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História Love Inside Out - Pai Descolado


Escrita por: jaimencanto

Capítulo 21 - Pai Descolado


- Fernando, você quer se sentar, por favor? – Letícia pediu pela quinta vez enquanto jogava damas com Anna.

- Não consigo. – Ele disse andando de um lado para o outro no jardim. – Nunca pensei que eu fosse ser um pai tão careta, meu Deus!

- É só você não ser. – Ela disse paciente. – Ela só vai te apresentar ele, e foi você quem pediu.

- É claro. Como vou deixar minha filha sair sem que eu conheça o indivíduo?

- O que é indivíduo, mamãe? – Anna perguntou.

- Depois eu te explico, meu amor. – Letícia sorriu. – Fernando, senta nessa cadeira e fique calmo!

               Fernando revirou os olhos e sentou-se à mesa com as duas, mas suas pernas continuaram balançando freneticamente, demonstrando seu nervosismo.

- Papai, quando eu tiver um namorado você também vai ficar assim? – Anna perguntou ingênua.

               Letícia prendeu o riso e olhou divertida para Fernando.

- Meu amor, você não vai querer ter um namorado. – Ele sorriu.

- Por que não?

- Porque eles são maus!

- Fernando! – Letícia chamou sua atenção.

- Você está com ciúmes, papai? – Ela gargalhou.

- Parece que sim. – Lety riu.

               Fernando apenas bufou e tentou ignorar a chacota das duas. Ele tinha um problema maior para se preocupar. Sofia saiu ao jardim totalmente arrumada, com um vestido rosa que Lety havia lhe dado no ultimo aniversario, uma maquiagem leve e os cabelos longos soltos sobre os ombros. Todos voltaram sua atenção para ela, mas apenas Fernando ficou encarando-a com seriedade quando ela se aproximou.

- Está muito exagerado? – Ela perguntou dando uma volta.

- Não, meu amor. Está linda! – Lety exclamou sorridente.

- Está mesmo! – Anna concordou.

- Obrigada. – Ela sorriu aliviada e olhou para Fernando. – O que foi?

- Nada. – Ele respondeu escorando o rosto em sua mão. – Não está muito curto esse vestido?

- Claro que não. – Sofia olhou para a própria roupa.

- Só estou perguntando...

- Seu pai está com ciúmes. – Letícia comentou e Sofia riu.

- Não estou com ciúmes!

- Não precisa disso, pai. Só vamos... Sair. Para conversar. Só isso.

- Espero mesmo que seja só para conversar.

               Letícia o repreendeu no mesmo instante que o celular de Sofia vibrou.

- Ele chegou. – Ela sorriu. – Vou dizer para ele entrar.

               Fernando se mexeu inquieto à cadeira e Letícia piscou para ele. Sabia o quanto ele estava tenso naquele momento, mas também sabia que logo isso iria passar. Sofia foi até o portão para se encontrar com o garoto, e todos aguardaram à mesa. Anna se inclinou sobre a cadeira para conseguir enxergar, e em pouco tempo Sofia fechou o portão, caminhando com o garoto na direção em que eles estavam. Fernando fechou a mão que estava sobre a mesa e deu um longo suspiro que chamou a atenção de Lety.

- Seja educado. – Ela sussurrou.

- Mãe, pai, Anna... Esse é o Caio. Caio... Minha família.

- Muito prazer. – Ele sorriu e então Fernando se levantou encarando-o. Letícia e Sofia o olharam temendo o que ele faria, mas Fernando apenas cruzou os braços.

- Quantos anos você tem, Caio?

- Tenho 17.

- Um ano mais velho que a Sofia, então.

- Pai...

- E você trabalha?

- Sim, eu trabalho com meu pai. Ele tem uma loja de peças de carro.

- Ah... Bom. E você pretende fazer faculdade?

               Letícia revirou os olhos.

- Sim, é claro. Ano que vem farei o vestibular.

- E pretende fazer faculdade de que?

- De medicina. É o meu sonho desde sempre.

               Sofia e Letícia voltaram a atenção para Fernando, e então ele descruzou os braços, esticando a mão para Caio. Parecendo aliviado com a situação, o garoto apertou a mão de Fernando e Sofia sorriu por ele ainda ter a sua mão.

- E aonde vocês vão?

- Vamos ver um filme, tomar um sorvete...

- Ah, sim. – Fernando olhou para Sofia. – Bom... Podem ir então.

- Sério? – Ela perguntou parecendo incrédula.

- Sim.

- Tudo bem. Então... Tchau. – Ela acenou para todos.

- Foi um prazer conhecê-los. – Caio sorriu.

- Ah, Caio. – Fernando o chamou. – Ela tem que estar aqui até as nove.

- Sim, é claro. Às oito e meia eu trago ela de volta.

- Vocês vão de táxi?

- Não. Meu pai vai nos levar. Está nos esperando ali fora.

               Fernando apenas assentiu e voltou a cruzar os braços.

- Divirtam-se. – Letícia sorriu.

               Sofia e Caio acenaram e caminharam juntos em direção ao portão.

- Foi tão ruim como pensava? – Letícia olhou divertida para Fernando.

- Não... Acho que não. – Ele voltou a se sentar e suspirou.

- Ele parece ser um bom garoto.

- É... Parece. Mas só teremos certeza com o tempo.

- Eu achei ele bonito. – Anna comentou rindo.

- Ei. Volta a se concentrar no jogo. – Fernando ralhou e Letícia riu.

