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História Love Inside Out - Eu escolho vocês


Escrita por: jaimencanto

Capítulo 20 - Eu escolho vocês


               Letícia acordou antes de qualquer pessoa da casa. Antes mesmo de Maria chegar. Essa tinha sido sua rotina nos últimos anos, e mesmo que já estivesse acostumada, ela sabia que no fim do dia toda essa energia logo cedo se converteria em um cansaço extremo. Ela podia contar com a ajuda de Fernando, sempre, mas desde que ele começou a trabalhar no hospital, o seu tempo livre tinha de ser dividido entre tirar um cochilo e ajudar Letícia com a casa. Ela insistia que conseguia fazer tudo sozinha, já que não queria sobrecarregá-lo por saber que o trabalho dele era muito mais exaustivo do que o dela, mas ela daria tudo por uma folga de um dia, em que ela só pudesse sentar-se no sofá e colocaria os pés para cima, sem fazer absolutamente nada.

               Enquanto terminava de preparar o café da manhã antes do batalhão descer, ela também dividia suas tarefas em colocar as roupas para lavar, arrumar o lanche das meninas para a escola, e passar a camisa que Fernando usaria para trabalhar. Depois de fazer tudo isso, Letícia finalmente sentou-se à mesa de café olhando em seu relógio. Sete horas em ponto. O restante da casa ainda não havia sequer acordado e ela já estava com grande parte das tarefas feitas. Era assim sua rotina nos últimos anos, e mesmo que reclamasse do cansaço, ela não trocaria isso por nada.

               Ao ouvir o barulho de passos descendo a escada, ela ajeitou-se à sua cadeira e esperou que sua família a acompanhasse no café da manhã, como faziam todos os dias.

- Bom dia! – Fernando apareceu à sala ajeitando sua camisa por dentro da calça, beijando Letícia rapidamente.

- Por que está com essa camisa toda amarrotada? – Letícia o olhou. – Acabei de passar a lilás e...

- Ah não, amor. Eu usei a lilás ontem.

- Usou? Eu... Não me lembrava. Então preciso passar essa.

- Não dá tempo. Eu vou assim mesmo.

- Não dá tempo? Não vai tomar café?

- Não dá. Preciso chegar cedo no hospital porque teremos uma reunião.

- Ah... Mas e as...?

               Antes que ela perguntasse das crianças, Sofia e Anna chegaram à sala, tão apressadas quanto o pai.

- Bom dia mamãe. – Disseram em uníssono.

- Bom dia... – Letícia respondeu esperando um cumprimento digno, mas apenas observou as meninas pegarem algumas torradas sobre a mesa.

- Também não vão tomar café?

- Não dá tempo, amor. – Fernando respondeu por elas. – Elas precisam sair agora comigo. Ou você vai levá-las?

- Não... Tudo bem.

- Então vamos, meninas? – Fernando as olhou.

- Papai, podemos ir de aviãozinho? – Anna perguntou divertida.

- De aviãozinho? Hum... Talvez... Deixa eu pensar...

               Ele se aproximou e a pegou no colo, colocando-a nos ombros.

- Tchau mamãe! – Anna acenou quando Fernando se afastava.

- Nos vemos mais tarde, amor!

               Letícia descontou sua frustração em sua xícara de café.

- Mãe, vou chegar um pouco mais tarde hoje. Vamos fazer um trabalho depois da aula. – Disse Sofia.

- Tudo bem. Precisa que eu te busque?

- Não, tudo bem. Eu volto de ônibus.

               Desde que Sofia completou quinze anos ela se acostumou a voltar da escola de ônibus quando era preciso. Embora Lety estivesse orgulhosa de ver sua filha crescer tão rápido, ela não poderia disfarçar que sentia falta de quando precisava ajudá-la em tudo.

- Vamos logo, Sofi! – Fernando buzinou do jardim.

               Sofia suspirou e pendurou sua mochila.

- Até mais tarde, mãe!

- Até...

               Nenhum dos três se despediram de Letícia com um beijo como costumavam fazer.

 

 

 

•••

 

 

 

               Carolina chegou à livraria e assustou-se ao perceber que todo o lugar estava totalmente arrumado, assim como as prateleiras que no dia anterior estava totalmente desorganizada. Letícia e ela combinaram de que fariam isso no dia seguinte, mas pelo visto, a amiga começou a arrumação sem ela.

- Oi! – Lety a olhou carregando alguns livros.

- Oi... – Carolina a olhou. – Eu pensei que você me esperaria para arrumarmos...

- Eu não sabia se você chegaria à tempo de abrirmos, então comecei a arrumar.

- Lety, não precisava fazer isso sozinha.

- Acredite, já estou acostumada. – Ela riu.

- Bom... Então tudo bem. – Carolina seguiu para o balcão. – Como estão as coisas?

- Bem! Muito bem!

- Bem mesmo? Você parece... Cansada.

- Não é nada. – Lety sorriu. – Está tudo ótimo.

- O Bruno ainda não chegou?

- Não, eu disse que não precisava dele tão cedo.

               Carolina não respondeu. Já conhecia a amiga o suficiente para saber que ela gostava de resolver os seus problemas sozinha, mas naquele dia ela estava estranhamente pior.

