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História Love By Chance - Second Season - Medo de mudanças


Escrita por: MESPIND

Capítulo 69 - Medo de mudanças


 

P.O.V. Isac

Depois da aula, as meninas foram ao banheiro e eu fiquei esperando elas do lado de fora da escola.
Quando elas saíram, a Sam foi em direção ao ponto de ônibus e a Clara veio na minha direção, onde estava o carro dela.

   — Onde a Sam vai? — Perguntei assim que entramos no carro. 

   — Vai no hospital falar com minha mãe.

   — Quê? — Franzi as sobrancelhas e ela saiu com o carro.

   — É, eu também fiz essa cara. 

   — Que bicho mordeu ela?

   — Também queria saber.

   — Ela já faltou na aula ontem e vai faltar hoje também?

   — Não, ela disse que vai chegar à tempo.

   — Que bom.

   — Quando você vai convidar a Ester?

   — Eu acho melhor você convidar. — Respondi.

   — Mas se eu convidar, ela não vai saber que você quer conversar com ela.

   — De qualquer jeito ela não vai querer sair comigo mesmo.

   — Você não sabe, Isac. Para de tirar conclusões precipitadas e chama ela pra sair! O que tá rolando, hein? A gente já conversou sobre isso; eu nunca te vi ficar com medo de falar com ninguém.

   — Com ela é diferente.

   — O pior que ela pode dizer é não, e eu tenho certeza que isso não vai acontecer. Confia em mim.

A Ester é diferente de qualquer pessoa que eu já me interessei. Ela é objetiva, não é de se apegar fácil, é mais velha, e consequentemente mais experiente, é intelectual e tudo nela, até o modo de conversar, é mais maduro. 

   — Nós somos totalmente o contrário, e por isso acho que eu não despertei o mesmo interesse que ela despertou em mim.

   — Eu discordo.

   — Eu acho que você tá me empurrando pra Ester só pra te deixar em paz.

   — O que?

   — Você nem fala direito com ela, a única coisa que você viu fui eu afim dela.

   — Eu não iria te iludir assim só pra me beneficiar, tá? Essa história está encerrada, e nós somos amigos. Só acho que ela viu alguma coisa em você, e você também viu algo nela, e vocês deveriam descobrir juntos o que é isso.

   — E se no final nós descobrirmos que não temos nada a ver?

   — Então talvez não seja a hora certa.

   — Clara?

   — Hm? — Ela me olhou.

   — Você acha que se a gente tivesse se conhecido a sei lá, 5 anos depois, teria feito alguma diferença? A gente poderia ter dado certo? 

   — Isac...

   — Eu sei que o assunto tá encerrado, só quero saber se a gente estava no tempo errado.

   — Acho que no nosso caso não foi hora errada, só foi errado e ponto. Mesmo se a gente tentasse de novo, depois de eu ter namorado o Caíque, e você a Ester, por exemplo, seria a mesma coisa. Nós dois somos muito parecidos, em todos os sentidos, e isso que estraga. Por isso eu acho que as diferenças entre você e ela só vai somar, entende?

Mesmo agora que já superamos essa fase, sempre vamos ter aquele receio em falar sobre as coisas que aconteceram. Acho que nós dois temos medo de voltar a sentir tudo aquilo, e isso seria uma tragédia.

Nós dois chegamos na academia meia hora depois. Ficamos na administração com o John e a Ester, mas a Clara tinha algum assunto para resolver com o pai dela, e os dois foram para a quadra.

   — Você já almoçou? — Perguntei para a Ester.

   — Ainda não, por que? — Ela colocou uma mecha do cabelo escuro atrás da orelha.

   — Eu ia te dar um pedaço do bolo da minha mãe, mas não pode comer a sobremesa antes da comida.

   — Você não vai fazer essa sacanagem comigo, vai? — Eu ri.

   — Tem um garfo aí? — Ela se virou para mexer na bolsa, e eu peguei a vasilha dentro da minha mochila. 

   — Aqui. — Ela mostrou o garfo para mim.

Dividi o pedaço de bolo para nós dois e depois comemos. Pela cara dela, deve ter gostado muito.