 

 

 

•••

 

 

 

               Fernando saiu do banho e Letícia estava deitada à cama lendo um livro. Assim que o viu sair, ela fechou o livro e o colocou sobre a cama, encarando Fernando.

– E então? Está mais relaxado?

- Não muito. Ao menos até ela voltar.

- Ela já deve estar voltando.

- Assim espero.

- Você quer mesmo ficar se preocupando com isso? Sempre disse que seria um pai “descolado”. Tenho certeza que pais descolados não fazem isso. – Ela riu.

- Eu disse isso quando Sofia ainda era criança. Não esperava que fosse ficar tão preocupado assim. Ela é uma menina muito bonita, e com certeza tem vários garotos atrás dela. Não me sinto confortável com isso.

- Mas ela também é esperta e muito bem educada. Ela não faria nada de errado.

- Eu sei. – Fernando sentou-se pesadamente à cama.

- É com isso que está preocupado?

- Mais ou menos.

- Não fique, então. Você conhece a Sofi...

- É. – Fernando sorriu. – Tem razão.

- Quer saber algo que te animaria? Um churrasco.

               Fernando riu.

- Eu tenho certeza! Por que não fazemos um amanhã? Chamamos Carolina, Omar, Stella, seus amigos da faculdade... Você não estava dizendo esses dias que há muito tempo não os vê?

- Seria realmente muito bom.

- Então vamos fazer! Vamos mandar uma mensagem.

               Fernando a olhou e antes que ela pegasse o celular, ele segurou sua mão.

- Você sempre sabe a melhor maneira de me animar, não é? – Ele a puxou para mais perto.

- É claro que sim. Te conheço até do avesso.

- Hum... Sabia que ouvir você dizer isso me deixa totalmente excitado?

- É mesmo? Então acho que teremos que resolver esse problema mais tarde, não é?

- Eu tenho certeza. – Ele sorriu malicioso e a beijou.

               Antes que pudessem intensificar o beijo, ouviram o barulho do portão sendo fechado.

- Ela chegou. – Letícia comentou pausando o beijo.

- Eu já estava conseguindo me aliviar. – Fernando sorriu sem se afastar.

- Sei. – Ela riu e se levantou. – Vamos ver como foi o primeiro encontro.

- Acho que não vou querer saber isso.

- Fernando...

-Tudo bem.

               Assim que ele se levantou, os dois seguiram para o corredor no mesmo instante que Sofia terminava de subir as escadas. Ela estava sorrindo abobada e mal notou que os dois estavam à sua frente.

- Como foi? – Lety perguntou empolgada e só então Sofia os viu ali.

- Ah! Oi. – Ela abriu ainda mais o sorriso. – Foi... Bom.

- Só isso?

- Ela não precisa aprofundar os detalhes, Lety. – Fernando disse escorando à parede. – Ele te respeitou?

- Claro. Totalmente.

- E vão sair mais vezes?

- Espero que sim.

- Amanhã vamos fazer um churrasco aqui. Pode chamá-lo. – Lety sugeriu.

- Posso mesmo? – Sofia perguntou animada.

               Fernando continuou em silencio e Letícia o olhou.

- Claro que pode, não é amor?

               Ele suspirou e então sorriu.

- Claro. Pode sim.

- Legal! – Sofia continuou a sorrir. – Bom... Vou ler um pouco e depois dormir. Anna já foi deitar?

- Sim. Faz pouco tempo.

- Então... Boa noite. – Sofia se despediu de Lety com um beijo, fazendo o mesmo com Fernando.

               Parecendo nas nuvens, ela caminhou até o seu quarto e fechou a porta.

- Ela está tão feliz. – Letícia sorriu.

               Fernando não respondeu. Apenas caminhou até o quarto dos dois e Lety o seguiu.

- Você também deveria estar feliz por ela.

- Eu estou. – Ele respondeu caminhando até a cama.

- Não está parecendo.

- Lety, eu não preciso ficar por aí esbanjando sorrisos também.

- Fernando, para de ser bobo! Sofia já tem dezesseis anos, já está mais do que na hora de ter um namorado!

- Eu não sabia que tinha idade para isso.

- Você com dezesseis anos não era nem virgem mais.

- Isso é totalmente diferente.

- Por que você é homem?

- É, exatamente por isso.

- Sabia que isso é machismo?

- Essa não é a questão, Lety.

- Acabamos de dizer que ela é uma boa garota e é esperta o suficiente para não fazer nada sem pensar antes. Já conversamos tanto com ela sobre esse assunto. Acha mesmo que ela ainda não aprendeu tudo?

- Não é isso. Eu só não me sinto bem em pensar que minha filha já cresceu tanto à ponto de ter um namorado. Eu estou acostumado a ser o único homem na vida dela.

               Letícia sorriu e se aproximou, tocando em seus ombros.

- Mas você ainda é o mais especial. Meu Deus... Eu não sabia que você seria tão ciumento.

- Mas eu sou. Ciumento, louco, neurótico.

               Ela gargalhou.

- Eu deveria filmar isso para te mostrar depois. O pai “descolado” tendo crises de ciúmes.

               Fernando não conseguiu se segurar e também riu, juntando-se à ela. Enfim ele respirou fundo e a abraçou pela cintura.

- Tem razão. Eu vou... Tentar pegar mais leve com isso.

- Ela chegou no horário certo, estava feliz, e com certeza ele a respeitou muito. Vamos ficar felizes por isso.

