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História Love Inside Out - Cada dia mais


Escrita por: jaimencanto

Notas do Autor


Primeiramente, desculpem pelo tamanho do capítulo (explicações no final).

Capítulo 22 - Cada dia mais


               Fernando chegou para o trabalho de certa forma exausto. Isso não costumava acontecer, principalmente na segunda feira, já que aproveitar o final de semana com a família sempre o animava. Mas com todo o problema relacionado à Sofia, ele não teve uma boa noite de sono, e conseqüentemente estava cansado por acordar tão cedo.

- Bom dia, Fernando! – Mônica o encontrou no corredor. Os dois trabalhavam no mesmo hospital. – Que cara é essa? Não dormiu bem?

- Bom dia... – Ele respondeu desanimado. – Não. Estou com um pouco de dor de cabeça.

- Ainda problemas com a Sofia?

- Sim. – Ele suspirou. – Mas espero que tudo se resolva hoje.

- Eu também espero. E é melhor você melhorar essa cara porque já tem uma paciente precisando de você.

- Eu só preciso tomar um café antes.

- Tudo bem.

- Eu já volto.

               Desanimado ele continuou a caminhar pelo corredor até parar em frente a maquina de café. Enquanto servia um copo, ele escorou-se à parede e fechou os olhos por alguns segundos, na tentativa de ter ao menos pouco tempo de descanso. Mas, uma voz estridente e infelizmente conhecida o despertou, e ele desejou que estivesse em um pesadelo.

- Fernando?

               Assim que ele olhou para a mulher em sua frente, mentalmente ele praguejou por aquele dia. “Não deveria nem ter saído da cama.”

- Ana, o que está fazendo aqui? – Perguntou demonstrando completamente sua insatisfação.

- O que você está fazendo aqui. – Ela riu. – Está com algum problema? Algum familiar? A Lety está doente?

- Não. – Ele respondeu rapidamente. – Eu trabalho aqui.

- Trabalha aqui? De que?

- Ah... Eu não sei... Talvez... Médico?! – Respondeu impaciente.

- Médico? Mas você não trabalhava na empresa do seu pai?

- Olha, eu adoraria mesmo conversar com você sobre minha vida pessoal, Ana. Mas eu preciso ir. Meu horário já começou. – Ele pegou o seu copo de café.

- Eu não acredito que você é medico. – Ela sorriu cruzando os braços. – Sabia que isso combina com você?

               Fernando não respondeu. Apenas revirou os olhos e passou por ela sem se despedir. Ele estava tão cansado que sua paciência estava zero, principalmente para lidar com pessoas como ela. Não lhe importava saber o que ela estava fazendo ali, mas ele queria manter distancia. Ao ir para a sala, ele pegou a primeira ficha de um paciente e seguiu para a sala indicada. Depois de tomar um café quente e forte ele esperava acordar e ao menos conseguir se animar para cuidar dos seus pacientes. Ele não poderia estar desanimado quando passasse da porta. Assim que parou diante da porta do paciente, Fernando a abriu e um garotinho estava deitado à cama, com o rosto pálido e desanimado.

- Bom dia! – Ele sorriu e a mulher que estava à cadeira se levantou. – Meu nome é Fernando Mendiola.

- Bom dia, Doutor. – Ela apertou sua mão.

- E aí, garotão? – Ele sorriu se aproximando da cama. – Victor, não é?

               O menino balançou a cabeça afirmando.

- Como você está se sentindo?

- Ele está muito mal. – A mãe respondeu por ele. – Desde que começou o tratamento ele não consegue se alimentar direito, está fraco... Então eu resolvi trazê-lo para cá.

- Ele já começou a quimioterapia?

- Sim. Já faz algum tempo. Por isso eu estou preocupada.

- Entendo. Mas acho que falaram para a Senhora que esse tipo de tratamento causa alguns efeitos colaterais, não é?

- Não, não me disseram nada.

- Não? – Fernando a olhou curioso. – Estranho. Enfim... A quimioterapia utiliza medicamentos que causa efeitos colaterais, por isso a fadiga, falta de apetite, náuseas...

- Então... Ele vai ficar bem?

- Ele vai sim. – Fernando sorriu para ele. – Não é garotão? Você é bem forte, não é?

               Victor sorriu fraco e concordou.

