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História Love Inside Out - Obrigada por ser tão bom para mim


Escrita por: jaimencanto

Capítulo 10 - Obrigada por ser tão bom para mim


               Fernando olhou em seu relógio no momento exato em que Omar bateu à porta de sua sala como fazia todos os dias no horário de almoço.

- Já está liberado? – Omar perguntou após abrir a porta.

- Sim. – Fernando desligou a tela do computador e se levantou, tirando o terno.

- Então, vai comer alguma coisa hoje ou vai ficar só no suco como tem feito nessas ultimas semanas?

- Não. Acredite ou não, hoje estou com fome.

- Ah! Que bom!

               Fernando o acompanhou e juntos saíram da empresa, caminhando pela calçada em direção ao restaurante. Omar falava sobre o seu dia exaustivo no trabalho, mas Fernando apenas escutava. Não tinha o que reclamar daquele emprego, embora estivesse totalmente sobrecarregado com trabalhos da faculdade, tendo que dormir de madrugada todos os dias. Seus dias estavam pesados e cansativos, mas ele jamais reclamava. Ao menos tinha um emprego e estava indo bem na faculdade. Mas, havia algo que o preocupava mais do que qualquer coisa, e era a única coisa que tirava seu sono durante aquelas ultimas semanas. Letícia continuava péssima.

- Então... Vai pedir o que? – Omar olhou no cardápio assim que sentaram-se à mesa.

- Pode ser o mesmo que você.

               Omar o olhou por cima do cardápio e deu um longo suspiro, fechando-o logo depois.

- Sei que pergunto isso todos os dias, e todos os dias você nega. Mas... Você quer conversar?

               Fernando o olhou mas não respondeu.

- Olha, Fernando. Somos amigos há muitos anos, e em todos esses anos eu nunca vi você tão desanimado e quieto. Eu sei, você tem motivos para isso. Mas... Irmão, você não pode guardar tudo para você. Precisa desabafar!

               Ele sabia que Omar tinha razão, e já estava ficando realmente insuportável guardar todos os problemas para si mesmo. Em sua cabeça, ele não queria ficar enchendo a cabeça dos amigos e família com seus problemas, embora todos eles se preocupassem com a situação em que Letícia e ele se encontravam. Mas, Fernando chegou à um ponto de não conseguir mais guardar tudo para si mesmo, ou sentiria que iria explodir.

- Como estão as coisas na sua casa? – Omar perguntou, notando que ele estava lhe dando abertura para perguntar sobre isso.

- Estão... Na mesma. – Fernando escorou-se à mesma. – E eu já não sei mais o que fazer. Eu tento conversar com ela, tento fazer algo para agradá-la, mas nada funciona. Ela passa o dia inteiro trancada no quarto, não está comendo direito. Maria e eu já não sabemos mais o que fazer! Nem mesmo a livraria está animando ela. Carolina já foi lá em casa várias vezes nesses últimos dias, tentando animá-la com a notícia da inauguração, mas... Não adianta. – Ele deu um longo suspiro. – Eu já estou começando a me sentir um inútil.

- Não fala assim. Você está fazendo tudo o que pode.

- Mas não está sendo suficiente.

- Nós já sabíamos que seria assim...

- Mas eu não sabia que duraria tanto tempo. Quero dizer, eu também continuo abalado com o que aconteceu. Me sinto triste, desanimado, mas eu estou tentando. Já Letícia está tão desanimada que nem tentando ela está, e isso me deixa péssimo!

- Sabe o que você deveria fazer? Chamá-la para sair.

- Eu já tentei. Ela sempre diz que não está animada para esse tipo de coisa.

- Talvez deva convidá-la para um lugar mais... Calmo.

- Já tentei de tudo, Omar. Tentei chamá-la para irmos ao cinema, até mesmo dar uma volta na praia, mas ela se nega a sair de casa. Ontem eu e a mãe dela insistimos para ela sair, fazer alguma coisa. Eu me disponibilizei até mesmo à faltar de aula, mas ela se negou. Eu tenho muito medo disso. Medo do que isso pode ter como conseqüência. Ela pode até adoecer, Omar.

- Continue insistindo, Fernando. Em algum momento ela vai ceder. Você precisa pensar em uma maneira de fazê-la entender que o que aconteceu foi horrível, mas que ela tem que se esforçar para ficar bem, ou tudo vai continuar... Perdão pela palavra... Uma merda!

               Fernando o olhou pensativo.

- Tente animá-la de alguma maneira. Leva flores, não sei...