- Voce está precisando de alguma coisa? – Carolina perguntou.

- Posso ser sincera? – Letícia se aproximou do balcão.

- Claro!

- Eu só queria um dia de folga...

- Como assim?

- Um dia sem fazer nada! Um dia em que Fernando e as meninas fizessem tudo! Queria não ter que acordar as seis da manhã para preparar o café, lavar as roupas, passá-las. Eu só queria um dia de descanso.

- Eu não queria falar nada... Mas você... Realmente está precisando desse dia. – Carolina riu. – Tem quantos dias que você não penteia o cabelo?

- É tão notável assim? – Lety tocou no coque recém feito em seu cabelo.

- Não está ruim, mas eu como sua amiga sei o quanto você é vaidosa no dia à dia. Você parece mesmo muito cansada nesses últimos dias.

- Ah, nem me diga... – Letícia debruçou sobre o balcão suspirando. – Fernando está fazendo hora extra no hospital porque estão gostando muito do trabalho dele. O chefe dele aumentou seu salário, mas ele precisa trabalhar o dobro. Sendo assim eu preciso cuidar de toda a casa pela manhã e depois que chego. Você pode chegar em casa e descansar mas eu preciso pegar o segundo turno. Se eu não tivesse Maria para me ajudar eu não sei o que seria.

- E você já disse isso para ele?

- Para quem?

- Para o Fernando!

- Não! E nem direi! Não posso dizer para ele isso porque tenho certeza que ele vai se sentir culpado e vai se desfazer da oferta do seu chefe, e ele realmente ama aquele trabalho.

- Mas Lety... Eu sei que Fernando ama muito mais a família dele. Se isso está sendo uma carga pesada sobre você, tenho certeza que ele vai te entender e ficar do seu lado.

- É esse o problema. Não quero que ele faça isso. Fernando batalhou muito para realizar o sonho dele, Carol, e eu não me permitira estragar isso.

               Carolina apenas suspirou.

- Bom... Então você vai continuar com toda essa carga sobre você?

- Não é tão ruim assim... Quero dizer... Eu reclamo, mas eu faço tudo com muito prazer.

- Eu imagino. Mas você também tem que pensar em você, Lety. Isso pode te deixar doente.

- Eu estou ótima! – Lety sorriu. – Eu não fico doente tão fácil, Carol! Sou de ferro!

- De ferro... – Carolina riu. – Sei.

- Vou voltar para o trabalho. Ainda preciso arrumar aquela ultima prateleira antes de abrirmos.

               Letícia pegou vários livros sobre o balcão e os carregou de uma só vez em direção à prateleira.

 

 

•••

 

 

 

- Então está tudo bem agora? – Fernando perguntou à garotinha deitada à cama. – Não se sentiu mal hoje?

- Não! – Ela respondeu animada. – Estou muito bem, não é mamãe?

-Está sim! – A mãe dela sorriu para Fernando. – Graças à você.

- Graças à toda a equipe. – Fernando sorriu. – E eu fico muito feliz que você esteja bem. Agora eu preciso ir, mas se precisar de alguma coisa pode me chamar, tudo bem?

- Tudo bem! – A garota respondeu animada.

               Fernando sorriu e seguiu em direção à porta.

- Doutor! –A mãe dela se apressou em acompanhá-lo. – Posso dar uma palavrinha com o Senhor?

- É claro. – Fernando sorriu.

               Os dois saíram da sala e pararam ao corredor.

- A Vivi está realmente muito bem. – Ela disse olhando em direção ao quarto. – E para ser sincera, já passamos por vários médicos e nenhum deles foi tão bom para ela quanto o Senhor.

- Fico lisonjeado com o elogio, mas eu realmente não trabalho sozinho e...

- Eu sei! A equipe também é ótima, mas... O Senhor tem algo especial. Ela sempre fica feliz depois de uma visita sua e ela sempre diz para todo mundo o quanto o Senhor é um cara legal.

- Fico muito feliz. – Ele sorriu agradecido.

- E... Eu sei que pode parecer estranho, mas... – Ela o olhou e sorriu. – Eu adoraria se pudéssemos tomar um café qualquer dia desses.

               Fernando tentou não ser grosseiro, principalmente porque já estava acostumado com aquele tipo de coisa. Não era a primeira vez que uma das mães de suas pacientes dava em cima dele, e não era a pior cantada que ele já tinha recebido também.

- Eu fico muito agradecido, mas eu preciso ir para casa. Minha esposa e minhas filhas estão esperando.

- Ah... O Senhor é casado... – Ela sorriu, mas não pareceu envergonhada.

- Sim. – Ele ergueu a mão esquerda.

- Eu não reparei. É bem difícil reparar em outra coisa quando o Senhor está na sala. – Ela riu.

- Entendo. Bom... Eu sugiro a Senhora à reparar um pouco mais na Vivi. Ela está tendo uma melhora maravilhosa, mas precisa do seu apoio nesse momento.

- É claro... – Dessa vez ela ficou envergonhada.

- Bom, agora se me dá licença... Meu turno está acabando. Até amanhã.

