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História Love Inside Out - Conte até três


Escrita por: jaimencanto

Notas do Autor


Capítulo bonus, como prometido ♥

Capítulo 15 - Conte até três


               Letícia andava o mais rápido que conseguia, de mãos dadas com Sofia. Pela segunda vez naquela semana ela iria se atrasar para a escola, e a ultima coisa que Letícia queria naquele dia era ser advertida pela diretora da escola. Assim que avistaram um tumulto de pais e crianças de frete o portão da escola, Lety suspirou aliviada por saber que não estavam tão atrasadas assim.

- Conseguimos! – Exclamou ao pararem diante do porteiro.

- Eu disse que conseguiríamos. – Sofia comentou animada.

               Letícia se abaixou em sua frente e ajeitou seu cabelo e sua mochila que estava pendurada nos ombros da garota.

- E não se esqueça de falar com sua professora sobre o que conversamos em casa. Sobre a matemática.

- Tudo bem!

               Lety sorriu e a abraçou.

- Tenha uma boa aula.

- Obrigada!

- Sofia! – Uma colega se aproximou.

- Oi!

- Vamos, crianças... Vamos entrando. – O porteiro alertou.

- Te vejo mais tarde! – Lety exclamou quando Sofia estava entrando.

- Tchau, Lety! – Ela acenou do portão.

- Você chama sua mãe de Lety? – A colega perguntou. Sofia não respondeu, apenas balançou os ombros e a acompanhou adentrando a escola.

               Letícia suspirou aliviada depois de correr por três quarteirões para que conseguisse deixar Sofia a tempo na escola. Aquela ultima semana estava sendo completamente corrida, graças à inauguração da livraria que seria no próximo fim de semana. O único tempo que sobrava para descansar, Letícia o dedicava inteiramente para Sofia e Fernando, e essa era a melhor parte do dia. Depois que deixou Sofia na escola, Lety pegou o primeiro táxi e seguiu direto para a livraria. Carolina já a esperava para resolverem os últimos detalhes e os convidados, que seriam delicadamente escolhidos.

- Ficou por trinta e dois reais. – O taxista disse ao parar em frente a livraria.

- Aqui. Pode ficar com o troco. Obrigada!

- Eu que agradeço!

               Letícia desceu rapidamente do táxi e literalmente correu até a livraria, fazendo o sino da loja causar um enorme barulho.

- Meu Deus! Que susto! – Carolina exclamou com as mãos no peito. – Achei que fosse um assalto ou algo do tipo.

- Desculpe! Eu sei que estou quinze minutos atrasada. – Letícia seguiu ate o balcão, colocando sua bolsa sobre ele. – Mas Sofia sujou o uniforme na hora do almoço e tivemos que trocá-lo. Isso nos atrasou um pouco.

- Tudo bem. Eu também acabei de chegar. – Carolina colocou uma agenda sobre o balcão. – Omar dormiu lá em casa.

- Outra vez? Ele dormiu lá a semana inteira. Vocês não estão mesmo morando juntos?

- Não. – Carolina riu. – Mas não por falta de pedido. Eu só não quero morar com ele antes de darmos um passo sério no relacionamento.

- Sério isso? Você o deixa dormir na sua casa a semana inteira, mas não acha que está na hora de morarem juntos?

- Ele dormir lá em casa é uma coisa. Morar é outra. No inicio do dia ele tem para onde ir.

- Eu realmente não te entendo. Depois de toda aquela confusão de casamento e filhos...

               A conversa foi interrompida por um estranho barulho vindo da bolsa de Lety.

- Isso é o seu celular? – Carolina perguntou.

- Sofia deve ter mexido e mudado o toque de novo. – Ela abriu a bolsa rapidamente, tirando o celular de dentro dela. – É o Fernando.

- Pode atender. Vou organizar as coisas na agenda antes de começarmos.

- Obrigada! – Letícia se afastou do balcão, caminhando pela livraria. – Alô?

- Oi, amor.

- Oi meu amor. Tudo bem?

- Sim, está tudo ótimo! Estou ligando pra avisar que hoje consigo sair um pouco mais cedo e posso buscar a Sofia na escola.