- Eu... Acho que já sei o que vou fazer. – Fernando sorriu pela primeira vez em muito tempo.

 

 

 

•••

 

 

               Encarar o teto e respirar eram as únicas coisas que Letícia fazia grande parte do seu dia. Não porque queria continuar assim, mas porque não tinha ânimo para fazer qualquer outra coisa. Ela não tinha forças nem mesmo para se esforçar à ficar bem, e isso a chateava. Tinha pena de seus pais e dos pais de Fernando, que estavam preocupados. De Stella e Carolina que estavam visitando-a freqüentemente na tentativa de animá-la. De Maria, que passava grande parte do dia forçando-a à comer alguma coisa. Mas, principalmente, tinha pena de Fernando, que estava se esforçando mais do que qualquer um para que Letícia saísse daquela situação. Ele fazia o possível para agradá-la, para tentar animá-la, mas no fim, quando Letícia sentia-se pronta para continuar tocando sua vida, uma voz em sua cabeça dizia que isso não seria possível.

- Lety? – Maria parou a porta do quarto, segurando uma bandeja. – Você precisa comer.

               Lety não discutiu. Apenas sentou-se à cama e esperou que Maria se aproximasse, colocando a bandeja sobre a cômoda.

- Sua mãe ligou outra vez. – Maria disse. – Pediu para você ligar para ela assim que possível.

- Obrigada. – Respondeu desanimada, encarando a torrada. – Desculpe por estar sendo uma pedra no sapato nesses últimos dias.

- Não diga isso, menina. – Maria sentou-se à cama. – Todos nós sabemos muito bem que você tem motivos para ficar assim. Nós só queremos que você fique bem, e estamos fazendo o possível para isso.

- Eu sei. – Ela sorriu triste. – E é por isso que me sinto ainda mais culpada. Não faço de propósito ou de pirraça, Maria. Eu realmente queria ao menos tentar ficar bem. Mas, parece que algo me impede disso.

- Eu posso imaginar. Mas, não pense dessa maneira. Você precisa pensar que ainda tem uma vida inteira pela frente. Você tem uma família que te apóia, tem amigos que te adoram, e tem um marido que te ama, e ele está fazendo tudo por você.

- Eu sei. – Seu sorriso aumentou. – E eu sou muito grata por isso. Fernando tem sido um anjo.

- Eu disse para você que quando o conhecesse melhor perceberia que ele é uma pessoa maravilhosa. – Maria sorriu. – Agora você está vendo o que eu sempre vi, apesar de todas as farras e bebedeiras.

- É, tem razão. Queria não ter demorado tanto tempo para perceber isso.

- Serei sincera com você. Eu nunca imaginei que Fernando um dia fosse amar tanto uma mulher a ponto de fazer tudo o que ele faz por você. E olha que eu o conheço desde quando ele era criança. Eu me surpreendo todos os dias com o que ele faz por você.

               De certa maneira, aquilo pesou ainda mais a consciência de Lety. Pensar que Fernando era tão bom para ela, até mais do que ela merecia, fez com que ela se sentisse culpada. Ela precisava ao menos se esforçar, não apenas por ela, mas também por Fernando. Enquanto conversavam no quarto, Lety e Maria foram surpreendidas com a chegada de Fernando.

- Oi! – Ele sorriu parado à porta.

- Você chegou cedo. – Maria comentou, levantando-se.

- Eu pedi para sair mais cedo. Tinha umas horas extras por ter trabalhado no sábado passado.

               Letícia sorriu olhando-o.

- Estou atrapalhando a conversa?

- Não. – Maria respondeu rapidamente. – Eu já estava de saída. Preciso terminar de arrumar a cozinha. – Ela virou-se para Lety. – E coma, menina.

- Obrigada, Maria. – Letícia sorriu.

               Maria piscou para ela e seguiu para a porta do quarto. Ela apertou a bochecha de Fernando e logo depois os deixou a sós. Fernando adentrou o quarto e sentou-se ao lado de Lety na cama.

- Como está hoje? – Perguntou.

- Acho que posso dizer que estou melhor. – Ela suspirou. – Ou ao menos quero estar.

- Isso já é um grande passo. – Ele sorriu, segurando sua mão. – Depois que você terminar de comer, quero que se arrume.

- Me arrumar? Por quê?

- Vamos sair.

- Fernando... Eu juro que estou querendo me esforçar, mas...

- Não vamos fazer um simples passeio. Acredite em mim, você vai gostar.