- E teria como ele fazer o tratamento com o Senhor? Eu não confio no médico que ele freqüenta, por isso o trouxe aqui. Me indicaram esse hospital e me falaram muito bem do Senhor.

- É claro que sim. A Senhora só precisa ir até a recepção e cadastrar a ficha dele. Hoje mesmo podemos começar.

- Obrigada! Muito obrigada! – Ela sorriu.

- Não há de que. Ele vai ficar bom logo. – Fernando sorriu. – Não é Victor?

- Sim... – Ele respondeu com a voz fraca.

               De repente a porta se abriu e os três voltaram sua atenção para a mulher que acabava de entrar carregando dois copos de café. Fernando não acreditou que aquilo estava mesmo acontecendo, e não conseguiu disfarçar sua indignação.

- Fernando! – Ela sorriu ao vê-lo. – Então... Você é mesmo médico?

               Ele juntou todas as suas forças para não lhe dar uma má resposta ali.

- Vocês se conhecem? – A mãe de Victor perguntou.

- Sim! – Ana sorriu divertida. – Nos conhecemos muito bem.

- Que coincidência.

- Eu preciso ir agora. Sugiro que a Senhora cadastre a ficha dele o quanto antes para começar o tratamento. – Ele falou educadamente. – Se precisar de alguma coisa, pode pedir para me chamar.

- Muito obrigada, Doutor. – Ela sorriu.

- Não há de que. Até logo, garotão. – Ele olhou para Victor que acenou fracamente para ele.

               Fernando não dirigiu a palavra à Ana. Quanto menos lhe desse motivos, mais rapido ela sairia do seu pé. Ao passar por ela e saiu do quarto, ele suspirou aliviado. Mas seu alívio não durou muito tempo, e logo Ana o seguiu pelo corredor.

- Fernando!

- O que é que você quer? – Ele perguntou impaciente.

- Eu só estou admirada por essa surpresa. Eu jamais imaginei que você fosse cuidar de crianças.

- É realmente surpreendente. Agora eu preciso ir...

- Não acha que é uma coincidência? – Ela perguntou antes que ele se afastasse. – Minha irmã trouxe o Victor para se internar aqui, justamente onde você trabalha.

- É, uma coincidência. – Fernando a olhou.

- Então pelo visto nos veremos muitas vezes ainda. – Ela sorriu.

- Ana, eu não quero ser grosseiro, mas você já me causou problemas demais da ultima vez que nos encontramos. E eu não quero esse tipo de problema no meu local de trabalho. Então, por favor, deixe que eu faça o meu trabalho. Apenas isso.

- Não quero causar nenhum problema para você. Só não posso fingir que não estou animada de te ver todos os dias.

               Fernando não respondeu.

- Minha irmã vai gostar de saber que eu ficarei com o Victor.

- Você vai ficar com ele, ou vai fazer isso só para me encher a paciência?

- De maneira alguma. Victor precisa de alguém para ficar com ele. Minha irmã trabalha o dia inteiro.

- Você não deveria usar a doença do seu sobrinho para fazer algo assim, Ana. Você não percebe que é algo delicado? Pelo amor de Deus!

- Só estou dizendo que será bom para Victor e bom para mim.

               Fernando revirou os olhos.

- Tudo bem, faça o que quiser. Agora preciso voltar ao trabalho.

               Ele lhe deu as costas e continuou a caminhar pelo corredor.

- Fernando! – Ela o chamou. Impaciente ele parou de andar e a olhou. – Você fica lindo de jaleco!

               Fernando jamais teve tanto desprezo por alguém.

 

 

 

•••

 

 

 

               Letícia terminava de preparar a janta quando o interfone tocou. Antes que ela pudesse deixar as panelas para atender, Sofia entrou as pressas na cozinha e o atendeu.

- Pronto! Ah... Sim! Já vou abrir.

               Ao apertar o botão para abrir o portão, ela ajeitou o cabelo e olhou para sua própria roupa. Lety sorriu divertida e escorou-se ao balcão.

- É o Caio?

- Sim. – Sofia respondeu apreensiva. – Não nos falamos o dia inteiro no colégio, mas ele aceitou vir. Acha que ele ainda está zangado?

- Não sei, meu amor. Mas se ele estiver, comece pedindo desculpas.

- Certo. Acha que o papai vai demorar para chegar?

- Não. Ele já deve estar chegando. Mas enquanto isso conversem à vontade.

- Tudo bem.

