Eu acordei suada e suspirei aliviada ao perceber que tudo foi apenas um sonho. Um pesadelo. A angústia ainda se fazia presente, beirando a borda dos meus sentimentos e me deixando com um terrível pressentimento de que algo ruim iria acontecer. A imagem dele correndo para longe de mim e me deixando sozinha apertou o meu peito de forma quase dolorosa. Mas ele nunca faria isso comigo, não ele.
— Teve um pesadelo? — Ji Yong indagou e somente a sua voz conseguiu me tirar dos meus pensamentos obscuros. Eu me virei para ele na cama e as lembranças da noite anterior vieram como rajadas, o sorriso apareceu em meus lábios de forma involuntária. Sorri verdadeiramente e me senti grata por ele ter me proporcionado algo tão intenso, tão magnífico.
Os olhos dele estavam mais negros do que nunca e eu pude ver nitidamente a preocupação marcando os traços de seu belo rosto.
— Tive, mas parece que você também teve um pesadelo. — eu acariciei o seu rosto que ainda estava machucado e ele fechou os olhos por um breve momento sob o meu toque. A claridade do dia que invadia o quarto devido às cortinas abertas, o fazia parecer como se fosse um anjo que havia caído do vasto céu. Um anjo ferido.
— Não era para acontecer isso agora. — ele murmurou mais para si mesmo do que para mim, e respirando pesadamente se levantou da cama. — Eu preciso que você se arrume rápido. Eu tenho que te levar a um lugar. — e sem mais dizer uma palavra, ele saiu do quarto.
Narração em terceira pessoa
Mizuhara Kiko havia acordado com um bom humor inabalável. Se sentia incrivelmente bem como há muito tempo não se sentia. Ela estava sentada confortavelmente na primeira classe do avião, bebendo o champanhe em sua taça e sentindo o doce sabor da vingança na ponta de sua língua. Havia ganhado, com apenas poucas tacadas e de forma rápida. Ji Yong realmente achou que iria a trair sem que ela não fizesse nada a respeito? Ela riu, apreciando cada minuto disso. Ele parecia ter se esquecido de que ela era uma mulher que não se descartava e que não se trocava. Ji Yong era somente dela e Kiko não estava disposta a dividir com mais ninguém, ainda mais com uma brasileira que nem ao menos sabia se portar. Como podia uma mulher tão rica como Melissa, ter estampado a pobreza em cada gesto que fazia? Kiko sentia nojo, mas isso só causava ainda mais diversão ao ter a esmagado como uma barata. Melissa iria chorar como uma criança desamparada quando descobrisse toda a verdade e Mizuhara gargalharia durante dias sobre isso. Kiko era perspicaz como uma serpente e havia conseguido descobrir tudo por trás daquela meretriz que se fazia de boa moça. E o que foi necessário para isso? Apenas bebida alcoólica e pressionar T.O.P para que ele contasse a verdade. Kiko havia ficado surpresa e não admitia que de certa forma aquela barata asquerosa iria se dar bem na vida, mas o amor de Ji Yong… Isso Melissa nunca iria conseguir ter. Mizuhara abriu ainda mais o sorriso em seu rosto ao ter relembrado que fez a jogada perfeita. Não foi difícil contratar uma pessoa para que a mesma mandasse quatro ladrões para a mansão. Havia feito de forma sigilosa e em nenhum momento expôs sua identidade, e por fim havia dado todas as informações necessárias. Horários, a senha de segurança da mansão, onde havia o cofre. E depois, foi de imensa facilidade para o detetive que estava sob seu comando tirar as fotos daquela invasão, tirando fotos também de Ji Yong levando Melissa para o apartamento que ele possuía. Aquilo havia feito que Mizuhara ficasse furiosa, e ela não esperou nem mesmo um segundo para entrar em contato com a avó de Melissa. Mandou as fotos anonimamente para o e-mail pessoal que a avó dela possuía, e sentiu uma intensa satisfação ao receber uma resposta de agradecimento.