               Ela o olhou pensativa.

- Mas, precisa comer antes. – Ele pegou uma torrada que estava no prato e a colocou diante da boca de Lety. – Vou precisar fazer cócegas para você abrir a boca?

               Ela riu.

- Não. Eu consigo comer. – Ela abriu a boca e mordeu um pedaço da torrada.

- Ótimo! – Fernando sorriu satisfeito.

               O sorriso de Letícia diminuiu e ela o olhou com pesar.

- Eu queria... Me desculpar com você.

- Comigo? Por que? – Ele perguntou confuso.

- Você tem se esforçado tanto durante esses dias para me animar...

- E eu continuarei me esforçando até vê-la bem.

- Eu sei que já faz quase um mês, mas... Eu realmente quero ficar bem. Não apenas por mim, mas por você também. Eu deveria estar sendo forte para te apoiar do mesmo jeito que você me apóia, mas na verdade estou sendo o contrário disso.

- Não pense assim, amor. Por favor. – Fernando tocou em seu rosto. – O que eu mais quero é que tudo fique bem, só isso.

               Letícia sorriu, colocando sua mão sobre a dele.

- Agora... Coma tudo. Estou ansioso para te levar à um lugar.

- Está bem. – Ela pegou outra torrada.

- Vou esperá-la lá em baixo, tudo bem?

               Com a boca cheia, ela apenas confirmou.

 

 

 

•••

 

 

 

               Letícia não fazia idéia de onde Fernando estava levando-a. As únicas coisas que ele lhe disse antes de sair foram “tenho certeza que você vai gostar” e “vai ser uma experiência incrível”. Ela pensou em várias hipóteses: um lugar romântico na praia, uma praia deserta descoberta por ele onde ele havia colocado o nome de “Letícia”, e entre outras hipóteses que envolviam a praia, já que ela sabia o quanto Fernando sentia-se calmo em lugares assim. Mas, quando ele pegou um caminho totalmente contrário da praia, ela perdeu totalmente a noção de onde estavam. Não que ela costumasse andar por toda a cidade e conhecia todos os lugares possíveis, mas ela definitivamente não sabia para onde estavam indo.

               Apenas depois de alguns minutos, quando Fernando estacionou a moto e a ajudou a descer, ela percebeu onde estavam. Mas, ainda não entendia o motivo de estarem ali.

- Onde estamos? – Ela perguntou ao tirar o capacete.

- Se lembra que eu contei sobre um trabalho da faculdade? Que estamos fazendo em um hospital?

- Sim!

- Nós viemos aqui há alguns dias. – Fernando tirou as chaves da moto e passou o braço pelos ombros de Letícia. – Vou levar você para conhecê-lo.

               Letícia olhou para o grande hospital em sua frente, e observou o nome do hospital: Hospital do Câncer I. Ela entendia que Fernando estava fazendo um trabalho sobre isso, e que já havia visitado alguns hospitais. Mas, ela ainda não entedia o porque dele levá-la até ali. Quando caminharam em direção ao hospital e seguiram para a recepção, ela logo percebeu o quanto Fernando era conhecido, mesmo sem saber como em tão pouco tempo alguém se tornasse tão “popular”

- Fernando! – A recepcionista exclamou sorridente.

- Como vai, Stephanie? – Ele sorriu, apoiando-se ao balcão.

- Não esperava sua visita hoje. Onde estão os outros?

- Ah, hoje não vim pela faculdade. Vim para um motivo mais especial. – Ele olhou para Letícia, que ainda estava um pouco afastada. – Essa é a minha esposa, Lety.

- Muito prazer! – Ela sorriu.

- O prazer é meu. – Letícia se aproximou, sorrindo.

- Sei que não marquei uma visita hoje... Mas será que não poderia abrir uma excessão só por hoje? Por favor! – Ele choramingou.

- Olha, você sabe que por mim, você pode fazer o que quiser aqui.

               Fernando riu e Letícia sentiu uma pontada de ciúmes.

- Mas, sabe que precisa falar com o Doutor Gomes antes. Ele que é o encarregado.

- Sei... E ele está por aí? Está livre agora?

- Deve estar voltando do horário de almoço agora.

- Às cinco da tarde?

- Acostume-se. Se quiser ser como ele, saiba que não tem um horário fixo de almoço.

               Fernando sorriu satisfeito.

- Estou preparado para isso.

- Eu sei que está.

               Outra mulher chegou à recepção e olhou animada para Fernando, assim como a outra.

- Fernando! Que surpresa!

