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História Love Inside Out - Epílogo


Escrita por: jaimencanto

Notas do Autor


Agradecimentos no final

Capítulo 26 - Epílogo


               O movimento na livraria não estava tão grande naquele dia. Lety estava inclusive entediada, debruçada sobre o balcão folheando um dos livros novos que chegaram. Carolina limpava uma das prateleiras tentando ocupar o tempo, e Bruno ouvia uma música sentado atrás do balcão. Normalmente eles conversavam nas horas vagas, mas o tédio estava tão grande que não tinham mais assuntos para aquele dia.

- Mais uma lei aprovada por esse Presidente retardado. – Bruno comentou tirando um dos fones de ouvido. – Será que ele não pode afundar ainda mais o Brasil?

- Não sei se isso é possível. Se afundar mais vamos abraçar o capeta. – Lety comentou sem lhe dar muita atenção.

- Sinceramente, quero ir morar em outro país.

- Boa sorte. – Carolina riu.

               A porta da livraria se abriu e o sino chamou a atenção de todos. Um homem de barba adentrou e Lety ajeitou-se fechando o livro.

- Boa tarde. – Ela sorriu.

- Lety?

               Demorou um tempo para que ela o reconhecesse, mas ao olhar bem, por trás da barba, ela soube quem era o homem.

- Nicolas! O que você está fazendo aqui? – Perguntou com certa indelicadeza.

- Eu... Não sabia que você trabalhava aqui.

- Na verdade, eu e Carolina somos donas.

- E eu trabalho aqui. – Bruno se levantou. – Posso ajudá-lo?

- Nicolas. – Carolina se aproximou. – Quanto tempo.

- É... – Ele sorriu colocando as mãos no bolso.

- Está diferente.

- Estou deixando a barba crescer.

- Percebi. Deseja alguma coisa?

- Eu estava procurando um livro para presente. É o livro novo do... Nicholas Sparks. Acho que é isso.

- Ah! Chegou ontem para nós. – Carolina sorriu. – Vou pegá-lo para você.

- Obrigado.

               Nicolas olhou para Lety e ela colocou uma mexa de cabelo por detrás da orelha, envergonhada.

- Você... Está ótima.

- Obrigada.

- Está diferente.

- Engordei um pouco.

- Não é isso. – Ele riu. – Está... Mais bonita.

- Bom... Obrigada. E como você está?

- Bem, muito bem.

- Que bom.

               Ele baixou os olhos para a mão esquerda dela que estava sobre o balcão.

- E você continua casada.

- Sim. – Ela respondeu orgulhosa. – Estou.

- Isso é bom. Não é sempre que uma união arranjada em pleno século vinte e um dure tanto tempo.

- Mas a nossa está durando. Doze anos. E irá durar muito mais.

- Eu não quis ser indelicado. Eu realmente estou feliz por você.

- Obrigada.

- E vocês têm filhos?

- Sim. Temos quatro.

- Quatro? – Ele a olhou surpresa. – Meu Deus! Você não parece ter quatro filhos.

               Ela sorriu sem jeito.

- Eu também segui minha vida. Inclusive, esse livro é um presente para a minha noiva.

- Que ótimo, Nicolas.

- É. – Ele sorriu. – Ela é ótima.

- Fico feliz por voce.

- Aqui está. – Carolina apareceu com o livro.

- Obrigado.

- Quer que eu embrulhe para presente? – Lety perguntou e ele assentiu.

- Está trabalhando em que, Nicolas? – Carolina perguntou enquanto Lety fazia o embrulho.

- Eu tenho uma loja de automóveis.

- A do seu pai?

- Não. Abri uma minha.

- Que ótimo!

- É. E vocês fizeram um ótimo trabalho também. – Ele olhou em volta. – Lety sempre dizia que tinha o sonho de ter uma livraria. Que bom que o realizou.

               Lety parou de mexer no embrulho, um pouco desconcertada.

- Ah é verdade! Graças ao Fernando, sabe? – Carolina escorou-se ao balcão. – Ele deu a maior força para ela, e quando compramos aqui ele também ofereceu uma parte do dinheiro. Se não fosse por ele, Lety não teria coragem de ter seguido o seu sonho. Não é Lety?

- É sim. – Lety sorriu e entregou o embrulho para Nicolas.

- Obrigado. Quanto é?

- Sessenta e sete.

               Ele tirou a carteira do bolso e lhe entregou o dinheiro.

- Não precisa do troco. Fique como uma... Pequena ajuda também. – Ele sorriu. – Foi bom ver vocês.

- Igualmente. – Lety disse.

               Nicolas se afastou e caminhou em direção à porta, saindo logo depois.