Mizuhara Kiko saboreou o champanhe de forma elegante e ao olhar para o lindo homem que não desgrudava os olhos dela, fez um leve sinal para que ele a seguisse em direção ao banheiro.
Fim da narração em terceira pessoa
Todo o caminho foi percorrido sob um silêncio terrível, chegando ao ponto de ser constrangedor e confuso para mim. Eu havia feito algo de errado? Ji Yong não havia mais me olhado nos olhos, e nem ao menos me respondido quando eu havia perguntado para onde estávamos indo. Ele simplesmente estava me ignorando, como se eu não estivesse ali bem ao lado dele.
Quando chegamos ao enorme e luxuoso prédio, eu prendi a minha respiração. O que estávamos fazendo na YG Entertainment? Ele estacionou a Lamborghini e eu o segui para dentro, minhas mãos suadas pela ansiedade e curiosidade que me afligia. A bela recepcionista que estava no lobby se levantou imediatamente ao o ver, se curvando em um breve cumprimento e nunca ousando em o olhar diretamente. O respeito era quase que palpável.
— Bom dia. Ela está te esperando no escritório.
— Obrigado.
Nós fomos para o terceiro andar e os poucos artistas que passaram por nós, o cumprimentaram com uma admiração genuína. Logicamente eu apenas recebi olhares curiosos, já que fisicamente era nítido que eu era apenas uma estrangeira. E isso me fez perceber a diferença gritante entre mim e Ji Yong. Como ele havia se interessado por uma mera empregada como eu? Ele é reconhecido mundialmente, um implacável líder que possuía uma extensa fama e tão rico como jamais eu sonharia em ser. Havia conquistado tudo com o próprio esforço, com o talento inigualável que possuía e com sua personalidade ímpar. Eu tinha certeza absoluta que não foi fácil para ele em nenhum momento, pois a fama muita das vezes tinha seu lado sombrio e solitário. Mas ele nunca desistiu, e isso me fez notar que eu também o admirava.
Quando entramos no escritório, fiquei paralisada ao ver a mulher imponente que estava sentada por detrás da mesa. Os olhos tão verdes como os meus, transmitiam dureza e tanta sabedoria que havia me deixado sem ar. O liso e negro cabelo estava preso, dando ainda mais visibilidade para o lindo rosto que ela possuía. Devia ter pouco mais de cinquenta anos de idade, mas estava tão conservada que a pele parecia ser macia como veludo, quase que sem rugas. Meu coração se acelerou em meu peito, e um estranho sentimento de ternura me invadiu. Aqueles traços… Por quê se pareciam tanto com o de minha amada mãe?
— Kwon Ji Yong, mal consigo expressar minha decepção pelo que você fez. Como ousa me atacar tão diretamente, quando fui eu que te ajudei a entrar nessa empresa?
Ji Yong se curvou diante dela, para logo em seguida falar com a voz grave. — Me desculpe por ter te desapontado dessa maneira, senhora Yang.
Yang? O que está acontecendo?! Eu olhei para ela novamente, a tontura ameaçando a afetar minha sanidade. Melissa Yang Furtin, meu nome. Aquilo não era possível.
— Eu te vi crescer, Ji Yong. Eu depositei minha confiança em você. Você me traiu e seu mero pedido de desculpa nunca irá reparar o mal que você me fez. — as palavras direcionadas a ele eram tão duras que eu tive a necessidade de o defender.
— A senhora não acha que isso é o suficiente? — minha fraca voz saiu mais alta do que eu esperava, e vi o corpo de Ji Yong ficar rígido. Ela me olhou pela primeira vez, o contato direto me causando vertigem. Por que ela me afetava dessa maneira?
— Você é mesmo insolente ao ponto de ir contra a sua própria avó e a favor deste homem?! Eu sei que vocês dormiram juntos. Me pergunto o que eu fiz de errado em minha vida para receber uma neta igualmente desrespeitosa como minha falecida filha.