               Letícia observou o quanto Fernando era querido por todas as pessoas em sua volta, e sentiu-se a mulher mais sortuda de todas. Apesar de tudo, ele a escolheu para estar ao seu lado, e ela deveria se orgulhar disso.

- Ah! Olha ele aí! – Uma das mulheres apontou para um médico que se aproximava.

- Ah! Fernando Mendiola! O que faz aqui? – Ele sorriu, cumprimentando-o animado.

- Vim fazer uma surpresa. – Ele olhou para Letícia. – Essa é a minha esposa, Lety.

- Então essa é a famosa Letícia que todo mundo ouviu falar? – Ele sorriu, esticando sua mão em sua direção. – É um prazer finalmente conhecê-la.

- Igualmente. – Letícia sorriu apertando a mão dele.

- Doutor, será que... Não podemos fazer uma rápida visita hoje? Eu queria apresentar as crianças para a Lety.

               O médico o olhou sorrindo.

- Você sabe que as crianças te adoraram, não é? Não sou capaz de negar isso.

               Fernando sorriu animado e olhou para Lety.

- Fiquem à vontade. Não vou poder acompanhá-los agora, mas logo apareço por lá. Sei que elas estão em boas mãos.

- Obrigado, Doutor. – Fernando novamente apertou sua mão.

- Até logo.

               Fernando olhou para Letícia, empolgado.

- Agora, você vai ter uma das experiências mais emocionantes da sua vida. Está pronta?

- Estou! – Ela respondeu sorridente.

               Ver a empolgação de Fernando também a deixou animada, embora ela ainda se perguntasse o que fariam ali. Fernando a guiou por um corredor, até pararem de frente à uma enorme porta no fim do corredor. Assim que ele abriu a porta, Letícia pôde ver uma sala cheia de crianças, cada uma em sua cama. Assim que as crianças perceberam que ele estava ali, as que podiam se levantaram imediatamente de sua cama e correram na direção de Fernando, que as cumprimentou animado. Elas comemoravam sua visita como se esperassem por isso a semana inteira, e aquilo encheu o coração de Lety de felicidade. O carinho que ele tratava todas aquelas crianças era uma coisa magnífica de se ver.

- Eu disse que ele viria! – Um garotinho disse animado.

- Onde esta o seu nariz de palhaço, Fernando? – Alguém perguntou.

- Hoje eu não o trouxe. – Ele olhou para Lety enquanto era bombardeado por perguntas e por abraços. – Eu vim para apresentar uma pessoa especial para vocês.

               Todas as crianças voltaram sua atenção para Letícia, que ainda estava parada à porta sem saber o que dizer ou fazer.

- Crianças, essa é a Lety.

               Elas continuaram olhando-a, esperando que ela dissesse alguma coisa. Mas, sem conseguir pensar em nada para dizer, ela apenas acenou para todas, sorrindo. As crianças gargalharam e foi a vez de Letícia ser bombardeada com perguntas.

- Você é medica?

- Quantos anos você tem?

- Você e Fernando são namorados?

- Muito bem! – Fernando disse. – Não vão assustá-la no primeiro dia, não é? Agora, vamos todos voltar para suas camas que nós vamos conversar um pouco.

               Imediatamente todas as crianças que estavam de pé voltaram correndo para suas camas. Letícia notou que nem todas as crianças estavam fortes suficiente para correr e pular como as outras, e isso doeu o seu coração. Algumas estavam ligadas à aparelhos, outras estavam com lenços na cabeça. Mas, havia algo que todas elas compartilhavam entre si: o sorriso no rosto. Não havia uma criança sequer que não estava sorrindo.

- Então... Hoje eu trouxe a Lety aqui porque ela vai fazer uma coisa especial. – Fernando disse caminhando entre as camas das crianças. – Ela vai contar uma história. Vocês gostam de histórias, não é?

- Sim! – Responderam todas animadas.

               Letícia olhou assustada para Fernando. Não estava preparada para isso.

- Mas, a Lety é um pouco tímida. Então vocês precisam convencê-la de fazer isso. O que sugerem?

- Vamos dar muitos abraços até ela perder a timidez. – Sugeriu uma garotinha.

- Não! Vamos cantar uma musica! – Outro garoto disse.

               De repente, várias crianças começaram a dar sugestões, e Letícia riu, sentindo-se animada.

- Ah! Olhem só! – Fernando as interrompeu. – Ela está rindo! Acho que deu certo.

               As crianças comemoraram.

