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História Love at second sight - Two weeks later


Escrita por: lagerfeld

Notas do Autor


Olá meus amores, tudo bem?
Cheguei com mais uma história para vocês, desta vez um romance. Devo ressaltar que quem leu minha história Now and Forever, provavelmente irá adorar Lass, pois ela é completamente romântica e fofa. Estou trabalhando nessa história à meses, então agora, com muita animação, e encorajamento de pessoas que eu adoro, trago LASS a vocês :)

➹ História inspirada no livro 'A Escolha' do Nicholas Sparks.
➹ Os personagens não me pertencem, mas suas personalidades sim.
➹ Sinopse feita pela Hudson do blog American Edits
➹ Todas as betagens são feitas no blog Perfect Design ou pela @bellinhadid
➹ A história será atualizada todas as quartas-feiras, e sábados.

Enfim, boa leitura :)

Capítulo 1 - Two weeks later


Fanfic / Fanfiction Love at second sight - Two weeks later

Point Of View — Charlie

Rolo na cama para um lado, e depois para o outro. Abro meus olhos lentamente, coçando os mesmos em um ato involuntário. Uma vez com as pálpebras completamente abertas, fixo meu olhar na janela e suspiro frustrada ao não ver sinal algum do sol radiante. Tateio o colchão macio com a mão aberta, em busca de meu celular. O encontro de baixo de um dos travesseiros, e assim que aperto o botão redondo, a claridade da tela incomoda meus olhos, e rapidamente eu os fechos.

Novamente eu abro meus olhos, mas desta vez, lentamente, e apenas o suficiente para que eu possa diminuir a luminosidade da tela. Agora, com a luminosidade baixa consigo enxergar perfeitamente o horário exposto. Seis horas da manhã, decepciono-me ao ver o horário com clareza.

Bloqueio a tela do celular, voltando o aparelho para onde estava antes. Pego um dos travesseiros disponíveis, colando o material macio com meu corpo, e apertando-o, como se abraçasse alguém de forma calorosa. Encolho meu corpo, dobrando minhas pernas, e fecho meus olhos, tentando voltar a dormir. Mas minha tentativa é falha, não importa o quanto eu force meus olhos a permanecerem fechados, ou quantas vezes eu repita mentalmente que é cedo demais para levantar, o sono parece ter ido embora completamente, sem chance de volta, assim como meus antigos relacionamentos.

–– Droga! –– esbravejo, frustrada comigo mesma, e com meu relógio psicológico.

Empurro o travesseiro para longe, fazendo com que as penas ensacadas caiam para fora da cama. Não me preocupo em pegá-lo, mas percebo o quão grande o colchão parece apenas comigo o ocupando. Fito o grande espaço vazio ao meu lado, e imediatamente sinto uma saudade imensa da pessoa que costuma ocupá-lo. O colchão não é tão acolhedor quanto seus braços, ou macio como seu peito, e a coberta não me esquenta, como sua pele colada a minha.

Meus pensamentos de saudade são interrompidos pelo acorde grave de guitarra, vindo da casa ao lado, e involuntariamente ranjo os dentes. Ergo meu tronco, apenas o suficiente para observar a casa ao lado, através de minha ampla janela. As luzes parecem estar todas acesas, tanto as do segundo ar, como as do primeiro, deixando óbvio a despreocupação de meu vizinho, quanto o preço da conta de luz. Observo um pouco mais, procurando pelo ser vivo perturbado, capaz de ouvir música em uma altura espantosa a essa hora da manhã. Minha busca, assim como a minha tentativa de voltar a dormir é falha.

Jogo a cabeça para trás, batendo-a contra os travesseiros. O som parece ficar mais alto a cada segundo, tornando o solo de bateria o meu pior pesadelo. Solto um grunhido de irritação, enterrando a cabeça em baixo do travesseiro, e apertando o mesmo contra meus ouvidos, tentando abafar o som.

–– Já chega. –– digo pra mim mesma.

Levanto da cama em uma rapidez admirável, e incomodo-me apenas em calçar minhas pantufas do Bob Esponja, para proteger meus pés do sereno, e vento, presentes a essa hora da manhã. Saio do quarto acendendo a luz do corredor, para que eu não caia da escada. Desço os degraus rapidamente, ainda com o som alto incomodando meus ouvidos. Destranco a porta de casa, e assim que me ponho para fora uma rajada de vento frio bate contra mim, fazendo com que eu abrace meu corpo, com meus braços finos, na intenção de me aquecer.

