História Love in Color - Capítulo 5: Say Yes

Finalmente havia concluído os cartoons para a revista na noite anterior, mas diferente dos meus trabalhos anteriores esse não tinha me empolgado tanto, muito pelas exigências e limitações que o roteirista havia me imposto. Só tinha conseguido finalizar as tirinhas depois de várias tentativas e por fim apenas tinha me dado satisfeita com o resultado quando os cartoons atenderam as exigências do roteirista, mas eu tinha contornado a ideia dele e mesclado com os tons que julguei que fariam jus aos desenhos, e ele não teria escolha a não ser aceitar, visto que o prazo para a publicação já estava apertado. Sorri com a ideia que gostando ou não ele teria que acatar o meu toque pessoal aos desenhos se quisesse que a tiragem saísse.

Estiquei os braços alongando-os em seguida, tinha resolvido me levantar cedo já que não havia dormido muito noite passada e permanecer na cama não seria de muita ajuda, então levantei e fui fazer a única coisa que costumava me relaxar quando perdia o sono: desenhar. Tinha brincado com os lápis e as cores despreocupadamente até considerar que já havia movimento o suficiente pelas ruas, o que significava que a editora já estaria aberta.

Me levantei arregaçando as mangas da blusa xadrez que usava até à altura dos meus antebraços, jeans negros e all stars brancos tinham sido minhas outras escolhas, confortáveis o suficiente para passar o dia. Antes que alcançasse pela pasta com os cartoons em cima de minha mesa de trabalho, meus olhos caíram sobre meu caderno de desenho, especificamente sobre o desenho que tinha feito antes de adormecer ontem.

No momento eu tinha esquecido que estava pronta para sair e deixei meu corpo cair sobre a cadeira mais uma vez, minhas mãos agarrando o caderno enquanto meus olhos analisavam aqueles traços que só agora eu me dava conta de quem lembravam. O desenho era de um perfil feminino e tinha usado lápis coloridos para customizar os traços; a linha dos lábios arqueava-se em um sorriso enquanto o olho encolhia-se, a figura no desenho tinha o rosto parcialmente coberto por alguns fios de cabelo. Eu não tinha realmente me dado conta na noite anterior porque teria desenhado aqueles traços, mas agora eu podia ver claramente a quem eles lembravam e por isso havia me surpreendido.

O desenho me recordava Tiffany. Mais que isso, eu a tinha desenhado sem que percebesse o que de fato fazia. O que me surpreendeu ainda mais foi a paleta de cores usadas para preencher o desenho, eu podia jurar que os tons eram semelhantes aos que ela tinha usado na composição do primeiro croqui para a nova coleção da Flyers.

O que aquilo significava? Eu realmente não tinha resposta para aquilo. Eu admitia que Tiffany era linda e até aí tudo bem como a servir de modelo. O que me intrigava era o fato de tê-la desenhado inconscientemente, e mais ainda, de ter usado tons que se assemelhavam aos tons da coleção idealizada por Tiffany, e tons rosados no contorno dos lábios.

Suspirei ao pousar o caderno novamente na mesa. Se fosse ser sincera, tinha que admitir para mim mesma que gostei da ideia da coleção. E tinha gostado da figura de Tiffany. A paixão com a qual ela falava da Flyers, da moda e das artes era admirável. O modo como Tiffany havia passeado pelo meu ateliê, os olhos capturados pelas telas, parecendo estar tentando absorver e criar novas emoções a partir do que via. Eu tinha a observado a todo momento enquanto bisbilhotava o ateliê, e estranhamente não tinha sentido como se ela estivesse invadindo meu espaço, pelo contrário, tinha sido confortável de algum modo. Eu até tinha esquecido que a abusada da Jessica também circulava por ali. Tinha algo em Tiffany que era reconfortante, tanto que eu estava considerando aceitar aquela proposta de parceria.

— O que está pensando, Taeyeon? Esse mundo da moda... novamente? — Murmurei comigo mesma, maneando a cabeça. Depois de tanto tempo evitando tudo e todos nesse mundo... e agora Tiffany aparece com essa ideia de parceria. O pior era que eu estava tentada com aquilo. — Urg! Não vai resolver nada agora, Taeyeon. — Falei ao colocar o caderno novamente na mesa e correr as mãos por meu rosto, um suspiro escapando de meus lábios. Voltei a levantar e estender a mão para a pasta com os cartoons, mas mais uma vez me interrompi, mas dessa vez devido à campainha que soava.