- Até.

               Fernando se afastou e enquanto caminhava pelo corredor deu um longo suspiro. Por mais que ele amasse aquele trabalho, ele não poderia disfarçar que estava exausto com toda aquela carga de horários e principalmente com as cantadas freqüentes das mães. Até mesmo de algumas que eram casadas, e isso o deixava completamente sem jeito. Mas a pior parte era ter de chegar em casa e contar isso para Lety. Por mais que ela se segurasse para não parecer incomodada com aquela situação, Fernando sabia que isso a incomodava e muito, e infelizmente ele não poderia fazer nada.

- Fernando! – Seu chefe o encontrou no corredor.

- Boa tarde, Doutor. – Ele sorriu.

- Fernando... Nós podemos conversar na minha sala por um instante?

- Aconteceu alguma coisa?

- Não. – Ele sorriu tocando em seu ombro. – Não aconteceu nada. Só quero conversar.

- Tudo bem.

- Me acompanhe, por favor.

               Os dois caminharam até uma sala próxima e entraram.

- Sente-se, por favor.

               Fernando sentou-se em uma cadeira de frente para a mesa e seu chefe sentou em sua própria cadeira, encostando-se à mesa enquanto o encarava.

- Fernando, quero que seja sincero comigo... Você está dando conta de todo esse trabalho?

- É claro que sim! – Fernando respondeu rapidamente. – Por que a pergunta, Doutor?

- Porque quando eu te fiz a proposta e você disse que conversaria com sua esposa antes, eu pensei que vocês tivessem concordado de que você passaria muito tempo aqui no hospital e talvez não pudesse... Bem... Passar muito tempo em casa.

- E nós concordamos com isso.

- Eu sei. Mas... Fernando... – Ele o olhou com seriedade. – Você está péssimo.

- Como?

 - Fisicamente. Você está esgotado. Eu sei que é uma característica de médicos, mas você é o melhor que temos aqui da sua equipe, e você sabe, por que já lhe disse isso muitas vezes.

- E eu fico muito agradecido.

- E por ser o melhor da sua equipe, você não pode ficar tão cansado assim.

- Eu sinto muito. Eu vou tentar...

- Não, não estou te cobrando mais trabalho, Fernando. Pelo contrário. – Ele suspirou escorando-se em sua cadeira. – As crianças te adoram. Todas elas. Mas você não pode ter toda a animação que costuma ter estando cansado, não é? Principalmente tendo problemas em casa.

- Ah, mas eu não estou...

- Ainda. – Ele riu. – Se você continuar trabalhando muito, tenho certeza que em algum momento vai começar a ter um problema em casa. Acredite... Eu me divorciei depois de dois meses que me tornei o chefe da equipe.

               Fernando o olhou assustado.

- Mas eu conheço a Lety, conheço suas filhas, e eu sei o quanto você as ama. Na verdade, o hospital inteiro sabe disso. – Ele riu. – E é por isso que eu me preocupo com você e com sua família.

- Mas eu aceitei a proposta, Doutor. Eu fiz um acordo com o Senhor.

- Ah, dane-se o acordo, Fernando. – Ele sorriu e Fernando riu. – Eu fiz essa proposta porque sei o quanto você gosta do seu trabalho, e o quanto você é elogiado não apenas pelas crianças, mas também pelas mães.

               Fernando se mexeu inquieto na cadeira.

- E também pelos seus companheiros de trabalho. Sua equipe inteira concorda que você é ótimo no que faz, e que é o melhor daqui. Foi por isso que fiz a proposta. Mas eu não quero que você tenha problemas em sua vida pessoal por isso.

               Fernando ficou em silencio.

- Vamos fazer o seguinte... Você vai para casa, conversa com a Lety, e o que você decidir eu assino em baixo. Você pode voltar para o seu antigo horário e assim terá mais tempo com a família, ou você poderá se dedicar mais ao trabalho que eu sei que você ama, mas vai precisar se acostumar com toda essa carga. Você me dá a resposta amanhã.

- Sim Senhor.

- Agora pode ir. Sei que o seu turno acabou. – Ele sorriu.  

- Obrigado, Doutor. – Fernando sorriu levantando-se. – Eu... Prometo que pensarei com carinho.

- Vou aguardar a resposta.

               Fernando sentiu-se satisfeito por ter um chefe tão compreensível. Um pouco ele sabia que merecia todo aquele tratamento especial, já que ele realmente se dedicava muito ao seu trabalho e amava o que fazia. Mas a dúvida de continuar com a proposta lhe incomodava. Quando Lety e ele conversaram sobre isso, ela rapidamente concordou que ele deveria aceitar, e que era o seu sonho. Mas Fernando não sabia que teria tão pouco tempo para sua família, e que sentia tanta falta disso. Ele mal tinha tempo de ficar com suas filhas e principalmente mal tinha tempo para ficar com Lety. Ele não se lembrava a ultima vez que teve uma noite romântica com ela. Mas aproveitando o fim do turno à tarde, Fernando preparava uma noite especial para os dois, assim como uma tarde animada com as filhas.