- Mas que babaca! “Uma pequena ajuda também”. Viu só o que ele fez? Só porque falei que Fernando ajudou com o dinheiro. – Carolina disse irritada. – E ele precisa saber que tem muita diferença de alguns mil reais para três reais de troco.

- Deixa pra lá, Carol. Eu não me ofendo mais com as coisas que Nicolas faz. Aliás, a única coisa que estou pensando no momento é que estou feliz por ter me livrado disso. Nicolas é um cara legal, mas...

- Mas é um babaca na maior parte do tempo. E sim, você tem que ficar feliz por ter se livrado dele.

- Ele é o seu ex? – Bruno perguntou.

- Sim.

- Infelizmente. – Carolina enfatizou.

- Eu percebi pela maneira que ele te olhava.

- Que maneira? – Lety perguntou confusa.

- Ele não parava de te encarar. E sorria o tempo todo. Homens fazem isso quando estão interessados.

- O único interesse que Nicolas tem que ter por mim é... Na verdade, não é nenhum. Ele não tem que ter interesse em mim.

- Talvez ele ainda não tenha superado o término.

- Mas já faz mais de doze anos. Que tipo de pessoa não supera isso?

- Talvez ele achava que tinha superado, mas quando te viu, reacendeu a chama.

- Bruno, você não sabe nada sobre relacionamentos. Por isso troca de namorada toda semana. Por que não para de falar besteiras e vá terminar de limpar as prateleiras lá de trás? – Carolina entregou o espanador para ele.

               Bruno apenas bufou e se afastou das duas.

- Esse garoto me tira do sério às vezes.

- Acha que ele pensaria assim, Carol?

- Por que está preocupada com isso?

- Porque agora ele sabe onde eu trabalho. E se ele voltar aqui? E se ele ficar me perseguindo? O Fernando vai ter um troço!

- Calma Lety, ele não vai fazer isso. Ele não é louco de fazer isso. Além do mais, se quer evitar uma briga com Fernando, conte para ele sobre isso assim que puder. Se ele descobrir por outra pessoa... Sabe que o Bruno não consegue segurar a língua quando ele vem aqui.

- É, eu sei.

- Lembra do cliente que te passou o telefone? Fernando ficou duas semanas tentando achar o telefone para ligar para o cara e brigar com ele.

- Ainda bem que eu rasguei a tempo.

- É melhor que fale sobre o Nicolas quando chegar.

- É. Eu farei isso.

               Novamente a porta se abriu, mas dessa vez, era Omar.

- Amor! – Carolina exclamou animada correndo até ele.

- Oi! – Ele sorriu abraçando-a.

- Que surpresa! E você está... Todo molhado.

- Está uma tempestade lá fora. – Ele se aproximou do balcão, cumprimentando Lety com um beijo no rosto. – Achei que já estivessem fechando.

- Não percebi que estava chovendo tanto. – Lety abriu um pouco da cortina que tampava a grande vitrine. – Está mesmo uma tempestade.

- Por isso não estamos tendo muito cliente hoje...

- Vamos fechar mais cedo?

- Acho que seria uma boa.

- Então... Hoje teremos um jantar especial? – Omar perguntou galanteador.

- É claro que sim!

- Ah vocês dois são tão fofos... Estão me dando cáries. – Lety brincou.

- Eu sugiro que você me ajude logo a arrumar as coisas para você fazer o mesmo com o seu marido.

- Eu adoraria, mas tenho três crianças para cuidar e uma casa para arrumar. – Lety riu saindo detrás do balcão.

 

 

•••

 

 

               Assim que chegou em casa, Letícia ouviu gargalhadas vindas da sala. Ao tirar sua bolsa e colocá-la sobre a mesinha, ela caminhou até o cômodo seguindo as gargalhadas. Assim que parou à porta da sala de televisão, ela viu as crianças aglomeradas no sofá junto com Fernando. Eles não tiravam os olhos da TV, e pelo visto o filme era bastante engraçado. Lety sorriu escorando-se ao portal, olhando para aquela cena que sempre alegrava seu coração.

- A mamãe chegou! – Ana disse animada, pulando do sofá e correndo até Lety.

               Dois garotinhos fizeram o mesmo, e abraçaram Lety pela cintura animados.

- O que estão fazendo? – Ela perguntou cumprimentando cada um.

- Assistindo filme! – Um dos garotos respondeu.

               Fernando virou-se para ela e sorriu.

- Por que não mostram a mamãe o que fizeram para ela? – Ele sugeriu.

- Sim! Vamos! – Ana disse animada e saiu da sala, seguida pelos gêmeos.

               Lety olhou para Fernando e ele se levantou, aproximando-se dela.

- Oi. – Ela sorriu.

- Oi. – Ele a envolveu pela cintura, lhe dando um beijo demorado logo depois. – Como está?

- Muito bem. E vocês?