- Então... O que acha de contar uma história agora? – Fernando a olhou sorrindo.

- Tudo bem. – Lety concordou mais rápido do que ele imaginava. – Qual história querem ouvir? – Ela perguntou às crianças.

- Conto de fadas!

- Não! Aventura!

- Que não tenha romance, argh!

               Lety riu e Fernando rapidamente puxou uma cadeira, para que ela sentasse ao centro da sala. Assim que ela sentou-se, Fernando se juntou à uma das crianças, sentando-se ao lado dela. Letícia olhou em sua volta e percebeu que todas as crianças estavam animadas e ansiosas por sua história, inclusive Fernando, que não parava de sorrir enquanto a olhava. Pela primeira vez depois de todos aqueles dias de angustia e tristeza, Letícia sentiu-se bem.

- Bom... Então vamos lá. – Ela ajeitou-se à cadeira. - Era uma vez...

 

 

•••

 

 

 

- E então... O príncipe e a princesa viveram felizes para sempre! – Letícia finalizou a história, e todas as crianças aplaudiram.

               A história teve um pouco de cada coisa. Aventura, ação e romance, do jeito que todas as crianças pediram. Fernando a aplaudia entusiasmado, surpreso de como Lety havia se saído bem. Ele não esperava que ela fosse se sentir tão à vontade.

- Eu tenho uma pergunta! – Uma das meninas levantou a mão e todos a olharam. – Fernando é o seu príncipe?

               As meninas riram envergonhadas e os garotos torceram a boca. Lety e Fernando riram e se olharam.

- Ele é sim. – Lety respondeu sorrindo.

               Houve um murmúrio entre todas as crianças.

- E o que vocês acham disso? – Fernando perguntou, levantando-se e aproximando-se de Lety.

- Eu acho que vocês poderiam ser o rei e a rainha desse hospital. – Uma das garotas sugeriu.

- Eu também acho!

- Eu também!

- Então... Já que desejam... – Fernando estufou o peito e segurou a mão de Lety. – Declaramos que Lety e eu somos o rei e a rainha desse reino.

               As crianças gargalharam.

- E eu irei dizer nossas regras.

               Elas se calaram, olhando-o com atenção.

- A primeira é: Rir até a barriga doer.

               As crianças aplaudiram.

- A segunda é: Brincar sempre!

               Mais uma vez elas aplaudiram.

- E a terceira e a principal: Sorrir sempre!

               As crianças comemoraram, e Letícia levantou-se sorrindo. O médico abriu a porta da sala e percebeu a empolgação das crianças, sorrindo satisfeito.

- Que animação! – Ele exclamou, aproximando-se dos dois. – Bom... Eu sinto muito acabar com isso, mas as crianças agora precisam descansar.

- Ahhhh... – Todas exclamaram desanimadas.

- Mas eu tenho certeza que eles voltaram mais vezes, não é Fernando?

- Claro que sim! – Ele disse animado.

- Fernando! – Uma garotinha caminhou até ele. – Será que você também não pode ser Doutor para cuidar da gente?

               Ele sorriu emotivo.

- Em breve. Mas até lá, vocês todos já estarão curados. Mas podem vir me ajudar com as visitas.

               Elas riram.

- Então... Todos se despeçam do Fernando e da Lety para eles voltarem mais vezes. – O médico disse.

               Novamente as crianças se levantaram e correram até eles. Dessa vez, também abraçaram Letícia, e ela sentiu-se ainda mais feliz enquanto retribuía o abraço de todas. Depois de se despedirem, os dois saíram da sala acompanhados pelo médico, e assim que fechou a porta, ele olhou satisfeito para Fernando.

- Essas visitas fazem muito bem à elas. – Ele disse orgulhoso. – E aposto que todas gostaram de você, Lety.

- Eu também gostei muito de todas elas. – Ela sorriu.

- Você pode dizer aos seus colegas de classe para voltarem mais vezes, Fernando. É muito importante para elas receberem esse tipo de visita.

- Eu direi com certeza. – Fernando sorriu.

- E você também é bem vinda para voltar aqui, Lety.

- Seria uma honra.

- Sabe de uma coisa? Esse cara aqui vai ser um maravilhoso profissional. – Ele bateu no ombro de Fernando. – Eu tenho certeza disso.

               Letícia sorriu orgulhosa.

- Eu também!

               Fernando a olhou sorrindo.

- Então... Agora preciso cuidar das crianças. Nós nos vemos depois...

- Ah! Doutor... – Fernando o chamou, olhando para a sala ao lado. – Como ela está?