 

 

•••

 

 

 

               Letícia chegou exausta em casa no fim da tarde. Mas assim que desceu do carro, só de pensar que ainda teria mil coisas para fazer em casa o desanimo a pegou. Mentalmente ela começou a fazer uma lista de coisas que ainda precisava fazer, e enquanto caminhava em direção à casa, ela tentava organizar as coisas, mesmo que sua cabeça estivesse latejando e seu corpo estivesse pesado. Assim que entrou em casa, ela percebeu que havia algo diferente. A casa não parecia tão bagunçada como costumava ficar quando ela chegava da livraria, e rapidamente ela pensou que Maria teria quebrado o acordo que fizeram e deu uma geral na casa sem que Lety soubesse.

               Ela ouviu o barulho da televisão ligada e seguiu para a sala, vendo Anna deitada no sofá enquanto assistia ao seu desenho favorito.

- Oi meu amor. – Ela sorriu.

- Mamãe! – Anna pulou do sofá e correu em sua direção, abraçando-a.

- Como você está? Já fez sua lição?

- Sim! Todinha! Papai me ajudou!

- Seu pai? – Lety perguntou confusa. – Seu pai está aqui?

- Sim! Ele está na cozinha!

               Letícia sorriu satisfeita. À tanto tempo Fernando não chegava em casa no meio da tarde.

- E a sua irmã? Onde está?

- Ela ficou na escola fazendo trabalho.

- Ah, é verdade. Bom... Eu vou até a cozinha ver se o seu pai precisa de ajuda.

- Tudo bem!

               Letícia observou a filha correr de volta para o sofá e sorriu, pensando o quanto ela tinha crescido. Até alguns dias ela era apenas um bebê que se divertia no carpete da sala com Fernando e Sofia, e de repente ela já estava com sete anos, grande e esperta. Depois de admirar Anna por um tempo, ela seguiu em direção à cozinha. Sentiu um cheiro maravilhoso vindo do cômodo e quando se aproximou, percebeu Fernando com Maria.

- Eu nem preciso te ensinar a cozinhar mais, não é? – Maria riu.

- Só precisa ficar aqui para me policiar. Vai que eu uso sal ao invés de açúcar. – Ele riu e olhou para a porta, onde Lety estava parada. – Oi amor!

- Oi! – Ela sorriu. – O que estão fazendo?

- Estou fazendo o jantar. – Fernando a olhou.

- E eu estou vigiando para que ele não faça alguma coisa errada. – Maria riu.

- O cheiro está delicioso.

- Espero que o gosto também. – Ele riu.

- Bom, já que você está muito bem, vou estender algumas roupas. – Maria passou por Lety e os deixou a sós.

               Letícia se adentrou a cozinha e se aproximou de Fernando, sendo recebida com um caloroso beijo.

- Uau. – Ela sorriu. – Hoje é alguma data especial e eu não sei?

- Não. – Ele riu. – Só estava com saudades.

- Eu também. Eu não sabia que chegaria cedo hoje.

- É... Hoje o meu turno terminou antes.

- Que bom! – Ela escorou-se ao balcão. – O que está preparando?

- Adivinha?

- Hum... Pelo cheiro... Molho branco.

- Acertou!

- E qual vai ser o acompanhamento?

- Macarrão, é claro.

- Ah, é claro. – Ela riu.

- Como você está?

- Bem. – Ela sorriu. – Muito melhor agora.

- Que bom!

- Será que tenho um tempo de subir para tomar um banho?

- Você tem o tempo que quiser. Hoje eu vou fazer as coisas aqui em casa.

- Ah! Que marido bom eu tenho!

- O melhor. Pode dizer...

- Não seja tão convencido. – Ela riu, beijando-o. – Eu volto logo.

- Não tenha pressa.

               Letícia riu e saiu da cozinha. Pouco tempo depois que ela o deixou sozinho, ele ouviu o barulho do portão e imaginou que seria Sofia voltando da escola. Ele esperou que ela entrasse em casa, e logo ela seguiu para a cozinha, jogando a mochila sobre o balcão e caminhando até a geladeira.

- Boa tarde, Senhorita! – Fernando a olhou. – Sua mãe te mataria se visse essa mochila sobre o balcão.

               Impaciente ela pegou a mochila e a pendurou, pegando um copo de suco na geladeira.

- Não me diga que roubaram sua língua no caminho de volta pra casa?

- Não. – Respondeu indiferente.

- Qual é o problema?

- Nenhum, pai.

- Uau! Que mau humor!

- Eu só estou cansada...

- Por que não sobe para tomar um banho então? Talvez esteja melhor para o jantar.

- Eu acho muito difícil! – Ela disse desanimada.

- Você quer conversar?

- Não. Só quero... Ficar sozinha.

- Bom... Você tem um jardim enorme lá fora e um quarto também. Pode ficar sozinha se quiser.

- É impossível ficar sozinha aqui!

               Fernando estranhou o comportamento de Sofia, mas preferiu ficar em silencio. Todo mundo tem o direito de ter um dia difícil, e provavelmente aquele era o dela. Mesmo que fosse extremamente estranho vê-la tão desanimada e impaciente.