Franzi a testa ao olhar para a porta do ateliê, eu não estava à espera de ninguém. Quem quer que fosse apareceu em má hora e eu ia mandar dar meia volta, já que eu tinha planos de sair e resolver minhas pendências com aquela editora logo. Caminhei com passos duros até a porta, escancarando-a. O movimento tinha sido tão rápido e repentino que o vento chegou a sacudir o cabelo da figura parada a minha porta.

Assim que meus olhos fixaram na figura, eu não consegui encontrar minha voz para mandá-la dar meia volta. Eu não seria capaz de fazer algo do tipo com ela. Tiffany estava parada a minha porta, com uma roupa casual demais para ter ido à Flyers. Calça clara, uma camisa jeans sobre uma regata branca, mocassim azul marinho e uma toca preta na cabeça; os cabelos caídos sobre os ombros dela, a franja posta de lado, enquanto segurava dois cafés e me olhava com um lindo sorriso nos lábios.

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— Bom dia, Taeyeon! — Cumprimento a loira deixando que um sorriso se espalhe por meus lábios assim que ela abre a porta. Taeyeon parece surpresa a me ver e eu dou um pequeno aceno a ela.

— Ti- Tiffany! — Ela murmura depois de limpar a garganta e me dá um leve sorriso.

— Desculpe aparecer sem avisar, estou ciente que não gosta de ser pega de surpresa, mas eu não tinha seu número e não queria ter que pedir à Jess ou a Soo. — Começo a me explicar e sinto meu rosto queimar levemente. — Posso entrar?

— Oh! Claro que você pode! — Taeyeon abre espaço para que eu adentre o ateliê e eu passo por ela com um pequeno sorriso.

Assim que entro no ateliê novamente, meus olhos são fisgados novamente pelas pinturas. Olhei por algum tempo todas elas ontem, mas mesmo agora, parecia que estava vendo-as pela primeira vez. Não consigo evitar me sentir fisgada por aquele espaço e por aquelas cores, tanto que dou mais alguns passos pelo lugar. Quando me aproximo um pouco da mesa de trabalho de Taeyeon, ela se apressa passando a minha frente e fechando os cadernos que estavam espalhados por ali. Tive que morder meu lábio para evitar rir quando a vi suspirar. Precisava recordar que Taeyeon era reservada e eu não podia agir tão impulsivamente assim.

A loira voltou a me olhar com um singelo sorriso, passando a mão pelo cabelo enquanto parecia envergonhada pela ação afoita. Taeyeon abriu a boca para falar algo, mas eu a interrompi.

— Desculpe Taeyeon, eu não queria ser invasiva.

— Você não foi, Tiffany. É só que esses são outros trabalhos e, bem, você entende que é preciso sigilo. — Ela deu de ombros e eu acenei concordando. Taeyeon encostou-se à mesa e pendeu a cabeça para o lado. — Me desculpe e não me entenda mal, por favor, mas... o que veio fazer aqui?

Senti meu rosto ruborizar mais uma vez e desviei os olhos dela para o ateliê novamente. Era uma boa pergunta, da qual busquei respostas durante todo o caminho até ali e ainda não havia encontrado. Apenas tinha acordado com a imagem daquela loira e suas pinturas na cabeça e uma boa sensação de que ela tinha o perfil que eu estava buscando para minha coleção. Taeyeon tinha me intrigado e eu queria conhecer mais do trabalho artístico dela.

— Pensei que seria uma boa ideia conversarmos um pouco mais a respeito das nossas criações artísticas. — Gesticulei com os braços para o ateliê, tomando cuidado ainda para não agitar demais os copos de café em minhas mãos. — E, aliás, esse aqui é seu. — Estiquei um dos copos para ela e dei uma pequena risada com a cara surpresa da loira.

— Pra mim?

— Yeah, um cappuccino especial. — Taeyeon tomou o copo de minha mão, saboreando a bebida em seguida. Sorri quando a vi comprimindo os lábios para esconder a marca do leite.