               O médico suspirou e seu sorriso diminuiu.

- Está piorando a cada dia.

               Fernando suspirou desanimado.

- Você quer vê-la?

- Nós podemos?

- Acho que alguns minutinhos não terá problema. Ela ficará feliz em ver você.

               Fernando sorriu triste e o médico seguiu até a porta ao lado, batendo duas vezes antes de abri-la. Ele entrou no quarto, mas Letícia e Fernando o esperaram do lado de fora. Ela olhou para Fernando, esperando que ele explicasse quem estava ali, mas ele apenas entrelaçou sua mão à sua, no mesmo instante que o médico voltou.

- Ela está acordada. – Ele sorriu. – Vocês podem entrar.

               Fernando e Lety pararam à porta do quarto, e logo Letícia avistou uma garotinha aparentando ter no máximo seis anos de idade, deitada à cama ligada à alguns aparelhos. Seu rosto era pálido e uma touca delicada cobria sua cabeça sem cabelo algum. Ao ver Fernando, a garotinha abriu um lindo sorriso, causando o mesmo efeito em Lety e Fernando.

- Oi, pequena! – Fernando entrou no quarto, seguindo até a cama.

               Havia uma mulher sentada ao lado dela, com uma aparência cansada e triste. Mas, assim como a garota que estava ao seu lado, ela abriu um largo sorriso quando viu Fernando. Letícia preferiu ficar parada à porta juntamente com o médico enquanto observava Fernando conversar com ela.

- Como você está?

- Bem. – Ela respondeu com a voz fraca, ainda sorrindo. – Hoje eu consegui comer.

- Isso é ótimo! – Ele respondeu animado. – Tenho certeza que sua mãe ficou muito feliz.

- Com certeza. – A moça ao lado respondeu sorrindo.

               A garotinha voltou sua atenção para Lety, e então os três a olharam ao mesmo tempo.

- Ah, essa é a Lety... – Ele fez sinal para que Letícia se aproximasse, e foi o que ela fez. – Lety, essa é a Bia.

- Oi, Bia. – Letícia sorriu.

- Oi! – Ela sorriu de volta. – Você é muito bonita.

- Muito obrigada. Você também é muito bonita! E eu adorei a sua touca.

- Obrigada. Minha mãe me deu de presente.

- É realmente muito linda.

- Ela faz tricô. Você quer uma pra você? Acho que ela pode fazer uma para você, não é mamãe?

               A moça sorriu.

- É claro que sim.

- Eu adoraria. – Lety sorriu.

- Vocês dois são namorados?

               Fernando riu.

- Somos casados.

- Casados? Eu não sabia que você era casado.

               Fernando ergueu a mão esquerda.

- Eu disse isso para você da ultima vez, Bia.

- Ah! Eu não me lembro, desculpe.

               Fernando sorriu triste. Bia olhou para a janela e deu um longo suspiro.

- Sabe qual é o meu ultimo pedido?

               O sorriso de todos desapareceu.

- Eu queria muito dar uma volta no jardim.

               O coração de Letícia se despedaçou ao ouvi-la dizendo aquilo.

- Então... Nós faremos isso hoje! – Fernando disse animado e as três o olharam. – Você quer?

- Claro que sim! – Ela respondeu animada. – Isso seria ótimo!

Fernando sorriu.

 

•••

 

 

               Letícia jamais tinha passado por uma experiência tão incrível. Depois de passarem alguns minutos fazendo companhia para Bia e sua mãe no jardim do hospital, conversando e dando boas gargalhadas, enfim ela entendeu o que Fernando queria ao levá-la até ali. Depois de levarem Bia de volta para o quarto e se despediram de todos os funcionários do hospital, Lety sentia-se renovada. Sentia-se outra pessoa. Aquela visita havia sido uma das melhores experiências que ela poderia ter tido, e Fernando era o responsável por isso. Quando saíram do hospital, Fernando levou Letícia para o seu local preferido na praia, o mesmo que a levou há alguns meses pela primeira vez. Quando sentaram-se um ao lado do outro e desfrutaram sobre a vista maravilhosa do mar, Letícia deu um longo suspiro de satisfação.

- O que foi? – Fernando a olhou.

- Por que você escolheu me levar até lá? – Ela o olhou, embora já soubesse a resposta.