- Papai! – Anna entrou à cozinha. – Eu posso comer um pedacinho de bolo?

- Um pedacinho de bolo? – Fernando riu abaixando-se.

- Sim! Um pedacinho pequenininho assim. – Ela juntou os dedinhos se aproximando dele.

- Eu poderia, mas hoje quem está fazendo o jantar é o papai, então eu quero que você coma dois pratões cheios de macarrão.

- Mas é só um pedacinho. É que eu estou com fome, e você demora muito tempo para cozinhar.

- Mas que calúnia! – Ele a pegou no colo. – Sofia, isso é verdade?

- É. – Ela respondeu sem lhe dar atenção, mexendo em seu celular.

- Não acredito que estou sendo bombardeado pelas minhas próprias filhas!

               Anna gargalhou, mas Sofia continuou mexendo no celular.

- O que tanto você faz nesse celular? – Fernando perguntou.

- Nada. – Respondeu apenas.

- Ela deve estar conversando com o Caio. – Anna cochichou.

- Anna Clara! – Sofia exclamou indignada.

- Quem é Caio? – Fernando perguntou.

- Não é ninguém! – Sofia aumentou a voz. – Essa garota não sabe do que está falando.

- Ei! Calma! – Fernando a olhou. – Não precisa gritar.

- Ela gosta dele, papai.

- É mentira! – Sofia disse nervosa.

- É verdade sim! – Anna retrucou.

- Pai, isso não é verdade!

- Parem, vocês duas. – Fernando disse calmamente. – Anna, você não pode ficar dizendo mentiras sobre a sua irmã.

- Mas é verdade!

- Cala a boca, Anna!

- Sofia! – Fernando a olhou assustado. Era a primeira vez que ela gritava com a irmã, e principalmente era a primeira vez que esbravejava com ela. As duas embora tivessem bastante diferença de idade sempre se deram bem.

- Argh! – Sofia exclamou impaciente colocando o copo sobre o balcão, dando as costas para os dois.

- Sofia, não me dê as costas!

               Sem dar ouvidos à Fernando, ela bateu os pés e saiu da cozinha. Fernando suspirou e colocou Anna sentada sobre o balcão.

- Filha, você não pode falar esse tipo de coisa... – Ele disse calmamente.

- Mas eu só disse a verdade.

- Acontece que a Sofia está... Bem... Como eu posso dizer... Na adolescência.

- Adolescência é tão chata assim?

- Como assim?

- Ela não brinca mais comigo e está sempre de mal humor. Ela só fica ouvindo musica e mexendo no celular, está muito chata para dizer a verdade.

               Fernando riu.

- É mais ou menos isso. Mas você não pode deixá-la envergonhada dessa maneira. Se ela gosta desse... Tal... De Caio... – Ele sentiu sua garganta queimar. – Você não pode sair falando com todo mundo.

- Eu não sabia.

- Bom... Depois nós conversamos com ela e você pede desculpas. Agora, quer me ajudar a terminar o molho?

- Sim! – Ela respondeu animada.

 

 

•••

 

 

               Letícia saiu do banho tendo um acesso de tosses e espirros. Parecia que de uma hora para outra o seu corpo sentiu o peso de três caminhões carregando toneladas de areia, mas ela se proibia adoecer. Tentando ao máximo disfarçar o corpo pesado e o nariz vermelho depois de tantos espirros, ela saiu do quarto indo ao primeiro andar. Assim que chegou à sala de jantar, Anna estava ajudando Fernando a colocar a mesa para o jantar, e os dois como sempre estavam animados, cantando.

- Papai, não é assim a musica! – Anna gargalhou.

- É claro que é!

- Não é não!

- O cantor é quem erra. Eu canto certo.

               Ela riu.

- Hum... Parece maravilhoso esse jantar. – Lety sorriu aproximando-se dos dois.

- Ah... Eu já ia te chamar. – Fernando sorriu lhe dando um beijo no rosto. – Está relaxada?

- Estou. – Mentiu. Seu corpo ainda estava totalmente dolorido. – E estou faminta também.

- O jantar já está pronto! – Anna comemorou.

- Que ótimo! E onde está a Sofia?

               Fernando e Anna se olharam.

- O que foi? – Letícia notou os olhares dos dois.

- Princesa, por que não vai lá em cima chamar a sua irmã?

- E se ela me jogar alguma coisa?

- Ela não vai te jogar nada. – Fernando riu. – Aproveite e peça desculpas pelo que disse.

- Tudo bem.

               Anna se afastou deixando os dois a sós.

- O que eu perdi? – Lety perguntou.

- Uma pequena explosão da Sofia.

- Por quê?

- Ela chegou desanimada da escola por algum motivo desconhecido, e Anna comentou sobre um... Garoto.

- Garoto?

- É, um garoto. Um tal de Caio. Anna disse que Sofia gosta dele e ela se irritou e gritou com ela.

- Sofia gritou?

- Pois é.

               Lety suspirou.

- Ela só deve estar passando por uma crise adolescente.

- Assim espero.

- Eu vou conversar com ela depois. – Lety se aproximou. – Agora... Podemos falar que eu estava morrendo de saudades de você?