- Também estamos bem. Um pouco cansado depois de trabalhar o dia inteiro e ainda servir de cavalinho para as crianças.

               Lety riu.

- Ainda quer ter mais filhos?

- Claro que sim. Tenho idade suficiente para agüentar mais duas crianças nas minhas costas.

- Engraçadinho. – Ela riu. - Sofi ainda não chegou?

- Não... – O sorriso de Fernando diminuiu. – Ela ia sair com Caio depois das aulas.

- É mesmo? Eles estão saindo muito, não acha?

- Eu disse que não era uma boa idéia estudarem na mesma faculdade e fazerem o mesmo curso.

- E o que tem de mais nisso?

- Você sabe, Lety...

               Ela riu.

- Não seja bobo, Fernando. Sofia tem idade suficiente e maturidade suficiente para fazer qualquer coisa.

- Eu sei.

- Além do mais, deveria estar preocupado com os seus filhos de quatro anos que destruíram o meu jardim hoje de manhã.

- Eu soube. – Ele sorriu divertido.

- Isso não tem graça. Eu já disse que não podem jogar bola perto das roseiras. Já é a segunda vez que destroem ela em menos de um mês.

- São crianças, Lety. Eles precisam se divertir.

- Não estou proibindo a diversão, estou dizendo que se você... – Ela encostou o dedo no peito dele. – não colocar limites nos dois, eles vão destruir a casa.

               Seu sorriso alargou ainda mais.

- E não me olhe assim. A culpa é toda sua que eles te puxaram.

- Tem razão. Da próxima vez vou escolher melhor os genes que irão passar para eles.

               Lety balançou a cabeça e o puxou para um beijo.

- Senti saudades. – Ele sussurrou.

- Eu também.

- Acha que vamos conseguir a noite livre hoje?

- Com três crianças na casa? Não tenho certeza disso.

- Podemos dar um calmante para os gêmeos.

- Fernando!

- O que foi?

- Não vou medicar meus filhos!

- Foi só uma sugestão. – Ele riu. – Estou brincando. Mas podemos fazer algo para entretê-los.

               Lety ergueu as sobrancelhas.

- Cabana?

- Cabana. – Ele sorriu vitorioso e voltou a beijá-la.

- Mamãe, mamãe! – Um dos meninos se aproximou correndo. – Olha o que fizemos para você.

- Eu disse que eu ia falar, Lucas. – O outro se aproximou emburrado.

- Mas eu queria falar. – Retrucou.

- Parem de brigar. – Ana se juntou à eles, segurando um cartaz dobrado em suas mãos. – Mostrem para ela.

               Letícia olhou para os três, e assim que abriram o cartaz, se emocionou ao ler “Você é a melhor mãe do mundo! Te amamos!”

- Você gostou, mamãe? – Lucas perguntou.

- Eu adorei! – Ela disse emocionada. – Obrigada!

               Lety se abaixou e os três a envolveram em um abraço.

- Mas qual é a ocasião?

- É para o dia das mães. – Fernando sorriu escorando-se à porta.

- Mas já? Ainda faltam algumas semanas...

- É porque nós preferimos fazer um presente para cada semana, até o dia das mães. – Ana respondeu.

- Que amor! Eu adorei!

- Mamãe, a idéia foi minha!

- Não foi não, Diego. Foi de nós três. – Retrucou Ana.

- Mas eu falei primeiro.

- Não, eu falei! – Lucas disse.

               Os três entraram em uma discussão e Fernando apenas suspirou, olhando para Letícia.

- É o seu turno. – Ele sorriu.

- Ei! Não briguem! – Lety disse pacientemente. – Eu adorei a idéia, não importa de quem seja. Mas tem um assunto importante... Vocês já tomaram banho?

               Os três se calaram.

- Eu já. – Diego sorriu.

- Ah já? – Fernando cruzou os braços. – E quando foi que você tomou banho?

- Hoje de manhã para ir à escola.

- Eu não acredito. Vocês são iguaizinhos ao pai de vocês. – Letícia colocou as mãos à cintura. – Quero os três lá em cima no banho em cinco segundos.

- Mas mamãe... – Lucas suspirou.

- Mas nada.

               Ana rapidamente se afastou seguindo em direção à escada.

- Viram só? Ana é obediente. Estou esperando vocês.

- Mas nós não precisamos tomar dois banhos por dia. – Lucas disse manhoso.

- Se vocês não tomarem banhos todos os dias, vão chegar na escolinha e nenhum amigo vai querer ficar perto de vocês.

- Tudo bem. Nós nos fazemos companhia. – Diego sorriu vitorioso.

- Um...

               Os dois se olharam.

- Dois...

- Mamãe...

- Três...

               Os gêmeos viraram-se para Fernando.

