Point Of View — Charlie
–– Eu não sei o que fazer, Charlie. Sua irmã me tira de sério, chega tarde em casa todas as noites, saí sem me avisar, e ainda por cima arrumou um namorado motoqueiro. –– ouço-a suspirar do outro lado da linha. –– Não entendo como posso ter duas filhas tão diferentes, se ambas tiveram a mesma criação.
O desespero é nítido em seu tom de voz, assim como a preocupação ao meu ponto de vista exagerada. Não sou mãe, tenho apenas vinte e dois e de certa forma ainda sou uma garota, por isso não importa o quanto eu tente jamais entenderei como minha mãe se sente. Mas, sempre estou aqui, disposta a ouvir o que ela tem a dizer, escutando suas reclamações com atenção e esforçando-me para ser útil em seus pedidos de ajuda. Sei que muitas das coisas que mamãe diz quando o sangue está quente é esquecida assim que desliga o telefone, como por exemplo, as constantes reclamações sobre Haley.
Não importa o quanto minha irmã lhe dê trabalho e dores de cabeça, mamãe jamais mudaria algo em Haley, tenho certeza disso, pois a mesma faz questão de dizer o quanto ama nossas diferenças, assim como ama a forma como nossas personalidades distintas fazem-na feliz igualmente, como se minha irmã e eu nos completássemos para a sua felicidade. Não importa o quão rebelde Haley possa ser, confio em minha irmã, sei que ela não está metida com algo errado e mamãe está sendo dura ao julgar seu namorado sem ao menos conhecê-lo.
–– Mamãe, Haley tem dezoito anos. Não espere que ela viva trancada em seu quarto sempre estudando para a faculdade, pois isso não vai acontecer. A senhora conhece a filha que tem, e sabe o quanto Haley é aventureira, mas acima de tudo sabe a educação que lhe deu, e os princípios que a ensinou. Deixe-a explorar o seu espírito aventureiro, contanto que não faça nada de errado e não extrapole os limites. –– meu tom de voz é completamente manso, a fim de passar-lhe calma e confiança.
–– Ta certo. Você tem razão.
Ela se aquieta por alguns instantes, como se estivesse pensando em tudo o que ouviu. Aproveito esse momento de paz, para ligar o ar-condicionado do carro a fim de livrar-me do calor excessivo que chegou a Charleston. Mantenho o celular firme em meu ouvido, com a ajuda de meu ombro, certificando-me de que consigo manter o carro em linha reta com apenas umas das mãos e com minha mão livre eu aperto o botão.
Aos poucos a atmosfera dentro do veículo muda completamente, tornando-se algo extremamente acolhedor e reconfortante, levando embora o bafo que havia se estabelecido. O ambiente gelado faz com que todo o meu corpo relaxe, o pouco de suor antes presente em minha testa e em minhas mãos some, o que me faz sorrir. A estação mais quente do ano nunca me agradou completamente, detesto a maneira como a temperatura aumenta abruptamente, assim como o fato de estar sempre suada e com a necessidade absurda de me abanar.
Entretanto, o verão possui os seus lados positivos, como por exemplo: poder entupir-me de sorvete sem a preocupação excessiva de pegar uma gripe, e agora que moro de frente para uma praia a ideia de passar os fins de semana deitada sobre a areia, tomando uma limonada gelada e com Mike ao me lado é realmente tentadora. Mas, esse pensamento se perde, quando lembro-me do meu incidente com o mar. Quase posso sentir a água levando meu oxigênio novamente. Suspiro liberando o ar, que até então, não havia percebido estar preso. Meu corpo estremece.
–– Charlie, está me ouvindo? Filha?
A voz de mamãe me desperta de meus devaneios.
–– Sim, mãe estou aqui. –– respondo, agarrando o volante firmemente com as duas mãos, a fim de manter-me unicamente focada na estrada. –– Pode repetir o que disse, por favor.
–– Quero saber como você está. Tem se alimentado direito? Como vai o trabalho? Tem arrumado tempo para ajeitar a casa? Ainda não superei o fato não ter vindo para o nosso almoço no quatro de julho.
Rio. Falar com minha mãe pelo telefone me faz perceber que o meu mau hábito tagarela não é exatamente um problema meu, mas sim, algo hereditário ou talvez um defeito próprio de minha família que eu nunca percebi antes.