— Obrigada, Tiffany. Como você –

— Lembrei que você pediu um desses ontem e quando fiz o meu pedido resolvi pegar um para você. — Taeyeon sorriu para mim e eu retribui.

— Bem, muito obrigada mesmo. Agora posso começar o dia realmente.

Apenas quando Taeyeon terminou de falar que eu percebi que ela estava arrumada e provavelmente tinha compromissos.

— Hum, não quero atrapalhar se você precisar sair, podemos falar outro –

— Não! Não atrapalha, Tiffany. Eu só ia deixar alguns cartoons na editora, não é nada que precise de pressa.

— Você tem certeza?

— Claro, não se preocupe. Podemos conversar. — Taeyeon indicou o sofá em um dos cantos do ateliê.

— Será que podemos conversar lá fora? — Apontei para uma das grandes janelas que levavam aos jardins. — O tempo está agradável lá fora e o jardim parece convidativo.

— Claro, fique à vontade. — Taeyeon deslizou as janelas nos dando passagem.

Tomamos nossos cafés em meio a conversas e sorrisos. O jardim sombreado que cercava o ateliê da loira deixava o lugar ainda mais agradável, me passava uma sensação de calma. Taeyeon e eu conversamos sobre nossas formações, há quanto tempo estávamos trabalhando em nossas áreas. A loira me contou que às vezes topava algum trabalho de cartunista e tinha me confidenciado o que havia feito nos últimos cartoons para subverter o que o roteirista havia imposto. Eu não controlei os risos quando vi o olhar travesso que tinha ao falar orgulhosa do feito.

Era fácil conversar com a loira. Conhecíamo-nos há pouco e mesmo Taeyeon sendo mais reservada do que eu, estava grata por ela não ter fechado a porta de seu ateliê para mim. A loira me escutava e ao mesmo tempo tinha algo nela que me deixava à vontade para agir como se nos conhecêssemos há tempo, e a cada sentença crescia a vontade de conhecer, de fato, a outra.

— Hey Taeyeon! Por que Starlight? — Eu estava curiosa para saber o porque por trás daquele nome, era bonito e pelo que vi do talento de Taeyeon, podia apostar que havia um significado especial por trás.

— Houve uma época em que eu não fazia ideia do que fazer com a minha vida, e desde pequena — deixei escapar uma leve risada, a interrompendo — o quê?

— Bem, você continua pequena. — Encolhi os ombros e a loira me olhou indignada. — Desculpe, por favor, continue.

— Bom, quando eu era criança — frisou e dessa vez eu contive a risada — eu costumava ficar horas olhando as estrelas e um dia senti vontade de desenhá-las. Me parecia um infinito desconhecido em que você podia se deixar levar e encontrar explosões de cores, de imagens que seriam únicas e aconteceriam em apenas um instante. — Eu olhava para Taeyeon com meu rosto apoiado em minhas mãos. — Então comecei a desenhar e pintar, e aquilo fez sentido na minha vida, me mostrou um caminho a seguir, algo que despertava minhas emoções e me fazia entrar em contato comigo mesma. — Ela franziu a testa antes de soltar um riso. — Isso faz sentido?

— Muito sentido! A arte tem dessas... Nos deixa em contato com o que há de mais íntimo em nós. — Taeyeon acenou afirmando. — Agora entendo por que você gosta tanto de desenhar Supernovas. — Pisquei para ela, arrancando uma risada da loira.

— Mantenha em segredo, por favor.

— Sabe, é justamente isso que busco na minha nova coleção. — Taeyeon acenou para que eu continuasse. — A ideia é próxima à metáfora de uma Supernova. É uma imagem bonita e poderosa o que representa uma Supernova. Como o estágio final de uma estrela é tão intenso que há uma explosão, que espalha luz e brilha tão intensamente que faz surgir a possibilidade de novas estrelas. — Vejo Taeyeon sorrir para mim. — Acredito que talvez deixar que nossos sentimentos e o modo como olhamos a vida encontrem e explodam em Supernovas é o grande mistério a desvendarmos em nós mesmos. — Maneio a cabeça, deixando um suspiro escapar dos meus lábios. — Faz sentido?

— Muito sentido, Tiffany! — A loira repete minha fala anterior e nós sorrimos.

