P.O.V. Samantha
Acordei um pouco assustada, ouvindo vozes desconhecidas. Quando levantei a cabeça do ombro do meu pai, lembrei que estava no hospital.
— Oi filha. — Ele passou a mão em meu cabelo e beijou o topo da minha cabeça.
— Que horas são?
— 9 e pouco.
— Ela já acordou?
— Acho que sim, tem um tempo que o médico entrou.
Desde as 5 da manhã estamos aqui. A Clara passou muito mal, e até então ninguém sabe o que ela tem.
Ela fez uma bateria de exames e o médico disse que iria trazer o resultado logo.
— Você não quer ir pra casa, tomar um banho, comer alguma coisa?
— Não vou embora pai.
— Então pelo menos vai comprar alguma coisa pra você comer. Não quero outra filha doente.
— Ta bom.
Ele me deu dinheiro e então eu levantei do sofá da sala de espera e fui até o banheiro. Joguei uma água no rosto, ajeitei o cabelo e fui até a lanchonete.
Comprei um croissant, mas não descia de jeito nenhum.
Meu celular tocou, era o Isac me ligando.
— Alô?
— Por que vocês não vieram hoje? Me deixaram sozinho.
— A Clara tá mal, estamos no hospital.
— O que aconteceu?
— Ela tava com uma dor na barriga de madrugada. Meu pai e eu estamos esperando o resultado dos exames.
— Mas veio assim do nada?
— Foi.
— Espero que não seja coisa grave.
— Eu também.
— O Caíque tá aí?
— Ainda não, vou ligar pra ele quando soubermos o que é.
— Eu queria ver ela. — Disse ele baixinho.
— Por que você não deixa essa briguinha de vocês de lado e vem logo?
— Não é briguinha, Sam. Quando ele souber vai ficar puto da vida, e eu com certeza vou ser a última pessoa que ele vai querer ver. — Fiquei quieta. — Você sabe que eu tenho razão.
— Escuta, semana que vem vai rolar um clipe da banda dos meninos, e nós dois vamos dançar.
— Quê?
— É isso mesmo, e você vai sem reclamar.
— Como assim? Você não me disse nada.
— Tô dizendo agora. Se tudo der certo, a Clara vai melhorar e nós vamos criar uma coreografia. Vai ser na próxima sexta!
— Não sei não.
— Olha só, eu já disse pro Adriel que iria, e o Kalfani tá com raiva de mim, então você vai pra ficar do meu lado, querendo ou não.
— Você nunca vai parar de me obrigar a fazer as coisas, né?
— É.
— Tudo bem. — Ele deu uma risadinha.
— Ok, agora tudo depende da minha irmã. Tenho que desligar.
— Diz pra ela ficar bem logo, e me mantém informado.
— Ta bom, tchau.
Me despedi e encerrei a ligação.
Fui de volta para a sala de espera e meu pai estava sentado no mesmo lugar, olhando para o teto. Ele estava muito preocupado mesmo com ela.
Assim que cheguei, o médico da Clara veio até nós. Meu pai levantou esperançoso, mas a cara do Dr. não era das melhores.
— Ela já acordou? — Meu pai perguntou.
— Já sim. Vocês vão poder vê-la depois de falar comigo.
— Ok.
— As notícias que eu tenho não são boas. — Eu abracei meu pai de lado. — O que a Clara tem chama-se cisto ovariano. Cistos de ovários são bolsas cheias de líquidos que se formam sobre ou dentro do ovário, e no caso dela se formou dentro, o chamado Cisto Lúteo. Eles são fisiológicos, ou seja, da natureza do ovário, então não há nada que ela pudesse ter feito para evitar. Infelizmente, esses cistos aumentaram de tamanho, e foi por isso que ela sentiu tanta dor.
— E o que vai ser agora?
— Temos duas opções: a primeira e mais confiável é a cirurgia. A gente podia tentar retirar o cisto, mas como ele vem aumentando de tamanho, corre o risco do mesmo se romper, e causar sérios problemas. Então o que eu aconselho é a retirada dos ovários.