- Não olhem para mim. Ela quem manda. – Ele respondeu rapidamente.

- Quatro... Vão me fazer chegar no cinco?

               Letícia abriu a boca mais uma vez e os dois saíram correndo subindo as escadas. Fernando gargalhou e se aproximou de Lety.

- O que acontece quando você chegar no cinco?

- Não sei. Nunca precisei chegar, por sorte. Mas se continuarem teimosos como o pai, vou ter que pensar em alguma coisa.

- A culpa não é só minha. Você também é teimosa.

- Mas eu não desobedecia meus pais.

- E por que acha que eu desobedecia.

- Porque isso está estampado na sua cara, Fernando Mendiola. E sua mãe também já me disse isso. Aliás... Precisamos conversar sobre essa história de você colar chiclete no cabelo de Stella quando ela tinha dois anos.

               Fernando riu.

- Se seus filhos aprenderem isso...

- Não vão. A não ser que alguém conte essa história para eles.

- Já está de bom tamanho as travessuras que eles fazem.

- Você fica tão linda quando está brava. – Ele a segurou pela cintura, galanteador.

- E você fica charmoso quando tenta me tranqüilizar. Principalmente com essa cara de sínico.

- Cara de sínico? – Fernando aproximou seu rosto do dela, sorrindo. – Não estou fazendo cara de sínico.

- É natural. – Lety o puxou para beijá-lo.

               Por um tempo esqueceram-se de que tinham três crianças para cuidar, e o beijo demorou um pouco mais do que deveria. Ao menos até serem interrompidos.

- Oi! Ah! Desculpe. Não sabia que estavam em um momento de intimidade. – Sofia virou-se de costas.

- Ei! Ei! Espere aí. – Fernando falou rapidamente e ela virou-se para ele, com a feição tensa. – Aonde é que você estava até essa hora?

- Eu disse que ia sair com o Caio.

- Mas isso faz três horas. Já deveria estar em casa há tempos.

- Pai...

- Fernando. – Lety o olhou. – Ela não tem mais quinze anos.

- Mas ela ainda vive debaixo do mesmo teto que eu. – Ele disse mal humorado.

- Não acredito que ainda tem ciúmes do Caio. – Sofia sorriu divertida. – Pai, já namoramos há tanto tempo.

- E eu nunca vou me acostumar com isso.

- Como foi o encontro? – Lety perguntou empolgada.

- Foi ótimo.

- E o que fizeram? – Fernando perguntou.

               Letícia balançou a cabeça negativamente e Sofia riu.

- Bom... Nada demais. Ele só... Me pediu em casamento.

               Dessa vez Letícia acompanhou Fernando e a olhou perplexa.

- Ele... O que? – O rosto de Fernando se avermelhou.

- É brincadeira! – Sofia riu e os dois suspiraram aliviados. – Meu Deus! Vocês precisam relaxar um pouco.

- Não brinque com isso enquanto não tiver certeza de que consegue fazer um transplante de coração no seu pai. – Letícia riu.

- Isso não tem graça.

- Pai, relaxa. – Sofia se aproximou e lhe deu um beijo no rosto. – Você ainda é o meu preferido.

- Acho bom.

- Eu vou subir e tomar um banho antes do jantar, tudo bem?

- Certo.

               Sofia se afastou sorridente. Letícia olhou para Fernando e ele continuava olhando para a escada, suspirando logo depois.

- Ela não é um amor?

- É. É sim. – Ele sorriu.

- E logo vai ser médica. Não é motivo suficiente de orgulho?

- Muito.

- Então fique feliz por nossos filhos estarem crescendo assim. – Letícia tocou carinhosamente no rosto dele. – Damos o nosso melhor.

               Fernando sorriu e lhe deu um rápido beijo.

- Não quer ir ver como seus filhos estão no banho? Tenho certeza de que já derrubaram o chuveiro à essa altura. – Ela riu.

- Tudo bem. – Fernando sorriu. – Mas hoje a noite você não me escapa, Letícia Mendiola.

- Acho bom. – Ela sorriu e Fernando se afastou.

 

 

 

•••

 

 

 

               A manhã de sábado estava agradável. A família estava reunida para um churrasco, que havia virado costume. As gargalhadas das crianças, as piadas dos adultos e a música não podiam faltar. Mas diferente das outras vezes, Fernando não estava na churrasqueira ou estava junto com os homens falando sobre futebol. Estava escorado ao parapeito da varanda observando tudo ao longe, com um largo sorriso no rosto. As vezes ele se pegava fazendo isso, admirando sua família e tudo o que conquistou. Sua parte preferida era olhar para Lety e as crianças, que sempre estavam esbanjando felicidade.

- Você parece extremamente sentimental hoje. – Stella parou ao seu lado lhe entregando uma cerveja.