- Ai, você fala sério? Ah, Fernando... Isso me ajudaria tanto!

               Ele riu.

- Eu sei. Sei que está com muita coisa para fazer na livraria. Eu quero te ajudar de alguma maneira.

- Você um anjo.

- Eu cobrarei depois. – Brincou. – Bom, agora preciso desligar. Só liguei para te avisar isso.

- Tudo bem! Muito obrigada, meu amor. De verdade.

- Eu faço tudo por você.

               Lety sorriu.

- Até mais tarde.

- Até. Um beijo!

- Outro!

               Ao desligar o celular, Letícia ainda passou alguns segundos fitando o chão, sorrindo abobada.

- Terra chamando Lety! – Carolina chamou sua atenção.

- Oi! – Letícia balançou a cabeça, voltando a se aproximar do balcão.

- Ficou com cara de boba depois que desligou o telefone.

- É que Fernando me ajuda tanto, que às vezes fico pensando se realmente mereço isso.

- Claro que merece! Vocês dois se merecem, porque você também faz muito por ele.

- É, acho que sim.

- Então quer dizer que ele está melhor depois... Do que aconteceu há algumas semanas?

- Acho que sim. – O sorriso de Lety diminuiu. – Ah, Carol... Eu estava me sentindo tão mal. Tão culpada. Quando eu disse que o teste deu negativo de novo você precisava ter visto a cara dele. Foi de dar pena.

- Eu posso imaginar. Bom... Mas essas coisas acontecem. Eu sei que vocês já estão tentando há algum tempo, mas tem pessoas que demoram meses para conseguir engravidar.

- Eu acho que por eu ter engravidado de primeira da outra vez, ele deve ter pensado que seria fácil.

- Talvez. Mas, você explicou para ele, não é?

- Claro que sim. Mas, ele quer tanto isso que eu me sinto mal.

- Não se sinta, Lety. De verdade.

- Eu tomei uma decisão, mas não contei para ele... – Lety olhou séria para a amiga. – Eu estava querendo ir à um médico. Um especialista. Eu queria saber se eu tenho algum problema para engravidar ou algo do tipo.

- Bom... Isso é algo que você quem tem que decidir. Mas, sinceramente, eu não acho que você tenha problema algum. Você já foi ao médico depois do que aconteceu e ele já disse que o problema não foi com você e nem com Fernando. Simplesmente... Foi um triste acontecimento.

- Eu sei. Mas eu só quero ter certeza.

- Você quem sabe. – Carolina olhou para a agenda. – Bom, agora precisamos excluir metade desses convidados. Tem pessoas aqui que...

- Que cheiro é esse? – Letícia torceu a boca.

- Cheiro? Que cheiro?

               Letícia procurou de onde vinha o cheiro, até se aproximar de Carolina e fazer uma careta logo depois.

- É o seu perfume! – Exclamou dando um passo para trás.

- O que tem o meu perfume? – Carolina cheirou a gola de sua camisa.

- É forte demais!

- Oras, o que deu em você? Eu uso esse perfume desde a época da faculdade.

 - Não. Com certeza você se confundiu e usou um perfume de Omar.

- Primeiro, eu reconheço o meu próprio cheiro. Segundo, Omar não usa perfume porque é alérgico, ele usa desodorante. E eu obviamente sei a diferença do meu vidro de perfume para o vidro de desodorante dele.

               Letícia continuou fazendo careta.

- Você que é maluca!

- De qualquer maneira, vou preferir olhar a lista lá do escritório. Esse cheiro está me dando ânsia.

               Carolina olhou estranhamente para Lety quando ela pegou a lista em cima do balcão e rapidamente seguiu em direção à sala do escritório.