   — O que achou?

   — Esse é o melhor bolo que já comi em toda minha vida.

   — Se eu falar isso pra minha mãe, ela vai se achar pra sempre.

   — Fala que ela tá de parabéns. — Ela comeu outro pedaço. — Nossa!

   — Que bom que você gostou.

   — Você precisa me mandar o contato da sua mãe pra eu fazer umas encomendas.

   — Pode deixar, eu te mando.

Ela comeu toda a parte dela e ainda comeu um pouco da minha. Tô vendo que essa menina dá prejuízo quando o assunto é comida.

   — O que você vai fazer na sexta? 

   — Provavelmente assistir uma série na Netflix e me acabar em brigadeiro, por que? Você por acaso vai me trazer mais bolos da sua mãe? — Eu ri.

   — Se você gostou tanto assim, eu posso trazer mais vezes. Bom, na verdade a Clara, o amigo dela e eu vamos cantar numa pizzaria.

   — Espera aí, você canta?!

   — Eu tento, a Clara que cismou que eu canto bem.

   — Você é uma fábrica de talentos! — Ela riu e eu também.

   — Então, se você quiser aparecer... garanto que vai ser mais divertido que comer brigadeiro sozinha.

   — Você tá me chamando pra sair, tipo um encontro? 

   — É. — Dei um sorriso mas ela não sorriu de volta. — Quer dizer, se você quiser que seja.

   — Eu não saio com pessoas que mal conheço. — Ela cruzou os braços. — Você por acaso estava tentando me comprar com comida?

   — O quê? Não! — Ela franziu a testa. — Eu entendo, claro que você não saí com pessoas como eu. Eu sou um idiota.

   — Isac, eu tô brincando! — Ela riu. — É claro que eu quero sair com você.

   — Quer?

   — Quero, vai ser legal ver vocês cantarem, e você não é um idiota. Ah, e se você pensa que pode me comprar com comida, saiba que eu amo chocolate! — Nós rimos.

   — Tá anotado. Eu te pego que horas?

   — É melhor a gente se encontrar lá. Se você vai cantar, então precisa se preparar antes, e eu demoro muito para me arrumar.

   — Você não vai atrapalhar.

   — É melhor assim, só me manda o endereço.

   — Tá legal.

   — Agora canta alguma música pra eu ver se você manda bem.

   — Você só vai ouvir na sexta, vai ser surpresa.

   — Mas você não vai dar nem um spoiler?

   — Sem spoilers.

   — Droga!

P.O.V. Malorie

   — Dra.? — Umas das enfermeiras falou ao entrar na sala de cirurgia. — Tem uma moça procurando por você, ela disse que se chama Samantha.

   — Samantha? — Olhei para ela. — Tem certeza?

   — Absoluta.

   — Pode ir Dra., eu termino a sutura.

   — Obrigada, Fernando.

Me livrei das luvas, da roupa cirúrgica e saí da sala.
A Sam não viria aqui à toa. Alguma coisa aconteceu, e espero que não seja o que estou pensando.
Peguei meu celular e liguei para o John, mas caiu na caixa postal.

   — John, me liga assim que você ouvir esse recado. A Sam tá aqui, não sei o que ela quer, mas eu juro que se você tiver contado e não me falado nada, eu te mato!

Encontrei ela na sala de espera. Imaginei que ela fosse estar com raiva, ou com a cara fechada, mas quando me viu, ela sorriu. Sor-riu. Será este um plano pra me deixar desarmada e depois me atacar?

   — Sam, que surpresa.

   — Oi Malorie. — Ela continuou sorrindo. — Tô te atrapalhando né? Você tava em cirurgia.

   — Ah não, eu já estava acabando. Vamos conversar em um outro lugar.

   — Ok.

Ela pegou a mochila no sofá, colocou nas costas e seguimos pelo corredor até a sala dos médicos.

   — É tão estranho te ver sem salto e com o cabelo amarrado.

   — Às vezes tenho que trocar o uniforme, mas é por um bom motivo. — Ela riu e abri a porta da sala. — Então, você veio aqui por causa do John?

   — Como assim? — Fechei a porta. — O que meu pai fez?