–– Está tudo ótimo mãe, eu adoro trabalhar com Pattie. –– sorrio, mesmo mamãe não podendo ver. –– Desculpe não ter ido para o feriado, mas você sabe que o foi melhor a se fazer. Eu amo minha família, mas os Dawson tem o péssimo hábito de serem intrometidos, principalmente a tia Judy. –– ouço seu riso alto do outro lado da linha.
–– Eu não posso discordar.
Ouço sua risada do outro lado da linha. O que antes era um som divertido e contagiante se torna um suspiro cansado, que não consigo compreender de onde veio. Mesmo não estando ao seu lado imagino-a com a testa franzida e sobrancelha junta, expressão típica de quando quer me dizer algo, mas esta receosa.
–– Mamãe se quer me falar algo, pode falar. –– quebro o silêncio.
–– Filha como está às coisas entre você e Lucas? Digo... Vocês tem se encontrado? Conversam sobre reatarem?
Suspiro. É de se esperar que esse assunto seja mencionado nas conversas dos próximos meses ou no mínimo, até que algum outro Dawson, faça algo que chame mais atenção.
–– Nos encontramos apenas uma vez mamãe, mas foi por acidente. Estou tentando me manter longe, ele por sua vez, tem respeitado o meu espaço.
–– Ótimo! Isso é o mínimo que ele pode fazer.
Seu tom de voz é amargurado e não debato. Para minha mãe descobrir sobre a traição foi algo extremamente doloroso, assim como foi para mim. Ela amava Lucas, o tratava com todo o carinho possível e certas vezes até o chamava de filho. Sendo assim, respeito sua amargura mesmo pensando que sou a única com o direito de realmente odiá-lo.
Qualquer palavra que eu pense em dizer como resposta foge de minha boca quando o carro para sem que eu tenha o desligado ou freado. Meus olhos se arregalam no instante em que uma fumaça preta mistura-se com o ar cobrindo a paisagem, que antes animava o meu caminho para o trabalho.
–– Mãe, eu preciso desligar. Aconteceu alguma coisa com o meu carro, e se eu não resolver agora vou me atrasar para o trabalho.
–– Tudo bem querida se cuide. Eu amo você.
–– Eu também te amo. Mande um beijo para o papai e, por favor, não deixe a Haley te enlouquecer.
A ligação se encerra com o som divertido de sua risada. Aperto o botão vermelho e bloqueio o celular,deixando-o sobre o banco do carona. Meu olhar se fixa na fumaça preta que agora parece ainda mais preocupante do que antes. Giro meu corpo sobre o banco de couro, encarando os dois lados da estrada em busca de um algum carro ou qualquer sinal de vida, porém não encontro nada, nem mesmo uma pessoa andando de bicicleta. Suspiro completamente frustrada.
Saio do carro com o celular em mãos, e mesmo não fazendo a mínima ideia do que houve eu levanto o capô. O que vejo, é mais complicado do que os quebra-cabeças de cem peças que montava aos oito anos. Sem compreender o mínimo de mecânica, boto em prática minha única opção. Uso o pouco sinal de internet que tenho para procurar o número das oficinas da cidade no Google. O primeiro nome exibido destaca-se em meio aos outros cinco principais, e por alguns instantes penso em como o destino gosta de brincar comigo.
Rindo mentalmente eu disco o número que me exposto, salvando-o com seu devido nome. A ligação se inicia e os instantes seguintes são ocupados pelo bip angustiante. Meu olhar está fixo em meu relógio de pulso, contando quanto tempo irei me atrasar para o trabalho.
–– Bieber’s Garage, Chaz Somers falando.
suspiro aliviada ao ouvir a voz do outro lado da linha.
–– Oi Chaz, é a Charlie. –– o silêncio se faz presente por alguns instantes, como se ele estivesse tentando se lembrar de mim. –– A vizinha do Justin. –– completo.
–– Ah, claro! Me desculpe.
–– Sem problemas. –– mordo o lábio inferior.
–– Então, Charlie, em que posso ser útil?
–– Aconteceu alguma coisa com o meu carro. –– fixo meu olhar no veículo, notando que a fumaça preta sumiu completamente. Meu cenho se franze, não entendo o que aconteceu e duvido de minha sanidade. –– Eu não sei é, mas até alguns instantes atrás, uma fumaça preta estava saindo pelo capô.