 

 

 

•••

 

 

               No fim do expediente, Fernando se apressou para ir até a escola de Sofia. Não queria deixá-la esperando, e queria fazer uma surpresa quando ela o visse na porta da escola. Por várias vezes ela pediu para que Fernando a levasse ou buscasse para que ela o apresentasse à suas colegas, mas nunca havia tido a oportunidade por causa do horário. Às cinco e meia em ponto Fernando parou com o carro na esquina da escola e caminhou até o portão. Vários pais e mães aguardavam assim como ele, e só quando o sinal tocou, algumas crianças começaram a sair pelo portão. Em poucos minutos a calçada ficou completamente lotada de pais e crianças, e Fernando teve que se esforçar para visualizar Sofia saindo acompanhada de duas amigas. Ela olhou em sua volta, provavelmente procurando por Letícia já que ela quem a buscava todos os dias. Mas, quando viu Fernando acenando para ela, a garota abriu um largo sorriso e correu em sua direção, com um pouco de dificuldade por causa da mochila em suas costas.

- Oi, gatinha! – Fernando sorriu pegando-a em seu colo.

- Eu não sabia que você viria me buscar hoje. – Ela o abraçou.

- Quis fazer uma surpresa.

- Onde está a Lety?

- Ela ainda deve estar na livraria. Eu saí mais cedo do trabalho e vim te buscar no lugar dela. – Fernando sorriu.

- Ah! Deixa eu te apresentar minhas amigas!

               Fernando colocou Sofia no chão e ela logo correu em direção à duas garotinhas aparentando ter a mesma idade que ela. Enquanto conversavam, Sofia apontou para Fernando e ele acenou para as crianças, que riram e retribuíram o aceno.

- Com licença. – Duas mulheres se aproximaram de Fernando. – Você é o pai da Sofia? Quero dizer... O responsável?

- Sim.

- Eu disse. – Uma delas cochichou e a outra sorriu.

- Ah! É que nós somos mães da Nicole e da Jennifer. As amiguinhas de Sofia. – Ela apontou para as duas garotas que conversavam.

- Muito prazer. – Ele sorriu educadamente.

- O prazer é todo nosso. – A outra respondeu.

- Só estávamos curiosas por que... Bem... As meninas nos contaram que Sofia é um pouco diferente.

- Diferente? Por quê?

- Elas nos contaram o que aconteceu com os pais dela. Sofia disse que agora está morando com você e sua esposa.

- Sim. Mas, eu ainda não entendi porque ela é diferente.

- Bom... Você sabe... Sem pai e sem mãe. – A outra mulher respondeu.

               Fernando franziu o cenho e sorriu.

- Com todo o respeito, vocês não sabem do que estão falando. Como eu disse, eu sou o pai dela. E a minha esposa é sua mãe. Então de fato Sofia tem sim pai e mãe.

- Mas... Eu pensei que...

- O fato de não sermos pais biológicos não interfere em nada. Sofia não é “diferente”, como disseram. Embora eu ainda me pergunte por que ela seria diferente apenas por esse detalhe. Mas, de qualquer maneira, não precisem se preocupar. Sofia é como qualquer outra criança da sua idade. Com pai e mãe.

               Sem saber o que responder, as duas mulheres ficaram em silencio.

- Agora se me dão licença, precisamos ir embora. – Ele sorriu. – Foi um prazer conhecê-las.

               Fernando virou as costas e caminhou em direção à Sofia.

- Sofi... Podemos ir?

- Claro! – Ela respondeu animada. – Nos vemos amanhã meninas.

- Tchau, Sofia!

               As três se abraçaram e Sofia segurou a mão de Fernando, caminhando com ele em direção ao carro.

- Minhas amigas gostaram muito de você! Principalmente quando eu disse que brincamos de guerra de balão d’água nos fins de semana. Elas queriam saber se um dia poderiam ir lá em casa para brincarem também. – Sofia comentou quando Fernando abriu a porta do carro para que ela entrasse.

- Se as mães não forem também...

- O que?

- Nada. – Fernando sorriu. – É claro que podem.

               Sofia sentou-se no banco detrás e Fernando fechou a porta, seguindo para o outro lado do carro. Quando entrou, Sofia se aproximou do banco, escorando-se entre eles.

- Sabia que os pais delas são separados?

- É mesmo?

- Sim! Elas passam o fim de semana com os pais e durante a semana moram com as mães delas.

- Não se esqueça do cinto.

               Sofia encostou-se ao banco, colocando o cinto de segurança.

- Quando os pais se divorciam, os filhos podem escolher com quem vão ficar?

