1. Spirit Fanfics >
  2. Love Inside Out >
  3. Você é a única que me importa

História Love Inside Out - Você é a única que me importa


Escrita por: jaimencanto

Capítulo 7 - Você é a única que me importa


               Alguns dias depois que voltaram da viagem, a relação de Fernando e Lety estava ainda melhor do que esperavam. Ela aceitou “mudar-se” para o quarto dele, e desde então dormiram juntos todos os dias. Ela tentava parecer firme e autoritária ao dizer para ele não aproveitar da situação, e que ela havia aceitado aquilo por um período de experiência. Mas, todas as vezes antes de dormir, Fernando conseguia chantageá-la e os dois acabavam encarando o teto ofegantes e nus. Por mais que Lety tentasse disfarçar à todo o tempo, era impossível não notar que ela estava empolgada com o rumo daquela relação, e isso ficava claro mesmo quando ela tentava mostrar o contrário.

- Eu não sei como esse garoto suja tantas roupas em um dia. – Maria reclamou, recolhendo as roupas do varal.

- Isso é porque todas as vezes que ele vai sair, usa uma blusa diferente. – Respondeu Letícia enquanto a ajudava.

- É, mas tenho que reconhecer que ele é vaidoso. E homem vaidoso hoje em dia não é fácil.

               Letícia riu do comentário e juntou as roupas recolhidas em um cesto.

- Preciso dizer que estou muito feliz por estarem se dando bem.

- É, estamos nos esforçando para isso.

- Não parece um esforço já que estão até mesmo dormindo no mesmo quarto. – Maria riu e o rosto de Letícia corou.

               No mesmo instante, o portão se abriu, e logo Fernando entrou pilotando sua moto.

- Ah, por falar nele!

               Lety sorriu inevitavelmente, olhando-o enquanto ele estacionava a moto na garagem, cantarolando. Naqueles últimos dias, Letícia aprendeu que aquele jeito de Fernando que um dia a tirou do sério, agora a deixava feliz e ainda mais encantada por ele.

- E então? Como foi? – Lety perguntou entusiasmada, quando ele se aproximou das duas.

- Bom... Deixei o meu currículo em mais empresas do que eu esperava. Todas disseram que entrariam em contato, mas é claro que não é assim que funciona. – Ele abraçou Maria. – Mas, espero que pelo menos uma não contrate o sobrinho do gerente e realmente me ligue.

- Eu tenho certeza que sim. – Lety sorriu e Fernando a olhou, separando-se do abraço de Maria e seguindo em sua direção.

               Logo quando se aproximou o suficiente, ele a puxou pela cintura lhe dando um intenso e demorado beijo, que fez Letícia perder os sentidos. Ele costumava fazer isso, mas demoraria um tempo até ela se acostumar com todas as maravilhosas sensações que sentia ao beijá-lo.

- E você? Como está? – Ele perguntou ainda próximo aos lábios dela.

- Bem. – Letícia respondeu com a voz um pouco falha.

- Seria idiotice da minha parte dizer que senti sua falta?

               Ela sorriu divertida.

- De maneira alguma. Aliás, se quiser dizer isso mais vezes ao dia...

               Os dois riram.

- A culpa é toda sua. Quem mandou fazer aquilo comigo ontem a noite?

               Maria pigarreou no mesmo instante e Letícia abaixou a cabeça envergonhada.

- Eu vou passar essas roupas. – Ela disse pegando o cesto, saindo o mais rápido que pôde.

- Não pode dizer essas coisas perto dela! – Letícia ralhou.

- Ah! Maria já é uma mulher madura. Ela já sabe o que as pessoas casadas fazem durante a noite.

- Não no nosso caso, não é? Ela está acostumada com discussões durante a noite.

- Bom... Pelo menos não temos tempo de discutir enquanto estamos gemendo, não é?

- FERNANDO! – Letícia o repreendeu, empurrando-o.

- Eu estou brincando, Lety! Vem aqui! – Ele segurou sua mão quando ela se preparou para se afastar. – Não fica brava comigo. – Pediu meio à um riso.

- Você às vezes me constrange dizendo essas coisas. – Ela tentou parecer séria, mas acabou se entregando ao riso logo depois.

- Você precisa se acostumar e perder a vergonha com isso. Não concordamos que agora podemos dizer que estamos casados?

- Bom, sim...

- E é claro que não vou dizer uma coisa dessas perto da Maria. Ela desmaiaria na hora.

               Letícia gargalhou.

- Mas não consigo mais esconder o quanto estou feliz por estarmos nos entendendo. – Ele disse sincero, abraçando-a pela cintura. – Inclusive acho que podemos comemorar com um jantar romântico hoje.

- Isso é um convite?

- Claro que sim.

- Não pareceu... – Ela sorriu divertida.

- Está bem. Letícia... Você me acompanharia em um jantar essa noite?

- Agora sim! – Respondeu entrelaçando os braços em volta do pescoço dele. – Sim, eu aceito!

- Que bom! E depois... Teremos a sobremesa?

- Você só pensa nisso?

- A culpa é sua por ser tão boa no que faz.

- Obrigada pelo elogio.

- Você deveria dizer o mesmo sobre mim...

- Por que eu deveria?

- Porque obviamente eu sou um furacão na cama.

               Letícia gargalhou.

- Não vamos exagerar, por favor.

               Ele sorriu divertido, puxando-a para um beijo.

- Quer saber? – Letícia sussurrou próxima à ele. – Essa conversa me deixou animada. O que você acha da sobremesa antes do jantar?

- Às três da tarde?

- Você não quer? Tudo bem. – Lety virou-se, mas Fernando a abraçou pela cintura, arrancando-lhe gargalhadas.

- Vamos logo antes que Maria sinta nossa falta e acabe indo atrás de nós dois. Ela ficaria um mês traumatizada.

               Os dois riram e assim seguiram em direção à casa, e logo depois, para o quarto, onde passaram grande parte da tarde sem serem interrompidos.