- É. Vamos. – Ele sorriu. – Mas... Acho que você está me devendo uma coisa.

- Ainda é cedo. Anna pode acordar, você sabe.

- Ela não vai acordar. Brincou o dia inteiro.

- Não seja desesperado, Fernando Mendiola.

- A culpa é toda sua. – Ele a puxou para mais perto e ela riu. – O que acha de termos mais filhos?

- Você ainda tem coragem de dizer isso depois de uma crise de ciúmes?

- Podemos ter um menino.

- Podemos ter outra menina e você pode enlouquecer com isso. Aí terá que se preocupar com a Anna, e com a outra...

- Tudo bem. Vamos esperar mais um tempo.

               Ela sorriu.

- Mas isso não quer dizer que não podemos ir treinando para isso. – Ela sussurrou desabotoando a camisa dele. – Afinal temos que ser bem experientes para isso, não é?

- Sabe que eu acho que precisamos mesmo treinar algumas coisas? Ainda sinto que podemos melhorar.

- Eu penso exatamente igual.

- Vamos começar agora então.

               Antes de Letícia responder, Fernando deitou-se à cama e a puxou para cima dele. Ela gargalhou e logo depois o beijou com ternura.

- O que acha de fechar a porta? – Ele perguntou divertido.

- Eu acho que você é insistente.

- Tem razão. Podemos fazer com a porta aberta mesmo.

               Letícia bufou e se levantou, fechando a porta.

- Satisfeito?

- Quase. Pretendo ficar mais.

               Ela balançou a cabeça e voltou a se deitar à cama, sendo envolvida com um beijo caloroso de Fernando.

 

 

 

•••

 

 

 

               Os preparativos para o churrasco já tinham começado. Logo cedo Fernando fez as compras enquanto Letícia adiantava tudo na cozinha, tendo a ajuda das meninas. Sofia estava claramente animada naquele dia, e Letícia estava curiosa para saber mais sobre o encontro.

- E então... Chamou o Caio para vir hoje? – Lety perguntou enquanto temperava a salada.

- Sim! – Sofia sorriu. – Ele disse que virá.

- Que bom! Só espero que ele não ache todo mundo um pouco louco.

- Acho que ele gosta de pessoas assim.

- Então ele está na família certa.

               Sofia riu.

- Meu amor... Por que não leva esses guardanapos lá pra fora e arrume a mesa para mim? – Lety sugeriu à Anna.

- Tudo bem!

               A garotinha pegou os guardanapos e saiu animada da cozinha. Letícia aproveitou que ela e Sofia estavam a sós e virou-se para ela, escorando-se ao balcão.

- Então...

- Então o que?

- Vocês se beijaram?

               Sofia riu.

- Mãe...

- Pode me contar. Eu não sou como o seu pai.

- Sim. Nos beijamos.

- E como foi?

- Foi um pouco... Estranho. Mas eu gostei.

- E vocês estão namorando?

- Não. Ainda não. Eu não sei como estamos, na verdade. Acho que precisamos sair um pouco mais para saber.

- Isso é ótimo. – Lety sorriu. – Ele parece ser um bom garoto.

- É. Ele é. O que me surpreende já que ele foi criado apenas pelo pai.

- É mesmo? E o que aconteceu com a mãe dele?

- Abandonou os dois quando ele nasceu. Ele ainda não me disse exatamente porque. Parece que ele não se sente muito à vontade com isso.

- Entendo. Bom... Talvez seja algo que ele queira esquecer.

- É, mas é um pouco estranho, sabe? Eu contei sobre os meus pais biológicos para ele. Eu... Meio que confiei. E parece que ele não tem essa mesma confiança comigo.

- Mas são casos um pouco diferentes, não é? Ele conviveu com a ausência da mãe por dezessete anos.

               Sofia a olhou pensativa.

- Mas já que você quer tanto que ele confie em você para contar isso, diga isso à ele. Talvez ele esteja esperando que você demonstre que se importa.

- Você acha?

- Acho que sim. Você pode aproveitar o momento descontraído de hoje para conversarem. Tenho certeza que depois que ele se sentir mais à vontade ele vai querer se abrir para você.

- Acho que farei isso. – Ela sorriu. – Poxa, mãe. Você é tão sábia. Deveria ter feito psicologia.

- Ah, claro! – Letícia riu e voltou sua atenção para a salada. – E então eu iria ficar louca ouvindo tantos problemas.

               Sofia riu.

- O papai ficou mesmo com ciúmes ontem?

- Sim. Estava em tempo de ter um ataque até você chegar.

- Mas por quê? Eu sempre achei que ele levaria isso numa boa.

- Eu também pensei. Mas seu pai sempre foi bem ciumento, não seria diferente com vocês.

- A Anna que teve sorte. Eu estou levando tudo agora. Quando ela tiver um namorado ele já não vai estar mais assim.

- Não confie tanto nisso. Ele pode piorar com a idade.

               Elas riram.

- Espero que ele não nos escute dizendo isso.

- Acho que alguém vai precisar de um banho. – Fernando apareceu na cozinha carregando Anna em seu colo, completamente suja de carvão.

- Meu Deus! O que aconteceu? – Lety perguntou abismada.

- Eu estava ajudando o papai a acender a churrasqueira. – Anna respondeu animada.

- Fernando você perdeu o juízo? E se ela se queimasse?

- Ela não estava perto da churrasqueira, Lety. Eu só pedi para que ela pegasse o carvão. Acha que eu sou doido?