- Acho que depende da situação. – Fernando ligou o carro.

- Eu espero nunca ter que escolher isso. Eu não quero ter que escolher entre você e a Lety.

               Fernando riu.

- Não vai ser preciso. Não vamos nos separar.

- Que bom! – Ela sorriu satisfeita.

- E então... O que fez de legal na escola hoje? – Ele perguntou enquanto dirigia.

- Eu consegui resolver uma conta de matemática sozinha!

- É mesmo?

- Sim!

- Meus parabéns! – Exclamou animado olhando-a pelo retrovisor.

- Obrigada! Eu disse à minha professora que estava com um pouco de dificuldade e que vocês tentaram me ajudar. Mas hoje eu consegui entender.

- É porque você é uma garota muito inteligente.

               Ela gargalhou.

- E o que mais fizeram?

- Bom... Temos uma lição de casa que eu preciso que me ajudem, quando puderem.

- Claro que sim. – Fernando sorriu satisfeito.

               Durante o resto do caminho até em casa, Sofia contou à Fernando todas as suas experiências em sua nova escola, deixando-o animado por saber que ela estava se dando bem com suas colegas. Assim que chegaram, Sofia se preparou para abrir a porta, mas Fernando rapidamente chamou sua atenção.

- Ah-ah! – Ele desceu do carro, dando a volta para abrir a porta para ela. – Você precisa saber que o homem sempre abre a porta para as damas. Sempre.

- Eu não sabia disso. – Ela riu, descendo do carro.

- É bom que saiba. Se um dia um garoto não abrir a porta para você, dê o fora nele.

               Sofia gargalhou e segurou a mão de Fernando, caminhando em direção à casa.

- Maria! Chegamos! – Sofia soltou a mão de Fernando e correu pela casa.

               Ele sorriu satisfeito por vê-la tão à vontade e feliz. Era gratificante tanto para ele quanto para Letícia saber que Sofia estava se adaptando melhor do que imaginavam.

- Oi! – Lety desceu as escadas.

- Oi. – Fernando sorriu e ela caminhou até ele, cumprimentando-o com um caloroso beijo. – Hum... O que foi isso? – Perguntou divertido.

- Só um dos agradecimentos que você merece por fazer tudo por mim. – Ela sorriu.

- Gostei muito. Acho que buscarei Sofia mais vezes na escola.

               Ela riu batendo em seu ombro.

- E como foi?

- Bem. Ela ficou animada com a surpresa.

- Eu imaginei.

               Sofia logo se aproximou dos dois, e rapidamente correu até Lety, cumprimentando-a com um abraço.

- Oi meu amor! – Letícia se abaixou para abraçá-la. – O que achou da surpresa? Gostou do Fernando ter ido buscá-la?

- Sim! Gostei muito!

- Que bom!

- Eu o apresentei para a Nicole e para a Jennifer.

- É mesmo? Finalmente, não é?

- Sim! Elas podem vir aqui em casa algum dia desses? Para brincarmos de guerra de balão.

- Claro! Só precisamos combinar com os pais delas.

               Fernando pigarreou e Letícia o olhou.

- O que foi?

               Ele apenas balançou a cabeça negativamente.

- Bom... Agora vá tomar um banho para você fazer um lanche, e depois vou ajudá-la com o dever, tudo bem?

- Sim! A Maria disse que hoje ela vai fazer pastel para mim!

- Maria está te mimando demais. – Lety brincou e Sofia riu. - Agora sobe para tomar seu banho. Daqui a pouco vou ajudá-la com a roupa.

- Não precisa! Eu já sei onde estão todas as roupas. Eu consigo me arrumar sozinha.

- Bom... Se você diz. Então tudo bem.

               Sofia sorriu satisfeita e subiu a escada às pressas.

- Ela está tão diferente. – Lety disse satisfeita. – Está tão alegre.

- Preciso te dizer uma coisa...

- O que? – Lety o olhou preocupada.

- Hoje quando fui buscá-la, as mães dessas duas amigas de Sofia vieram se apresentar.

- Ah...

- Você as conhece?

- Sim. Elas se apresentaram na primeira semana de Sofia na escola.