O que?
— Senhora Yang Sun Hee, me perdoe. Isso não voltará mais a acontecer. — Ji Yong se curvou novamente, deixando-me ainda mais aflita diante de toda essa confusa situação.
— O-o que a senhora está dizendo? — minha voz estava trêmula e os meus olhos ardiam. Lentamente a dor surgiu em meu peito, minha mente não conseguindo captar o significado das palavras que aquela mulher havia me dito.
— Você é tão ingênua dessa forma? A foto que eu lhe mandei de uma idosa não era a minha. Tudo foi planejado, Melissa. Eu queria uma prova que você não se interessaria pelo meu dinheiro, eu queria uma prova que você não tivesse medo de trabalhar duro. Por isso que pedi ajuda dele.
Não podia ser. Eu fechei os meus olhos e os abri novamente, as lágrimas escorreram pelo meu rosto e a implacável dor me esmagou por inteira.
— A senhora está me dizendo que eu tive que passar por toda essa humilhação para saciar suas dúvidas? Então eu fui enganada por todos esses anos? A senhora sabe o quanto eu sofri para me virar sozinha no Brasil?! O quanto eu estive sozinha, o quanto eu passei por dificuldades?! Desculpe, mas não tenho como acreditar em uma barbaridade dessas!
Ela suspirou pesadamente, a amargura cintilando em seus olhos. — Não me culpe por isso. Culpe a sua mãe que fugiu para o Brasil por causa de um trapo pobre como seu pai! Eu não poderia confiar em uma estrangeira como você sem antes tomar minhas providências. Entenda que isso foi necessário!
Eu olhei para Ji Yong em busca de conforto, esperando que ele me dissesse que tudo isso não passava de uma brincadeira de muito mau gosto, mas tudo que encontrei foi a máscara de indiferença em seu rosto.
— É tudo verdade. — ele disse friamente, lendo o choque em minha feição.
Senti meu coração se partir em milhares de fragmentos, a dor de ser enganada esmagando cada parte ínfima de minha alma. Por que? POR QUE? A angústia queimou em meu peito impiedosamente, a solidão me tomando para si sem minha permissão e deixando-me quase que sem ar. Por que isso estava acontecendo comigo?
— Posso ir agora? — ele perguntou diretamente para aquela mulher, me ignorando completamente.
— Vá.
Ele saiu do cômodo a passos firmes, como se não estivesse arrependido nem por um milésimo de segundo. Como eu pude me entregar para ele? Ji Yong me teve em suas mãos, e ainda assim não pensou duas vezes em me quebrar por inteira.
Eu o segui, escutando um “Volte aqui!” daquela mulher e a deixei falando sozinha. Meu coração dolorido estava queimando em meu peito, minhas lágrimas molhando o meu rosto e nublando a minha visão. Ele tinha que ter alguma explicação!
Ele estava prestes a chegar no elevador quando o parei. Ji Yong me olhou como se eu não fosse nada, como se eu fosse uma mera desconhecida.
— Por que você fez isso? — indaguei, minha voz carregada de dor.
— Você escutou o que ela disse. — ele estava prestes a se virar, mas o puxei novamente pelo pulso. Ele respirou fundo, como se estivesse tentando manter a paciência. — O que você quer?
— Eu me entreguei para você…
— Acredite, você não foi a primeira mulher que cometeu esse erro. — ele me disse duramente, me causando ainda mais dor com suas terríveis palavras.
Movida pela intensa fúria e pela tamanha dor que sufocava-me, eu dei um forte tapa em seu rosto. Surpresa brilhou em seus olhos negros, para logo em seguida retomar a expressão fria. — Eu odeio o momento em que tive que te conhecer, Kwon Ji Yong.
E sem me dizer uma única palavra, ele se foi. Levando consigo meu coração e deixando-me sozinha na mais profunda escuridão.
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