               Letícia não precisava responder.

- Eu também vou tomar um banho. Fiquei suado. – Ele colocou Anna no chão.

- Deixa que eu ajudo ela com o banho. – Sofia se ofereceu.

- Obrigada, filha. – Letícia suspirou. – Pelo visto tenho duas crianças e uma adolescente na casa.

- Eu também sou adolescente. – Fernando sorriu se aproximando de Lety.

- Fernando, nem pense nisso! Você está suado e eu já tomei banho...

               Foi a mesma coisa se Letícia não tivesse dito nada. Fernando a abraçou por trás e lhe deu um beijo demorado no rosto. Sofia e Anna gargalharam e antes que Lety conseguisse certar uma colher de pau na cabeça de Fernando, ele se afastou assim como as meninas. Assim que ficou sozinha na cozinha Lety balançou a cabeça indignada, mas não resistiu em rir logo depois.

 

 

•••

 

 

 

Fernando voltou à cozinha e terminava de abotoar a sua camisa branca que Letícia tanto amava. Ela o encarou com desejo e logo ele notou os olhares dela sobre ele.

- O que foi? – Perguntou divertido se aproximando.

- Nada. – Ela sorriu. – Gosto dessa camisa.

- Eu sei. Por que acha que eu a coloquei?

- Danadinho. – Ela riu e ele lhe deu um rápido beijo.

- Precisa de ajuda?

- Não, já está tudo pronto.

               Fernando roubou um tomate da salada e o comeu.

- Preciso te dizer uma coisa, para você não dar um chilique no meio do churrasco.

- O que?

- O amigo da Sofi parece ter... Um problema em relação à mãe.

- Por quê?

- Sofia disse que ela os abandonou quando ele nasceu, e ele foi criado pelo pai. Ela está preocupada porque ele não se sente a vontade falando sobre isso, mesmo depois que ela contou sobre os pais.

- E por que eu daria chilique com isso?

- Porque eu sugeri que ela conversasse com ele hoje, aproveitando o momento descontraído. Eles provavelmente vão precisar ficar sozinhos.

               Fernando escorou-se ao balcão.

- Por mim tudo bem.

               Lety o olhou surpresa.

- Tudo bem?

- Sim. Se ela acha que ele precisa falar sobre isso, então tudo bem.

- Uau. O que aconteceu com o pai ciumento de ontem?

- Eu disse que pegaria mais leve. – Ele sorriu. – Não quero que minhas filhas pensem que sou louco.

- Acho que é tarde demais para isso.

               Fernando riu e jogou uma azeitona contra Lety.

- Não desperdice comida, Fernando Mendiola. – Ela riu.

               O interfone tocou para interromper a brincadeira dos dois. Fernando caminhou até o aparelho e o atendeu, da mesma maneira que atendia todas as vezes.

- Mansão dos Mendiola.

               Lety balançou a cabeça rindo.

- Omar? Não conheço nenhum Omar, desculpe.

               Ele olhou divertido para Lety.

- Que coisa feia dizer esse monte de palavrão, Carvajal. Sua mãe não te deu educação? Vou abrir pra te mostrar que sou educado.

               Fernando apertou o botão para abrir o portão e então o desligou.

- Pronto. Agora o churrasco vai começar. E que fique claro que eu vou escolher as musicas.

- Fernando, não! Por favor!

- Ontem você disse que tudo bem!

- Mas eu estava em um momento... Delicado. – Ela corou. – Não era hora de voce perguntar isso.

- Então quer dizer que durante o sexo voce diz sim para tudo? Bom saber.

               Ele riu e antes que ela xingasse um palavrão ele a beijou, saindo da cozinha logo depois.

               Todos os amigos que foram convidados estavam presentes, e de fato Letícia tinha razão. Um churrasco conseguia animar Fernando de todas as maneiras possíveis. Por várias vezes ela se pegava sorrindo admirando-o quando dizia uma piada ou quando dava gargalhadas. Mesmo que tivesse uma “divisão” de assuntos entre mulheres e homens, ela não conseguia parar de olhá-lo mesmo quando todas estavam conversando.

- O amigo da Sofia é muito bonito, Lety. – Stella comentou quando todas conversavam.

               Todas se viraram para onde os dois estavam sentados, um pouco distante dos outros, acompanhados de Anna, que parecia encher o garoto de perguntas.

- Ele é uma boa pessoa. – Lety comentou enquanto os olhava.

- E como Fernando está agindo com isso? Porque uma pessoa que tinha ciúmes da irmã até pouco tempo só pode ter surtado quando Sofia trouxe um garoto para casa.

               Todas riram.

- Foi mais ou menos isso, mas ele está se saindo bem.

- Elas cresceram tão rápido. – Monica comentou. – Eu lembro quando conheci Sofia e ela era uma garotinha.

- Nem me fale. O tempo passa muito rápido. – Letícia suspirou.

- Mas você ainda está nova. Pode ter mais filhos.

- Fernando fala isso todos os dias. – Ela riu. – Mas é melhor esperarmos um tempo mais.

- Um tempo mais? Para que? – Carolina perguntou. – Sinceramente, se Omar fosse como o Fernando nós já teríamos uns cinco filhos.

               Elas riram.

- Eu estou seriamente pensando em adotar. – Monica comentou.

- Isso é ótimo! – Lety disse.

- É... Uma pena ser tão burocrático. Principalmente para um casal de mulheres.

- Mas não desista. – Disse Stella.