- Obrigado. – Ele pegou a lata.

- O que tanto pensa quando fica assim com essa cara de bobo?

- Como minha vida é boa. – Ele sorriu.

- É, não é? Às vezes acho que é mais do que você merece.

               Fernando a olhou.

- É brincadeira. – Ela riu. – Você sabe que merece.

- É que as vezes parece que é tão... Surreal. Você se lembra como as pessoas agiam quando eu falava que queria ter filhos e me casar? Ninguém levou fé.

- É... Confesso que por um tempo eu também não levei.

- Não culpo ninguém por isso. Minha vida era resumida em festas, carro de luxo e mulheres de todos os tipos. É compreensível que ninguém levasse fé nisso.

- Mas admiro muito esse seu desejo, e admiro ainda mais você ter conseguido realizar isso.

               Os dois ficaram um tempo em silencio olhando para a família reunida ao jardim.

- Lety é ótima. – Stella disse. – Eu não consigo pensar em ninguém mais para ser a mãe dos seus filhos e para te agüentar todos esses anos.

- Nem eu. – Fernando riu.

- Ela deveria ganhar um premio por isso.

- O premio sou eu.

- Nah... – Ela torceu a boca e Fernando esbarrou seu ombro no dela.

- Não finja que não me atura. Mamãe já disse que você chorou a primeira noite quando fui morar fora.

- Eu tinha dezesseis anos.

- Isso não é desculpa.

               Ela riu.

- E você e Eduardo. Como estão?

- Estamos bem. – Ela olhou para Eduardo, que conversava animadamente com Omar. – Estamos pensando em marcar o noivado.

- Mas já?

- Esperar mais para que? – Ela o olhou. – E não quero ouvir sermão de alguém que se casou obrigado.

- Tudo bem. Vou me calar.

               Stella sorriu.

- Ele é o meu parceiro. Confio nele.

- Que bom, porque você e Lety serão os padrinhos.

- Eu me sentiria ofendido se não fosse.

               Stella riu e abraçou Fernando.

- Você é um bobão.

               Fernando sorriu e retribuiu o abraço.

- Agora... Vai voltar para a festa ou vai ficar aí com essa cara de bocó?

- Vamos...

               Os dois caminharam juntos em direção ao movimento, abraçados. Assim que se aproximaram, Stella se separou do abraço e se aproximou de Eduardo, recebendo um beijo carinhoso. Fernando fez o mesmo com Lety, mas não se afastou após o beijo. Continuou abraçado à ela, com a cabeça encostada no ombro dela.

- Amor, o que foi? – Lety riu enquanto retribuía o abraço.

- Eu te amo.

- Eu também te amo.

               Fernando ergueu a cabeça para olhá-la.

- Não quero que se esqueça disso.

- Não vou me esquecer. – Ela sorriu tocando em seu rosto carinhosamente. – Está sentimental hoje?

- Acho que estou naqueles dias.

- Droga. Justo hoje que planejei uma noite especial para nós dois?

- Já passou.

               Lety riu.

- Bobo.

- Eu te amo, Lety.

- Você já disse isso, amor. E eu também te amo.

- É que não quero parar de dizer nunca. – Ele a olhou com ternura.

               Letícia sorriu e se preparou para beijá-lo, mas Ana os interrompeu.

- Mamãe! Lucas e Diego estragaram o seu jardim de novo!

- Meu Deus... – Lety levou a mão à testa. – Esses garotos vão me enlouquecer.

- Não fique nervosa hoje, amor. Amanhã eu te ajudo a arrumar isso. – Fernando disse.

- Mas dessa vez eles estão comendo as folhas!

- O QUE? – Letícia a olhou abismada. – Ai meu Deus!

               Imediatamente Lety correu em direção ao canteiro, e todos a olharam curiosos. Fernando e Ana a seguiram e quando ela se aproximou dos gêmeos, logo viu que eles estavam com algumas folhas nas mãos.

- Mas o que é que vocês estão fazendo? – Ela perguntou eufórica abaixando-se na frente deles. – Tirem isso da boca, agora!

- Mas mamãe...

- Não. Nada de “mas”!

               Lucas cuspiu a folha que estava em sua boca, mas Diego já havia engolido a sua.

- E se isso for venenoso? – Letícia perguntou apreensiva, olhando para os dois. – Fernando!

               Assim que se aproximou, Fernando se abaixou ao lado de Lety.

- Deixa o papai ver o que é isso. – Ele esticou sua mão, e os dois colocaram as folhas nas mãos dele. Fernando as examinou e logo depois as cheirou. – Não, não são venenosas.

- Tem certeza?

               Fernando olhou para Letícia, sem precisar responder.

- Vocês vão me deixar louca. – Ela respirou aliviada.