- Podemos, é claro. Por que... Eu também estava. – Ele sorriu aproximando seu rosto do dela.

- Acho que hoje podemos matar as saudades, não acha? Mais tarde.

- Eu adoro essa sua proposta. – Ele sorriu malicioso. – Mal posso esperar.

- Eu também... – Ela riu, mas quando se aproximou, teve que se afastar por conta de um espirro. Logo depois outro. E outro.

- Esta tudo bem? – Fernando perguntou depois do quarto espirro. – Está com alergia de mim? – Brincou.

- Não. – Ela respirou fundo. – Não foi nada. – Sorriu. – Está tudo bem.

- Papai! Papai! – Anna voltou para a sala. – Sofi disse que não quer descer para jantar, e disse que só quer ficar sozinha.

               Fernando e Letícia se olharam.

- Eu vou conversar...

- Não. – Fernando a interrompeu. – Pode se sentar e começar o jantar. Eu vou falar com ela.

- Tem certeza?

- Sim. – Fernando se aproximou beijando sua testa. – Hoje é sua noite de folga.

               Ela riu.

- Boa sorte então.

- Vou precisar. – Ele riu se afastando. – Ah, será que você não teria um escudo por aí?

- Fernando! – Lety riu e ele saiu da sala, subindo para o segundo andar.   

               Em silencio ele se aproximou da porta do quarto de Sofia, e ela estava deitada em sua cama ouvindo musica enquanto mexia no celular. Ela ergueu os olhos assim que ele parou à porta, mas não lhe deu atenção.

- Então você está fazendo greve? – Perguntou olhando-a.

- Não, só estou sem fome. – Respondeu ainda sem lhe dar atenção.

- Sofi... – Fernando adentrou o quarto, sentando-se ao lado dela na cama. – O que está acontecendo?

- Não é nada. – Ela largou o celular sobre a cama. – Só não estou muito a fim de conversar.

- Não é apenas isso. Você voltou um pouco estressada da escola. Está tendo algum problema com as notas?

- Não.

- Com alguém da sua sala?

- Não, claro que não.

- Então o que é?

               Ela suspirou.

- Não é nada, pai. Está tudo bem.

- Não está tudo bem... Você sabe que pode contar comigo, não é? Para dizer qualquer coisa.

               Ela ficou em silencio.

- Se tiver algo te incomodando, eu quero que me diga... Eu farei o possível para te ajudar.

- Você não pode me ajudar nisso...

- Então eu posso fazer alguma coisa?

- É que... – Ela o olhou. – Eu me sentira melhor se conversasse sobre isso com a mamãe.

- Ah... Entendi. – Ele sorriu. – Conversa de mulheres.

- É...

- Tudo bem. – Ele se levantou. – Vou chamá-la para você.

- Obrigada.

               Fernando caminhou até a porta, mas antes que saísse, Sofia o chamou.

- Obrigada por ter se preocupado. – Ela sorriu.

               Ele retribuiu o sorriso e saiu do quarto, voltando para o primeiro andar. Assim que entrou à sala de jantar, Anna e Lety estavam conversando animadamente enquanto o esperavam para o jantar. Assim que o viu, as duas se calaram e olharam curiosas para ele, esperando que dissesse sobre a conversa com Sofia.

- E então? – Lety perguntou.

- Ela quer falar com você. – Ele sentou-se à mesa.

- Comigo?

- Sim. Conversa de mulheres.

               Lety continuou confusa.

- É melhor você subir.

               Ela não fez mais perguntas, percebendo que Fernando estava um pouco incomodado. Imediatamente Lety levantou-se da mesa e subiu para o segundo andar, seguindo diretamente para o quarto de Sofia. Ela estava deitada em sua cama parecendo pensativa enquanto encarava o teto, deitada em sua cama. Lety bateu à porta e ela sentou-se olhando para ela.

- Posso entrar?

- Claro.

               Ela se aproximou, sentando-se ao lado de Sofia.

- Seu pai disse que você queria conversar comigo. Está com algum problema na escola?

- Mais ou menos...

- Relacionado às notas? Alguma coisa que devemos nos preocupar?

- Não. Não é nada disso. É só... Um... Garoto.

               Letícia não pôde evitar em sorrir.

- Um garoto?

- Sim.

- Me conte. – Ela ajeitou-se à cama.

- É que... Ele... Parece gostar de mim, e eu meio que... Criei algum tipo de sentimento por ele.

- É a primeira vez?

- Que eu sinto isso por alguém? Sim.

- Bom... Você se lembra das conversas que temos de vez em quando?

- Sim, eu sei. – Respondeu rapidamente. – Não é para tanto, mãe. Eu só... Gosto dele.

- E por que você está tão desanimada?

- Porque eu não sei se devo. Ele parece gostar de mim, mas... E se ele fizer isso com todas as outras meninas?

- Você já conversou com ele sobre isso?

- Ainda não.

- Então não tem como saber isso...

- Mas o que eu digo para ele? Não posso falar que gosto dele. E se ele achar isso ridículo?

- Ele não vai achar isso ridículo, mas se achasse... Você saberia de cara que ele não é a pessoa certa para você.

               Sofia suspirou.