 

 

 

•••

 

 

 

               Depois de relaxar com um banho demorado, Fernando desceu as escadas na intenção de pedir à Maria que preparasse um jantar especial. Mas, ao chegar ao primeiro andar, notou que estava tudo calmo e silencioso demais, exceto por uma música abafada que soava pela casa. Ao seguir a música, ele acabou surpreendendo-se ao entrar na sala de jantar. A mesa estava previamente arrumada com pratos, talheres, taças e velas ainda apagadas. Ele pensou que talvez Maria já tivesse recebido a notícia de que Lety e ele planejavam um jantar romântico, mas assim que Letícia voltou à sala usando um avental, sua curiosidade aumentou ainda mais.

- Ah! Não sabia que já tinha saído do banho. – Ela sorriu para ele.

- Você está preparando tudo? – Ele perguntou apontando para a mesa.

- Sim. Eu dispensei a Maria por hoje... Espero que não se importe.

- Não, é claro que não. Essa casa também é sua. – Ele sorriu. – Mas, eu não sabia que você seria a encarregada pelo jantar.

- Bom... É uma surpresa. – Ela disse orgulhosa. – Mas, ainda estou preparando o cardápio.

               Fernando voltou sua atenção para a musica de fundo.

- Flashback? – Perguntou divertido.

- Sim. É romântico... E fica meio a meio. Pelo menos não é sertanejo ou MPB. – Ela sorriu.

- Muito bem pensado.

- Obrigada!

- Você quer ajuda com o cardápio?

- Não. Só sua companhia.

               Fernando sorriu satisfeito e a seguiu até a cozinha. Ao entrarem, ele não resistiu em abraçá-la por trás enquanto ela mexia com as panelas sobre o fogão.

- Você fica linda de avental. – Ele comentou ainda abraçado à ela.

- Mas que fique claro que não será sempre que você me verá assim, Senhor Mendiola. – Ela riu. – Sou uma mulher de direitos iguais.

- Eu sei muito bem disso. Mas, podemos combinar, nos dias que você cozinhar, eu a agradeço devidamente depois de comermos.

- E quando você cozinhar?

- Você pode fazer o mesmo.

               Ela riu.

- Está bem. Agora sente-se ali e fique quietinho. Antes que me faça queimar alguma coisa tirando minha atenção.

- Como quiser. – Ele beijou seu rosto. – Mas antes, essa ocasião merece um vinho especial. – Ele abaixou-se abrindo a porta debaixo do armário, tirando uma garrafa de vinho de dentro dele. – Ganhei de presente do meu pai no meu aniversário há dois anos e nunca o abri.

- Por quê? É um vinho especial e você só estava esperando uma pessoa especial e uma ocasião especial para abri-lo?

- Na verdade, eu não me lembrava que ele ainda estava aqui, se não já teria bebido ele na primeira oportunidade.

               Letícia colocou as mãos à cintura, ofendida.

- Brincadeira. – Fernando riu. – Ele me disse que é o vinho que ele e minha mãe tomaram em seu casamento, e que era um vinho especial que não se encontra em qualquer lugar. Para dizer a verdade, nem eu sei onde ele o comprou. Mas, sim... Eu estava esperando uma ocasião especial para abri-lo.

               Lety sorriu.

- Não sei o teor alcoólico disso, então acho melhor pegarmos leve. Ou não. Você quem sabe. – Ele riu, pegando o abridor na gaveta, abrindo o vinho logo depois. Letícia pegou duas taças no armário e ele as encheu até a metade. – Então... Um brinde ao nosso casamento... – Ele pegou uma das taças. – Que começou um desastre, e agora é... Uma das melhores coisas que me aconteceu.

- Não poderia dizer algo melhor. – Ela sorriu, brindando sua taça à dele.

               Cada um tomou um gole do vinho, e então Fernando sentou-se ao balcão, admirando Letícia enquanto ela cozinhava.

- Você gosta de cozinhar? – Ele perguntou enquanto a olhava.

- Sim, eu gosto muito. – Ela respondeu acrescentando os ingredientes à panela. – Mas quase não tinha a oportunidade quando morava com meus pais. Estávamos sempre almoçando em restaurantes ou estávamos em algum jantar de negócios...

- É, costumava ser assim quando eu morava com os meus pais também. Mas, por sorte, Maria aceitou vir trabalhar aqui. Ela nunca disse, mas acho que ela também não suportava mais trabalhar para os meus pais.

               Letícia riu.

- Você tem falado com eles? Com seus pais? – Ele perguntou.

- Algumas vezes. Minha mãe me ligou esses dias para dizer que já compraram uma casa.

- É mesmo? Isso é bom.

- Ela perguntou se eu voltaria a morar com eles.

               Fernando se mexeu ao banco.

- E o que você disse?

               Ela tirou a atenção da panela para olhá-lo.

- Disse que já tenho uma casa. – Sorriu.

- Ótimo. – Fernando retribuiu o sorriso.

- Minha mãe está feliz por estarmos nos dando bem.

- Minha mãe também. Inclusive, ainda não sei como é possível que ela não tenha vindo aqui de surpresa. Ela costuma fazer isso.

- Acho que eles finalmente estão nos dando o tempo que merecemos. Passamos nossa vida inteira sendo sufocados por eles.

- Tem razão. Está ótimo assim. Eu só tenho pena da Stella...

- Ela não tem vontade de morar sozinha também?

- Algumas vezes ela diz que sim, mas acho que ela não gostaria de morar sozinha. Stella é um pouco carente.

               Letícia riu.

- Quando me mudei eu quis que ela morasse comigo, mas meus pais não deixaram por ela ainda ser menor de idade. Depois disso não voltei a falar mais nada sobre isso. Na verdade, acho que ela se dá melhor com eles do que eu, então não deve ser tão ruim para ela. Além do mais, ela já está quase terminando a faculdade, e agora que não vai ser obrigada a trabalhar na empresa, pode fazer o que ela quer.

- É verdade. Seus pais parecem pegar um pouco mais leve com ela.

- Pelo fato dela ser mais nova e a filhinha do papai. – Ele riu. – Mas fico feliz por ela. Eu odiaria vê-la passar pelas mesmas coisas que passei com meus pais.

- Poderíamos chamá-la para um almoço.

- Sim, seria ótimo.

               Letícia voltou a cozinhar.

- Posso te contar uma coisa? – Fernando escorou-se ao balcão.

- É claro!

- Você não vai rir?

- Fernando... É claro que não!

- Eu... Já tentei adotar uma criança.

               Letícia largou a colher dentro da panela e o olhou perplexa.