— Mas aí ela não poderia ter filhos. — Eu disse baixinho.
— Esse seria o preço. Mas também podemos fazer o tratamento com métodos anticoncepcionais. Isso vai ajudar a inibir a formação de determinados ovários, mas não há como prever se vai continuar aumentando ou não. Caso aconteça a ruptura, pode ser que o ovário irá curar a mesmo, e não haverá mais nenhuma complicação. Mas também o ovário pode ficar infectado, e trará implicações sérias para a saúde e sua capacidade de fertilizar.
— Deixa eu ver se entendi: — Meu pai falou. — ela pode fazer a cirurgia, mas vai ter que retirar os ovários. Ela pode fazer o tratamento com anticoncepcionais, mas não é totalmente eficaz e o cisto pode estourar. E fazer a retirada do cisto não é uma opção por conta do tamanho?
— Exatamente.
— Meu Deus. — Ele passou a mão no rosto e eu afaguei seu ombro.
— Calma pai.
— Como sua filha é maior de idade, ela que vai escolher a melhor opção. Ela tem até amanhã para isso, porque o caso dela é urgente.
— Não tem opção, ela tem que escolher a cirurgia. — Meu pai falou rígido. — Posso ver minha filha?
— Claro, fique à vontade.
Ele saiu na frente e eu fui atrás.
A Clara estava deitada na cama, observando as gotas do soro caírem devagar. Seu rosto estava abatido, tinha olheiras ao redor dos olhos e ela estava bastante pálida.
— Oi gente. — Ela deu um sorriso.
— Como você tá filha?
— Tô bem. — Me sentei do seu lado e peguei sua mão. — Pela cara de vocês tenho certeza de que já sabem.
— Eu sinto muito Clara. — Eu disse. — Eu sei que você gostaria de ter um filho.
— O quê? Espera aí, vocês acham que eu vou fazer essa cirurgia?
— É claro que você vai. — Meu pai disse.
— Eu não quero ficar infértil. Não! Não mesmo.
— E você vai ficar com uma bomba relógio dentro do corpo, Mana?
— Eu vou fazer tudo direitinho, ele não vai se romper. E se acontecer eu corro pro hospital pra não infeccionar. Vai dar tudo certo.
— Você não pode tá falando sério.
— Eu tô falando muito sério! Não vou ficar sem meus ovários.
— Filha, é da sua saúde que estamos falando.
— Eu sei disso.
— Você vai fazer a cirurgia!
— Eu sou maior de idade e eu que vou escolher. Você não pode fazer nada. — Ele olhou sério para ela e depois saiu do quarto.
— Clara, pelo amor de Deus.
— E se fosse com você Sam? Se você soubesse que nunca iria poder dar um filho pro Kalfani tenho certeza de que faria a mesma escolha que eu.
— É com o Caíque que você tá preocupada?
— Não é isso...
— Para de ser teimosa! Imagina como vai ser pior ele te ver sentindo uma dor infernal quando essa droga estourar, e depois se você ainda estiver viva, vai passar o resto da vida dependendo de remédios, e nem vai poder cuidar direito do filho que TALVEZ você tenha.
— Por que você sempre pensa no pior?
— Por que você é tão cabeça dura? Clara se você fizer isso, o pai vai ficar chateado com você, o Caíque vai ficar chateado e eu também! Então eu sugiro que você pense bem no que tá fazendo.
Ela começou a repetir as mesmas coisas que tinha falado e eu saí de lá deixando ela falar sozinha.
Do lado de fora meu pai estava andando de um lado para o outro sem saber o que fazer.
Eu me sentei no sofá e só conseguia pensar no quanto minha irmã é uma idiota. Meus olhos arderam e deixei as lágrimas caírem. Não dava pra acreditar que a Clara estava fazendo isso com si mesma.