               Sofia saiu da cozinha e seguiu para a porta de entrada, onde Caio estava parado.

- Oi. – Ela sorriu.

- Oi. – Ele respondeu desanimado. – Então... Estou aqui. O que você queria me falar?

- Você não quer entrar?

               Ele tirou as mãos do bolso e adentrou a casa em silencio.

- Vamos conversar na sala.

               Sofia caminhou pela casa e Caio a seguiu, até chegarem à sala. Anna estava sentada no carpete brincando com algumas bonecas enquanto assistia televisão, e assim que viu Caio, se levantou rapidamente para abraçá-lo. Ele retribuiu o abraço contente e Sofia sorriu olhando para os dois.

- Anna, por que você não vai ajudar a mamãe na cozinha?

- Mas eu estou assistindo Masha e o Urso.

- Você pode assistir depois.

- Mas...

- Anna, eu preciso conversar com o Caio a sós.

               Ela suspirou irritada e pegou suas bonecas, saindo da sala logo depois.

- Você não quer se sentar? – Sofia apontou para o sofá.

- Não, eu prefiro ficar de pé. Não pretendo demorar.

               Sofia o olhou magoada.

- Olha, Caio... Eu sei que você tem todos os motivos do mundo para estar bravo comigo, mas... Eu só queria me des...

- Desculpar?  Você não precisa se desculpar por apenas dizer o que pensa. Eu que tenho que me desculpar por não ter dito a verdade para você antes. Teríamos evitado muitas coisas.

- Não diga isso, Caio.

- Quer saber, Sofia? Eu não contei a verdade para você porque temi que sua reação fosse exatamente essa. Achei que poderia confiar em você. Eu sabia que seria um choque para você, mas não sabia que você ficaria irritada com isso.

- Eu não fiquei irritada! Eu fiquei... Assustada. Você precisa me entender, Caio.

 - E você também precisa me entender, Sofia. – Ele respondeu magoado. – Sabe quanto preconceito eu já sofri durante a minha vida inteira? Até o dia que eu percebi que não deveria me importar tanto com isso. Mas no momento que a minha própria namorada me trata com preconceito...

- Eu não fui preconceituosa! – Ela aumentou a voz. – Talvez... Talvez um pouco, mas eu juro que não foi a minha intenção! Caio, você precisa acreditar em mim. Eu estava nervosa, estava de cabeça quente, mas eu estou arrependida pelas coisas que eu disse. Muito arrependida!

- E o que te fez ficar arrependida?

- O meu pai me explicou melhor sobre isso...

- Então você preferiu dizer todas aquelas coisas para mim ao invés de me deixar explicar exatamente a mesma coisa que seu pai?

- Não é isso!

- Eu não deveria ter vindo. Não se preocupe, eu não terei mais nenhum contato com voce. Pode ficar tranqüila.

- Caio!

               Assim que ele se virou pronto para ir embora, Fernando apareceu olhando para os dois.

- Ah... Boa noite! Não sabia que estavam conversando.

               Ao olhar para Sofia, ele percebeu que ela chorava e que Caio não estava muito diferente dela.

- Eu estou atrapalhando. Podem continuar conversando e...

- Não, Senhor Fernando. Eu já estava indo embora. – Caio disse. – Já terminamos a nossa conversa.

- Caio... – Sofia sussurrou entre o choro.

- Eu... Posso ajudá-los em alguma coisa?

- Não. – Caio olhou para Sofia. – Infelizmente não pode ajudar.

               Fernando suspirou e tocou no ombro do garoto.

- Caio, vamos conversar de homem para homem. Você se importa?

- N... Não. – Respondeu um pouco amedrontado.

- Sofi, nos deixe a sós um pouco, por favor.

               Ela limpou as lágrimas que rolavam em seu rosto e concordou, olhando para Caio antes de sair e deixá-los a sós.

- Sente-se aí. – Fernando apontou para o sofá. Caio fez o que ele pediu e Fernando sentou-se ao lado dele. – Sofia me contou o que aconteceu.

               Ele o encarou em silencio.

- Eu entendo que você esteja chateado pelas coisas que ela disse, e não estou defendendo ela. Mas ela está realmente arrependida por isso, e mesmo que não justifique, ela foi pega de surpresa com a notícia.

- Eu entendo ela ter ficado surpresa. Mas ela não me deu tempo de explicar. Ela não me deu tempo de contar à ela sobre a doença, sobre o preconceito que nós sofremos. Ela não me deu tempo de dizer nada!