O clima desagradável não impede meus planos. Bato a porta de casa, apenas deixando-a encostada, e desço os três degraus da varanda, iniciando o meu caminho pela grama. Agradeço mentalmente pelo solado grosso de minha pantufa, assim a umidade do solo não deixa meus pés gelados.

Ultrapasso o limite imaginário do jardim, pois não a cerca, ou qualquer outra coisa, separando o terreno de minha casa, com a do rapaz da casa ao lado. A cada metro mais próxima de sua varanda a música torna-se mais alta e estridente, tornando impossível ouvir meus próprios pensamentos. Subo os três degraus, que separam sua varanda do gramado. Paro em frente a porta, aprumando o corpo, e deixando minha postura perfeitamente ereta, então eu bato.

Uma, duas, três vezes... E ninguém atende. Sinceramente, acho que ele ao menos escutou.

Em um ato desesperado eu giro a maçaneta, e surpreendo-me ao conseguir a abrir a porta. Dou um passo a frente, ficando extremamente divida entre passar o limite de vizinha desesperada por silêncio, a maluca que invade casas.

–– Olá. –– digo mais alto do que o habitual, tendo em mente que se usar meu tom de voz costumeiro jamais serei ouvida. –– Vizinho. –– insisto.

Após alguns instantes parada  sob o limite de sua varanda decido entrar. Ainda receosa, mantenho meus passos lentos, quase mínimos. Meus olhos percorrem todo o lugar com atenção, procurando pelo dono da enorme coleção de discos, que reveste toda uma parede, da sala de estar. O lugar não é um exemplo de arrumação, mas não chega a ser um antro, completamente grotesco como eu havia imaginado nas últimas duas semanas.

Passo por um corredor extenso, repleto de quadros pelas paredes, sendo todos eles nitidamente pintados a mão. Os traços são incríveis, assim como os sentimentos, e emoções que expressam. Alguns são paisagens, uma delas inclusive é a praia em frente as nossas casas, sou capaz de reconhecer devido aos detalhes únicos, como  a grande duna de areia no lado direito, o pequeno píer de madeira, onde sempre a uma lancha ancorada, e pela forma como o sol se põe por entre os galhos da árvore grande, que imaginariamente divide os nossos terrenos. E a semelhança entre todos os quadros, é a assinatura do pintor. JB.

–– Posso te ajudar? –– eu tomo um susto, tão, mas tão grande, que dou um pulo para trás.

Levo minha mão ao peito, sentindo o quão acelerado está meu coração. Abro meus olhos, tentando me recuperar do susto. Meu olhar se cruza com as órbitas do louro parado a minha frente, com um sorriso, no mínimo divertido em seus lábios. Solto o ar, que até então não havia percebido estar preso, e me recomponho por completo.

–– Oi, eu sou a Charlie. Sua vizinha, me mudei a duas semanas, mas ainda não fomos apresentados. –– ergo minha mão a frente, para um cumprimento. Ele desce seu olhar, acompanhando meu movimento, mas não repete meu ato. Ao invés disso, volta seu olhar para mim, e sorri debochado, deixando-me não constrangida, mas sim irritada com tamanha falta de educação. Recolho minha mão rapidamente, cruzando os braços em frente ao corpo.

–– Então, Charlie minha vizinha, o que faz na minha casa a essa hora da manhã? –– seu tom de voz é tão debochado quanto o seu sorriso. Ele arqueia sua sobrancelha grossa, e encara-me de forma presunçosa, só então percebo que estou calada a tempo suficiente. –– Sabe, quando uma garota aparece uma hora dessas, ela só pode estar interessada em uma coisa. –– ele diz, antes que eu possa abrir minha boca para responder sua primeira pergunta. Seu sorriso se alarga.

–– Eu não sei com que tipo de garota está acostumado, mas definitivamente não sou uma delas. –– digo séria, deixando claro que seja lá, o que se passa em sua mente a meu respeito, ele está completamente enganado. –– E o meu único interesse, é conseguir começar a minha manhã com sossego. Foi isso o que vim fazer aqui, pedir para você abaixar sua música, por favor. –– completo, sem desviar meu olhar do dele, ou relaxar minha postura.

Ele ri, deixando claro o seu divertimento com a situação, e tomba minimamente sua cabeça para trás. Me pergunto qual o motivo de sua risada nasalada, se sou eu, ou se por coincidência uma piada engraçada acaba vagar por sua mente, mas a chance da segunda opção acontecer logo agora, é tão ridícula quanto eu me submeter a ser piada, de um completo desconhecido.