Meu pai se sentou ao meu lado e eu limpei as lágrimas. Ele ficou olhando pra tela do celular desligada.
— Tá tudo bem?
— A mãe da Clara.
— O que tem ela?
— A mãe dela é obstetra. — Ele me olhou. — Eu sei que o que a Clara tem não é especialidade da Malorie, mas ela com certeza deve saber o que fazer.
— Se ela é obstetra e cuida do desenvolvimento da mulher, então ela sabe tudo sobre o útero e ovários.
— Ela deve ter alguma alternativa.
— Você acha?
— Vou ligar pra ela.
— Ta bom, tomara que ela tenha.
— Se ela não tiver, pode pelo menos colocar juízo na cabeça dessa menina.
Ele levantou e foi para fora.
Se tem alguém que pode fazer a Clara mudar de ideia, esse alguém se chama Caíque.
Peguei o celular e liguei para ele, mas caiu na caixa postal. Continuei ligando e ninguém atendia.
Eu deduzi que uma hora dessas ele devia estar trabalhando, então eu liguei para o Kalf, e ele atendeu rápido.
— Oi.
— Oi, o Caíque tá com você?
— Ele saiu pra comprar comida, estamos no estúdio.
— Eu tô tentando ligar pra ele há um tempão.
— Hmmm... — Ele murmurou pensativo. — Acabei de achar o celular dele em cima do sofá.
— Que droga.
— Posso ajudar em alguma coisa?
— Quando voltar fala pra ele me ligar. — Eu mais implorei do que pedi.
— Sam, aconteceu alguma coisa? Sua voz tá estranha.
— É a Clara...
— O que tem?
— Ela tá no hospital.
— Ela tá doente?
— Mais ou menos isso. Ela tem um problema no ovário e não quer fazer a cirurgia. A minha esperança é que o Caíque convença ela do contrário.
— Ele vai ficar desesperado em saber disso. — Ele fez uma pausa. — Qual hospital vocês estão?
— O mesmo que a Ana trabalha.
— Ok, a gente chega aí em meia hora.
— Você não precisa vir. Só avisa o Caíque.
— É da minha cunhada que estamos falando. E também ele vai ficar preocupado demais pra dirigir. Vai que ele acaba avançando um sinal vermelho e batendo o carro.
— Conheço alguém que fez isso. — Ele deu uma risadinha.
— Vamos prevenir que ele cometa o mesmo erro que eu.
— Tudo bem, tô esperando vocês.
— Qualquer coisa me liga.
— Tá bom, tchau.
Na hora que desliguei o celular meu pai apareceu.
— E aí?
— Ela chega amanhã.
— Mas ela tem alguma solução?
— Ela disse que precisa ver os exames primeiro. Eu realmente espero que ela faça alguma coisa, pelo menos uma vez na vida.
— A Clara não vai ficar brava por ter chamado ela?
— Talvez, mas é pro bem dela. — Eu assenti.
— E como foi a reação dela?
— É claro que ela ficou angustiada, filha. Ela não é muito presente mas se importa com a filha.
— A Clara sempre diz que ela não liga.
— Ela ama a Clara, mas do jeito dela.
— Por que ela foi embora?
— Sabe que eu nem sei Sam? Ela disse que queria terminar a faculdade, mas ela tinha trancado a matrícula em uma universidade aqui de São Paulo mesmo, e ela saiu da cidade.
— Então você acha que não foi por isso?
— Acho que ela só não estava preparada pra ser mãe.
Nos minutos seguintes, o Isac tornou a me ligar, e eu contei a ele o que estava acontecendo. Claro que ele ficou preocupado, mas mesmo assim ele disse que não iria vir. Eu até entendo, o Caíque vai querer socar ele, e o Kalfani até ajudaria.
Quando encerrei a ligação, eles surgiram na nossa frente.
O Caíque estava com uma expressão bastante tensa. Ele me deu uma abraço rápido e depois foi falar com meu pai. Ele começou a contar tudo o que estava errado, e enquanto isso e olhei pro Kalf.