- Desculpe, mamãe. – Os dois disseram em uníssono.

               Lety recuperou seus batimentos por um tempo, e logo depois puxou os dois para um abraço.

- Não assustem a mamãe assim.

               Os dois retribuíram o abraço em silencio.

- Podemos continuar brincando?

               Lety soltou o abraço e não soube o que dizer. Não podia proibir as crianças de brincarem, mas também não sentia-se segura de deixá-los sozinhos. Os gêmeos pareciam ter herdado todo o espírito de aventura da família, e ela sempre estava arrancando os cabelos de preocupação com eles.

- Querem saber? Tive uma idéia. Vamos brincar de uma coisa que eu sei que vocês gostam. – Fernando se levantou.

- O que? – Perguntaram animados.

- De... Pique pega. – Ele sorriu.

- Está comigo, papai! – Ana disse animada.

- Então só nos resta... Correr!

               Fernando pegou os gêmeos no colo e saiu correndo, no mesmo instante Ana correu atrás dos três, gargalhando. Lety sorriu olhando para os quatro se divertindo e voltou para perto da família, aliviada pelo susto ter passado.

- Está tudo bem? – Julieta perguntou.

- Sim. Só... Fico preocupada com os gêmeos. Se parecem demais com o Fernando.

- Ah não, querida. – Terezinha riu. – Fernando era muito pior.

- Ótimo. – Lety brincou. – Então tem como piorar ainda mais.

- Vocês dão conta. – Julieta riu. – Vocês são ótimos pais.

- Obrigada, mamãe. Mas ainda assim eu fico louca com essas crianças.

- Mas não é gratificante ver isso todos os dias? – Terezinha perguntou e as três olharam para Fernando rolando na grama com as crianças.

- Sim. – Lety sorriu. – Muito.

               O clima estava ótimo, e todos estavam se divertindo. Mas uma nuvem negra pairou sobre o jardim quando Sofia e Caio passaram pelo portão, e Sofia estava praticamente soltando fumaça pelo nariz.

- Meu amor, fique calma! – Caio tentava acompanhá-la, mas ela caminhava como um touro.

- Calma o caramba! – Ela gritou, chamando a atenção de todos, inclusive das crianças.

- Não foi nada, sério!

- Foi muito, isso sim! E eu deveria ter...

               Antes que ela terminasse a frase, ela percebeu que todos olhavam para os dois.

- O que houve? – Lety perguntou aproximando-se dos dois.

- Sofia está furiosa. – Caio disse.

- Isso eu percebi. Mas por quê?

               Sofia respirou fundo algumas vezes, tentando se acalmar.

- O que aconteceu? – Fernando também se aproximou.

               Caio olhou para Sofia, mas pelo visto ela ainda não estava calma o suficiente para falar.

- Ela se irritou porque estávamos em uma reunião com os antigos colegas do ensino médio, e um dos caras se recusou a apertar minha mão.

               Fernando e Letícia a olharam.

- Eu disse que não me importo com isso, mas...

- Deveria se importar! – Ela disse irritada. – Foi horrível! Foi ridículo! Ele é um idiota, e eu deveria tê-lo mandado para a...

- Epa! – Fernando a interrompeu. – E o que foi que vocês disseram para ele?

- Eu não. Ela disse. – Caio a olhou.

- O que você disse, filha? – Lety a olhou.

- Eu disse que ele era um imbecil, e que não deveria ter esse preconceito com Caio, porque ele não é nenhum tipo de aberração.

- Não foi só isso que ela disse... – Caio prendeu o riso. – A frase pareceu bem curta sem os palavrões.

- Palavrões? – Fernando franziu o cenho. – Você não é disso.

- Mas eu fiquei irritada, pai! Ele foi um idiota!

- E o que mais aconteceu?

- Eu beijei o Caio na frente dele.

- E ele ficou com uma cara muito engraçada. – Caio riu.

- Então você deu uma boa lição nele. Por que está tão irritada?

- Isso que eu disse.

- Porque eu ainda não consigo entender como as pessoas ainda tem esse tipo de preconceito! É ridículo!

- Meu amor... Infelizmente é o que vocês dois irão enfrentar. – Lety disse pacientemente. – Você faz bem em defendê-lo, mas se irritar com isso não vai levar a nada.

- Obrigado, Lety. É isso que sempre digo à ela. – Caio falou segurando a mão de Sofia. – Não precisa se irritar com isso porque estou acostumado.

- Mas eu não. – Sofia o olhou. – E se outra pessoa tratá-lo assim, eu vou...

- Vai responder com calma, e com paciência. – Fernando disse. – Você não vai conseguir tirar o preconceito de alguém se irritando assim.

               Sofia bufou cruzando os braços.