- Nós vamos conversar um pouco mais sobre isso, e vamos correr atrás.

               Os homens gargalharam e elas voltaram a atenção para eles.

- Stella, por que você não tenta conhecer melhor um dos amigos do Fernando? – Carolina sugeriu.

- Ah, se você quiser, eu aconselho fazer isso com Eduardo. – Monica disse. – Porque o Pedro e o Caíque não prestam nem para lavar o copo que bebe água.

- Que horror. – Stella torceu a boca. – Não quero um namorado assim, Deus me livre.

- Agora com todo o respeito, Lety. Foi você quem tirou a sorte grande. – Monica riu. – Acredite, Fernando era o cara mais cobiçado da faculdade. As meninas ficavam em tempo de ter um ataque quando estavam perto dele.

               Letícia sorriu olhando para ele.

- E por experiência própria, eu nunca imaginei que Fernando se tornaria esse pai de família. Sinceramente. – Stella bebeu um gole de sua cerveja. – Ele sempre foi tão mulherengo, saía todo fim de semana e até durante a semana.

- Mas a Lety mudou ele. – Carolina riu.

- E que mudança!

- E você ainda está querendo esperar para ter mais filhos com ele... – Monica balançou a cabeça.

               Ainda olhando para Fernando, Lety riu do comentário. Sabia que todas elas tinham razão, e sentia orgulho disso. De repente Fernando caminhou na direção em que elas estavam e entregou um copo de cerveja para Lety.

- Ah, não acredito! Além de tudo isso ele ainda serve cerveja para ela. – Monica brincou e elas riram. – Fernando, você é único mesmo!

- Estavam falando de mim? – Ele sorriu galanteador.

- Estávamos dizendo para a Lety que vocês precisam ter mais filhos. – Stella disse. – Eu preciso de mais sobrinhos, já que pelo visto não terei os meus tão cedo.

- Não é por falta de pedidos, não é amor? – Ele sorriu para Lety.

- Acho melhor pararem de colocar essas coisas na cabeça do Fernando. Ele não vai me deixar em paz até eu aceitar.

- Então aceite logo! – Carolina disse.

- Vocês acham que ter filhos é só querer e pronto? – Ela riu. – E acho que deveriam pensar na possibilidade de termos mais uma menina e o Fernando ter um ataque do coração igual ao que teve ontem.

- Ataque? Por quê? – Stella perguntou curiosa.

- Por nada. A Lety está brincando.

- Sei...

               De repente Anna apareceu abraçando Fernando pela cintura. Ele a tirou do chão e a colocou em seu ombro, correndo com ela pelo jardim.

- Que coisa mais linda! – Stella comentou. – Meu irmão é um pai babão.

- Você não sabe o que eu passo em casa com esses dois. – Lety riu.

- Mãe... – Sofia se aproximou de mãos dadas com Caio. – Nós vamos conversar lá dentro, tudo bem?

- Claro, meu amor. – Letícia sorriu. – Está tudo bem? Querem alguma coisa?

- Não, estamos bem.

- Caio, você não quer um refrigerante? – Stella perguntou.

- Não, obrigado. Estou bem. – Ele sorriu.

- Quer comer alguma coisa? – Perguntou Carolina.

- Obrigado. Estou satisfeito.

- Se precisar de alguma coisa não fique envergonhado. Pode pedir. – Lety disse.

- Mãe, tudo bem... – Sofia sorriu sem jeito. – A gente já volta.

- Tudo bem.

               Os dois seguiram em direção à casa e as mulheres os acompanharam com o olhar.

- Formam um casal tão fofo. – Stella disse. – Tomara que dê certo.

- Acho que ela realmente gosta dele. – Letícia comentou. – Também espero que dê certo.

- Vocês não sentem falta da adolescência em momentos como esse? – Carolina perguntou. – Era tudo tão... Fácil.

- Eu não sinto! – Monica disse. – Eu namorava homens nessa época. Não sinto falta alguma.

               Elas riram.

- Eu sinto mas depende da situação. Por exemplo, não tenho vontade de relembrar meus namorados. – Stella comentou. – Foram todos péssimos.

- Eu acho que vivi minha adolescência muito bem. – Disse Letícia. – Na verdade, eu apenas estudava e meu passatempo era ler.

- Sinceramente, você não tem o que reclamar, Lety. – Carolina disse.

- Tem razão. – Letícia olhou para Fernando brincando com Anna no centro do jardim e sorriu. – Não tenho nada para reclamar.

 

 

 

•••

 

 

 

               A animação continuava a mesma. Música, amigos, conversas. Depois da junção do grupo homens e mulheres a animação ficou ainda maior, principalmente com as discussões de Caíque e Monica que eram freqüentes. Suas frases machistas abriam espaços para diversas discussões saudáveis, que terminava com Monica dizendo “por isso não gosto mais de homens”. Fernando estava extremamente carinhoso com Letícia, como de costume, mas demonstrava que estava feliz, e isso era o que mais importava à Letícia. Anna brincava sozinha no jardim, mas também parecia se divertir com suas bolinhas de sabão.

- Olha só... – Fernando estava abraçado à Letícia próximo aos outros. – Você não tem pena de vê-la brincando sozinha?

- Não. Ela já disse que gosta de brincar sozinha. E nós sempre brincamos com ela.

- Você realmente não acha que devemos ter mais filhos?

               Ela riu, virando-se para ele.