–– Deve ser um problema com o motor. Quer que eu mande o guincho até ai, ou consegue dirigir até a cidade?
–– Eu acho que consigo dirigir até a cidade, mas por via das dúvidas, prefiro que mande o guincho.
–– Ta certo, Charlie. Em no máximo quinze minutos, Chris chega ai.
–– Obrigada, Chaz.
• • •
Quinze minutos, esse é o tempo em que Chris deveria ter chego, mas isso não acontece. Após cinco minutos além do tempo determinado, eu volto para dentro do carro e tento dirigir até a cidade mesmo estando receosa, mas o carro não liga. Com os olhos fechados, relaxo a cabeça contra o volante. Detesto a sensação de impotência e incapacidade.
Os cinco minutos seguintes passam tão rápido quanto o vento, assim percebo que não importa o quanto eu tente nunca chegarei ao trabalho a tempo. De mão atadas eu pego o celular e ligo para Pattie. Peço desculpa de todas as formas possíveis, ela como a mulher maravilhosa e compreensiva que é me entende, e me permite chegar ao trabalho quando meu problema técnico estiver resolvido. Ainda sim, mesmo com o seu consentimento sinto-me mal, abusiva, e a pior funcionária que existe.
O som alto e estridente de uma buzina adentra meus ouvidos. Ergo minha cabeça, ajeitando os fios de cabelo que caíram sobre minha face. Olho pela janela e vejo o guincho parado do outro lado da pista. O motorista, Chris, desce e atravessa a pista com um sorriso de orelha a orelha, completamente despreocupado.
–– Toc Toc. –– ele bate em minha janela.
Chris se afasta o suficiente para que eu possa abrir a porta, e sair. Sorrio de lado.
–– Você demorou. –– ele me encara.
–– Desculpe, aconteceu um imprevisto.
A idade exata de Christian é um mistério para mim, mas não á dúvidas de que o mesmo ainda é um garoto. E apesar da pose exageradamente rígida, quase forçada, de quem quer passar maturidade seu sorriso meigo, porém nada ingênuo faz com que eu relaxe e ignore sua demora.
Com um bom humor invejável, e o mesmo sorriso de antes, Chris guincha meu carro pondo o mesmo na parte traseira de seu caminhão. Acomodo-me ao seu lado no banco inteiriço e confortável de couro. Logo ele dá a partida e liga o rádio na estação local, onde toca uma música animada.
Enquanto aproveito a boa música, porém desconhecida, uma pergunta ronda minha cabeça: Porque Justin não veio me ajudar desta vez? Parte de mim insiste que isso é algo bobo a se pensar, mas o restante não ignora o fato de que talvez, só talvez, seja por ele estar muito ocupado, com a mesma loira da noite passada.
–– Porque Justin não veio? –– pergunto rápido, antes que a coragem fosse embora. Chris me olha, mas rapidamente volta sua atenção para a estrada.
–– Ele está ocupado. –– responde simples.
Imediatamente minha mente me leva ao momento de ontem à noite na casa de Justin, tornando impossível não imaginar o quão ocupado Justin estava ontem a noite com a garota de cabelo loiro e corpo perfeito coberto apenas por uma camisa insignificante. Bufo, sem ao menos perceber e quando me dou conta Christian me encara curioso.
–– Da outra vez, foi ele quem me ajudou. –– explico, para que ele pare de me encarar de forma suspeita.
–– Sim, mas foi uma exceção. Eu estava fora da cidade ajudando um casal com problema na estrada estadual, por isso Justin veio em meu lugar.
–– Ah, sim. Pensei que Justin trabalhasse com o guincho. –– quase imediatamente ele ri, como se eu tivesse dito bobagem. –– O que foi?
–– Justin não trabalha com o guincho, Charlie. Ele é o dono da oficina. –– o encaro de soslaio, esperando que o mesmo diga que é piada, mas isso não acontece o que realmente me choca.
O sobrenome Bieber no outdoor do lugar já havia chamado minha atenção, mas por algum motivo desconhecido eu nunca havia ligado os pontos, como se tal coisa óbvia passasse despercebida por meus neurônios. Além do mais ninguém nunca havia me dito tal coisa, me levando a pensar que isso é realmente algo muito óbvio que apenas eu não consegui perceber.