   — Ele... não te contou?

   — Me contou o quê? 

   — Espera, por que você tá aqui?

   — Hmm, eu vim te fazer um convite.  — Ele cruzou os braços. — Mas me explica isso sobre o meu pai. — Droga, me queimei sozinha.

   — Ah, é que... — Mexi no cabelo para ganhar tempo.

   — Malorie?

   — Ele veio aqui essa semana para falar sobre o almoço com você e a Clara. 

   — Por que ele não perguntou pra mim?

   — Acho que ele queria saber os dois lados. Não fica brava com ele, tá?

   — Não estou, só fiquei meio surpresa. 

   — Eu entendo.

   — É só isso mesmo?

   — Sim. — Acho que eu a convenci. — Agora me fala sobre esse convite.

   — Quero fazer um jantar pra uma amiga conhecer melhor minha família, e você faz parte dela, então...

   — Eu acho perfeito. 

   — Então você vai?

   — Claro que vou. 

   — Ótimo! Vai ser no domingo.

   — Não pode ser no sábado?

   — Sábado a Clara canta na pizzaria. Aliás, esse final de semana vai ser uma coisa especial, seria legal se você fosse também.

   — Com certeza eu vou. 

   — Então tá bom.

   — Obrigada por me incluir nesses eventos. 

   — Isso não é nada. 

   — Malorie! — A Ana entrou na sala com tudo. — Sam? Tá fazendo o que aqui? — Com certeza ela pensou o mesmo que eu: que a Sam sabia de tudo.

   — Eu... — Ela começou a falar mas a Ana interrompeu.

   — Não importa. Malorie, a Luna precisa de você, agora.

   — O que aconteceu? 

   — Ela caiu no banheiro.

   — Droga!

Eu saí correndo da sala e as duas vieram atrás de mim.
Fomos até o quarto onde a Ana a deixou. A Luna estava desesperada.

   — Graças a Deus, Malorie. — Ela pegou na minha mão. — Diz que meu bebê está bem.

   — Calma Luna. O que você tá sentindo?

   — Muita dor abdominal. 

   — Meninas me ajudem a tirar a roupa dela.

A Ana e a Sam trocaram a roupa dela pela camisola do hospital enquanto eu pegava o aparelho de ultrassonografia.

   — Ela tá com sangramento. — Ana disse.

   — Droga, Luna.

   — Ele morreu, não é. 

   — Não diz isso. — Sam falou.  — Ele vai ficar bem.

Pressionei o aparelho em sua barriga e detectei os batimentos cardíacos.

   — Ele tá bem, só tá assustado. — Ela respirou aliviada e fechou os olhos. — Luna, eu vou precisar fazer uma ultrassom transvaginal, mas vou te colocar pra dormir pra você não sentir cólica.

   — Não, eu quero ficar acordada.

   — Eu sou sua médica e vou te colocar pra dormir.

   — Escuta ela, Luna. — Ana disse.

   — Tá bem. Não fala nada pro Mattias até eu acordar, tá?

   — Ok.

Depois de dopar a Luna, pude entender melhor o que tinha acontecido.

   — Eu fui chamar ela pra almoçar, e ouvi a voz dela vindo do banheiro, aí quando entrei vi ela sentada no chão segurando a barriga. Ele disse que foi se levantar do vaso e perdeu o equilíbrio. — Ana disse.

   — Por que ela usa salto alto se sabe que a gravidez é de risco?

   — Boa pergunta, Sam. Ela tá brincando com o fogo.

   — Mas tá tudo bem com ele? — Ana me perguntou.

   — Ele tá bem, mas tá agitado. Acho que causou alguma complicação.

   — Que tipo de complicação?

   — Vamos descobrir. — Fiz a ultrassom nela e minhas suspeitas foram confirmadas. — Ela tá com descolamento da placenta.

   — Isso é muito ruim? — Ana perguntou. 

   — Com 18 semanas de gravidez, isso é péssimo. O descolamento da placenta pode causar parto prematuro, e se ele nascer agora provavelmente não vai sobreviver, e sem saber o quão grave é a endometriose da Luna, talvez não seja possível operá-la.

