse ela, erguendo uma sobrancelha pra mim. Ela só parou quando chegamos a entrada de uma caverna estranha que me pareceu familiar, eu só não me lembrava de onde.

- Viu o quê? – perguntei, intrigado.

Sem aviso ou qualquer preâmbulo, algo atingiu minhas entranhas e me atravessou até as costas. Eu caí para trás com o impacto, o liquido quente e doce subiu a minha boca e escorreu pela lateral. Então, o rosto frio de Gabrielle ficou por cima do meu enquanto ela me examinava.

- Não há mais tempo. – sussurrou ela. Tive de me forçar a falar, embora doesse como o diabo.

- Você não é Gabrielle.

- Não. Esta é a única forma que você entende, por isso me projetou assim.

Pensei que ela fosse um dos demoníacos, até que vi o objeto que havia me perfurado na barriga. Reconheci o metal brilhante, as runas entalhadas e porque eu tinha achado aquela caverna tão familiar. Fora onde enterrei Gungnir antes de entrar na cidade demoníaca. Olhei para os olhos azuis vivos de Gabrielle.

- Você é a manifestação de Gungnir na minha consciência. – eu disse, grunhi de dor com o esforço. Ela fez que sim.

- Está na hora de rever algumas coisas e entender como tudo acontecerá. Nove dias no mundo físico, nove dias no mundo mental. Acha que aguenta?

- Por isso eu precisava dos demoníacos. O dom de ilusão deles é a única coisa forte o bastante para me trazer muito pra baixo na consciência, mais baixo ainda de onde a fúria do Fenrir costuma ficar para me atormentar. Eu precisava mergulhar fundo, tão fundo que o tempo pararia e seria o bastante para entender as visões que Gungnir me dera antes.

- Essa é a razão necessária da sua ida até a cidade dos demoníacos. Não se trata apenas de sua nefilim. A partir de agora você receberá um saber maior, uma compreensão maior e devo avisar... – ela me olhou seriamente – você não será mais o mesmo.

- Faça o seu pior. – sussurrei, cuspindo sangue. Gabrielle segurou a lança e a empurrou com mais força. Eu berrei com a dor e me senti sendo levado pela correnteza. Ao mesmo tempo senti a mão dela no meu peito e me incitando a lutar, a ser mais forte.

- Está na hora de ser maior, Vincent McKinley. Muito maior. Vou leva-lo para onde nem mesmo Odin ousou entrar. Vou leva-lo para o fim de tudo.

 

 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...