- Eu queria que você sentisse o mesmo que senti quando as visitei pela primeira vez. É uma sensação de... Renovação, não acha? Ver aquelas crianças sorrindo e felizes apesar de tudo. Faz a gente pensar o quanto reclamamos de tantas coisas, sendo que existem pessoas em situações ainda piores do que a nossa, e mesmo assim as enfrenta com um sorriso no rosto.

               Letícia sorriu enquanto o olhava.

- Você não sentiu algo diferente quando olhou para elas? Como se... Fosse uma felicidade inexplicável, e ao mesmo tempo um sentimento de compaixão.

- Foi exatamente o que eu senti. – Ela disse. – E você tem razão. Aquelas crianças passam por uma situação difícil, e mesmo assim ainda são felizes.

- Exatamente.

- Estou feliz por você ter me levado até lá.

- E como está se sentindo agora?

- Me sinto renovada. – Ela voltou a olhar para a vista. – Por incrível que pareça, me sinto bem.

- Isso é ótimo. – Ele sorriu satisfeito.

- Mas confesso que a parte mais importante do meu dia foi ter conhecido a Bia.

- Ela é realmente encantadora. – Fernando respondeu. – Desde a primeira vez que visitamos o hospital ela está nessa situação. Quero dizer... Infelizmente ela se agrava mais à cada dia, mas fiquei feliz por termos sido apresentados.

- O que mais me admira é ela saber de tudo que está se passando com ela, e mesmo assim sentir-se feliz com tão pouca coisa. Viu só como ela ficou animada depois que a levamos para um passeio no jardim?

- Sim. – Fernando suspirou triste. – Uma pena que não possamos fazer nada para reverter essa situação.

               Letícia segurou em sua mão.

- Obrigada por ter me apresentado à todas essas crianças. Hoje eu tive certeza de que você será um maravilhoso profissional, e eu estou muito orgulhosa de você.

               Fernando sorriu emocionado, beijando a mão de Lety logo depois.

- E obrigada por ter feito isso por mim, e por ter se esforçado tanto para me ver bem. Eu realmente me sinto renovada.

- Que bom, meu amor.

               Letícia lhe deu um beijo de agradecimento, e juntos ficaram admirando a vista, em silencio. Mas dessa vez, o silencio não era incomodo e torturante, e sim calmo, do tipo que transmitia paz ao casal.

 

 

 

•••

 

 

               Quando voltam para casa, Maria logo nota que há algo diferente nos dois. Eles entram em casa rindo e trocando carinhos, assim como faziam antes de tudo acontecer.

- O que aconteceu com vocês? – Maria perguntou olhando para os dois.

- Fizemos um passeio. – Fernando disse animado.

- Eu não quero nem saber o que aconteceu nesse passeio para voltarem animados desse jeito. – Ela balançou a cabeça e os dois riram.

- Não é nada do que está pensando, Senhora Maria. – Fernando se aproximou abraçando-a. – Mas, isso me deu uma ótima idéia. Lety... O que acha de subirmos um pouquinho?

- Fernando Mendiola, você me respeite! – Maria bateu em seu ombro e ele gargalhou.

- Fizemos um passeio especial, Maria. – Lety sorriu. – Nós contaremos tudo. Mas antes... Preciso de um banho.

- Quer ajuda? – Fernando sorriu.

- Não, Mendiola, não quero ajuda. – Lety respondeu divertida. – Aliás, deveria estar se arrumando para ir à faculdade.

- Eu me dei a noite de folga hoje.

- Não vai à faculdade? – Ela o olhou perplexa.

- Hoje não. Quero passar a noite na sua companhia. – Ele sorriu, puxando-a pela cintura.

- E eu não estou nem um pouco afim de ver isso. – Ralhou Maria. – Vou voltar para os meus afazeres.

               Quando ela se afastou os dois riram, e Fernando olhou carinhosamente para Letícia.

- O que acha de passarmos a noite juntinhos?

- Eu acho uma idéia maravilhosa! Por que não planeja algo para fazermos enquanto eu tomo um banho?

- Ah, eu já planejei o que podemos fazer. – Ele sorriu maroto.

- Não isso, Fernando! – Ela riu. – Algo romântico.

- Não se preocupe. Vou pensar em algo.

- Ótimo.

               Letícia lhe deu um rápido beijo e subiu para se banhar. À todo o tempo ela se lembrava da visita às crianças, e não conseguia parar de sorrir. Fernando acertou em cheio quando pensou que aquela experiência mudaria Letícia, e de fato, foi o que aconteceu. Depois de terminar o seu banho, ela saiu enrolada na toalha e se apressou em trocar de roupa. Naquela noite ela queria aproveitar a “folga” de Fernando para preparar um jantar romântico, como não faziam há um tempo. Ela queria agradecê-lo devidamente pelo que ele fez durante todos aqueles dias angustiantes, e agora que enfim as coisas estavam voltando ao normal, poderiam aproveitar isso da melhor maneira possível: juntos.