- E o que achou delas?

- Sinceramente? Duas broacas.

               Fernando riu.

- O que elas disseram para você?

- Primeiro vieram falar que Sofia é uma criança diferente...

- Diferente? Diferente por quê?

- Disseram que por ela não ter pais.

- Mas que absurdo! – Letícia exclamou irritada. – Isso não é da conta delas! E isso não faz da Sofia uma criança diferente!

- Foi o que eu disse.

- E o que mais você disse?

- Eu disse que ela tem pais sim, e que somos nós.

- Fez muito bem! Ah... Mas pode deixar que amanhã elas...

- Amor, não. – Fernando sorriu segurando em seus ombros. – Não vale a pena. Depois do que eu disse hoje, aposto que elas não vão se intrometer mais. E de qualquer maneira, Sofia parece gostar muito de suas amigas, e está animada por ter feito amizade tão rápido. Isso pode prejudicá-la.

- É... Tem razão. Mas a minha vontade é de... – Letícia fechou uma mão, batendo na palma da outra. – Argh!

- Você está bem? – Fernando a olhou. – Parece estressada.

- Não, eu estou bem. Só estou um pouco impaciente porque passei a tarde inteira me sentindo mal e...

- Sentindo mal? Por quê?

- Acho que é o calor. E Carolina cismou em usar um perfume completamente enjoativo que me deixou péssima. Fiquei trancada no escritório e como estava muito calor...

- Não deveria ir à um medico?

- Não, eu estou melhor agora. – Ela sorriu. – Então... Está com fome? Quer comer antes de ir para a faculdade?

- Não... Eu como alguma coisa quando chegar lá.

- Ficar comendo fora de casa não faz bem.

               Fernando riu.

- Você falou igual a minha mãe.

- Ah não! Estou sendo dominada pelo extinto materno!

- Está mesmo. – Ele a abraçou. – Mas eu adoro. E você vai ficar bem?

- Sim! Não se preocupe.

- Se precisar de algo, me ligue.

- Tudo bem.

- Dê um beijo na Sofia por mim.

- Pode deixar.

- Até mais tarde. – Fernando a beijou.

- Até. Boa aula!

- Obrigado! – Ele sorriu, afastando-se. – TCHAU, MARIA!

- TCHAU! VÁ COM DEUS! – Maria gritou da cozinha.

               Fernando pegou o capacete em cima da mesinha e Lety colocou as mãos na cintura.

- O que foi?

- Você não prefere ir de carro?

- Não. De moto é muito mais rápido.

- Mas é perigoso e... – Ela parou de falar quando ele sorriu. – Nada. Deixa pra lá.

               Ele riu.

- Eu vou devagar. Prometo.

- Tudo bem.

               Fernando seguiu para o jardim e Lety escorou-se ao portal, olhando-o até que ele saísse.

 

 

•••

 

 

- E aqui tem um acento. – Letícia apontou para o caderno de Sofia. – No i.

- Aqui?

- Isso!

               Sofia sorriu satisfeita.

- Muito bem... Agora qual a próxima pergunta?

- A próxima é... Escreva... O seu nome... E o nome dos seus... “País”...

- Pais?

- Isso. Pais. Escreva o nome dos seus pais... Com o sobrenome.

               Quando terminou a leitura, ela olhou para Letícia.

- Então... Você consegue escrever?

- Acho que sim.

- Então pode responder.

               Letícia observou Sofia olhar para o caderno, e pensou se ela conseguiria escrever o nome dos seus pais verdadeiros. Ela temeu que se Sofia não se lembrasse, teriam um problema, já que ela também não se lembrava. A garota encarou o caderno por alguns segundos, e a tensão de Lety apenas aumentou.

- Tem algum problema? – Lety perguntou.

- Não. É só que eu estou pensando... Fernando tem outro sobrenome além de Mendiola?

               Lety a olhou sem saber o que responder. Esperava que Sofia fosse escrever o nome dos seus verdadeiros pais, e não o deles.

- N... Não. Apenas... Mendiola. – Respondeu ainda em choque.

- E qual o seu sobrenome?

               Ela sorriu emocionada, acariciando o topo da cabeça de Sofia.