- Isso é sério?

- Sim. Foi no ano passado. – Ele sorriu. – Stella é a única que sabe sobre isso. Não contei nem mesmo para o Omar.

- Mas... Por que você quis isso?

- Eu sempre quis ser pai, mas você sabe... Nunca encontrei uma mulher ideal para namorar, quem dirá para ser mãe do meu filho. – Ele riu. – Então em um dia de almoço na casa dos meus pais, Stella e eu estávamos conversando a sós e eu disse isso à ela. Ela me aconselhou a adoção. Eu confesso que não havia pensado nessa possibilidade antes, mas me despertou o interesse. Comecei a pesquisar por orfanatos, procurei saber um pouco mais sobre as etapas de adoção, e acabei indo a um orfanato. Comecei com as etapas, providenciei os papéis, os documentos, tive reuniões com a assistente social, mas acabou que por eu ser solteiro e morar sozinho, não consegui chegar até o final do processo.

               Letícia se aproximou do balcão, ouvindo-o com atenção.

- Eu tinha mudado de vida. Parei de ir aos bares, às festas, me dediquei mais ao trabalho mesmo que eu odiasse trabalhar para o meu pai. Mas, eu realmente queria fazer as coisas certas, e acabei criando uma esperança muito grande de que eu conseguiria isso. Mas, no fim não deu certo.

- Eu sinto muito... – Lety disse tocando em sua mão. – Mas foi uma atitude muito bonita da sua parte. Eu jamais imaginaria que você tem o sonho de ser pai.

               Ele sorriu.

- Você se surpreende muito comigo, não é?

- Você não sabe o quanto. – Ela riu. – Mas, fico feliz por isso. E orgulhosa. Você é um homem incrível.

- Obrigado. – Ele apertou sua mão.

- Mas, você chegou a escolher alguma criança para adotar?

- Não exatamente, mas nas vezes que fui até o orfanato acabei me aproximando das crianças.

- E depois disso você não tentou mais?

- Não. Fiquei irritado com toda essa burocracia, sendo que tem pais e mães que abandonam seus próprios filhos ou fazem coisa pior. Acabei desistindo e voltei à levar a vida que eu costumava ter. Até um tempo atrás.

Ele suspirou.

- Bom, mas de qualquer maneira, ainda tenho a esperança de ser pai.

- Ainda bem. – Lety riu e se aproximou.

- Pelo menos agora sei que tenho a mulher certa para isso. – Ele a abraçou pela cintura.

- Mas ainda temos muito tempo para pensar nisso. Nós estamos... Digamos... No começo do relacionamento.

- Tem razão. Ainda teremos muito tempo para treinar.

               Letícia gargalhou e ele a puxou para um beijo. A música ao fundo, o clima romântico, tudo contribuía para que os dois estivessem extremamente felizes naquela noite, e nada poderia estragar aquilo.

- Que cheiro é esse? – Fernando perguntou pausando o beijo.

- AI MEU DEUS! – Letícia virou-se para o fogão, repleto de fumaça.

 

 

 

•••

 

 

 

               Letícia deitou sua cabeça sobre a mesa segurando sua taça de vinho. Fernando voltou para a sala de jantar e sentou-se pesadamente na cadeira ao lado de Lety.

- Consegui limpar o fogão. – Ele disse olhando-a. – Da próxima vez que deixarmos algo queimar, pensaremos duas vezes antes de usar o extintor de incêndio.

               Letícia levantou a cabeça, totalmente desapontada.

- Ah, Lety... Não fique assim... – Ele segurou sua mão.

- Era para ser um jantar romântico, e eu estraguei.

- Não foi sua culpa. Nós nos distraímos.

- E agora? O que vamos comer? Maria fez as compras de bom grado, mas foi a conta para esse jantar.

- Ainda temos várias opções para o jantar.

- Mas nada romântico.

- Quer saber? Eu nem mesmo estou com fome.

               Letícia sorriu.

- É lindo quando você tenta me animar.

- Não se preocupe com isso. Vamos terminar o vinho, assistimos à um filme e depois podemos voltar para a sobremesa.

               Letícia riu, batendo em seu ombro. O toque de mensagem vindo do celular de Lety chamou a atenção dos dois, e ao ler a mensagem, ela suspirou impaciente.

- O que foi? – Fernando perguntou curioso.

- É a Carol.

- O que ela quer?

- Disse que tem algumas idéias para a livraria e que quer falar comigo.

- Meu Deus! De novo? Ela está precisando arrumar um namorado ou alguma coisa divertida para se ocupar.

- Fernando!

- Desculpe, mas é que ela fica o dia inteiro trocando mensagens com você sobre a livraria. Eu sei que estão empolgadas com isso, mas ela não parece ter outra coisa para fazer.

               Letícia riu.

- É... Ela realmente não tem outra coisa para fazer. Mora sozinha, só tem o gato como companhia. Ela deve ficar o dia inteiro planejando coisas para a livraria.

- Tive uma idéia! – Fernando bateu à mesa, assustando Lety.

- Qual idéia?

- Já que nosso jantar não deu muito certo...

               Letícia suspirou.

- Podemos chamar Carolina para sair.

- Ela nunca aceitaria segurar vela, Fernando.

- Ela não vai segurar vela se tiver um acompanhante.

               Letícia ergueu as sobrancelhas.

- Posso chamar o Omar.

- Eu não sei... Carol é difícil de convencer.

- Podemos tentar.

               Lety olhou para o seu celular ao receber a segunda mensagem. Depois a terceira. E na quarta ela perdeu a paciência e digitou rapidamente uma resposta para Carolina:

 

“Hoje é sexta feira, Carol! Eu sei que está ansiosa com a livraria, eu também estou, mas você precisa se divertir. Que tal irmos à um bar? Fernando chamou Omar, e ele adorou a idéia. Disse que mal pode esperar para revê-la e que gostou muito de você.”

 

 

- O seu nariz vai crescer! – Fernando disse ao ler a mensagem de Lety.

- Acho que nem assim ela vai aceitar ir.

- Só vamos saber quando você enviar.

               Letícia apertou imediatamente o botão “enviar”.

- Ela não vai aceitar.

- Então pensaremos em mais desculpas para convencê-la.