               Quando terminou de se arrumar, Letícia desceu para o primeiro andar procurando por Fernando. Ela seguiu primeiramente até a sala de jantar, mas ele não estava lá. Também não estava na cozinha, e quando ela se preparou para procurá-lo no jardim, ouviu um assobio vindo da porta da sala de estar. Ela o olhou divertida e se aproximou dele, sendo envolvida em um abraço carinhoso.

- O que está aprontando? – Ela perguntou curiosa.

- Eu? Por que acha que estou aprontando alguma coisa?

- Porque eu te conheço. E conheço essa sua cara de criança travessa também. – Ela riu.

- Bom... Se é assim que você pensa...

- Onde está a Maria?

- Já foi embora.

- Já? Então nós iremos fazer o jantar? Tem certeza disso?

               Ele riu.

- Não. Eu irei fazer o jantar.

- Ah... Então você se empolgou só porque o elogiamos da ultima vez?

- Claro que sim! Eu realmente sou bom nisso.

- Não vou mentir. Você é mesmo.

- Mas, antes do jantar, quero te mostrar uma coisa...

               Ele segurou em sua mão e a puxou para entrarem à sala de estar. Fernando andou até o aparelho de som e colocou play em uma musica, que até então Lety não conseguiu reconhecê-la.

(Música: Como Pagarte? - Carlos Rivera)

- Estava ouvindo essa musica alguns dias atrás... – Ele comentou, se aproximando dela. – Fui procurar a letra e achei propícia para o momento.

- É mesmo? – Letícia sorriu.

 

 

“Tanto busqué, cuanto encontré, tanto perdí, cuanto gane. Tantos amores y desamores no hicieron bien, dejándome el alma vacía.”

 

 

 

- Não parece uma musica do seu estilo. – Ela riu.

- Eu sei. Mas, achei que você ia gostar.

- Ela é muito bonita. Eu gostei.

- Então... Dança comigo?

- Aqui?

- É claro! E não use como desculpa “não sei dançar”, porque já ficou bem claro que você sabe sim.

               Ela riu.

- Tudo bem.

               Fernando sorriu satisfeito, dando um passo à frente, segurando em sua cintura.

 

 

“Llegas a mi para sanarme, para enseñarme como vivir. Quitas mis miedos solo te importa hacerme feliz, como nunca nadie lo hacia. Como he de pagarte por tanto amarme?”

 

 

 

- Você realmente acertou em cheio dessa vez. – Ela comentou referindo-se à musica.

- Algumas vezes eu acerto. – Ele riu.

- Essa é uma das vezes. – Ela sorriu, olhando em seus olhos.

- Eu senti falta do seu sorriso. – Ele comentou, enquanto a guiava no ritmo da musica.

- E eu senti falta de sorrir. Mas, graças à você, isso mudou hoje.

 

 

 

“Perdón quisiera bajar las estrellas para regalarte una de ellas, que brille en tus noches y amaneceres. Perdón, no se si me alcance la vida. Para siempre ser el calor que calme tus manos frias, y siempre cuidar tu sonrisa.”

 

 

 

- Eu sempre farei o possível e o impossível para vê-la feliz.

- E eu sempre vou fazer o possível para retribuir tudo o que você faz por mim.

- Você já faz isso. Todos os dias. Mesmo que não perceba.

- Obrigada por ser tão bom para mim. De verdade.

               Fernando a apertou contra seu corpo, enquanto dançavam no centro da sala.

- E obrigado por estar ao meu lado.

- Sempre.

 

 

 

“Perdón, quisiera bajar las estrellas para regalarte una de ellas, que brille en tus noches y amaneceres. Perdón, no se si me alcance la vida. Para siempre ser el calor que calme tus manos frias, y siempre cuidar tu sonrisa... Y siempre cuidar tu sonrisa.”

 

 

 

 

- Eu te amo. – Fernando sussurrou, deixando seus rostos próximos um do outro.

- E eu te amo muito mais. – Letícia fechou os olhos, e logo sentiu os lábios dele tocarem nos seus.

               As coisas estavam voltando ao normal, e mesmo depois de tudo, o que sentiam pelo outro prevalecia. E ainda mais forte do que antes.



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