— É por isso que eu acho que uma parceria entre nós daria certo, Taeyeon. — Ela abre a boca, mas volto a interrompê-la. — Veja, eu realmente gostei do que vi em suas pinturas. É diferente dos outros artistas plásticos que encontrei, e francamente, eu gostei de você enquanto apenas... você. — Senti minhas bochechas ruborizarem e dei um pequeno sorriso quando vi as de Taeyeon se tingirem um pouco também. — Eu sei que tem suas reservas ao meu mundo da moda, mas eu realmente acho que isso poderia dar certo.

— Mas... bem, a Jessica também pensa assim? Do jeito que é implicante e abusada. — Resmungou me fazendo rir.

— Não se preocupe com a Jess, dela cuido eu. — Taeyeon riu antes de manear a cabeça. — Mas se você quer saber, ela também vê o quanto o seu perfil artístico combina com a nossa nova coleção. — Confidenciei. — Não diga que eu te contei, mas... ela também vê o quão talentosa você é. — Acompanhei as risadas de Taeyeon.

— Eu não sei o que dizer, Tiffany. A proposta é –

— Não diga nada agora. — Me levantei da mesa, Taeyeon me seguindo. — Apenas pense no que conversamos, e pense com carinho. — Eu tinha caminhado novamente para o ateliê, sinalizando que estava saindo, parei na porta para me despedir de Taeyeon. — Eu volto a dizer que adoraria que a Flyers e o Starlight se tornassem parceiros nessa. Acredito que nós duas podemos ter algo grandioso, Taeyeon. Então, pense, por favor!

— Ok, Tiffany, você tem minha palavra que pensarei a respeito.

— Ótimo! — Espalmei minhas mãos antes de acenar para a loira e abrir a porta do ateliê. Quando alcancei as escadas, virei o corpo um pouco para ver Taeyeon recostada no vão da porta, olhando para mim. — Pense e depois venha e me diga sim! — Pisquei para ela e ouvi a risada de Taeyeon reverberar às minhas costas.

Quando alcancei meu carro, ainda acenei uma última vez para a loira que continuava no mesmo lugar, com um sorriso em minha direção. Mesmo enquanto me distanciava do Starlight, o sorriso não tinha deixado meus lábios. A sensação boa que tive ao acordar tinha aumentado, assim como a ideia que Taeyeon tinha justamente o que vinha procurando a todo aquele tempo.

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Já era mais da metade da manhã e nenhum sinal de Tiffany. Minha melhor amiga e sócia tinha aparentemente ignorado os compromissos da Flyers e a mim porque não atendia o celular. Eu havia insistido, e até mesmo amedrontado um pouco, Lee para que me dissesse onde Tiffany havia se enfiado, mas a mulher insistia em alegar que não tinha conhecimento de nada. Tinha perdido a paciência e resolvido a deixar em paz, por enquanto. Mas se eu descobrisse que Lee estava acobertando Fany, quanto a mim ela entregava... as coisas não iam acabar muito bem.

Estava no escritório de Tiffany, esparramada no sofá que havia ali enquanto desfrutava dos bombons de chocolate que ela tinha ali. Já que minha amiga não dava às caras, eu me aproveitaria dos preciosos bombons dela.

Tiffany era sempre a primeira a chegar à Flyers e sabendo que ela não havia feito isso hoje, só poderia significar que ela estava envolvida com a Flyers de outra maneira. E considerando a nossa atual situação, podia apostar que tinha algo relacionado com aquela baixinha teimosa.

Suspirei deixando a caixa de bombons sobre a mesinha e voltando a me esticar no sofá. Era em momentos como aquele que eu não gostava muito da intensidade que Tiffany tinha. Eu admirava a determinação dela de conseguir o que queria, mas nem sempre concordava com o que Tiffany queria, ainda mais se ela se deixasse guiar pelas emoções. Naquela nossa relação, por vezes Tiffany mergulhava em apostas com o coração, enquanto cabia a mim mergulhar com a cabeça. Nós equilibrávamos uma a outra e por isso que eu detestava quando ela me deixava no escuro.

Meus olhos foram atraídos para a porta do escritório, Tiffany finalmente havia chegado. Continuei deitada observando minha amiga entrar no escritório. Ela caminhou direto para a mesa, não percebendo que eu estava ali. Vi que Tiffany tinha um sorriso leve nos lábios e que diferente dos dias anteriores parecia estar mais leve. Arqueei a sobrancelha para aquilo. Gostava de vê-la assim, mas mudanças tão repentinas ainda me deixavam receosa.