- Padilha Solis.

- Você não tem Mendiola?

- Não.

- Minha professora disse que algumas mães tem o mesmo sobrenome dos pais. Por que você não tem?

- É que... É um pouco complicado explicar. Lembra que eu disse que um dia contaria como me casei com Fernando? Deixemos essa explicação para esse dia.

- Já sei... Só quando eu estiver maior para entender.

- Isso. – Lety riu.

               Sofia voltou sua atenção para o caderno, e lentamente escreveu o nome de Fernando, em letra de forma, enquanto Lety soletrava para ela. Letícia sentiu seu peito encher de orgulho e alegria ao vê-la escrevendo seus nomes. Apenas por ela já considerá-la seus “pais” era uma grande emoção, e ela não via a hora de contar isso à Fernando.

- Eu posso perguntar uma coisa? – Sofia a olhou quando terminou de escrever.

- É claro!

- O que eu vou responder para meus colegas quando eles perguntarem por que não tenho o seu sobrenome também? E quando notarem que tenho Ribeiro e nem você e nem Fernando tem também?

               Lety não soube o que responder.

- Eu... Não sei. O que você responderia?

- Na verdade, eu não queria ter que explicar tudo para todos eles. As únicas pessoas que sabem sobre vocês são minhas amigas, e elas me prometeram que não contariam nada.

- Bom... Se você acha que não precisa contar, diga apenas que não sabe por quê.

- Mas e se eles insistirem?

- Então você diz que Mendiola e Ribeiro já são sobrenomes muito fortes, e que você não precisa de outro.

               Sofia riu.

- Seria uma ótima resposta.

- Seria sim. – Lety sorriu. – Então... Terminamos?

- Sim!

- Ótimo! Então agora você está livre para ver os seus desenhos.

               Sofia fechou o seu caderno e pulou da cadeira. Mas, antes de sair da sala, parou à porta e olhou para Letícia.

- Eu acho que ter o seu sobrenome deixaria o meu nome ainda mais bonito.

               Lety sorriu emotiva e Sofia saiu satisfeita, deixando-a a sós.

- Lety, eu estava pensando em fazer... – Maria parou de falar quando viu que Letícia estava encarando a mesa em silencio. – O que foi?

- Nada. – Ela rapidamente passou a mão no rosto, tentando disfarçar algumas lágrimas que rolaram em seu rosto. – O que você estava dizendo?

- Eu ia dizer que estava pensando em fazer macarronada amanhã para o almoço.

- Ah sim. Ótimo! Eu... Posso comprar as coisas para você quando acordar.

- Não, não é necessário. Você parece cansada...

- É impressão sua. – Lety se levantou. – Por que diz isso?

- Não sei... Parece pálida. Você está comendo direito?

- Claro que sim.

- Não está passando mal?

- Bom... Mais cedo senti um pouco de mal estar, mas porque Carolina estava usando um perfume insuportável.

               Maria ergueu as sobrancelhas.

- O que foi? – Lety perguntou olhando-a.

- Nada... Nada.

- Eu vou subir para tomar um banho. Você pode dar uma olhadinha na Sofia antes de ir embora? Prometo que não demoro.

- É claro!

- Obrigada.

               Letícia estranhou a maneira que Maria a olhava, mas preferiu não questionar. Carolina também a olhou da mesma maneira durante toda a tarde.

 

 

•••

 

 

 

               Letícia despertou no dia seguinte, e assustou-se ao notar que estava em sua cama. A ultima coisa que se lembrava foi de ter colocado Sofia para dormir e logo depois sentou-se ao sofá para assistir à um filme. Provavelmente estava tão cansada que nem mesmo se lembrava de como chegou até o seu quarto. Quando olhou em volta, notou que o outro lado da cama estava vazio, mas ao ouvir um barulho vindo do banheiro, suspirou feliz por Fernando ainda não ter saído para trabalhar.

               Sonolenta, ela sentou-se à cama e passou a mão em seu rosto, na tentativa de despertar. Logo depois a porta do banheiro se abriu e Fernando a olhou, terminando de abotoar o cinto.

- Bom dia, Bela Adormecida. – Ele sorriu divertido.