               Em menos de dois minutos o celular de Letícia apitou e ela abriu a mensagem eufórica. Fernando debruçou-se sobre a mesa para conseguir ler a mensagem de Carolina, e logo depois os dois se olharam sorrindo.

 

“Tudo bem. Qual o local e a hora?”

 

 

•••

 

 

               O bar estava obviamente lotado. Letícia já começava a se acostumar com lugares daquele tipo, e já conseguia controlar suas ofensas ao estilo musical que parecia ser único no lugar. Os dois optaram por uma mesa do lado de fora, onde o som era mais abafado e o local mais arejado, do jeito que Letícia preferia. 

- Boa noite! Vão querer beber alguma coisa? – O garçom perguntou.

- Por enquanto não. Estamos esperando alguns amigos. – Fernando sorriu.

- Certo. Quando precisarem, é só chamar.

- Obrigado!

               Letícia balançou as pernas, nervosa.

- O que foi? – Fernando segurou sua mão.

- Acho que ela não vem.

- É claro que vem. Ela já confirmou três vezes.

- E se ela ficar brava comigo por isso?

- Por que ela ficaria? É só um encontro de amigos.

               Letícia concordou.

- E sua irmã não vai se sentir deslocada por estar entre os casais?

               Fernando riu.

- Você não conhece minha irmã, Lety. É capaz dela conhecer mais pessoas aqui do que eu.

- Você já veio muito aqui?

               A pergunta de Lety obviamente era relacionada às mulheres que freqüentavam ali. Ela já teve uma boa experiência para saber que nos locais que Fernando costumava freqüentar, sempre tinha uma fila de mulheres loucas por ele.

- Só algumas vezes. Não fazia muito o meu tipo por ser... Calmo demais.

- Calmo? – Letícia olhou em volta e riu.

- Em vista dos bares que freqüentei, é calmo. – Ele riu. – Mas achei melhor virmos aqui porque sei que você não gosta muito desse tipo de lugar.

- Na verdade, já estou começando a me acostumar.

- É mesmo? – Ele franziu o cenho. – Bom, então acho que já podemos pular para o próximo passo.

- Que próximo passo?

- Podemos ir para um baile funk!

               Letícia o olhou assustada.

- Estou brincando, Lety. – Ele gargalhou, beijando sua mão.

- Que susto... Achei realmente que você freqüentava esse tipo de lugar.

- Não. Não se preocupe. Tive uma péssima experiência quando fui em um.

               Ela o olhou perplexa, mas não teve tempo de perguntar qual foi a experiência.

- Ah! Omar está vindo! – Fernando chamou sua atenção com um assobio e assim que ele os avistou, caminhou em direção à mesa.

- Desculpem a demora. – Ele disse cumprimentando Lety com um beijo no rosto. – Quer um beijinho também? – Ele foi fazer o mesmo com Fernando, mas ele o empurrou.

- Sai pra lá, Omar. – Ele riu.

- E então... – Omar juntou-se à eles. – Pensei que já tivessem começado os trabalhos.

- Não, ainda não. – Fernando respondeu passando o braço sobre o ombro de Lety. – Estamos esperando sua acompanhante.

- Ah... Olha, já vou dizendo que eu achei ela uma mulher muito bonita, atraente, gente boa. Mas, não garanto que...

- Olha ela ali! – Letícia disse animada. – Carol! – Ela acenou para que Carolina a encontrasse.

               Quando Carolina a viu, seguiu em direção à eles e Omar abriu a boca abismado ao notar o quanto ela estava bonita.

- Você disse o que? – Fernando perguntou rindo batendo a mão no queixo dele.

- Ah! Finalmente encontrei esse lugar! – Carolina exclamou ao se aproximar. – O idiota do taxista me deixou há dois quarteirões daqui, e eu tive que andar com esse salto enorme!

               Ela cumprimentou Fernando e Letícia, mas quando se preparou para cumprimentar Omar, ele se levantou quase derrubando a cadeira, segurando sua mão e beijando-a depois. Fernando e Lety tentaram disfarçar o riso, mas sem sucesso.

- Omar, você já pode sentar. – Fernando comentou ainda rindo.

               Omar sorriu sem jeito e sentou-se, acompanhado de Carolina.

- Então... – Ele pigarreou, disfarçando a vergonha. – Quando vamos poder começar a beber?

- Logo. Só estamos esperando minha irmã.

- Ótimo! – Omar sorriu e virou-se para Carolina. – Pode falar um pouco de você enquanto isso.

               Ela sorriu sem jeito e olhou para Letícia, que piscou para ela.

 

 

•••

 

 

               Depois que a mesa ficou completa com a chegada de Stella, não houve nem mesmo um minuto de tédio ou silencio. Falaram sobre todos os assuntos possíveis enquanto bebiam, e as gargalhadas faziam parte do cardápio.

- Carolina sempre me acompanhava nas festas da faculdade, mas no final ela sempre ficava encarregada de cuidar de mim quando eu passava do ponto. – Letícia contava sobre suas experiências na época da faculdade. – Não é, Carol?

- Nem me fale! Uma vez passei aperto porque eu ia dormir na casa dela, mas Letícia estava completamente bêbada. Tive que passar a noite acordada para os pais dela não desconfiarem!

- Eu não acredito que você era assim. – Fernando comentou enquanto ria. – Não me diga que eu vou ter que cuidar de você hoje?

- É claro que vai! – Letícia tomou o restante da sua caipirinha.

- Viu só com quem você aceitou se casar, Fernando? – Carolina comentou. – Você não conhece a outra parte da sua esposa!

               Fernando riu.

- Mas estou adorando conhecer. – Ele virou-se para ela e os dois sorriram apaixonados.

- Ah, gente! – Stella exclamou. – Vocês são tão lindos juntos. Dá vontade de chorar.

- Pelo amor de Deus, Stella. Não vai chorar aqui! – Fernando disse. – Todas as vezes que você bebe, você chora.

- É claro que não vou chorar! Só estou dizendo que vocês fazem um lindo casal. Se não for para ter um casamento igual ao de vocês, não quero nem casar.

- Um casamento arranjado? – Fernando riu.

- Não! Um casamento onde haja amor!

               Nenhum dos dois respondeu. Ainda não tinham dito as “três palavras” um para o outro, embora já estivesse mais do que claro o que sentiam.