- Claro que devemos. Mas você está afobado para isso. Não podemos apenas pensar um pouco mais?

- Pensar mais em que, meu amor? Nós nos amamos, temos uma família maravilhosa, uma boa estabilidade.

               Letícia não respondeu.

- Olhe só. Imagina esse jardim cheio de crianças. Anna vai ter alguém para brincar com ela... Ela já disse diversas vezes que gostaria de ter mais irmãos.

- E quando a Anna crescer você vai pensar a mesma coisa da outra criança? – Ela riu. – Não vamos parar de ter filhos nunca mais.

- Quando tivermos o quarto nós paramos. Prometo.

- O quarto? – Ela riu. – Ainda quer que tenhamos mais dois?

- São só mais dois.

- Só mais dois? – Ela aproximou seu rosto do dele. – Eu prometo pensar com carinho, tudo bem?

- Promete mesmo?

- Prometo.

               Fernando sorriu e a beijou.

- Ah! Por favor! – Caíque exclamou. – Tenham respeito por quem não tem um par romântico aqui!

- Não seja chato, Caíque. – Eduardo disse. – Está com inveja?

- Claro que não! Estou muito bem solteiro.

- Ainda bem, porque não existe uma louca no mundo que vá mudar isso. – Monica comentou.

- Querem saber? Tomei uma decisão! Eu vou namorar! – Eduardo levantou o seu copo de cerveja. – E vou namorar uma mulher decente e que possa ser mãe dos meus filhos.

               Fernando riu.

- Stella está a disposição. – Monica comentou e Stella corou.

- Pega leve! – Fernando disse ainda rindo. – Eu ainda me lembro dos golpes de boxe que eu aprendi.

               Todos riram. Estavam em ótima harmonia, ao menos até Caio sair de casa desacompanhado. Ele parecia chateado e um pouco desnorteado, e todos notaram isso quando ele caminhou em direção à Lety e Fernando.

- Está tudo bem? – Letícia perguntou preocupada, notando a maneira do garoto.

- Está... Eu só... Vim me despedir. Estou indo embora.

- O que? Mas já? – Fernando perguntou surpreso.

- Sim, meu pai já deve estar chegando. Obrigado pelo almoço, estava ótimo.

- Tem certeza que você está bem? Aconteceu alguma coisa? Precisa de alguma coisa? – Lety insistiu.

- Não, está... Tudo...

               A frase dele não terminou. Os olhos dele estavam marejados e logo Letícia notou que aconteceu algum problema entre Sofia e ele.

- Tudo bem, querido. – Ela sorriu. – Se você precisa ir...

- Obrigado, mais uma vez.

               Caio virou-se e seguiu em direção ao portão, que já estava aberto. Todos ficaram em silencio sem entender o que havia acontecido, até Lety e Fernando se olharem e pensarem exatamente a mesma coisa.

- Com licença. Nós já voltamos. – Letícia disse e todos assentiram.

               Os dois caminharam em direção à casa e procuraram por Sofia. Ela não estava em nenhum cômodo do primeiro andar, e quando Letícia subiu as escadas e foi até o quarto dela, a encontrou aos prantos sobre a cama.

- Meu amor, o que houve? – Letícia se aproximou preocupada.

- Ai mãe... – Ela olhou para Lety meio aos soluços. – Acho que eu fiz a pior besteira da minha vida.

               Fernando chegou no mesmo instante e quando viu a situação, preocupou-se assim como Lety.

- O que aconteceu? – Ele perguntou ao se aproximar.

- Conta pra gente o que aconteceu, filha. – Letícia sentou-se ao lado dela na cama. – Vocês brigaram?

- Sim. – Ela soluçou.

- E por quê?

- Ele me contou porque a mãe dele foi embora.

- E então?

               Sofia voltou a chorar, sem conseguir continuar.

- Eu vou buscar uma água para ela. – Fernando comentou saindo do quarto.

- Sofi, você precisa dizer... Não podemos te ajudar se não soubermos o que aconteceu.

- Ele disse que confiava em mim. Disse que já gostava de mim o suficiente para contar a verdade. Eu pensei que não era nada de mais, achei que ela apenas cometeu um erro e abandonou os dois. Mas ele me disse o porquê, e também... Me contou algo sobre ele que eu... Eu... – Ela novamente soluçou.

- Ah meu amor... Fique calma. – Letícia a puxou para um abraço.

               Sofia chorou por alguns minutos no ombro de Lety, e mesmo sem entender absolutamente nada do que tinha acontecido, Letícia a consolou. Assim que Fernando voltou para o quarto com o copo de água, Sofia o bebeu às pressas. Ao terminar, parecendo um pouco mais calma, Fernando se abaixou ao lado da cama olhando-a.

- Agora consegue dizer o que aconteceu? – Ele perguntou.

               Ela assentiu com a cabeça e deu um longo suspiro antes de começar a se explicar.

- Ele me contou... Que a mãe dele era portadora do HIV.

               Fernando a Letícia a olharam igualmente chocados.

- E assim que Caio nasceu ela abandonou o pai dele e ele. O pai dele não sabia disso, e ele se desesperou com a possibilidade dos dois estarem infectados. Mas ele fez vários exames e por fim ele não foi contagiado. Mas... Depois disso o Caio me contou que... Ele... – Sofia soluçou. – Ele teve o contagio quando nasceu.

               Letícia levou as mãos à boca e Fernando continuou olhando perplexo para a filha.