Durante os instantes seguintes não sei o que fazer além de sentir-me realmente impressionada por Justin ter o seu próprio negócio aos vinte e quatro anos. Esse é o tipo de independência que qualquer pessoa jovem como nós sonhamos em ter, além dele ter conseguido fazer o que muitos mais velhos almejam tanto.
Os quilômetros restantes são preenchidos unicamente pela música e não demora muito que para chegarmos à cidade. Christian estaciona o guincho, no terreno vazio, ao lado da oficina e eu salto para fora. Juntos, nós caminhamos para dentro da oficina. No primeiro andar não a nada além de Chaz sentando em uma mesa enquanto conversa com um homem, mas é possível ouvir o barulho estridente do que acontece no andar de baixo, onde imagino estarem Justin e Ryan. Chaz me encara rapidamente e eu lanço-lhe um sorriso simpático que ele retribui de bom grado.
Chris despede-se de mim com um aceno, e desce a escada de metal. Acomodo-me no sofá marrom, esperando para que possa preencher a ficha necessária.
O homem vestindo um terno de linho azul marinho conversa com Chaz sobre assuntos que não entendo e a todo o momento gesticula com as mãos. Seu tom de voz grave, quase irritado me intimida, mas Chaz parece não abalar-se. Meu corpo estremece, quando um soco é dado contra a mesa de madeira.
–– Charlie, pode descer e ficar com os meninos se quiser. Assim que acabar aqui, eu te chamo. –– diz Chaz, percebendo o meu desconforto em presenciar essa conversa equivocada.
Sorrio sem mostrar os dentes, agradecida por me livrar disso. Detesto pessoas explosivas e na minha opinião até mesmo as coisas mais complicadas, podem se resolver com uma conversa. Levanto-me do sofá com minha bolsa em mãos. Antes de descer a escada, encaro o homem sem conter o meu desgosto.
O som alto das máquinas faz com que os meninos não notem minha presença a principio e estranhamente sinto um alivio ao ver todos os três ali, realmente ocupados com o trabalho, sem qualquer sinal da loira de ontem. Apenas quando diminuo drasticamente o espaço entre nós eles param o trabalho duro e me encaram. O andar de baixo é completamente diferente. Enquanto lá em cima as coisas apesar de simples são organizadas, aqui tudo é um perfeito caos, com ferramentas, e equipamentos por todos os lados.
–– Oi, Charlie. –– Ryan sorri simpático, e eu faço o mesmo, acenando com a mão.
–– Oi, porque está aqui? –– pergunta Justin, livrando suas mãos das luvas escuras que ao meu ver são excessivamente quentes.
–– As coisas lá em cima estão um pouco tensas, então Chaz me deixou descer. –– respondo, sorrindo sem mostrar os dentes.
–– É melhor eu subir e resolver isso. –– Justin suspira, e seus ombros caem demonstrando cansaço do trabalho, ou talvez ele apenas esteja cansado de situações como a que eu presenciei. Não sei.
–– Deixa com a gente. –– diz Ryan, tocando o ombro do amigo. Seu olhar intercala entre Justin e eu, e ambos sorriem discretamente, como se pudessem se comunicar por telepatia e eu fosse o assunto. –– Vem Chris, vamos subir.
–– Você pode resolver isso sozinho. –– reclama, sem tirar os olhos do celular em suas mãos. Ryan suspira e sua expressão torna-se rigorosa como a de um pai. Rio.
–– Christian, sobe. –– a tom de voz de Justin é firme, mas nem um pouco rude. O garoto bufa frustrado e guarda o celular no bolso, seguindo Ryan pela escada.
A sola suja do tênis de Christian é a última coisa que vejo antes de Justin e eu ficarmos completamente sozinhos. O encaro rapidamente e sorrio sem mostrar os dentes. Afasto-me de seu corpo dando um passo a frente, tomando a iniciativa de caminhar pelo local, observando os carros abertos, as ferramentas na parede, e o balcão tão cheio de coisas que é um milagre ainda estar de pé.