- Você é linda, meu amor... – Letícia sorriu. – E é uma pessoa maravilhosa. Por que ele não gostaria de você?

- Eu não sou como... As outras meninas. Elas têm mais facilidade de conversar com garotos, e eu não tenho.

- E por que isso te faz inferior à elas? Existem garotos que gostam de meninas misteriosas...

- Mistério e vergonha são coisas totalmente diferentes, mãe.

               Lety riu.

- O fato é que você não precisa ficar mal humorada por isso.

- Eu sei. – Ela a olhou triste. – Eu não queria gritar com a Anna e também não queria ser rude com o papai. Eu só... Não estava me sentindo muito bem.

- Eu entendo. Já passei pela adolescência. Mesmo que faça muito tempo.

               Sofia riu.

- Mas nós estamos do seu lado, tanto eu quanto seu pai, principalmente a Anna que se espelha tanto em você. Você pode sempre sentir-se à vontade de nos contar qualquer coisa que estiver te incomodando.

- Eu não quis falar isso com o papai por que... Bem... Ele ficou um pouco enciumado com o que a Anna disse na cozinha.

- Sei bem. – Letícia riu. – Mas não se preocupe. Ele pode ficar um pouco tenso no início, mas uma hora ele terá que se acostumar que você é linda, e que logo vai arrumar um namorado.

- Não sei se vai ser tão rápido assim. – Sofia riu.

- E não precisa de pressa. Você vai saber quando for a pessoa certa.

- Tem razão. – Ela suspirou aliviada. – Obrigada pela conversa, mãe. Eu me sinto bem melhor.

- Fico feliz em ter ajudado.

               Sofia se apressou em agradecer Lety com um abraço sincero.

- Agora... Vai continuar aqui em cima trancada no quarto ou vai descer para jantar com sua família?

- Eu vou descer. – Ela riu. – Agora me sinto melhor.

- Ótimo. – Letícia levantou-se e esticou sua mão para ela. – Vamos?

- Vamos. – Sofia segurou sua mão.

 

 

•••

 

 

               O jantar seguiu animado como todas as noites. Sofia estava muito mais à vontade, inclusive à ponto de pedir desculpas publicamente para Anna e Fernando sobre sua atitude de horas antes. Depois de um animado jantar, a família permaneceu reunida na sala de televisão, e Fernando à todo o tempo se negou à deixar Letícia fazer qualquer coisa relacionada à casa, dizendo ser a sua “noite de folga”. Ela jamais recusaria, principalmente porque estava exausta do trabalho, mas percebeu que já estava acostumada com sua rotina, que mesmo sendo cansativa, era gratificante ao fim do dia.

- Anna, pra cama, baixinha. – Fernando entrou no quarto e a pegou no colo, fazendo-a gargalhar.

- Ah papai, deixa eu dormir com a Sofi hoje?

- A cama é muito pequena para vocês duas, meu amor.

- Não tem problema, pai. – Sofia sorriu. – A gente se ajeita.

- Tem certeza?

- Sim.

- Oba! – Anna comemorou.

- Bom... Já que insistem. – Fernando encheu Anna de beijos e a colocou de volta à cama. – Quer uma explosão de beijos também? – Ele perguntou à Sofia.

- Ahm... Não. Obrigada. Estou feliz com um só por noite.

- Acho que ela está com vergonha. – Ele colocou as mãos à cintura.

- Eu também acho. – Anna riu.

- Então acho que vamos ter que fazer explosão de beijos ao mesmo tempo. Pronta?

- Pronta!

- Ah não, pai!

- AGORA!

               Fernando e Anna encheram Sofia de beijos enquanto ela ria e tentava escapar. Letícia chegou ao quarto no mesmo instante e escorou-se ao portal sorrindo com a cena.

- Viu só? Vai ter uma noite até mais animada. – Fernando riu.

               Anna riu e deitou-se ao lado de Sofia, coçando os olhos logo depois.

- Ih, tem alguém que já está caindo de sono. – Lety comentou aproximando-se.

- Nós já vamos dormir. – Sofia ajeitou-se à cama para que coubesse as duas.

- Tem certeza que está tudo bem por aí?

- Sim!

- Então, boa noite. – Letícia beijou cada uma delas. – Durmam bem.

- Boa noite! – As duas responderam em uníssono.

- E não fiquem fofocando até tarde. Estamos de olho. – Fernando gesticulou.

- Não vamos. – Sofia riu.

               Fernando saiu do quarto e Letícia apagou a luz. Assim que saiu no corredor, foi surpreendida com um abraço caloroso de Fernando, seguido por um beijo.

- Você é louco! – Ela sussurrou olhando para o lado.

- Estava morrendo de saudades. – Ele cochichou.

- Eu também. – Lety entrelaçou seus braços em volta dele. – Fiquei tão feliz quando vi que você chegou mais cedo.

- Ah... Sobre isso... Precisamos conversar.

- O que foi? – Ela o olhou apreensiva. – Você não foi demitido, não é?

- Não. – Ele riu. – Não é isso. Vamos conversar no quarto.

- Tudo bem.