–– Agora sei porque demoramos tanto tempo para nos conhecer. Acho que meu consciente, de alguma forma sabia, que não valia a pena gastar minha saliva com alguém tão presunçoso quanto você. –– mantenho o tom de voz sério. Ele cessa o riso, e me encara, desta vez tão sério quanto eu. –– Como eu disse antes, só vim pedir que abaixe o volume. Agora que já disse o que vim fazer aqui, com licença. –– passo por ele sem dirigir meu olhar a sua pessoa.

Refaço o meu caminho em passos apressados, mas assim que me aproximo da saída sinto meu braço ser tocado por algo áspero. Viro-me olhando fixamente para meu braço preso, e surpreendo-me ao ver a mão do louro ali. Lanço-lhe um olhar surpreso, e imediatamente ele me solta, erguendo as mãos no ar em sinal de rendição.

–– Qual é o seu problema com Imagine Dragons? –– pergunta simples, sem deboche. Seu tom de voz é manso, ao mesmo tempo firme, e lento, permitindo-me notar toda a rouquidão de seu timbre.

–– O que? –– pergunto, completamente confusa.

–– A música que está tocando. –– responde, como se fosse óbvio. –– Qual é o seu problema com ela, não gosta de Imagine Dragons? –– não respondo. Permaneço parada a sua frente, mas não respondo sua pergunta, apenas presto atenção a música que ecoa estridente por toda a casa, só então percebo que é Radioactive. Não que seja minha música favorita, mas sei apreciar uma boa música. Seus olhos permanecem fixos em mim, como se ele esperasse ansiosamente por minha resposta.

–– A música é boa, mas são seis da manhã. Então eu realmente agradeceria se abaixasse o volume. –– respondo finalmente, voltando minha atenção a ele. Ele sorri sem mostrar os dentes, exibindo suas mínimas covinhas.

–– Não foi a melhor resposta, mas é o suficiente para que eu abaixe para o trinta.

–– Vinte. –– digo rápido, juntando as mãos em frente ao corpo, como se implorasse.

–– Vinte e cinco. –– protesta. –– É pegar ou largar.

–– Ok! –– bufo, me dando por vencida. Dou meia volta, saindo pela porta, mas antes de fecha-la eu giro minha cabeça, apenas o suficiente para encara-lo de soslaio. –– Apenas por curiosidade, em qual volume está?

–– Cinquenta e sete. –– minha sobrancelha se arqueia em uma perfeita expressão surpresa, e espanto ao mesmo tempo.

Não que seja algo surreal, mas de certa forma é impressionante. É impressionante a capacidade auditiva de meu vizinho, ao suportar tamanho barulho tão cedo, sem que isso o deixe de mal humor. Ele ri novamente, como se minha reação fosse uma ótima piada, mas desta vez seu riso não me irrita, o que me leva a pensar que talvez esse seja o motivo da música alta: iniciar o dia com leveza, ironicamente ao som de uma banda de rock indie.

• • •

Desço a escada esfregando a toalha contra meu couro cabeludo completamente molhado, esforçando-me para tirar todo o excesso de água com o simples pano, pois meu secador estragara dias antes de me mudar, e em meio a toda confusão da mudança não me lembrei de comprar um novo.

Ponho a toalha em uma das cadeiras em volta da mesa de jantar, e aproximo-me do balcão da cozinha, assim que ouço a cafeteira apitar. O líquido de cor escura é derramado, preenchendo todo o espaço vazio de minha caneca branca, com corações vermelhos, um dos primeiros presentes que ganhei de meu amor. Beberico o café quente, apreciando o sabor amargo na medida certa, juntamente ao silêncio, preenchido unicamente pelo som das ondas quebrando na costa. Agradeço mentalmente pelo vizinho ter posto a mão na consciência, e percebido que é cedo demais para fazer tanto barulho.

Afasto uma banqueta, e sento-me cruzando as pernas. Ponho a caneca em cima do balcão, que separa a cozinha, da sala de jantar, e estico o braço, alcançando o pode de biscoitos amanteigados. Após devorar quinze biscoitos sinto-me gulosa, mas não arrependida. Olho o relógio da cozinha, e quase imediatamente ouço o barulho de carro se aproximando.

Sete e meia em ponto. Sorrio.