- Quer saber? Isso está ficando depressivo! – Stella se levantou. – Vamos dançar!

- Ahh... Não! – Letícia negou. – Eu vou ficar por aqui.

- Nada disso! – Carolina também se levantou e segurou a mão de lety, puxando-a até ela se levantar. – Você vai dançar sim porque eu sei que na época da faculdade você adorava dançar!

- Ah, ela ainda gosta! – Fernando brincou e foi repreendido pelo olhar furioso de Letícia. – Quer saber? Vamos todos! – Ele se levantou. – Vamos, Omar. Ou você vai querer deixar a sua pretendente solta para outro?

               Omar imediatamente se levantou, e os cinco adentraram o bar, seguindo diretamente para a pista. Stella não disfarçava sua empolgação, e antes mesmo de encontrarem um lugar para ficar, ela já estava dançando atraindo o olhar dos homens em sua volta.

- Olha sua irmã, Fernando. – Omar comentou se aproximando de Carolina.

- Deixa ela! – Fernando deu de ombros, abraçando Letícia pela cintura.

- Você não tem ciúmes dela? – Carolina perguntou.

- Já passei dessa fase. – Fernando sorriu.

               Letícia o olhou divertida.

- Você não sabe disfarçar. – Ela comentou para que apenas ele ouvisse.

- Não vou mentir dizendo que gosto de ver esse bando de marmanjo em cima dela, mas agora ela já é maior de idade. Não posso falar nada.

- Admiro sua força de vontade de se controlar. – Ela riu.

- Eu tenho que me preocupar é com outra pessoa. – Ele a olhou. – Já sabemos que você também chama a atenção dos homens.

- Não se preocupe. Não vou subir no balcão hoje. – Ela riu.

- Acho bom. – Fernando a puxou para mais perto, mexendo seu corpo em sincronia com o dela no ritmo da musica.

               Estava um clima agradável. Omar e Carolina estavam se dando bem, e assim como Fernando e Letícia, estavam dançando juntos. Stella dava o “fora” em todos os homens que se aproximavam, alegando que só estava ali com seus amigos, para o alívio de Fernando. Nada poderia estragar a noite deles, exceto por uma aparição inesperada.

- Fernando! Stella!

               Todos voltaram sua atenção para a garota que acenava há poucos metros deles.

- Ah não! – Fernando fechou os olhos, desanimado.

- Quem é? – Letícia perguntou curiosa.

- O que ela está fazendo aqui? – Omar perguntou à Fernando.

- Stella, você convidou essa maluca? – Fernando a olhou com raiva.

- É claro que não! – Stella se defendeu. – Eu não converso com ela há meses, desde quando ela mudou de curso.

- Droga!

- Quem é essa? – Letícia tornou a perguntar.

- É a mulher mais insuportável que já tivemos o desprazer de conhecer. – Omar riu. – É ex namorada do Fernando.

               Letícia o olhou. Lembrava-se muito bem de Fernando ter dito que nunca teve nenhum relacionamento sério.

- Não é minha ex namorada! – Respondeu entre dentes. 

- Ela era uma amiga minha da faculdade. – Stella explicou à Letícia. – Ela costumava ir muito à minha casa e também saíamos sempre juntas. E ela tinha uma paixão inexplicável pelo Fernando.

- Uma paixão? Aquela menina era totalmente louca! – Omar riu.

- Ela é um pouco... Exagerada. – Stella sorriu sem jeito. – Por isso nos afastamos.

               Letícia olhou para a garota visivelmente nova que andava em sua direção.

 

 

-----------------------

 

 

               Não posso negar que a garota é bonita. Muito bonita por sinal. Mas, assim como Stella disse, é notável que é completamente louca. Assim que ela se aproximou, seguindo diretamente na direção de Stella, eu logo notei isso. Ela a puxou para um abraço e provavelmente ficou abraçando-a por cinco minutos, enquanto Stella tentava escapar. Aproveitei esse tempo para calcular quais as chances daquilo ser uma competição. Não, eu não costumo ser esse tipo de pessoa, e Deus me livre brigar por causa de homem. Mas, também não sou de ferro, e obviamente sinto ciúmes e tenho meus motivos para isso. Embora Fernando já tenha dito que nunca namorou sério e que nunca gostou de uma mulher para isso, eu tinha que reconhecer que isso não o impedia de ficar com quem quisesse, o que era ainda pior. Fernando não se apaixonava, mas não poderia dizer o mesmo das mulheres com quem ele ficava. Eu ainda preciso saber se ela foi apaixonada por ele ou se ainda é. E principalmente, se é uma paixão platônica ou se Fernando realmente já lhe deu motivos para isso. Ela é claramente uma típica garota de faculdade por quem os rapazes provavelmente brigam entre eles para ter um encontro com ela. Cabelos longos e negros até a cintura, um corpo malhado que só quem passa quatro horas por dia em uma academia tem, além de ser bonita. É... Só me falta passar quatro horas por dia em uma academia e colocar um mega hair.

 

 

----------------------

 

 

- Fernando! – Ela seguiu em sua direção, de braços abertos. – Quanto tempo!

               Fernando não teve outra alternativa a não ser cumprimentá-la com um abraço desanimado. A garota ficou na ponta dos pés o que fez seu vestido levantar e quase revelar o que não devia. Letícia e Carolina abriram a boca, e Carolina rapidamente tampou os olhos de Omar.

- Você sumiu! – Ela disse ao afastar-se do abraço.

- É. – Respondeu fazendo pouco caso.

- Não tenho notícias de vocês dois a um tempo. – Ela olhou para a Stella. – Desde que larguei a faculdade.

- Pois é. – Stella sorriu sem jeito.

- Mas, me contem as novidades!

- Fernando casou! – Stella disse rapidamente.

- O que? – A garota o olhou abismada e logo depois riu. – Ah ta! Ótima brincadeira!

- Não é uma brincadeira. – Stella se irritou.

- Quais as chances de Fernando Mendiola, o maior garanhão e mulherengo do Rio de Janeiro estar casado?

               Letícia suspirou impaciente, tentando controlar sua raiva.

- Espera. É realmente verdade?

- Sim! – Fernando respondeu sorrindo, puxando Letícia pela cintura. – Eu estou casado.