Ele estava diferente. Estava sem sua barba, com o cabelo bagunçado - provavelmente ele estava usando boné e depois tirou. Mas não era só isso; aquela entonação de raiva que vi há alguns dias atrás, havia sido substituída por compaixão.
Ele me deu um abraço, e por mais que a gente não esteja bem, eu não tenho pensado muito nisso, por causa da Clara. Mas o abraço me fez muito bem, como sempre faz.
— Você tá bem? — Ele perguntou com ternura.
— Tô.
Ele me abraçou de lado e ouvimos a conversa dos dois.
O Caíque ficou desolado.
— ...e agora ela não quer fazer a cirurgia, porque ela quer ter filhos.
— A gente sabe o quanto isso é importante pra vocês. — Eu disse. — Mas a saúde dela tá em risco.
— Não, claro. Ela tem que fazer a cirurgia. Posso falar com ela?
— Ela tá no quarto 22.
Ele forçou um sorriso e saiu.
— Espero que ele faça ela mudar de ideia. — Meu pai disse.
— Ele vai.
A gente sentou no sofá e ficamos esperando ansiosamente pelo Caíque. Mas como era de se esperar, ele demorou.
O Kalfani encostou o rosto no meu e eu senti falta da sua barba roçar minha a pele da minha bochecha.
— Você tá parecendo que tem 15 anos.
— Todo mundo me diz isso. — Ele riu.
— Por que você tirou? — Olhei para ele.
— Eu fui fazer e acabei estragando, aí tirei tudo.
— Bom que cresce rápido.
— Você não gosta de mim assim?
— Na verdade não. — Dessa vez até meu pai riu. Era bom descontrair um pouco.
P.O.V. Clara
Eu estava fingindo ver um programa na TV quando o Caíque entrou no meu quarto.
— Oi! — Eu disse animada.
— Oi. — Ele respondeu fraco, assim acabando com meu entusiasmo. — Como você tá? — Ele se sentou no espaço vazio da minha cama.
— Tô melhor agora. — Ele deu um sorriso e beijou minha testa.
— Adorei seu look. — Ele falou da camisola do hospital.
— Você viu? Nova moda de Paris. — Nós rimos.
— Eu fiquei preocupado, você não me atendeu, nem respondeu minhas mensagens. Eu quase enlouqueci quando o Kalfani me contou que a Sam tinha ligado pra dizer o que tinha acontecido com você.
— A verdade é que eu nem sei onde está meu celular.
— Você sentiu dor?
— Sim, de madrugada. Foi insuportável, achei que ia morrer.
— Mas amor, você não teve mais nenhum sintoma? Tipo, veio assim do nada.
— Bem, na verdade eu estava com a menstruação atrasada há algumas semanas. Eu pensei que estava grávida. — Ele levantou as sobrancelhas.
— Por que você não me contou?
— Eu e a Sam fizemos o teste e deu negativo, então você não precisava saber, a não ser que desse positivo.
— Clara, você sabe que pode me contar qualquer coisa.
— Eu fiquei aliviada quando deu negativo, e tive medo que você também ficasse. Não que eu quisesse ter um filho agora, mas eu realmente tive medo da sua reação.
— Então se eu ficasse aliviado seria um problema?
— Ia parecer que você não queria ser pai.
— Se você estivesse grávida, eu com certeza ficaria assustado, é normal. Mas eu também ficaria muito feliz, e assumiria as responsabilidades. Seria uma benção.
— Eu sei disso. Eu disse pra Sam que juntos a gente ia dar um jeito, caso acontecesse. — Ele pegou a minha mão. — Seria tão melhor se tivesse um bebê na minha barriga.
— Clara, você vai fazer a cirurgia, né?
— Amor eu prefiro arriscar e continuar fértil.