- E quando ele me contou isso... Eu não sei. Eu fiquei nervosa. Eu fiquei brava por ele não ter me contado isso antes. Eu disse muitas coisas ruins para ele, mãe. Eu disse que ele deveria ter me dito isso antes de nos beijarmos. E ele... Se ofendeu! Eu não poderia ter dito isso! Eu fui uma burra!

- Não, meu amor. Você não foi burra. – Letícia segurou sua mão. – Você só ficou... Assustada com a notícia.

- Ele não teve tempo de se explicar direito. Nós começamos a discutir e ele disse que ia embora, e que queria que eu me acalmasse. Mas com certeza ele ficou chateado com as coisas que eu disse, e eu não sei como me desculpar agora! Eu não deveria ter tratado ele dessa maneira.

               Fernando e Lety ficaram em silencio esperando o desabafo de Sofia.

- Sofi... – Fernando se levantou e sentou-se ao lado dela na cama. – Você sabe sobre isso, não é? Sabe que o vírus não é transmitido apenas por vocês se abraçarem, ficarem de mãos dadas, se beijarem...

- Eu sei.

- Vocês dois... Fizeram... Algo mais do que isso?

- Não, pai! – Ela respondeu rapidamente. – Não fizemos nada. Por isso eu fui uma idiota. Eu agi como se ele fosse uma aberração!

               Fernando não pôde deixar de respirar aliviado, assim como Letícia.

- Eu só fiquei... Assustada. Eu não soube como agir quando ele me contou isso. Não soube o que dizer...

- Eu entendo que você ficou assustada, mas se você está arrependida deveria dizer isso para ele.

- Ele não vai querer falar comigo tão cedo, pai. E eu... Eu não sei se eu... Quero falar com ele.

- Filha, por que? – Letícia a olhou. – Está receosa com isso?

- Eu não sei, mãe! Não sei o que pensar! Eu nunca lidei com isso antes!

- Tudo bem... – Fernando respirou fundo. – Antes de tudo você precisa saber um pouco mais sobre isso. Precisa saber se ele desenvolveu a doença.

- E tem diferença?

               Fernando e Letícia se olharam.

- Eu prometo que vou te explicar tudo, tudo o que você quiser saber. Mas agora você precisa se acalmar, tudo bem?

               Sofia passou a mão em seu rosto limpando as lágrimas.

- Tudo bem.

- Vamos dizer ao pessoal que...

- Não. – Sofia interrompeu Lety. – Não precisam terminar a festa por isso. Eu só... Preciso ficar um pouco sozinha.

- Tem certeza?

- Sim.

- Bom... Tudo bem. Se você precisar de alguma coisa, nos chame.

- Obrigada.

               Fernando e Lety se levantaram e caminharam em direção à porta.

- Tem certeza que vai ficar tudo bem? – Fernando perguntou.

- Vai. – Sofia sorriu triste. – Não se preocupe.

- Ok.

               Os dois saíram do quarto e Letícia fechou a porta para que ela ficasse a sós. Sem saber o que dizer, ela apenas olhou para Fernando e ele a puxou para um abraço. Ele também não sabia o que dizer.

 

 

 

•••

 

 

               O churrasco continuou, mas não com a mesma animação de antes. Letícia e Fernando não disseram o real motivo para Caio ter ido embora repentinamente, mas apenas em dizer que os dois tinham tido uma discussão e que Sofia estava chateada foi motivo suficiente para que a animação não permanecesse a mesma. Depois de um tempo todos ajudaram com a arrumação e enfim deixaram a família a sós para resolverem o problema. Fernando e Letícia ainda estavam preocupados com a situação de Sofia, e principalmente tentavam pensar em alguma maneira de ajudá-la. Além de ter a questão que Anna com certeza perguntaria porque Sofia estava daquela maneira, e eles ainda não sabiam o que dizer. Por sorte Anna estava cansada o suficiente para tomar o seu banho e reclamar que estava com sono. Letícia e Fernando a colocaram para dormir e não demorou muito para que ela adormecesse depois que Letícia lhe contou uma história. Sentindo-se mais aliviados por Anna estar dormindo, eles voltaram ao quarto de Sofia para saber como ela estava. Assim que bateram a porta e ela respondeu que podiam entrar, eles a viram com o notebook em seu colo sentada em sua cama.

- Oi gatinha. – Fernando se aproximou. – Como está?

- Bem... – Ela o olhou. – Estou lendo um pouco sobre... Isso.

- Você ligou para ele? – Lety perguntou.

- Não. Não quero fazer isso hoje.

- Tem razão. É melhor.

- Mas ainda tem algumas coisas que não entendi. – Ela fechou o notebook. – Você pode me explicar, pai?

               Fernando sorriu.

- Claro que sim.

- Eu vou deixar vocês dois conversando. – Letícia disse parada à porta. – Vou ajeitar algumas coisas na cozinha.

- Tudo bem.

               Assim que Lety os deixou a sós, Fernando sentou-se à cama e Sofia abraçou ao seu urso de pelúcia que continuava sendo o seu preferido desde criança.

- Como a pessoa pode ter o vírus e pode não ter a doença? – Ela perguntou.

- Há diferença entre quem é portador do HIV e quem desenvolveu a AIDS. Quando a pessoa tem a doença quer dizer que o vírus já está atacando o seu sistema imunológico e isso significa que ela tem maior probabilidade de desenvolver doenças e infecções graves. Mas quando é apenas portadora do vírus, o soropositivo, facilita o tratamento e pode não manifestar a doença por muito tempo.