- Quando foi que você chegou? Eu não vi.

- Claro que não. Estava apagada no sofá. Cheguei às onze, como todos os dias.

- Nossa... Eu dormi sem perceber.

- Eu imaginei.

- E eu devo ter me tornado sonâmbula porque não me lembro de ter vindo para o quarto.

- Não era para menos. Fui eu que te trouxe.

               Lety ergueu as sobrancelhas.

- Você teve esse trabalho todo?

- É claro. Não ia deixá-la dormindo no sofá. E não foi trabalho. Você não é tão pesada assim. – Ele riu, aproximando-se da cama.

- Poderia ter me acordado.

- Você estava dormindo tão bem...

               Lety sorriu, tocando em seu rosto carinhosamente.

- Desculpe por não ter te esperado acordada.

- Não se preocupe. Eu também peguei no sono rápido quando me deitei. – Ele lhe deu um rápido beijo. – Bom... Preciso ir.

- Tem certeza que não pode passar o dia aqui comigo?

- Como eu queria, meu amor. – Ele sorriu, levantando-se. – Mas por sorte hoje é quinta feira. O fim de semana está aí para aproveitarmos junto com Sofia.

- Mal posso esperar. – Ela deitou-se, satisfeita.

- Então eu já vou indo. Ah... Antes que eu me esqueça. Maria disse que está preocupada com você.

- Por quê?

- Ela disse que tem algo estranho em você, e que você não quer contar.

- Isso é besteira dela. Eu estou normal.

- Eu devo me preocupar?

- Não, é claro que não.

- Bom... Tudo bem. Mas se precisar de algo...

- Eu te ligo. – Lety riu. – Não se preocupe.

- Tudo bem. Até mais tarde então.

- Até. Bom trabalho!

- Obrigado!

               Fernando seguiu para a porta e saiu, deixando apenas o cheiro do seu perfume amadeirado no ar. Letícia espreguiçou-se na cama e abraçou o travesseiro, mas logo teve que se levantar e correr para o banheiro depois de ser dominada por um enjôo fora do normal ao sentir o cheiro do perfume de Fernando, que era o seu preferido.

 

 

 

•••

 

 

 

               Assim que Fernando chegou à empresa, sentiu o seu celular vibrar em seu bolso. Rapidamente ele o pegou, pensando que pudesse ser Letícia, mas logo suspirou aliviado ao reconhecer o numero de sua mãe.

- Oi mamãe! – Exclamou ao atender o celular.

- Oi meu amor. Está ocupado?

- Não. Estou chegando na empresa, mas pode falar. – Ele passou pela recepção, acenando para o porteiro.

- Estava pensando em chamá-los para um almoço no domingo. Um almoço de família. Já falei com Julieta e ela topou.

- Seria uma boa. Vou falar com Lety e confirmo com a Senhora hoje mesmo.

- Eu tentei falar com ela agora à pouco, mas Maria disse que ela estava no banheiro há alguns minutos.

- No banheiro? – Fernando parou de andar. – Ela disse se ela estava bem?

- Não perguntei... Por quê? Algum problema?

               Fernando suspirou.

- Não. É só que... Letícia disse que teve um mal estar ontem à tarde e hoje Maria me disse que ela parecia diferente. Eu estou começando a me preocupar.

- Pobrezinha! O que ela tem?

- Não sei direito. Parece que passou mal com o cheiro do perfume da Carolina. Eu não entendi muito bem.

               Fez-se silencio do outro lado da linha.

- Mamãe?

- Oi!

- O que foi?

- Fernando... Vocês... Estão se cuidando?

- Nos cuidando? Como assim?

- Você sabe...

               Só então Fernando entendeu o que ela quis dizer. Embora Lety estivesse tentando engravidar a pouco mais de um mês, nenhum dos dois contou para seus pais. Acharam melhor assim.

- Por que a pergunta, mamãe? – Fernando apertou o botão do elevador.

- Bom... É um pouco estranho ela sentir-se mal com o cheiro de algum perfume, não é? Você não tem notado algo de diferente nela?