   — Mas foi a queda que causou isso?

   — Acredito que já estava descolada, mas a queda agravou.

   — E agora?

   — Ela vai ter que ficar internada. Precisamos adiar esse parto o máximo que conseguirmos.

   — A Luna vai ficar péssima. — Sam disse. 

   — Não foi culpa dela.

   — Mas ela sabia dos riscos.

   — Não dá pra evitar esse tipo de coisa, Ana. Chama o Mattias, eu vou acordar ela e dar a notícia.

P.O.V. Luna

Parei de ouvir quando ela disse que coloquei meu bebê em risco. Por que eu sou assim? Ele nem nasceu e eu já sou uma péssima mãe.

   — Luna?

   — Oi?

   — Você sentiu dor nas costas ou pequenas contrações? — Olhei para o Mattias, ele estava tão angustiado como eu.

   — Senti, mas não achei que fosse nada. Se eu tivesse te avisado teria feito alguma diferença?

   — Talvez.

   — Ótimo, me sinto bem melhor agora.

   — Não foi sua culpa.

   — Claro que foi. Por causa da minha irresponsabilidade ele pode nascer prematuro e morrer, e eu também posso morrer.

   — Você nunca mais diz isso, entendeu? — Mattias falou bravo. — A gente sabia que poderia acontecer esse tipo de coisa, e não adianta ficar se culpando pelo o que já foi. O que podemos fazer agora é evitar que algo pior aconteça, e nós vamos fazer isso.

   — Ele tem toda razão. — Malorie disse. — O melhor a fazer agora é você ficar aqui no hospital. 

   — Por quanto tempo?

   — Até que a placenta esteja estabilizada. Você não pode fazer esforço de jeito nenhum, estamos entendidas? — Assenti. — Ótimo. Vou providenciar seus exames. — Ela saiu da sala.

   — Se ele nascer prematuro, o que vai ser?

   — Ele não vai.

   — Mas e se? 

   — Vamos dar um jeito.

   — E se eu morrer? 

   — Luna, cala essa boca.

   — É uma possibilidade, Mattias.

   — Não vai acontecer. Eu vou pra casa buscar suas coisas e já volto. — Ele me beijou na testa. — Fica quietinha aí.

   — Vou ficar.

                             .  .  .

P.O.V. Anallu

   — Eu nem consigo imaginar o que ela tá passando, Sam. — Nos sentamos na sala de espera.

   — Deve ser uma droga saber que seu bebê pode nascer bem antes do previsto.

   — Mas ele vai nascer na hora certa, se Deus quiser.

   — Vai dar tudo certo.

   — O que você veio fazer aqui?

   — Eu convidei a Malorie pra um jantar lá em casa.

   — Por que? 

   — Porque querendo ou não, ela é mãe da Clara e faz parte da minha família.

   — Sam, você devia conversar com seu pai.

   — Sobre o quê?

   — Só conversa, tá?

Ela ia retrucar, mas o Mattias apareceu.
Ele tá tentando manter a calma, mas sei que por dentro ele está se segurando para não desmoronar. 
Ser pai já é difícil, ainda mais quando seu bebê corre sérios riscos de vida.

   — Eu vou ir buscar as coisas dela.

   — Eu te levo. 

   — Posso ir com vocês? — Sam perguntou.

   — Eu te deixo na academia.

   — Beleza.

   — Sam, — Mattias disse. — Não conta nada pra Ester, eu falo com ela mais tarde.

   — Tá bom.

Deixei a Sam na academia e depois segui o caminho até o apartamento da Luna. O Mattias ficou quieto a viagem toda.
Quando entramos, ele foi direto para o quarto. Pegou uma bolsa grande no guarda-roupa e analisou as roupas.

   — Você tá bem? — Ele me olhou indignado. — Ok, essa foi uma pergunta idiota.

   — O que eu devo levar? — Ele voltou a olhar para as roupas.  — Ela só vai usar a camisola do hospital mesmo. 

   — Mattias, senta um pouquinho. — Coloquei a mão em seu ombro e o guiei até a cama. — Você não precisa ser forte o tempo todo, tá?