- Eu entendo. E entendo que esteja magoado também. Mas você realmente não quer dar uma chance para ela se desculpar?

               Caio não respondeu.

- Não sei qual é o nível de intimidade de vocês, mas se voce confiou nela para contar algo assim, tenho certeza que gosta muito dela. E ela gosta de você, porque ela passou a noite inteira se sentindo péssima com o que aconteceu.

               Ele continuou pensativo.

- Tenho certeza que quando vocês conversarem, ela vai ficar do seu lado. E tenho certeza que você também quer que ela fique do seu lado, não é?

               Caio sorriu.

- Sim.

- Então... Dê uma chance para ela se explicar. Deixe ela se desculpar, converse sobre o que te incomoda, e resolvam isso. – Fernando sorriu.

- Você... Realmente não se importa com isso? Quero dizer... Sofia me contou que você é um pouco ciumento e que não gostou muito quando saímos juntos. Mas agora... É outro assunto.

- Eu confesso que a idéia de saber que minha filha está namorando realmente não me agradava. – Fernando riu. – Mas eu não posso impedir ela de ser feliz. E se ela está feliz com você, então só me resta apoiá-los.

- E sobre eu ser soropositivo... Você também não se importa.

- Eu mentiria se dissesse que não me preocupo. Não só com ela mas também com voce. Se vocês querem mesmo ter um relacionamento, a conversa é algo extremamente importante.

- Eu sei. – Caio encarou as próprias mãos. – Eu também mentiria se dissesse que não me preocupo. Com ela... Sabe? Eu gosto realmente dela. Mas eu também tenho medo.

- Eu posso imaginar. Mas, Caio, escute bem... Vocês não precisam ter pressa de fazer nada. Eu sei que quando somos jovens nós queremos fazer o que dá na cabeça sem se importar com mais nada. Mas a questão entre vocês é delicada. E você precisa estar ciente disso.

-E estou. E de maneira alguma quero apressar as coisas.

- Que bom. – Fernando sorriu e bateu em seu ombro. – Eu vou chamá-la para vocês terminarem a conversa.

- Tudo bem. Obrigado! De verdade.

- Não precisa agradecer. – Fernando se levantou. – Alias... Ainda quero que respeite a minha filha, está bem? Ela só tem dezesseis anos...

               Caio riu.

- Pode deixar.

- Ótimo. – Fernando sorriu divertido e saiu da sala, deixando Caio sozinho.

               Assim que saiu, Sofia estava sentada à escada, encarando o chão. Quando viu Fernando se aproximar, imediatamente ela se levantou e o olhou apreensiva.

- E então? Vocês conversaram?

- Sim. Ele está te esperando para conversarem.

- Ele ainda quer me ouvir.

- Claro que sim.

- Ah... Que bom! – Ela suspirou aliviada e abraçou Fernando. – Obrigada, pai.

- Por nada. – Fernando retribuiu o abraço.

- Eu... Vou conversar com ele agora mesmo. Vou me desculpar.

- Tudo bem.

- Me deseje sorte.

- Você não precisa. – Ele sorriu. – Esse garoto gosta mesmo de você.

               Sofia sorriu satisfeita.

- Agora vá lá. Vou ver a sua mãe.

- Tudo bem. Obrigada mais uma vez.

               Fernando observou Sofia se afastar e seguir para a sala. Logo depois ele deu um longo suspiro e passou a mão em seu rosto. Depois de um longo dia no trabalho, pelo menos ele desejava que aquele assunto se resolvesse de alguma forma. A preocupação com Sofia permanecia, mas a felicidade dela era o que mais importava. Ele caminhou até a cozinha onde Letícia estava cozinhando e Anna estava sentada ao balcão brincando desanimada com sua boneca.

- Boa noite, minhas princesas! – Ele sorriu aproximando-se delas.

- Oi amor. – Lety sorriu e o cumprimentou com um beijo.

- Oi Anninha. – Ele se debruçou sobre o balcão. – Por que está com essa carinha?

- Ela está chateada porque a Sofia não deixou ela assistir Masha e o Urso.

- Ah... Mas você vai ficar chateada por isso? Não vai ficar feliz porque o papai está em casa?

               Ela o olhou.

- Eu prometo que depois do jantar podemos brincar do que você quiser. O que acha?