–– Bom dia, linda. –– a voz mansa, e doce, adentra meus ouvidos, fazendo meu sorriso se alargar. Olho para trás e vejo Lucas entrando em casa, com a pasta em uma das mãos, e um buque  de rosas vermelhas na outra.

–– Bom dia, amor. –– ele aproxima-se de mim estendendo o buque de rosas. Eu o pego de bom grado, levando as flores até minhas narinas, e expirando seu perfume. Coisas como me trazer flores, é algo simples para Lucas, sei que é, mas são esses simples detalhes que fazem com que eu me apaixone por ele cada dia mais. –– São lindas. Obrigado. –– repouso a mão em seu ombro, esticando a cabeça para que meus lábios se encontrem com os dele, em um beijo simples, nada avassalador, mas repleto de carinho.

–– O que faz acordada tão cedo? –– questiona, abrindo a geladeira.

–– Perdi o sono, e quando pensei em voltar a dormir, nosso vizinho barulhento estragou os meus planos. –– ele fecha a geladeira, já com a jarra de suco em mãos. Seus olhos verdes, extremamente brilhantes como esmeraldas se fixam aos meus, simples olhos amendoados.

–– Se quiser eu posso ter uma conversa com ele, prometo ser amigável. –– ele força uma expressão durona, que não faz parte de sua personalidade. Lucas é o homem mais gentil, doce, e bondoso que já conheci. Muitas vezes penso que os últimos três anos ao seu lado foram um sonho, e a qualquer momento eu irei acordar. Afinal, não é normal ser tão feliz assim, com um homem maravilhoso, que me ama tanto quanto eu o amo.

–– Não precisa, eu já conversei com ele, e como pode perceber não a mais nenhum barulho. –– ele despeja o suco de laranja em um copo.

–– Essa é minha garota. –– ele esboça um lindo sorriso, exibindo seus dentes perfeitamente brancos. Em um único gole Lucas acaba com todo o suco do copo, e sorri novamente, mas desta vez, mostrando satisfação.

Suas mãos grandes deslizam para sua camisa social, abrindo não só o primeiro botão, como o segundo, e o terceiro, deixando nítido o quão relaxado ele se sente ao fazer isso. Seu abdômen definido fica exposto, e seus músculos me atraem como um imã. Mordo meu lábio inferior, e quase imediatamente ouço o riso de Lucas, se divertindo com o efeito que tem sobre mim.

–– Acho que já vou indo para o trabalho. –– tomo o pouco de café que resta em minha caneca em um gole rápido, e o gosto amargo ajuda a me recompor.

–– Mas já? Está muito cedo. –– Lucas aproxima-se de mim, envolvendo minha cintura com seus braços fortes.

–– Eu sei, mas é melhor eu chegar mais cedo, do que ficar aqui. Tenho certeza que se ficar, o sono que perdi irá voltar. –– seu polegar acaricia minha bochecha gentilmente, sem que ele desvie seu olhar do meu. Lucas permanece com o olhar estagnado, sem dizer uma palavra, ou ao menos piscar. –– O que foi, porque está me olhando assim?

–– Obrigado Charlie. –– diz depois de algum tempo. Antes que eu possa perguntar do que está falando, ele continua. –– Obrigado por ter se mudado comigo, eu sei que você tinha uma ótima vida em Colúmbia, sei o quanto foi difícil abrir mão dela, e também sei o quão egoísta eu sou por fazê-la deixar tudo, para que eu possa seguir o meu sonho... –– ponho o dedo indicador em seus lábios, impedindo que ele continue a falar.

–– Você não precisa agradecer. –– começo a dizer. Seguro seu rosto com minhas duas mãos. –– Sim, eu tinha uma ótima vida em Colúmbia, mas não me arrependo de ter vindo para Charleston com você, e muito menos por fazer parte da realização de seu sonho. Daqui uma semana, nós iremos nos casar, você será meu marido, e esse é o meu sonho. Então você realmente não precisa agradecer. –– acaricio sua nuca com meus dedos, e de forma lenta. Ele cola seu corpo ao meu, em um abraço apertado.

–– Eu te amo, te pedir em casamento foi a melhor decisão da minha vida.

Sair de casa, e deixar Lucas em nossa cama, confortável, e almejando por minha presença é difícil, tem sido difícil por quatorze dias. Minha mãe diz que ao passar dos dias irei me acostumar. Minha irmã mais nova, Haley, acha que sou muito dramática. E o que eu acho? Eu não acho nada, apenas gostaria que meu noivo pudesse passar as noites comigo, ao invés de passá-las no hospital, trabalhando. É egoísmo de minha parte pensar assim, Lucas só aceitou esse turno para garantir sua semana livre, a semana de nossa lua de mel.