— E se der errado? E se essa coisa estourar, ou torcer e a gente não conseguir te trazer ao hospital a tempo? E se você esquecer de tomar o remédio? E se você sofrer uma queda e isso prejudicar sua saúde? Você vai passar o resto da vida se preocupando com isso?
— Você acabou de dizer que seria uma benção ter um filho.
— Clara, filho não é só aquele que gera. A gente pode adotar, a gente pode arranjar uma barriga de aluguel, ou até fazer o Toby virar gente. — Eu ri. — Não fica pensando nisso. Pensa no agora, e agora a sua saúde tá em risco. Se você não estiver saudável, como que um bebê vai sobreviver no seu útero?
— Sabe Caíque, se fosse antes de te conhecer, eu nem ligaria. Simplesmente iria retirar os ovários sem pensar duas vezes. Mas agora tem você, e mesmo você falando essas coisas agora, eu sei que no futuro um filho biológico vai fazer falta, e eu sei que vou me arrepender de nunca poder te dar um.
— Clara, eu não ligo. Eu não vou te amar menos por isso. Você é tudo o que importa, e eu quero que você fique bem. Por favor, faz isso por mim.
Ele estava implorando, mas eu ainda queria ser mãe.
Mesmo tendo que conviver com a angústia de um dia o cisto vir a romper, ainda sim prefiro continuar com meus ovários.
Mas ele tinha razão; mesmo que eu continue com os ovários, vai ser bem difícil engravidar. Talvez nunca aconteça.
Eu preciso colocar os pés no chão.
— Ta bom. Eu faço a cirurgia. — Ele fechou os olhos e soltou um suspiro aliviado.
— Obrigado. — Ele me beijou e depois deitou a cabeça em meu peito.
Coloquei minha mão em seu cabelo e fiz carinho.
— Vai dar tudo certo. — Disse ele.
— Eu sei, você tá aqui.
Ele continuou um tempo ali comigo, até uma enfermeira aparecer e expulsar ele do quarto.
Quando saiu, eu apertei os olhos a fim de fazer com que minhas lágrimas não caíssem, o que foi em vão.
Eu realmente queria um filho que viesse de mim, mas infelizmente isso será impossível.
. . .
No dia seguinte...
P.O.V. Samantha
Meu pai praticamente me obrigou a ir para casa dormir um pouco. Ele também falou para o Caíque ir, mas ele não quis.
O Kalf me deixou em casa ontem e hoje me buscou cedinho. Foi bom porque eu limpei a sujeira do Matt e também lhe dei comida.
Quando chegamos no hospital, eu não sei quem estava pior: meu pai ou o Caíque.
Assim que a Clara acordou, fui conversar com ela. Por mais que o Caíque a tenha convencido, evitei tocar no assunto da cirurgia e também que a mãe dela estava chegando.
— O Isac tá me perguntando toda hora sobre você. — Eu estava deitada com ela na cama.
— Ele tá aqui?
— Não. O Caíque ia surtar.
— Ia mesmo. Mas eu gostaria que ele estivesse.
— Por que vocês não voltam logo a se falar?
— É estranho, Sam. Não dá pra sermos amigos se eu não puder falar do meu namorado pra ele. E se eu falar, o clima fica esquisito.
— Eu posso tentar conversar com ele.
— Não Sam, não se intromete. Isso tem que partir de nós dois.
— Tá bom.
— Soube que você foi pra casa com o Kalf.
— Ele só me deixou lá e me buscou hoje de manhã.
— Vocês conversaram?
— Não, Clara.
— Por que não?
— Porque no momento existem coisas mais importantes que a nossa briga. E a verdade é que eu nem tô pensando muito nisso.
— Eu acho que você deveria aproveitar a oportunidade. Ele tá pertinho de você.
— Que oportunidade Clara!? Se toca, você tá doente. Acha mesmo que vou ficar pensando na minha vida amorosa?
— Olha só, depois que eu sair daqui, você vai pensar muito nele. Então acho que você já deveria começar agora.