- Promete?

- Prometo. – Ele sorriu. – Mas agora tem que me dar um abraço bem apertado.

               Anna pulou do banco e correu até Fernando, pulando em seu colo logo depois.

- Como foi no trabalho? – Lety perguntou enquanto olhava para os dois.

               Fernando a olhou e colocou Anna no chão depois de receber um abraço caloroso.

- Foi... Normal.

               Letícia logo notou que havia algo incomodando Fernando, mas percebeu que ele não queria falar disso no momento.

- O jantar está pronto. Porque vocês dois não aproveitam essa energia e arrumam a mesa para mim?

- Vamos ver quem arruma primeiro, papai? – Anna sugeriu.

- Tem certeza? Você sabe que eu sempre ganho de você!

- Ganha nada! Você sempre perde. – Ela riu.

- Então vamos ver.

               Fernando pegou Anna no colo e saiu correndo da cozinha com ela. Lety balançou a cabeça e riu da loucura de sua família.

 

 

 

•••

 

 

               Caio acabou se resolvendo com Sofia e ficou para o jantar. Depois de tanta preocupação na família, finalmente tiveram um jantar agradável e animado, como costumava ser. Sofia e Caio estavam felizes, e isso tranqüilizou Lety e Fernando. Após o jantar e após Caio se despedir da família, todos aceitaram a sugestão de Anna para jogar banco imobiliário. Mesmo que fosse uma segunda feira, era sempre agradável passar o restante da noite se divertindo em família. Depois de muita risada e brincadeiras, enfim chegou a hora de todos irem para a cama. Fernando se ofereceu para arrumar a cozinha para Lety, e enquanto ela o esperava lendo um livro na cama, acabou pegando no sono. Nem percebeu que Fernando demorou mais do que deveria, e só acordou quando ele sentou ao seu lado na cama.

- Oi. – Ele sorriu divertido. – Você pegou no sono.

               Letícia passou a mão no rosto e olhou para o relógio que marcava onze e meia da noite.

- Desculpe. – Ela falou fechando o livro. – Estava te esperando.

- Eu tenho uma coisa para te mostrar.

- Para mim?

- Sim. Mas está lá no jardim.

- No jardim? Amor, é quase meia noite. Você precisa acordar cedo e...

- Lety, só me acompanha, tudo bem? – Ele se levantou e esticou sua mão para ela.

               Lety se convenceu e segurou a mão dele, levantando-se logo depois. Em silencio os dois desceram as escadas até o primeiro andar e saíram para o jardim na ponta dos pés. Ambos se divertiram com a situação, como se fossem adolescentes que estavam fugindo de casa para fazer algo errado. Lety estava curiosa para saber o que Fernando tinha para lhe mostrar, mas assim que caminharam até os fundos do jardim, ela foi surpreendida com uma mesa à luz de velas e duas taças de vinho postas à ela.

- Acho que depois desse problema com a Sofi nós precisávamos relaxar um pouco. – Ele disse puxando a cadeira para que ela se sentasse. – Não sei você, mas ao menos eu preciso.

               Letícia riu e sentou-se à cadeira, admirada com a surpresa.

- Mas eu estou de pijama. – Ela disse divertida.

- Não tem problema. Só preciso da sua companhia. – Ele sorriu sentando-se à sua frente.

- Você não existe, sabia?

               Fernando serviu as taças com vinho e entregou uma à Lety. Após o brinde, cada um tomou um longo gole do vinho e olharam um para o outro.

- As vezes precisamos de um momento romântico também, não acha? – Ele segurou a mão dela carinhosamente.

- Concordo plenamente.

               Fernando sorriu.

- Mas eu também notei que você chegou um pouco desanimado do trabalho. Você quer desabafar?

- Na verdade, eu preciso que me prometa que você não vai se zangar.

- Por quê? – Ela o olhou preocupada.

- Me prometa primeiro.

- Eu não posso prometer se você não me disser o que é.

- Mas eu não quero que se zangue e nem que fique nervosa.

- Você já está me deixando nervosa com esse mistério.

               Ele suspirou.

- Conheci um novo paciente hoje. A mãe dele resolveu interná-lo no hospital e continuar o tratamento dele lá.

- E?

- E ele é sobrinho... Da Ana.

- Ana? Que Ana?

               Fernando não precisou explicar quem era. Logo Letícia se lembrou e abriu a boca abismada.