Dirijo lentamente pela estrada, sem pressa alguma, apenas apreciando a paisagem do mar calmo, e das gaivotas que sobrevoam essa região. O caminho de minha casa até o centro leva exatamente vinte minutos. Ao me mudar para Charleston fiz um único pedido ao meu noivo, morar em um lugar sossegado, onde nós poderíamos nos sentar em nossa varanda, e apreciar o silêncio, apenas ouvindo o movimento sutil das ondas do mar. Esse foi meu pedido, e Lucas não hesitou em realizá-lo.

Estaciono em frente à clínica. O lugar está completamente vazio, com todas as luzes apagadas, e sem sinal de clientes, ou da dona. Saio do carro e subo a rampa, já com o molho de chaves em mãos. Giro a maior delas na fechadura, abrindo a porta vermelha. Tateio a parede em busca do interrupitor, e quando o encontro, todo o lugar se ilumina quase imediatamente. Percorro o ambiente com meus olhos, e sorrio satisfeita. Não é tão grande quanto o meu antigo local de trabalho, o salário não é tão alto quanto o antigo, mas sinto-me feliz e acolhida trabalhando aqui, e para mim, isso é o bastante.

Com o lugar ainda fechado não a muito que se fazer, sendo assim aprofundo-me mais no corredor, até a última sala, onde Molly, a golden retriever de pelagem brilhosa e macia, se recupera de uma cirurgia.

–– Olá, princesa. Como está? –– sento-me no chão, ficando bem próxima ao local onde Molly repousa. Aproximo minha mão, e inicio carícias por toda a extensão de seu corpo. Não demora muito para que ela abra as pernas, deixando a barriga para cima. Rio. –– Eu acho que você está ótima.

–– Charlie, o que faz aqui tão cedo, querida? –– a voz de Patrícia chama minha atenção. Viro o corpo e a vejo a poucos metros de mim. Não ter ouvido a mesma chegar quase me preocupa, e leva-me a pensar que talvez eu seja tão distraída quanto costumam dizer. Levanto-me do chão, despedindo-me de Molly com um sorriso. Passo as mãos por meu corpo, tirando quaisquer pelos que tenham grudado em mim.

–– O dia começou cedo pra mim, então resolvi vir para o trabalho logo. –– respondo simpática. Ela sorri, e parece satisfeita com a resposta. Patrícia dá meia volta, saindo da sala, e eu não hesito em segui-la.

–– Como vão os preparativos para o casamento, já está maluca? –– pergunta com humor, dando a volta no balcão da recepção e abrindo uma das gavetas com documentos.

–– Completamente, e piorando. –– ela ri. Relaxo os braços sobre o balcão. –– Eu só consigo pensar em arranjo de flores, e toalhas de mesa. E para piorar, Lucas ainda não escreveu os seus votos. –– suspiro em forma de lamento. Patrícia deixa os papéis de lado, e fixa seu olhar ao meu.

–– Não se preocupe querida, é sempre assim. Jeremy, meu marido, escreveu seus votos enquanto vestia o seu terno, uma hora antes do casamento. –– novamente ela ri, e dessa vez, eu a acompanho. O sino da porta ecoa juntamente as nossas risadas, indicando que alguém acaba de adentrar a clínica veterinária. Tapo minha boca com a mão, para conter o riso.

–– Desculpa, mas... –– paro minha fala, assim que vejo o louro, meu vizinho, parado a poucos metros de mim. Seu olhar centraliza-se ao meu, ele cruza os braços e sorri, novamente demonstrando deboche. Balanço minha cabeça em negativo, e comprimo meus lábios em linha reta. –– Nós não temos música aqui. –– cruzo meus braços, copiando sua pose.

–– É uma pena, os animais gostam de ouvir música. Deveria pensar nisso. –– diz de forma relaxada e descontraída.

–– E você deveria respeitar a lei do silêncio. –– digo séria, e só depois de alguns segundos percebo que minha fala soou como uma perfeita provocação.