               Os dois seguiram pelo corredor e assim que entraram no quarto, Fernando fechou a porta e olhou para Lety.

- Está me deixando preocupada. – Ela cruzou os braços.

- Não fique. Eu só... Preciso de uma opinião sua.

- Opinião?

- Hoje o Doutor Marcos veio conversar comigo, e disse que eu pareço um pouco... Cansado com o aumento da carga horária. Ele disse que sabe sobre nossa família e sabe o quanto sou apegado à vocês, e ele está preocupado que isso cause algum problema.

- Mas nós decidimos juntos... Quero dizer... Era o que você queria, não é? Não só pelo aumento do salário, mas você realmente tem paixão por trabalhar.

- Mas por um lado ele tem razão, Lety. – Ele suspirou. – Não quero que isso cause algum problema na nossa família.

- E por que causaria, meu amor?

- Eu sei que você está ficando sobrecarregada com tudo desde que eu comecei a trabalhar mais.

- Não estou não.

- Carolina me ligou hoje.

- Ligou? Para que?

- Ela disse que você estava cansada no trabalho e está tentando disfarçar um resfriado.

- Isso não é verdade.

- Então por que você estava espirrando a cada cinco minutos durante o jantar?

               Ela suspirou.

- Fernando, isso não é nada.

- Lety, eu não quero que você fique sobrecarregada com tudo. Eu prometi que te ajudaria, e eu vou fazer isso.

- Mas eu dou conta. Só está muito recente... Logo eu me acostumo e não vou me sentir tão cansada mais. De verdade.

- Eu não quero pagar para ver. E principalmente não quero que... Um dia nós dois...

- Nós dois o que?

- Doutor Marcos disse que quando ele aceitou ser o chefe da equipe, ele se divorciou.

- Fernando! – Letícia riu e se aproximou, tocando em seu rosto. – São coisas totalmente diferentes. A função dele exige muito mais, e com certeza ele já estava com problemas no casamento. Nós não temos esse problema.

- Eu sei. Só... Fiquei pensando nisso, e de verdade, não me agradou em nada pensar nessas conseqüências.

- Você não teve a proposta de ser o chefe da sua equipe, não é?

- Não. Claro que não.

- Então isso não é problema.

- Mas eu já tomei a minha decisão.

- E qual foi?

- Eu vou escolher vocês. – Ele a abraçou pela cintura. – Sempre.

- Fernando...

- Ele vai me entender, eu tenho certeza. Do contrário ele não teria me sugerido à voltar para a minha carga horária de sempre.

- E quanto à sua paixão pelo trabalho?

- Ela não é maior do que minha paixão por vocês.

               Letícía sorriu.

- De qualquer maneira, vou continuar exercendo minha profissão, mas com uma carga horária menor. E talvez o salário também, mas nós damos um jeito.

- Isso nunca foi problema para nós dois. – Ela riu. – Por isso você tem uma esposa que também trabalha para te ajudar com a casa.

- Mas de qualquer maneira amanhã vou dizer ao meu chefe que prefiro voltar para minha carga horária menor. Vou poder aproveitar mais com minhas filhas... E com a minha esposa... – Ele sorriu beijando-a.

               Letícia estava começando a se empolgar com o beijo, mas antes que pudesse guiá-lo até a cama, Fernando o interrompeu olhando-a com seriedade.

- O que foi? – Ela perguntou.

- Hoje eu recebi outra cantada.

- Outra? – Perguntou perplexa. – De quem?

- Da mãe de uma paciente.

- Essas mulheres não têm mais o que fazer não? As filhas fazendo tratamento e elas se preocupando em cantar os médicos! – Respondeu revoltada. – Será que não enxergam essa aliança enorme no seu dedo não?

               Fernando riu.

- E o que você disse para ela?

- Eu disse exatamente isso. Que sou casado, e que ela deveria se preocupar com o tratamento da filha dela.

- É um absurdo! Isso é o cúmulo! Existe mulher safada até dentro de hospital!

- Calma, amor. – Fernando riu.

- Calma o caramba! Eu só não vou até lá mostrar para elas que você é casado porque não tenho coragem de fazer barraco em um hospital. Mas a minha vontade é de... Argh!

               Fernando tocou nos ombros dela, divertido.

- Você fica uma graça com ciúmes.

- Uma graça vai ser quando eu tatuar na sua testa que você é casado, Fernando Mendiola!

               Com raiva, Letícia se afastou e seguiu para o banheiro. Fernando não se preocupou. Continuou rindo, parado no mesmo lugar. Sabia que a raiva de Letícia era por causa da situação, e não diretamente com ele. Aos poucos ela se acalmaria, principalmente depois da massagem que ele pretendia fazer para que ela relaxasse depois de um dia cansativo. Ao se pegar rindo da situação, Fernando teve ainda mais certeza de sua escolha. Sua família era a coisa mais preciosa da sua vida, e ele não a trocaria por nada no mundo. Passar um tempo a mais com suas filhas e principalmente com Lety era incomparável, e nada no mundo o faria mudar de idéia. 


Notas Finais


Capítulo meio nhonho demais né? Mas prometo que no próximo as coisas vão balançar um pouco mais haha.


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