- Não acredito!

- Pois é. Ela ficou me perseguindo o tempo inteiro no hospital, e eu já estava sem paciência com isso.

- Essa mulher é louca! Ela perdeu o juízo?

- Acho que ela nunca teve.

- Eu não acredito! E ela vai ficar te perturbando todos os dias?

- Eu conversei com a irmã dela hoje. Expliquei sobre a situação e ela me prometeu que não deixaria que ela ficasse no hospital. Ela disse que procuraria outra pessoa que pudesse ficar com o Victor enquanto ele estiver internado.

- Ótimo! Tomara que ela consiga. Não gosto nada da idéia dessa mulher atrás de você no trabalho. – Letícia suspirou irritada. – Essa mulher consegue me tirar do sério! E olha que eu só a vi uma vez! Não acredito que dei o nome da minha filha quase igual ao dela...

               Fernando riu.

- São diferentes. Ela se chama Ana Flávia.

               Letícia o fuzilou com o olhar.

- Só estou tentando amenizar a situação...

- Se ela continuar te incomodando no seu local de trabalho, eu vou descobrir o endereço dela e vou ter uma conversa séria com ela!

- Você não faria isso...

- Você não me conhece, Fernando Mendiola!

               Ele riu.

- Eu disse para você não ficar nervosa.

- É impossível. Sinceramente, você precisa escolher melhor suas ex namoradas.

- Ela não é minha ex.

- Tanto faz.

- De qualquer maneira acho que tudo vai ser resolvido. Ela não vai me incomodar mais. Só estava cansado por ter sido um dia cheio, mas... Agora já estou melhor. – Ele entrelaçou sua mão à de Lety.

- É... Foram dois dias bem pesados, não é?

- Muito.

- Mas que bom que Sofia e Caio se resolveram. Agora só... Temos que ter certeza de que eles conversem bastante sobre isso. É algo muito sério.

- Eu sei. Mas tenho certeza que eles irão contornar a situação. Eles são jovens, mas são espertos.

- Eu só me preocupo com ela...

- Eu sei. Eu também me preocupo, e Caio também. Mas ela está feliz.

- É. – Lety sorriu. – Isso é gratificante.

- Muito.

 - Mas vai dar tudo certo. Eles ficarão bem.

- Eu sei. – Lety sorriu. – Agora... Vamos falar sobre esse momento romântico. Já tem um tempo que não fazemos algo apenas nós dois, não é?

- Mas que calúnia! Fizemos isso no sábado.

- Você sabe do que eu estou falando. – Ela riu. – Algo mais romântico.

- Tem razão. Quer saber? Precisamos sair para um jantar à dois. Tenho certeza que Sofia não se importaria de cuidar de Anna por algumas horas.

- Você teria coragem de deixá-las sozinha?

- E por que não? Temos confiança nos vizinhos, Sofia já tem maturidade suficiente para isso.

- Hum... Eu não sei.

- Ah, vamos lá, amor... – Ele se inclinou sobre a mesa aproximando-se do rosto dela. – Eu amo nossas filhas, mas também precisamos de um tempo a dois de vez em quando, não acha?

               Ela sorriu.

- Tudo bem. Você me convenceu.

- Ótimo. – Ele sorriu vitorioso. – Agora me dá um beijo como agradecimento.

- Você é muito convencido, sabia? – Ela riu inclinando-se para beijá-lo. – Mas eu te amo mesmo assim.

- Eu também te amo.

               Depois de um dia cheio e depois de toda a preocupação que tiveram naquelas ultimas horas, nada mais justo do que terminar uma noite de segunda feira à dois, demonstrando um ao outro o quanto se amam. Cada dia mais. 


Notas Finais


Pessoas, o capítulo ficou curtinho porque preferi não colocar as informações do próximo nele, porque se não teria que dividir o capítulo em duas partes e ficaria um pouco ruim. Na verdade, esse capítulo foi mais para esclarecer a situação de Sofia e Caio. Adorei de verdade os comentários e estou muito feliz em saber que a maioria de vocês entende sobre esse preconceito, e que apoiam que os dois fiquem juntos. Sei que a fic é sobre Fernando e Lety, mas precisava destacar esse romance juvenil da Sofia e do Caio. Espero que tenham gostado. E a partir do próximo capítulo voltaremos à atenção para Ferlety rs. Obrigada pelos comentários ♥


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