–– Que bom que se conheceram. –– Patrícia diz, chamando nossa atenção para ela. A mulher pequena, de longos cabelos castanhos e olhos de um azul intenso, dá a volta no balcão e para entre mim, e o louro. –– Charlie, esse é meu filho. Justin. –– encaro Patrícia, e depois o louro, cujo nome acabo de descobrir ser Justin. Esse momento de confusão permanece em minha mente por alguns instantes. Assim como o louro, Patrícia ri, e apesar de ter descoberto o parentesco entre eles a menos de cinco minutos, não posso evitar pensar, que tais risadas a meu respeito é um mal de família.

A semelhança entre os dois, fisicamente é mínima. Os cabelos de Patrícia são escuros, os de Justin são claros. Os olhos de Patrícia são azuis, lindos como o mais límpido dos mares, e os de Justin são castanhos, mas não um simples castanho. A algo em suas íris, algo que as diferencia de todas as outras, mas não sei dizer o que é.

–– Então mãe, como está Molly? –– pergunta Justin, quebrando o silêncio, nada constrangedor que havia se formado entre nós três.

–– Molly é sua cadela? –– pergunto, antes que Patrícia possa responder a pergunta do filho. Justin desvia o olhar da mãe, centralizando-o em mim.

–– Não percebeu a semelhança entre nós dois? Molly é tão bonita quanto o dono. –– rio, exageradamente alto. Tapo minha boca com a mão, desesperada em me conter, e não passar uma má impressão para minha chefa. Justin observa o meu momento constrangedor atentamente, com os olhos estagnados em mim, como se fosse algo extraordinário.

–– Desculpe. –– digo envergonhada. O louro balança sua cabeça, como se quisesse esquecer seus pensamentos, ou mandá-los para longe. Seus olhos focam-se em Patrícia novamente, então ela começa a dizer:

–– Molly está ótima. Já pode levá-la para casa, mas não a deixe fazer muito esforço. Dê o medicamento duas vezes ao dia, de manhã e a noite, e se ela dormir a maior parte do tempo durante os próximos três dias, deixe-a.

–– Eu vou pegá-la. –– digo, já dando as costas a ambos, mas Patrícia toca meu ombro, me impedindo de continuar.

–– Eu faço isso, querida. –– ela sorri simpática, e segue pelo corredor. Acompanho o movimento da mesma, até Patrícia passar pela última porta do corredor, e eu perdê-la de vista.

–– Então você realmente não percebeu a semelhança entre Molly, e eu? –– pergunta Justin, com o tom de voz extremamente rouco, mas repleto de humor.

–– Não. Desculpa, mas Molly é mais bonita do que você. –– respondo, entrando no clima de brincadeira. Ele sorri de lado, exibindo suas mínimas covinhas. Justin ergue o braço, e coça o queixo com a ponta dos dedos.

–– Mas, não pode negar que eu também tenho o meu charme. –– franzo meu cenho, e travo o corpo ao perceber sua fala, digna de um bom flerte. Lhe dou as costas, e dou a volta do balcão, assumindo o lugar, onde Patrícia mexia em alguns documentos. –– Charlie, não vai me responder? –– questiona. Ergo meu olhar o vejo relaxado sobre o balcão.

–– Sim, você tem o seu charme. –– começo a dizer com o olhar estagnado ao dele. –– Esse sorriso, com certeza funcionada com as garotas, mas eu estou noiva, então não vai funcionar comigo. –– ponho minha mão sobre o balcão, deixando nítido o anel de brilhante em meu dedo anelar. Anel que pertenceu à avó de Lucas, e seu último pedido antes de morrer, fora que a dona do anel fosse à mulher de sua vida. Imagine o quão honrada, e realizada eu me sinto ao carregar tal joia.

–– Você é noiva. –– afirma, com os olhos fixos em minha mão. Não a deboche em seu tom de voz, não a humor, e por alguns segundos penso que o único sentimento expresso em seu tom de voz, é decepção.

Seu olhar se desvia assim que ouve o latido alto de Molly, que caminha até seu dono, e ergue seu corpo, ficando de pé com as duas patas traseiras. Justin abraça sua cadela como uma criança, e demonstra todo o seu carinho, e afeição pelo animal. Molly volta à posição habitual, e Justin segura à coleira. Ele beija a bochecha de sua mãe, e dá meia volta, mas antes de sair pela porta para e me encara.

–– Boa sorte com o casamento.

 


Notas Finais


Caso tenham gostado do capítulo não deixem de comentar, pois isso me incentiva muito. Críticas são sempre bem-vidas, desde que as mesmas sejam construtivas. Beijão e até o próximo capítulo <3

TRAILER: https://www.youtube.com/watch?v=DoQ3VBlhrok


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