Aproveitei que Tiffany estava de costas para mim e me sentei no sofá, cruzando os braços enquanto me recostava. Ela estava distraída e eu tinha um sorriso maldoso no rosto.

— Isso são horas de aparecer no trabalho, Hwang?

Tiffany se sobressaltou e me olhou com os olhos arregalados antes de levar a mão ao peito e tentar controlar a respiração. Soltei um pequeno riso com a expressão dela.

— Por Deus, Jessica! Não precisava me assustar assim! — Reclamou me fuzilando com o olhar.

— Você me fez esperar, tinha que me vingar de alguma forma. — Dei de ombros e vi Tiffany revirando os olhos. — Onde estava?

— Quando vai parar com essa mania de invadir meu escritório assim? — Apontou o dedo para mim. — E outra coisa, você sempre chega atrasada à galeria, não pode me julgar, Jung.

— Mas justamente por isso que você precisa estar aqui, Hwang. Enquanto eu estou dormindo, alguém precisa manter as coisas por aqui sob controle. — Pisquei para ela e vi Tiffany maneando a cabeça.

— Você é incorrigível, Jess. — Tiffany tinha se acomodado em sua poltrona e começado a verificar a agenda do dia.

— Ainda não respondeu minha pergunta.

— A qual?

— Onde estava? — Repeti sem tirar os olhos dela. Tiffany parou o que fazia e me encarou.

— Estava com a Taeyeon.

— Por quê? — Tiffany revirou os olhos e voltou a olhar o computador.

— Fui conversar um pouco mais com ela sobre a proposta da nossa parceria. — Assim que ela terminou de falar foi a minha vez de revirar os olhos e soltar um muxoxo. Eu deveria ter imaginado. — Pare de resmungar, você sabe que a Taeyeon é talentosa e tem o perfil que queríamos.

— Realmente acha que a Kim é uma boa ideia para a coleção? — Vejo Tiffany voltar a me encarar. Nós ficamos nos olhando por alguns segundos até que enfim minha amiga suspira e caminha em minha direção, sentando-se ao meu lado.

— Eu realmente acho, Jess. Das telas e desenhos que vi e do que viemos conversando, eu realmente acredito que a Taeyeon é a artista que procurava. Se depender de mim, nós temos a nossa parceria. — Suspiro e apenas aceno para Tiffany. — Você não acha que daríamos certo?

— Eu tenho que admitir que ela é talentosa, mas certamente aquele gênio dela ainda me tirará do sério. — Resmungo e escuto Tiffany rir ao meu lado. Faço uma careta para minha amiga e ela me empurra um pouco para o lado.

— Francamente Jess, acho que você e a Taeyeon são mais parecidas do que imagina. — Tiffany cutuca minhas costelas e eu me afasto das mãos dela, me levantando do sofá.

— Você me respeita, Fany ah! — Puxo a toca dela para baixo, cobrindo-lhe os olhos e caminho rapidamente em direção à porta do escritório. — Eu não sou nenhuma baixinha que vive de pijamas por aí. — Escuto a risada de Tiffany quando alcanço a porta, mas paro me virando antes de sair. — Ah! Obrigada pelos bombons. — Mando um beijinho para Tiffany e a vejo enfim notando a caixa de bombons na mesinha e deixando o queixo cair em seguida.

A última coisa que escuto quando deixo o escritório de Tiffany é a voz alterada dela chamando meu nome e dizendo que vai ter volta. Estou rindo suavemente quando tomo o caminho do meu escritório. É bom ver Tiffany mais descontraída, e espero que as coisas continuem assim, porque eu não quero vê-la decepcionada por causa de Kim Taeyeon, ou então as coisas vão ficar feias por aqui.

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Eu só podia estar mesmo muito embasbacada diante de tudo o que vinha acontecendo porque por mais que eu tentasse, volta e meia meus pensamentos voltavam para aquela proposta de parceria, voltavam para Tiffany. Ela tinha um jeito muito singular de olhar para as coisas. Tiffany me parecia ser aquelas pessoas que se deixavam guiar pelas paixões, que sentiam intensamente ao ponto de se permitir queimar pelas emoções e de uma forma poderosa.