               A garota olhou para Letícia e logo depois para Fernando.

- Nossa! E qual é o segredo? – Ela riu. – Porque várias já tentaram fisgar ele e nunca conseguiram.

- Acho que é um dom. – Letícia forçou um sorriso. – Poucas têm.

               Fernando prendeu o riso, mas Omar não fez o mesmo, e soltou uma boa gargalhada.

- É claro. – Ela também forçou um sorriso. – Bom, muito prazer...

- Lety.

- Lety. – Ela cruzou os braços. – Meu nome é Ana.

- Prazer.

               Um clima pesado pairou sobre eles, principalmente entre Fernando e Letícia.

- Vamos buscar uma bebida, Ana? Estou vendo que está de mãos vazias. – Stella entrelaçou seu braço ao dela e a puxou, sem esperar uma resposta.

               Quando as duas se afastaram, Letícia cruzou os braços e olhou para Fernando.

- Ana... – Ela repetiu fuzilando-o com o olhar.

- Lety!

- Por que nunca me contou sobre ela?

- Mas eu não tenho nada para contar!

- Ah é? E como essa garota simplesmente se apaixonou por você?

- Stella e Omar são exagerados. Ela não se apaixonou por mim!

- Ah, se apaixonou sim! – Omar disse e Fernando o olhou furioso.

- Omar, vamos deixar os dois conversarem e vamos buscar mais bebida. – Carolina o segurou pela camisa e também o arrastou, afastando-se dos dois.

- Lety, essa garota é louca! Acho que você já notou isso.

- Também sei da sua fama de uns tempos pra trás. – Ela disse ainda de braços cruzados. – Olha, Fernando... Eu não estou te julgando e nem o acusando de nada. Mas, eu quero que seja sincero comigo. Essa garota tem motivos para gostar tanto de você?

               Fernando a olhou por alguns segundos, até suspirar vencido.

- Talvez...

- Argh! – Letícia exclamou, virando-se de costas.

- Mas não significou nada para mim, Lety! – Ele segurou em seu braço. – Eu juro!

- Eu sei que não significou nada pra você, mas para ela sim! – Letícia virou-se para ele, nervosa.

               Por sorte a música estava alta o suficiente para que as pessoas em volta não notassem a discussão.

- Ela é maluca, Lety! Se eu soubesse antes nada teria acontecido...

- O que foi que vocês fizeram? – Ela perguntou abaixando o tom. – Vocês... Ficaram?

- Sim.

- Quantas vezes?

- Algumas...

- Você não se lembra?

- Três. Mas em duas eu estava totalmente bêbado.

- Isso não justifica nada. Vocês... Fizeram mais alguma coisa além de ficar?

               Ele não respondeu.

- Fizeram! – Ela respondeu por ele, passando a mão em sua testa. – É por isso que essa maluca ficou apaixonada por você!

- Lety, realmente isso não importa mais. Para te tranqüilizar, foi apenas uma vez, e depois disso eu nunca mais tive nenhum contato com ela. – Fernando a segurou pela cintura. – Deixa isso pra lá. Não deixa isso estragar a nossa noite.

- Isso só vai acontecer se ela não me provocar!

- Ela não vai te provocar. – Ele sorriu. - Fica calma, tudo bem?

               Fernando a puxou para mais perto, aproximando seu rosto do dela.

 – Eu estou com você, e é isso que importa.

               Letícia balançou a cabeça concordando e ficou na ponta dos pés, puxando-o para um beijo. Enquanto se beijavam, parecia que realmente nada mais importava, ao menos até o beijo ser interrompido por uma voz estridente que tirou a atenção dos dois.

- Que gracinha! – Ana comentou olhando para os dois. – Quer saber? Eu sempre achei que Fernando combinava com mulheres mais... Digamos... Assanhadas. Sem ofensas, Lety.

- Não me ofendeu. – Ela respondeu controlando sua raiva.

- Mas, até que vocês dois combinam!

               Fernando revirou os olhos e Stella se aproximou.

- Lety, trouxe uma bebida para você. – Stella entregou um copo para Lety. – É...

               Letícia não esperou ela dizer o que era, e rapidamente o virou todo em sua boca.

- Vodka pura... – Stella disse olhando-a. – Era para você misturar com alguma coisa!

               Lety nem ao menos fez careta ao virar a bebida, e Fernando logo percebeu que tinha um problema. Enquanto Ana estivesse ali, a situação iria apenas piorar.

- Stella... – Fernando a chamou e ela se aproximou. – Tira ela daqui! – Ele sussurrou.

- Eu estou tentando! Levei ela para pegar uma bebida, mas ela insistiu em vir pra cá.

- Eu estou com medo da Letícia perder a paciência. Eu não sei como ela fica quando está brava, mas não quero saber hoje.

- Não se preocupe, eu vou arrumar um jeito de tirá-la daqui.

- Fernando... Eu me lembrei de você quando pedi a minha bebida. – Ana apontou para o copo em sua mão. – Piña Colada. Se lembra? – Ela sorriu colocando o canudo à boca, provocando-o.

- Não, não me lembro. – Ele suspirou impaciente.

- Fernando costumava pedir essa bebida quando saíamos juntos. – Ela disse para Letícia. – E dois copos disso aqui o deixavam bem alegre. – Ela riu.

               Letícia não fez questão de forçar um sorriso dessa vez.

- Quer saber? Acho que devíamos voltar para a mesa. – Fernando sugeriu.

- Ótima idéia! – Stella comentou. – Eu vou ficar por aqui com a Ana!

- Não, não quero me sentar. – Lety disse. – Aqui está ótimo!

- Concordo com você. – Ana a olhou. – Aqui está muito mais divertido. Inclusive, Fernando, estou te estranhando. Você costumava ser um ótimo dançarino. O que aconteceu?

               Fernando não respondeu.

- Ele ainda é! – Letícia respondeu por ele.

- É mesmo? Pensei que ele não tivesse mais uma parceira para mostrar seus dotes.

- Mas ele tem, fofa. – Letícia sorriu e segurou Fernando pela mão, puxando-o para o centro da pista.