   — Eu tenho que ser, ela depende de mim.

   — Se você não colocar pra fora, isso vai te corroer. — Ele apertou os olhos, e quando os abriu estavam cheios de lágrimas.

   — Se eu tivesse cuidado melhor dos dois, talvez isso não tivesse acontecido.

   — Você não sabe.

   — Eu pedi pra Luna tirar a licença de uma vez, mas ela teimou comigo, disse que não conseguia ficar parada, e agora... eu devia ter insistido.

   — Mesmo se você tivesse insistido, nós dois sabemos como a Luna é.

   — E se ele morrer, Ana? Com essa doença da Luna, nunca teremos outra chance, e eu nunca vou poder ser pai.

   — Você vai ser pai, sim. Ele não vai morrer.

   — Como você pode ser tão otimista com o tanto de coisas que podem acontecer?

   — São possibilidades Mattias. Também há possibilidade de ele nascer bem e saudável.

   — Eu falei essas mesmas coisas pra ela, mas a verdade é que eu não acredito tanto assim. O pior não é nem ele morrer, e sim ele nascer e a Luna...

   — Não fala isso.

   — E se acontecer? Como vou cuidar de uma criança sozinho? Eu mal sei cuidar de mim.

   — Você não vai estar sozinho. — Abracei ele de lado. — Deus me livre se isso acontecer, mas se chegar à... bom, eu vou te ajudar. Sempre foi assim, lembra? A gente sempre se ajudou, e dessa vez não vai ser diferente. A Helena e o Davi vão ser grandes amigos, como nós, e vai dar tudo certo. E também tem a irmã da Luna, tem a sua mãe... tenho certeza de que se isso acontecer, ela vai vim correndo pra te ajudar. Mas não vai acontecer.

   — Obrigado Ana.

   — Agora vamos arrumar a mala dela.

                             .  .  .

Depois de deixar ele no hospital e conversar um pouco com a Luna, fui para casa, e lá me deparei com outro problema.

   — Que bom que você chegou. — O Adriel apareceu com a Helena no colo chorando.

   — O que aconteceu?

   — Acho que ela tá com febre.

   — Você mediu a temperatura? 

   — Não sei onde tá o termômetro.

   — Que droga Adriel, você não sabe fazer nada! — Peguei minha filha no colo.

   — Eu tentei te ligar, tá? Mas você não atendeu. 

Coloquei a mão na Helena e realmente ela estava um pouco quente.

   — Vê se tá na gaveta do quarto dela.

Ele saiu da minha frente e foi para a escada.
Sentei com a Helena no sofá e tentei fazer ela parar de chorar.

   — Achei! — Ele me entregou o termômetro e sentou na minha frente. 

Passei o aparelho na testa dela e deu quase 38 graus.

   — E aí?

   — Ela tá com começo de febre.

   — Vamos levar ela pro hospital.

   — Não, vamos tentar abaixar a febre, se não passar a gente leva.

   — A Luna não é pediatra? Será que ela não pode vim aqui?

   — Ela tá internada.

   — Por que?

   — Problemas com a gravidez, depois te explico melhor. Acho que sei porque ela tá com febre. — Abri a boca dela e chequei a gengiva. — Os dentinhos estão nascendo.

   — Mas já?

   — Esses bebês crescem rápido, amor. Vou dar um banho quente nela e depois fazer um mingau, acho que vai melhorar.

   — Deixa que eu dou o banho. — Ele pegou ela. 

   — Tá bom.

Depois que o Adriel deu o banho, ela comeu o mingau com muito custo, eu tive que insistir bastante. 
A febre baixou um pouco, mas ela continuava chatinha. Depois de jantar comida congelada, eu lavei as mãos e comecei a fazer uma leve massagem na gengiva, acho que aliviou um pouco o desconforto.

   — Daqui a pouco ela tá andando. — Adriel disse enquanto arrumava o berço dela.

   — Nem me fale. 

   — Amor, a gente precisa comprar uma casa. Logo ela vai engatinhar, e eu não quero nem pensar nela perto dessa escada.

   — Devíamos ter planejado isso antes, né?