- Então o Caio pode não ter a doença?

- Se ele começou o tratamento desde o início, pode ser que não tenha.

- Isso é tão confuso! – Ela suspirou. – Eu não sei o que pensar!

- Antes de tudo você tem que pensar que ele é como você, como eu... Como qualquer outra pessoa. Você sabe como o HIV é transmitido, não é?

- Eu sei. E é por isso que me sinto péssima. Eu o tratei como se ele fosse... Diferente.

- Ainda existe muito preconceito, e talvez por isso ele tenha se chateado com você. Mas tenho certeza que quando conversarem com mais calma e você se desculpar, ele vai te entender.

- Você acha?

               Fernando sorriu.

- Sim.

- Mas e se... E se tivermos um relacionamento sério e... Bem... Você sabe...

               Não era o assunto preferido de Fernando, mas ele precisava esclarecer tudo isso à Sofia, e mesmo que a idéia de dizer isso à sua própria filha fosse péssimo, era o seu dever como pai e como médico dizer à ela.

- Se um dia vocês... Pensarem em fazer algo assim, então vocês precisam se prevenir.

               Sofia ficou em silencio.

- Mas isso é algo que vocês dois precisam conversar. Depois que resolverem isso, depois que você se desculpar, é um assunto que vocês dois precisam discutir. E principalmente, você precisa tratá-lo normalmente.

- Eu sei. – Ela disse com pesar. – Eu já sabia disso antes, mas... Na hora fiquei surpresa.

- Eu entendo.

- Mas de qualquer maneira vou chamá-lo para conversar amanhã.

- É melhor. – Fernando sorriu.

- Será que você... Não poderia conversar junto comigo?

- Eu?

- Sim. Você sabe... Você é medico, sabe dessas coisas melhor que nós dois. Talvez ele se sinta mais à vontade com você por perto.

               Ele sorriu satisfeito.

- Claro que sim. Diga para ele vir à noite que é quando eu chego do trabalho, e podemos conversar.

- Tudo bem. – Ela sorriu parecendo mais animada. – Obrigada, pai. De verdade.

- Não precisa me agradecer, gatinha.

               Sofia se apressou em lhe dar um abraço e Fernando o retribuiu, satisfeito por ter ajudado a resolver ao menos uma parte do problema.

-Eu te amo. – Ela disse enquanto o abraçava. – E eu acho que já tem algum tempo que eu não digo isso, mas... Eu realmente agradeço por tudo que vocês fazem por mim. Eu não poderia pensar em alguém melhor para ser meus pais de coração.

               Fernando sorriu emocionado e apertou o abraço.

- Eu também te amo.

               Depois de um tempo que ficaram abraçados, Sofia se separou do abraço e se apressou em limpar as lágrimas que caíram em seu rosto.

- Agora é melhor você descansar. – Fernando se levantou, também disfarçando os olhos marejados. – Está se sentindo um pouco melhor?

- Sim. Bem melhor.

- Que bom. – Ele sorriu. – Se precisar de alguma coisa, pode nos chamar.

- Obrigada, pai.

               Fernando caminhou até a porta e a fechou assim que saiu. Quando parou ao corredor, deu um longo suspiro, no mesmo instante que Letícia terminou de subir as escadas.

- E então? – Ela perguntou em voz baixa, se aproximando.

- Acho que ela vai ficar bem. Só precisam conversar sobre isso. Ela pediu para que eu conversasse com os dois amanhã à noite.

- É?

- Sim. Acho que ela vai se sentir um pouco mais tranqüila.

               Letícia apenas assentiu.

- Ainda tem algo para arrumar lá em baixo?

- Não. Já fiz tudo.

- Então podemos descansar? Estou quebrado.

- Podemos. – Ela sorriu.

               Juntos caminharam até o quarto, e assim que entraram, Fernando notou que Letícia estava um pouco pensativa.

- Está preocupada? – Ele perguntou fechando a porta.

- Não adiantaria mentir dizendo que não, não é? – Ela o olhou.

- Não. – Ele se aproximou. – Porque eu te conheço.

- Ai Fernando, é que... Eu me preocupo com ela. Me partiu o coração vê-la triste hoje, e saber de tudo isso... Será que ela vai ficar bem com tudo? Ela gosta tanto dele...

- Ela vai ficar bem, amor. – Fernando a puxou para um abraço. – Depois da nossa conversa ela está melhor, e amanhã quando conversar com ele tudo vai voltar ao normal, não precisa se preocupar.

- Ela é esperta, não é? Ela não faria nada sem pensar.

- Não, de maneira alguma.

               Lety deu um longo suspiro e olhou para Fernando.

- Espero que eles se resolvam.

- Eu também. – Fernando depositou um beijo carinhoso no topo de sua cabeça.

               Ambos estavam preocupados não apenas pela situação em que Caio e Sofia se encontravam, mas por medo de que ambos se magoassem com essa relação. E eles esperavam que isso não acontecesse. Eles esperavam do fundo do coração. 


Notas Finais


Então pessoas, sobre o assunto abordado... Achei interessante encaixá-lo na fic porque ainda é um assunto que muitas pessoas não tem muito conhecimento sobre. Antes de escrever sobre isso fiz diversas pesquisas (minhas aulas de imunologia também ajudaram bastante haha), e espero que eu não tenha me equivocado em nenhum momento. Espero que gostem, ainda tem muito capítulo pela frente (me apeguei à essa fic rs)


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