               Stella rapidamente os seguiu, assim como Ana. No momento em que Letícia se juntou a ele, a musica mudou, e para o seu alivio começou a tocar o estilo “reggaeton”. Ao menos assim ela não passaria vergonha dançando algo que não conhecesse. Quando a música iniciou, Letícia fez questão de parar de frente para Fernando, dançando ao ritmo da música. Ana parecia querer provocá-los ainda mais, e logo começou a dançar sensualmente. Letícia não sentia-se ameaçada, mas sentia-se no dever de proteger o seu território. Ela não faria algo assim se Ana não estivesse disposta à provocá-la, o que já estava claro que era exatamente o que ela queria.

               Fernando apenas observava Letícia, como se não estivesse entre um clima tenso. Ao vê-la dançando em sua frente, nada mais importava. Ele estava tão hipnotizado com o lado “solto” de Lety, que nem mesmo se movia para dançar, algo que raramente acontecia. Letícia se soltou ainda mais ao ritmo da musica, e Ana fez o mesmo. Stella apenas tomava sua bebida e observava a cena, rezando para que aquilo não terminasse em uma grande confusão. Quando a musica chegou ao fim, as duas se olharam e foi como se faíscas saltassem dos olhos de cada uma.

- Tenho que admitir que você dança bem o reggaeton. – Ana comentou.

- Obrigada. Você também não é tão ruim.

- Mas, você não parece saber dançar algo mais... Ousado.

- Não, eu não sou desse tipo. – Letícia respondeu com desgosto.

- É, eu percebi. – Ela riu debochada.

               De repente o estilo de música mudou, e para o desanimo de Lety, era funk. Para ela, pior do que dançar sertanejo era dançar funk, algo que definitivamente ela não levava nenhum jeito para isso. Já Ana não poderia dizer o mesmo, já que sabia a coreografia exata da musica, e estava adorando provocar Letícia com isso.

- Onde foi que ela aprendeu a dançar assim? – Letícia cochichou para Stella.

- Ela faz aulas de dança.

               Letícia não se atreveu a responder. Obviamente não teria como “competir” com isso. Vários homens fizeram uma roda em volta dela, e ela estava claramente adorando toda aquela atenção que estava recebendo. Mas, ela só conseguia olhar apenas para uma pessoa, o que deixou Letícia extremamente furiosa.

- Quer saber? Acho melhor voltarmos para a mesa. – Stella sugeriu.

- Ótima idéia! – Fernando disse. – Vamos, amor?

               Letícia já tinha se convencido de que ficar naquela briga boba por Fernando não levaria à nada, principalmente porque quem estava casada com ele era ela, e nada e ninguém mudaria isso.

- Aonde vão? – Carolina perguntou quando se aproximou acompanhada de Omar.

- Voltar para a mesa. – Lety respondeu desanimada. – Já sofri muita humilhação por hoje.

- Lety... – Fernando a olhou triste.

- Ficou louca, amiga? Acabei de pedir uma musica especial para o DJ que eu tenho certeza que você vai gostar. – Carolina sorriu marota.

- Que musica? – Lety perguntou curiosa.

- Você vai ver. – Ela se aproximou. – Mostra pra essa galinha o que é dançar!

               Letícia não entendeu o conselho de Carolina, até o DJ trocar a música. Quando ela reconheceu a música que começou, olhou abismada para Carolina.

- Você não quer que eu...?

- Vai lá, amiga! Arrasa! – Carolina exclamou animada.

               Ninguém pareceu entender nada além de Lety e Carolina.

- O que foi, Lety? Você já se cansou de dançar? – Ana perguntou provocativa.

               O sangue de Letícia ferveu, e ela não soube explicar se foi graças à vodka pura que bebeu ou à sede de competição, mas no mesmo instante ela caminhou em direção à Ana, e por um instante os outros pensaram que ela fosse partir para uma briga. Mas, para a surpresa de todas, Lety começou a dançar, fazendo a coreografia exata da musica.

 

 

“Vem na maldade, com vontade chega e encosta em mim. Hoje eu quero e você sabe que eu gosto assim.”

 

 

               Carolina aplaudiu animada, mas os outros não tinham reação alguma, principalmente Fernando que ainda a olhava de boca aberta. Jamais ele imaginaria que Letícia soubesse alguma coreografia de uma musica de funk, e principalmente que ela dançasse tão bem. Ana sentiu-se ameaçada, e fez questão de se mostrar ainda mais. Mas, para a felicidade de Lety, ela parecia não saber a coreografia da música.

 

“Bang! Dei meu tiro certo em você. Deixa que eu faço acontecer. Tem que ser assim pra me acompanhar, pra chegar, então vem. Não sou de fazer muita pressão, mas não vou ficar na sua mão. Se você quiser não pode vacilar. Demorar.”

 

 

               Letícia pelo contrário sabia exatamente o que estava fazendo, e a cada passo que ela fazia de acordo com a música, as pessoas em sua volta, inclusive mulheres, aplaudiam e comemoravam. Fernando também bateu palmas e assobiou, admirado com sua esposa. Ele não conseguia parar de olhá-la e queria que aquela cena nunca mais saísse de sua cabeça. Letícia estava provocativa, e o seu vestido azul marinho um pouco acima do joelho a deixava ainda mais sensual à medida que ela dançava. Fernando não conseguia parar de sorrir enquanto a olhava, e teve que se conter para não gritar para todos com orgulho “essa é a minha esposa!”.

- Onde foi que ela aprendeu a dançar assim? – Stella perguntou divertida. – Ela está arrasando!

- Eu disse. – Carolina sorriu. – Tem muitas coisas sobre Lety que vocês não sabem ainda. Vocês ainda vão se surpreender muito com ela.

 

 

“E pra te dominar, virar tua cabeça, eu vou continuar te pro-vo-can-do. E pra escandalizar, dar a volta por cima, não vou parar até te ver pi-ran-do. Vem na maldade, com vontade chega e encosta em mim. Hoje eu quero e você sabe que eu to afim.”

 

 

               Letícia não sabia de onde estava tirando tanta coragem para fazer aquilo, mas a feição de raiva de Ana era impagável. Quando a musica chegou ao fim e todos a aplaudiram ainda mais do que Ana, ela sentiu seu rosto corar de vergonha. Ana bateu o pé e se afastou, furiosa. Letícia rapidamente voltou para perto de Fernando e foi recebida por eles com aplausos.

- Lety! Você foi fantástica! – Stella exclamou.