O modelo de mesa utilizado é idêntico ao do primeiro andar. Passeio meus dedos pela madeira polida, curiosa sobre os equipamentos expostos mesmo não entendendo a função de cada um. Ouço um pigarreio. Olho por cima do ombro e meu olhar se cruza com o de Justin. O louro me encara fixamente enquanto coça o queixo, me fazendo questionar o que se passa em sua mente nesse momento. Seu corpo esquio coberto por um macacão cinza de mangas longas e o nome da oficina emposto no peito direito, encosta-se relaxadamente contra o carro prata com o capô abaixado.
–– É oficial, eu não faço ideia do que são essas coisas. –– digo com humor. Ele ri.
–– Se serve de consolo, a única coisa que eu sei sobre cachorros é como limpar a sujeira. –– rio, passando o antebraço em minha testa.
A falta de janelas ou boa ventilação no lugar finalmente me afeta, fazendo com que partículas de suor se acumulem em minha testa e nuca, molhando a raiz de meu cabelo. Junto todos os meus fios escuros em um rabo de cavalo alto. Justin observa cada movimento feito, desde a forma como umedeço meus lábios e o ritmo de minha respiração, ao desenrolar de meus dedos até que consigam formar um coque bagunçado.
Em um movimento bruto e completamente inesperado Justin sobe suas mãos até seu peito e arregaça o primeiro botão do macacão. O barulho teoricamente insignificante torna-se relevante quando seu peito suado coberto apenas por uma camiseta branca, é exibido. Acompanho o movimento de suas mãos grandes, assim como o de seus dedos longos despindo seus braços de tal cobertura quente, revelando seus braços cobertos por tatuagens que se evidenciam por conta dos músculos rígidos, porém nada exagerados.
Ele abaixa o macacão até o quadril exibindo todo o seu corpo másculo que me atraí como se eu fosse um metal inútil e ele um imã. Sem conseguir desviar minha atenção ou mover minhas pernas para longe eu desisto de lutar contra e me permito observá-lo. Realmente observá-lo. Noto pela primeira vez sua pele bronzeada, que brilha devido ao suor em seus ombros largos e peitoral, onde vejo a ponta de uma tatuagem desconhecida por mim, além dos números romanos no lado direito e a coroa no lado esquerdo. Noto a forma como seus fios louros caem sobre sua face, não importa quantas vezes ele os leve para trás tentando mantê-los arrumados. Mas, acima de tudo, noto a forma como suas orbitas antes carameladas e brilhantes, agora possuem um tom escuro como a noite.
A forma intensa como ele me encara me faz engolir em seco. Seu olhar percorre meu corpo dos pés a cabeça tornando minha pele quente como se seus olhos fossem o próprio sol. Não é difícil imaginar quais são seus pensamentos agora, entretanto por mais sujos que possam ser não o julgo, ou sinto-me ofendida. Não sinto nada. Nada além da temperatura subindo, a cada instante que permaneço aqui.
–– Justin. –– seu nome saí por minha boca mais abafado do que gostaria, quase como um gemido.
Justin afasta-se do carro e caminha lentamente em minha direção diminuindo drasticamente o espaço entre nós. Recuo como um garotinha assustada, dando passos para trás, parando apenas quando minha bunda bate contra a mesa de madeira. Ele sorri, um sorriso breve, mas estritamente malicioso que novamente me faz engolir a seco.
Olho para os dois lados procurando por uma rota de fuga, mas ela não existe. Estou presa. Presa entre a mesa e o homem de cabelo louro cujos os lábios agora percebo serem muito tentadores, rosados, e perfeitos. Ele envolve minha cintura com suas mãos juntando nossos corpos, acabando com qualquer distância entre nós e me permitindo sentir o quão quente sua pele está, exatamente como a minha. Minha respiração está descompassada, meu coração esquece de seguir o ritmo habitual e começa a bater rapidamente, sinto que a qualquer instante ele irá pular do meu peito. Uma onde de nervosismo percorre todo o meu corpo. Minhas mãos além de estarem suadas, tremem, e minhas pernas... Estão tão moles e bambas, que se meu corpo se chocar contra o chão não será uma surpresa.
–– Eu não posso. –– digo em um fio de voz, tentando manter-me racional, o que é inútil pois agora só consigo pensar no quão próximo estamos.
–– Não pense, Charlie, apenas sinta. –– sua respiração quente bate contra mim, misturando-se com a minha e juntas elas se tornam apenas uma.
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