   — Antes tarde do que nunca.

   — E se a gente fosse pro seu apartamento? Lá não tem escada.

   — Mas é muito pequeno, e só tem um quarto. Quando ela crescer vai querer um quarto só pra ela.

   — Você tem razão.

   — Vou vender meu apartamento e escolher uma casa. E depois vamos vender esse.

   — Mas foi o meu primeiro ap.

   — O meu também, mas isso é pela nossa filha. Pensa que vamos ter a nossa primeira casa.

   — Primeira?

   — Claro! Eu também quero ter uma casa na praia, outra no campo, uma chácara e a casa que futuramente vai ser da Helena. — Eu sorri.

   — Uau, vai ser muita coisa.

   — Em breve nós vamos poder pagar por tudo.

   — Se você tá dizendo...

   — Vai tomar um banho, eu coloco ela pra dormir.

   — Ótima ideia. — Dei um beijo na testa dela. — Fica de olho pra ver se ela não vai ficar quente de novo.

   — Tá bem.

Deixei eles no quarto e fui para o banheiro.
Enquanto a água do chuveiro caía em mim, eu pensei no que o Adriel disse. 
Acho lindo ele querer uma casa para nós, com certeza vai ser o melhor para a Helena, mas não sei se estou preparada pra dar esse passo. Quer dizer, nós já moramos juntos, mas esse apartamento é só meu, e se um dia nos separássemos, ele que teria que sair. Mas uma casa nossa? O que vai ser?
Nem casados nós somos. Estamos noivos há quase um ano, e nunca falamos sobre realmente nos casar no papel. Odeio que as coisas estejam indo tão rápido e eu mal consiga acompanhar.

   — É muito grave o que aconteceu com a Luna? — Ele me perguntou assim que deitei na cama.

   — A placenta dela descolou, se ela não tomar cuidado o bebê pode nascer bem antes do previsto.

   — Como isso foi acontecer?

   — Eu encontrei ela caída no chão do banheiro, mas a Malorie disse que a placenta já estava assim antes.

   — Mas a queda agravou?

   — Acho que sim.

   — Ela vai ficar internada até quando?

   — Não tem como saber, ela precisar estar estável.

   — Isso é uma droga.

   — Ela tá péssima, e o Mattias também. Ele tem medo de o bebê nascer e a Luna não sobreviver.

   — Isso não vai acontecer.

   — Mas imagina o medo que ele deve estar sentindo? Ser pai de primeira viagem já é difícil, imagina correr o risco de ser pai solteiro. Se a Luna morrer ele vai surtar, Adriel. Deus queira que nada de ruim aconteça, por que eu conheço o Mattias; ele vai querer culpar alguém, e esse alguém vai ser ele mesmo, ou o bebê, e eu não sei o que vai ser pior.

   — Vai ser muita treta. Não consigo nem pensar em mim cuidado da Helena sozinho. Nem um termômetro eu sei achar.

   — Ei, você é um ótimo pai. — Passei a mão em seu rosto.

   — Porque você me ensinou tudo o que sei.

   — Mas isso foi porque você quis aprender, e quando a gente precisa aprender, a gente consegue, e ele vai conseguir, assim como você.

   — Você tá chateada com isso, né? — Ele pegou minha mão.

   — Eu sou a madrinha do Davi, deveria cuidar dele também. Eu devia ter pegado mais no pé da Luna.

   — Você não podia ter feito nada, Ana. Aconteceu.

   — A Helena é tudo pra mim, e se chegar do trabalho e ver ela com febre já foi assustador, imagina como deve ser pra Luna? Ela precisa de apoio, e eu não soube dar isso.

   — Você tá fazendo tudo o que pode.

   — Você vai se importar se eu revezar com o Mattias pra ficar com ela de noite?

   — Claro que não, pode ficar tranquila, a Helena vai estar segura.

   — Se você precisar trabalhar, eu falo com a Sam, ou com minha mãe. É só que preciso ajudar a Luna de alguma forma.

   — Eu te entendo, tá tudo bem. — Ele me deu um beijinho.

   — Obrigada. — Abracei ele.

 

 

 

 

 

 

 

 

 



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