- Você sambou na cara dela, amiga! – Carolina riu.

- Obrigada. – Ela sorriu envergonhada. – Não sei o que me deu. – Disse ainda ofegante.

- Você simplesmente foi... Incrível. – Fernando disse segurando-a pela cintura. – Não sabia que dançava tão bem.

- Não danço. Só... Algumas musicas.

- Então quero que me mostre mais tarde. – Ele sorriu maroto, beijando-a logo depois.

- Ih! Começou a indecência! – Stella exclamou. – Melhor pegarmos mais bebidas!

 

 

•••

 

 

- Ela ficou furiosa! – Letícia disse enquanto tirava seus brincos. – Não a vi o resto da noite.

               Os dois comentavam sobre o acontecimento no bar quando estavam no quarto.

- Nem eu. Graças a Deus. – Fernando exclamou desabotoando sua camisa. – Mas, a melhor parte foi ver você dançando na minha frente. – Ele sorriu malicioso, aproximando-se dela.

- Eu não sei o que deu em mim. Nunca fiz isso na vida. – Ela disse olhando para o seu reflexo no espelho.

- Eu achei demais! – Fernando também olhou para o espelho, apertando ainda mais seu corpo contra o dela. – Tive que me segurar para não te seqüestrar ali mesmo.

- Ainda bem que você se conteve. – Ela riu, virando-se para ele. – Assim a vontade fica maior.

- Maior? Você já estava me enlouquecendo desde quando começou a dançar na minha frente.

               Ela riu e se afastou do abraço, seguindo em direção à cama.

- Mas eu fiquei curiosa com uma coisa...

- O que? – Ele terminou de tirar sua camisa.

- Se você acha aquela garota tão insuportável, por que se relacionou com ela?

- Eu me faço a mesma pergunta. Ah, Lety... Você sabe como eu era. Não vou mentir para você. Eu não me preocupava se a mulher era “legal” ou “chata”. Eu achei ela bonita, e nós ficamos a primeira vez.

- Só bonita?

- Lety... – Ele riu.

- Só estou curiosa. E das outras duas vezes?

- Como eu disse, estava bêbado. Eu já sabia que ela era insuportável, mas você sabe...

- Pensou mais com a cabeça de baixo do que com a de cima.

               Fernando a olhou divertido.

- Ai, desculpa... – Ela se aproximou dele, repousando suas mãos em seu peito nu. – É que não consigo evitar. Você já se relacionou com tantas mulheres...

- Quem diria que uma mulher tão durona como você seria tão ciumenta. – Ele riu, segurando em sua cintura.

- Não é ciúmes. É...

- O que? – Ele sorriu divertido.

- Argh! Tudo bem! Mas, não me culpe! A culpa é toda sua! Agora não podemos nem mesmo ir à um bar nessa cidade que vamos encontrar alguma mulher que você já dormiu.

- Não seja exagerada, Lety. Não foram tantas assim.

- Sei...

- Olha, se te deixa mais calma... Eu também sinto ciúmes de você. Principalmente quando você se solta e dança na frente de todos aqueles homens. Eu gosto quando faz isso, que fique claro, mas sempre morro de ciúmes ao ver aqueles homens olhando pra você.

- Desculpe. Eu prometo não fazer mais uma loucura dessas.

- Você pode fazer quando quiser. – Ele a puxou para mais perto. – Eu sei que o seu marido sou eu.

- Convencido. – Ela riu.

- Mas é sério, Lety. Não quero que fique se preocupando com o meu passado. Nenhuma delas significou nada para mim. Você é a única que me importa.

- E você disse isso para quantas? – Ela sorriu divertida, entrelaçando seus braços nele.

- Só para você, é claro. Eu te disse que nunca me interessei por nenhuma mulher à ponto de me relacionar com ela. Você foi a primeira.

- Às vezes fico pensando... Será que se não tivéssemos passado por tudo isso, por esse casamento arranjado... Nós teríamos nos envolvido algum dia?

- Provavelmente não. – Ele riu.

- Foi o que pensei.

- Então... Temos que agradecer nossos pais por isso algum dia, não é? Se não fosse por essa loucura jamais teríamos nos aproximado, e não estaríamos aqui hoje.

- É verdade. Mas, nós agradecemos depois. – Ela mordeu os lábios provocativa. – Temos coisas mais importantes para nos preocuparmos.

- Você tem toda a razão.

               Fernando colocou uma das mãos entre os cabelos de Lety, e se inclinou para beijá-la. A cada vez que se beijavam, uma nova sensação tomava conta de ambos. Embora ainda estivessem se acostumando com a idéia de serem um casal, já não era mais possível esconder o que sentiam um pelo outro. Um sentimento tão forte que se manifestou em tão pouco tempo, mas que parecia estar destinado aos dois. Enquanto se beijavam, Fernando a guiou até a cama, e quando sentiu que estava próximo, ele se apressou em abrir o zíper do vestido de Letícia. Lentamente ele o abriu, e quando sentiu que já estava no fim, transferiu seus beijos para os ombros dela, à medida que abaixava seu vestido. Letícia afagou suas mãos aos cabelos dele, e à medida que sentia os toques dele em seu corpo, se arrepiava. Quando Fernando finalmente esperou que o vestido dela caísse ao chão, tomou um tempo para admirá-la apenas de lingerie. Letícia sorriu maliciosa e novamente ele a puxou para mais perto, entrelaçando seus braços em sua cintura. Um calor fora do normal tomou conta dos dois, e não era apenas resultado de todas as bebidas da noite. No calor do momento, meio aos suspiros que ecoavam pelo quarto, Fernando sentiu uma necessidade enorme de dizer tudo o que estava sentindo naqueles últimos dias. E, já que o momento estava propicio para isso, ele aproveitou:

- Lety... – Sussurrou pausando o beijo.

- Hum?   

- Preciso te dizer uma coisa.

- Agora?

- Sim.

- Pode me falar depois. – Ela tocou em seu rosto, voltando a beijá-lo.

- Não... Mas eu preciso dizer agora. – Disse entre o beijo.

- Fernando, você fala depois.

               Sem conseguir esperar mais, ele pausou o beijo e abriu os olhos. Imediatamente Letícia fez o mesmo, e seus olhares se cruzaram.

- Eu te amo.

 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...