- Não. Acho que não. Apesar de que ontem ela dormiu no sofá, e ela não costuma fazer isso. Mas imagino que seja pelo cansaço. Ela está com os dias cheios por causa da inauguração da livraria.

- Entendo. Pode ser coisa da minha cabeça, então. Mas, não custa nada pedir para que ela faça o teste.

               A porta do elevador se abriu, mas Fernando continuou parado diante dele.

- De qualquer maneira, espero sua resposta sobre o almoço. Não vou mais tomar o seu tempo, querido. Nos falamos depois. Um beijo!

               Ele não teve tempo de responder. Estava tão paralisado que a única coisa que conseguiu fazer foi tirar o telefone do ouvido e guardá-lo no bolso.

- Está esperando o elevador adivinhar pra onde você vai? – Omar perguntou, aproximando-se de Fernando.

- Ah! Oi! Não... Só estava... – Ele não sabia exatamente o que estava fazendo.

- Aposto que não dormiu direito e ainda está com sono. – Ele riu, batendo no ombro de Fernando.

- É. É isso. – Ele forçou um sorriso, acompanhando Omar para dentro do elevador.

- Então... Está tudo bem?

- Sim. – Fernando respondeu apenas.

- E não vai apertar o botão para o elevador subir?

- Ah! Claro! – Fernando apertou o numero “quatro”.

- Você parece estranho.

- Impressão sua.

               Omar não perguntou mais nada, para o alívio de Fernando. A conversa com sua mãe ainda estava em sua cabeça, e ele não sabia se teria coragem de pedir para Letícia fazer outro teste. Das ultima vez que ela fez, o resultado foi negativo. Fernando ficou chateado, mas com certeza Letícia ficava tanto quanto ele, e obrigá-la a fazer outro teste em tão pouco tempo seria crueldade. Mas, ao menos para se tranqüilizar, ele tirou o celular do bolso e rapidamente enviou uma mensagem.

 

 

 

•••

 

 

 

- “Estou preocupado com você. Está realmente tudo bem? Não acha melhor ir à um médico? Por favor, me responda assim que puder. Um beijo!” – Letícia terminou de ler a mensagem para Carolina.

- Pobrezinho. Ele está preocupado, Lety. – Carolina sentou-se à cama.

- Eu sei. Mas, não quero falar nada com ele. Ele vai ficar ainda mais preocupado.

- Então você já sabe o que tem que fazer. – Carolina entregou uma sacola para Letícia.

               A primeira coisa que ela havia feito quando saiu do banheiro pela manhã, depois de passar quase quinze minutos debruçada sobre o vaso foi ligar para Carolina e pedir um favor. Para a surpresa de Lety, Carolina já estava preparada para aquele tipo de pedido, e não se surpreendeu quando a amiga lhe pediu para comprar algo na farmácia.

- Eu não sei se quero fazer... – Letícia olhou para a sacola. – Não quero ter que dizer para ele que deu negativo mais uma vez.

- Se der negativo, não precisa dizer à ele que fez. E de qualquer maneira terá que ir à um medico, porque amiga... Se isso não for sintomas de gravidez, eu não sei mais o que é.

               Letícia riu.

- Faça o teste. Agora eu também estou curiosa.

- Tudo bem. Mas, que fique claro... Se esse teste der negativo mais uma vez, eu vou à um especialista.

- Certo! Se quiser eu vou com você, mas, por favor, faz logo esse teste!

               Lety levantou-se e pegou a sacola, seguindo para o banheiro. Já era a terceira vez que fazia aquele teste, e ela poderia narrar todas as etapas de cor. Mas, a pior parte sempre era a espera e a tensão durante esses míseros minutos. Depois de realizar o teste, Letícia saiu do banheiro com ele em mãos e Carolina a olhou ansiosa.

- E então? O que diz? – Perguntou eufórica.

- Não sei. Ainda não olhei. – Letícia respondeu.

- Deixa de ser boba, Lety! Olha logo!

- Calma! Eu preciso me preparar.

- Tudo bem... Então... Conte até três!

- Certo.

- Um... – Carolina se levantou.

- Dois... – Letícia ergueu o teste diante dos seus olhos.

- TRÊS!  

 

 



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