Foi o que senti ao conhecê-la. A paixão com a qual ela falava da moda e das artes, o envolvimento com os projetos da Flyers, as formas de se sentir tocada pela pintura... ouvir Tiffany falar me transmitia uma sensação calorosa. Os olhos e o sorriso dela também transmitiam essa chama de forma gentil e intensa.

Ao longo de todo o trajeto até à Flyers, eu tinha repassado a nossa conversa pela manhã. Não podia negar que o que havíamos falado fazia sentido para mim. Eram poucas as pessoas com as quais eu conseguia compartilhar algo tão sincero e que acreditava. Ainda estava insegura com todo aquele cenário, afinal a imperiosidade da Flyers era nítida e eu já sabia que enveredar por aquele mundo da moda não era dos trajetos mais fáceis. Os holofotes sobre si poderiam cegar, deixando-se perder do que realmente importava.

Mas conhecer Tiffany havia despertado em mim uma curiosidade e talvez, apenas talvez, daquela vez fosse diferente. Talvez apostar novamente pelo mundo grandioso da moda e das grandes artes plásticas não fosse de um todo mal, pelo contrário, talvez apresentasse grandes e belos caminhos a serem trilhados. Era preciso coragem, afinal.

Era com esse pensamento que eu circulava pelos pisos da galeria. Antes que me apresentasse à recepção, eu tinha resolvido circular pelo lugar novamente. Tiffany havia me apresentado aos espaços da Flyers, e dessa vez eu tinha refeito todo o caminho por entre as seções, buscando conhecer um pouco mais daquele lugar, se eu iria me aproximar daquele universo.

Era indiscutível a beleza e genialidade do que Tiffany e Jessica haviam criado. E pensar em uma parceira com aquele império ainda era motivo de incerteza para mim. Eu não queria que a finalidade das minhas criações fosse apenas comercial, eu queria que afetassem e tocassem às pessoas. Era aquela a semelhança que eu havia encontrado com os ideais de Tiffany e o que vi com a proposta da nova coleção... aquela coleção não seria apenas mais um grande desfile para o catálogo da Flyers, era algo a mais... especialmente para a mulher que havia idealizado.

Tinha parado novamente em frente à parede revestida de fotografias. Aquele era um dos espaços mais impressionantes da galeria, fosse pela quantidade enorme de fotografias, fosse pela beleza da composição. Era um grande e belo retrato da história da Flyers. Meus olhos vagavam novamente por aquele cenário até que um retrato específico capturou toda a minha atenção.

Era uma fotografia de Tiffany. Uma na qual ela não tinha pousado diretamente para as lentes, mas o momento havia sido registrado de maneira fantástica, como se fosse quase palpável o sentimento que a imagem transmitia. A foto tinha como plano de fundo o oceano e Tiffany tinha um sorriso radiante nos lábios enquanto olhava encantada para o céu, os cabelos revoltos provavelmente pela brisa, os braços levemente suspensos... Era um lindo registro de um momento, talvez, de liberdade.

Estava tão absolvida naquela fotografia que não fazia ideia de quanto tempo estava parada ali apenas olhando-a. Apenas me movi quando senti meu corpo estremecer ao som daquela voz. Ainda estava parada em meio à escada quando notei Tiffany há alguns degraus de onde eu estava.

— Taeyeon? — Ela murmurou com uma expressão surpresa.

Eu a encarei durante alguns segundos antes de sorrir levemente para ela.

— Eu também não tinha seu número e também achei mais apropriado dizer isso pessoalmente, Tiffany.

— Do que está falando? — Meus lábios arquearam-se com a testa franzida dela, os olhos de Tiffany diminuíam quando ela fazia isso.

— Vim te dizer sim, Tiffany.

Observei admirada quando Tiffany percebeu a implicação do que havia dito. Como se fosse em câmera lenta, eu vi o sorriso eternizado na fotografia se materializar em toda sua vivacidade e cores possíveis a minha frente. O sorriso radiante que Tiffany me lançou ao compreender o que minha frase significava me fez acreditar mais ainda que, talvez, aquela fosse sim uma boa nova aposta àquele universo.