— Incrível como você não acha essa situação nem um pouco apavorante.
— Sam eu vou retirar meus ovários. Não vou ter filhos, então não tenho mais com o quê me preocupar.
— Lá vem você de novo com essa história.
Eu passei os minutos seguintes tentando convencê-la de que não faria diferença ela ter um filho biológico ou não, o amor seria o mesmo.
Mas a Clara é cabeça dura, e agora parece que ela desistiu de si mesma.
Depois a enfermeira chegou para trocar a bolsa de soro, colher sangue e dar os remédios, então tive que sair.
Me juntei com o pessoal no sofá no meio do Caíque e do Kalfani, e logo em seguida vi um par de saltos parar na frente do meu pai.
— Te achei. — A mulher falou com ele.
— Finalmente, Marie! — Ele levantou e deu um abraço nela.
Então essa era a mãe da Clara. Seu nome é Malorie, mas pelo visto meu pai tem um apelido íntimo para ela.
Malorie tem os cabelos loiros e olhos verdes como os da Clara, é alta, corpulenta e se veste muito bem. Por cima da roupa, usava um jaleco branco e se equilibrava muito bem em cima do salto alto.
Ela não era muito parecida com a Clara. Fora o cabelo e a cor dos olhos, só alguns traços lembravam ela.
Eu só a tinha visto no mural da Clara, mas com certeza ela é muito mais bonita e jovem pessoalmente.
Olhei para os meninos e eles estavam bastante impressionados, assim como eu.
— Não imaginei que ela fosse tão gata. — Kalf falou baixinho.
— Nem eu. — Caíque respondeu e eu dei um tapa na cabeça dos dois.
— Vocês são dois sem vergonhas! — Eles riram.
Voltei minha atenção para os pais da Clara.
— Que bom que você veio.
— Ela é minha filha também. — Ela deu um sorriso. — Eu já dei uma olhada nos exames. — Ela mostrou os papéis na mão. — Ainda preciso conversar com o médico dela, mas tenho quase certeza de que posso fazer a retirada do cisto sem precisar retirar os ovários. — Nós três passamos a prestar mais atenção no que ela estava dizendo, mas ela nem parecia ter notado nossa presença e continuou falando para meu pai. — É um procedimento difícil, mas eu consigo.
Se ela realmente conseguir, a Clara ainda vai ser fértil!
— O médico dela disse que ele iria se romper caso tentasse retirar.
— Bom, o médico dela não tem as minhas mãos.
Uma coisa a Clara herdou da mãe: a atitude. Essa mulher realmente confia em seu taco.
— Mas antes de decidir qualquer coisa, eu quero conversar com ela. Se bem conheço minha filha, ela não vai querer minha ajuda.
— A enfermeira tá dando a medicação, você vai ter que esperar um pouco. — Meu pai disse colocando as mãos no bolso.
— Ok. — Ela mexeu no cabelo e olhou ao redor, e foi aí que ela nos viu.
Seus olhos percorreu rapidamente os meninos e depois se fixou em mim. Ela arregalou os olhos de uma maneira bastante surpresa.
— Parece que eu tô vendo a Clarice na minha frente. — Ela falou e meu pai olhou para trás e depois se posicionou ao lado dela.
— Essa é a minha filha Samantha.
— Já te disseram que você é a cara da sua mãe?
— O tempo todo. Você a conheceu?
— Só por foto. — Ela respondeu vagamente e depois tirou os olhos de mim.
— Esse é o Kalfani, namorado dela e o Caíque, namorado da Clara. — Ele falou apontando para cada um. Ela deu um sorrisinho nada discreto quando ele mencionou "namorado da Clara" e depois disfarçou.
— É um prazer conhecer vocês. — Eles retribuíram e em seguida a enfermeira saiu do quarto. — Vou lá falar com ela.
Malorie deu meia-volta e caminhou em direção ao corredor.
Se ela não tivesse abandonado minha irmã, talvez eu gostasse um pouco dela.
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