- Quer saber? Vamos deixar vocês dois conversarem a sós. Quando você se acalmar, voltem para cá. O almoço já foi servido. – Lety sorriu.

- Obrigado. – Caio agradeceu.

               Lety segurou a mão de Fernando e os dois se afastaram, voltando para perto dos outros que estavam curiosos para saber o que aconteceu. Sofia caminhou até a varanda e Caio a seguiu em silencio, esperando que ela se acalmasse para conseguir conversar.

- Está mais calma? – Ele perguntou olhando-a.

- Um pouco.

- Sofi, você já deveria estar acostumada com isso...

- Não me acostumo, Caio. E sabe o que eu acho? Que essas campanhas não são suficientes. Pessoas como aquele idiota tem em todo o lugar.

- Exatamente. Já pensou se nos preocupássemos com essas pessoas em todos os lugares? Não conseguiríamos nos divertir.

               Ela ficou em silencio.

- Olha... Para dizer a verdade, a única pessoa que precisa estar ao meu lado é você, e você já faz isso. O resto não me importa. Podem recusar a apertar minha mão, podem recusar me abraçar. Eu realmente não ligo. Se eu tenho você, nada mais me importa.

               Sofia sorriu e ele segurou sua mão.

- Fica tranqüila, ta bom?

- Vou tentar.

- Além do mais... Você precisa estar acostumada, porque quando nos casarmos vai ser ainda pior.

- Nos casarmos?

- É claro.

- Não está pensando nisso rápido demais? – Ela riu.

- É claro que vamos nos formar primeiro, mas eu já penso no nosso futuro. Você não?

- Sim. – Ela apertou a mão dele carinhosamente. – Claro que penso.

- Você ainda tem receio de alguma coisa?

- Você faz o tratamento, nós nos cuidamos, fazemos acompanhamentos e fazemos todos os exames de rotina. Não tenho receio nenhum. – Ela sorriu.

- Que bom. – Caio se aproximou. – E não quero que fique irritada com essas coisas, ok?

- Tudo bem. Eu vou tentar.

               Caio sorriu e se preparou para beijá-la.

- Posso pedir uma coisa?

- Claro.

- Pode não falar sobre esse assunto de casamento com o meu pai hoje? Não quero que ele aproveite a churrasqueira para jogá-lo lá dentro.

               Ele riu.

- Combinado.

- Obrigada. – Sofia riu e enfim Caio a beijou.

 

 

•••

 

 

               A noite chegou e junto com ela o cansaço de um dia inteiro de diversão com a família. Depois que colocaram as crianças para dormir, Fernando e Lety foram para o quarto e caíram exaustos na cama. Ficaram um tempo deitados um ao lado do outro, até Lety virar-se para Fernando.

- Eu juro que planejei uma noite para nós dois, mas eu estou exausta.

- Que bom, porque eu também estou. – Ele sorriu. – Teremos mais tempo para isso. Além do mais, precisamos de muita energia.

- E como. – Ela riu.

- Mas é ótimo, não é? Quando a família vem para cá.

- Sim! Muito!

- Gosto de ver como nossos pais estão felizes e se dando tão bem.

- Eu também. Gosto principalmente de ver como minha mãe puxa tanto o seu saco.

- É claro que tem que puxar meu saco. Sou o melhor genro que ela tem.

- E o único.

- Fiz de propósito para saber o que você ia falar. – Ele sorriu.

- Não me provoque assim, Fernando. Sabe que eu não resisto. E se eu gastar um pouco mais de energia hoje, posso não acordar amanhã.

- Você precisa parar com essas brincadeiras sem graça. – Ele disse sério e Letícia gargalhou, abraçando-o. – Sabe que eu não gosto.

- É que eu adoro quando você fica emburrado.

- Não estou emburrado.

- Está sim. Mas saiba que quando você faz isso eu...

- Shh. – Fernando sentou-se à cama.

- O que foi?

- Está ouvindo isso?

               Lety se calou e prestou atenção, tentando entender sobre o que Fernando estava falando. Mas logo ela ouviu algumas gargalhadas ao longe, e logo soube de onde vinham.

- Ah, não acredito... – Lety voltou a se deitar. – Eu pensei que eles estivessem dormindo.

- Pelo visto não se cansaram como a gente.

- Eu não tenho mais forças para brincar hoje, Fernando.

- E nem eu. Meus joelhos estão doendo de ficar rolando na grama com eles.

- Tudo bem. Então para ser justo, vamos os dois.

- Ok.

               Os dois se levantaram e seguiram, quase arrastados, até o quarto dos gêmeos. Ana abriu a porta do seu quarto e os olhou sonolenta, esfregando os olhos.

- Que barulho é esse? Não consigo dormir.

               Lety fez sinal de silencio para ela e devagar empurrou a porta do quarto. Para sua surpresa, os gêmeos haviam montado uma barraca improvisada no quarto, usando um lençol e duas cadeiras. Com as lanternas acesas e as luzes do quarto apagadas, os dois gargalhavam dentro da “barraca”, e mal notara que Lety estava olhando para os dois.

- O que houve? – Sofia saiu do quarto.

               Só então os gêmeos perceberam que todos os olhavam da porta, mas não se acanharam. Continuaram gargalhando.

- Não acredito. – Lety cruzou os braços rindo. – Vocês não vão dormir não?

- Depois, mamãe. – Lucas disse.

- Vem pra cá, mamãe! – Diego a chamou.

               Lety olhou para Fernando, que balançou a cabeça afirmando. Os dois adentraram o quarto e abaixaram-se para conseguir entrar na barraca improvisada dos gêmeos. Logo Ana e Sofia também estavam lá dentro, e para a surpresa de todos, coube a família inteira debaixo da barraca. Lety e Fernando deitaram-se um ao lado do outro, e todos encaravam o teto enquanto os gêmeos brincavam com as lanternas.

- Coube direitinho! – Ana disse animada.

- É. Isso se a mamãe e o papai não resolverem encomendar outro irmão para nós. – Sofia brincou e Fernando e Lety prenderam o riso.

- Ah, podemos? – Ana disse. – Eu adoraria ter uma irmã mais nova.

- Ai meu Deus... – Lety sussurrou e Fernando riu.

- Pensaremos no caso, filha. – Ele respondeu, levando um tapa discreto de Lety.

- Eu acho que já estamos de bom tamanho. – Sofia disse. – Quatro é um numero muito bom.

- Tem razão, Sofi. – Lety disse. – Quatro é um ótimo numero. E comigo e o papai, somos seis. É melhor ainda.

- Eu não queria ter outro gêmeo. – Lucas disse.

- E nem eu. – Diego complementou.

- Que bom. – Fernando comentou e todos riram.

               Ficaram um tempo em silencio, apenas observando as luzes das lanternas refletindo o teto do lençol. Fernando entrelaçou sua mão à de Lety e virou seu rosto para olhá-la. Lety fez o mesmo, e quando seus olhares se cruzaram, Lety sussurrou “eu te amo”. Enquanto as crianças começavam uma nova discussão, Fernando beijou carinhosamente a mão de Lety, fazendo-a entender que ele estava dizendo o mesmo com aquele gesto.

- Sabe o que eu queria fazer? Ir para a praia. – Ana sugeriu.

- É uma boa idéia. – Sofia disse.

- Eu também quero! – Os gêmeos disseram juntos.

- Mãe? Pai?

- Praia em família. É... Seria ótimo. – Fernando continuou olhando para Letícia. – O que acha?

- Acho que seria maravilhoso. – Ela sorriu enquanto o olhava.

- Eba! – Ana e os gêmeos comemoraram.

               Enquanto a conversa se estendeu, Fernando e Letícia continuaram a se olhar, sem precisar dizer um ao outro o quanto se amavam e o quanto tinham orgulho da família que formaram. Já diziam isso todos os dias quando acordavam pela manhã e sorriam ao ver a família reunida à mesa. Um casamento que começou errado, mas que se tornou uma perfeita união, da melhor maneira possível. E Fernando e Lety sempre carregavam a certeza de que sempre estariam dispostos a dizer “sim” um para o outro. Todos os dias. Para sempre.


Notas Finais


Então queridas, chegou ao fim essa fic deliciosa! Foi muito bom escrevê-la, e foi maravilhosa a experiencia de focar uma história na família de Fernando e Lety. Confesso que no início eu não tinha a intenção de fazer uma fic tão família, mas as ideias foram surgindo e eu não pude evitar de presentear nosso casal com uma família tão linda! Espero que os capítulos não tenham sido cansativos e monótonos, mas fiz o meu possível para inovar.

Sobre o epílogo, não foquei muito na história do Caio e Sofia, mas saibam que o preconceito ainda existe sim, infelizmente.

Eu não quis focar muito em histórias específicas no epílogo, porque assim como fiz com "antes de ti", pretendo fazer uma oneshot dessa fic um pouco mais para frente, apenas para contar como anda a vida dessa família linda.


Enquanto isso, gostaria de lembrá-las que estou escrevendo outra fic que se chama "A Missão", mas peço que tenham paciencia, porque por ser uma fic um pouco mais complicada de se escrever, vou demorar um pouco para atualizá-la.

E sobre uma nova fic, já estou com um projeto, e pretendo postá-la assim que possível! Eu espero que gostem!

Obrigada por cada comentário e por terem acompanhado essa história até o final.

Como sempre, foi um prazer ♥


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