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História Love Inside Out - Felicidade Completa


Escrita por: jaimencanto

Capítulo 8 - Felicidade Completa


Duas semanas depois...

 

 

               Os assobios de Fernando ecoavam por toda a casa. Já havia se tornado um costume dele acordar de ótimo humor todos os dias, desde que voltaram de viagem, mas nesse dia em especial ele estava ainda mais animado. Maria sorria satisfeita sempre que ele acordava e ia diretamente para a cozinha, cumprimentá-la cantarolando e abraçando-a.

- Bom dia, Maria, flor da minha vida! – Exclamou ele, lhe dando um beijo no rosto.

- Não deixe a Lety ouvir você dizer isso. – Ela riu.

- Será que posso pedir uma coisa?

- Ah, eu deveria imaginar que estava sendo interesseiro. – Ela virou-se para ele, colocando as mãos na cintura.

- Mas que calúnia! – Exclamou fingindo ofensa.

- O que é, menino? – Ela perguntou rindo.

- Será que poderia preparar um jantar bem especial hoje?

- Especial? E qual a ocasião?

               Fernando apenas sorriu, mas não a respondeu.

- O que está aprontando, menino?

- Você verá! Mas eu preciso que seja um jantar bem romântico, com velas e tudo.

- Não pode ser um pedido de casamento. Você já está casado.

               Fernando gargalhou.

- Não é isso. É algo ainda mais especial.

               Maria franziu as sobrancelhas.

- Bom... Se for para deixá-lo feliz, eu faço. – Ela sorriu e Fernando a abraçou.

- Você é a melhor!

               Maria retribuiu o abraço rindo, mas se separaram quando o interfone tocou.

- Não, não. – Ele disse rapidamente quando ela se preparou para atender. – Eu atendo. Você merece.

- Ah, claro! Obrigada! – Ela balançou a cabeça.

               Fernando pegou o interfone e escorou-se ao balcão, fazendo pose galanteadora, arrancando gargalhadas de Maria.

- Pois não? – Ele engrossou a voz, se divertindo.

- Ahm... Essa é a casa de Fernando Mendiola?

- Sim. Quem gostaria? – Ele continuou com a voz grossa enquanto Maria ria.

- Letícia Padilha ainda está morando aí?

               O homem parecia totalmente perdido, e ao ouvir o nome da Letícia, Fernando parou de brincar, voltando a ficar sério.

- Quem é?

- Eu sou um amigo dela. Meu nome é Nicolas. Será que eu poderia falar com ela um instante?

               Fernando imediatamente reconheceu aquele nome, lembrando-se da conversa que Letícia e ele tiveram durante a viagem. Foi inevitável não sentir-se enciumado, principalmente por saber que aquele homem era o ex namorado de Lety. Pensando com o ciúme, ele não queria abrir. Apenas desligaria o interfone e fingiria que nada aconteceu. Mas, o seu bom senso não lhe permitiu fazer isso, e então ele apertou o botão que abria o portão.

- Quem é? – Maria perguntou, mas Fernando não respondeu. Passou por ela feito um furacão, saindo da cozinha.

               Fernando parou à porta de entrada e observou o homem de cabelos loiros e curtos caminhar em direção à casa. Com os braços cruzados e uma feição nada gentil, Fernando esperou que ele subisse as escadas de entrada para finalmente se apresentar.

- Oi! – Nicolas sorriu. – Você deve ser o Fernando.

- Sim. – Fernando respondeu sem empolgação.

- Desculpe vir sem avisar. Meu nome é Nicolas. – Ele esticou sua mão, e Fernando a apertou sem muito ânimo. – A Letícia está por aí?

               Fernando não precisou responder. No mesmo instante ela desceu as escadas animada, cantarolando assim como Fernando minutos antes. Mas, logo quando viu que Fernando estava com visitas, e principalmente quando viu quem era a visita, seu sorriso diminuiu no mesmo instante.

- Nicolas? – Ela se aproximou dos dois, olhando-o surpresa. – O que está fazendo aqui?

- Oi Lety. – Ele sorriu. – Você... Está ótima!

               Fernando limpou a garganta.

- Obrigada. – Ela respondeu ainda séria. – Mas, você não me respondeu. O que está fazendo aqui?

- Carolina disse que você queria me ver, e que queria falar comigo.

               Letícia não sabia o que responder. De fato havia pedido isso à Carolina, mas logo quando aquela história de casamento começou.

- Vocês podem conversar à vontade. – Fernando disse descruzando os braços – Eu vou dar uma volta.

               Sem dizer mais nada, ele passou por Nicolas e seguiu pelo jardim em direção à sua moto.

- Fernando! – Letícia gritou, mas ele não a ouviu. Colocou o seu capacete e ligou sua moto, saindo disparado logo depois. – Ai meu Deus. – Letícia suspirou, colocando a mão à testa. – Você não deveria ter vindo! – Ela disse à Nicolas. – Principalmente sem avisar.

- Mas Carolina disse...

- Esse recado está com um atraso de mais de um mês, Nicolas. E eu não sabia que você aceitaria conversar comigo.

- Eu sei... Me desculpe por ter te ignorado. Eu estou muito arrependido.

               Letícia suspirou.

- Tudo bem. Também lhe devo desculpas pela forma como as coisas aconteceram.

- Agora me diz, como você está suportando um casamento arranjado em pleno século vinte e um? – Ele riu debochado. – Pensei que você já teria se livrado disso.

- Eu... Estou me acostumando.

- Eu posso ajudá-la no que precisar. Você sabe... Para anular essa loucura de casamento. Tenho um amigo advogado que...

- Não é necessário! – Ela o interrompeu.

- Você... Está estranha, Lety. Ele está fazendo algo ruim com você? Está te maltratando?

- O que? É claro que não! – Respondeu indignada. – Fernando jamais faria isso, pelo contrário! Ele me trata muito bem, e é um homem maravilhoso!

               Nicolas franziu o cenho.

- Estamos falando do mesmo cara que você dizia odiá-lo?

- Eu... O conheci melhor. Ele não é como eu pensava.

- Eu não acredito nisso. – Ele riu debochado.

- Então acredite, porque é verdade! – Ela respondeu irritada. – E acredite ou não, estou gostando da idéia de estar casada com ele, se quer saber.

               Nicolas parou de rir e a olhou com seriedade.

- Isso não pode ser verdade.

- Mas é!

               Ele se aproximou de Lety e ela deu um passo atrás.

- Vocês... Transaram?

               Letícia não respondeu. Não saberia mentir, e se tentasse, Nicolas obviamente descobriria, e de nada adiantaria.

- Ah meu Deus! – Ele exclamou, colocando as mãos à cabeça. – Letícia, você perdeu o juízo?

- É claro que não perdi o juízo!

- Eu não te reconheço mais! Você não é a mesma Letícia que eu conheci!

- Não cabe a você julgar isso, Nicolas. Nós não temos mais nada!

- Está vendo? A Letícia que conheci jamais diria isso!

- Só que não sou a Letícia que você conheceu, Nicolas!

- Eu amei você! – Ele aumentou a voz. – Tudo o que fiz foi amar você! Mas, eu amava a antiga Letícia, e não essa... Essa...

- Essa o que? – Letícia o enfrentou. – Essa Letícia que aprendeu muito durante esse ultimo mês? Que agora está casada? A antiga Letícia também chegou a amar você um dia, Nicolas. Mas a nova ama outra pessoa agora.

               Nicolas a olhou furioso e magoado, e abriu a boca várias vezes para respondê-la. Mas, a única coisa que conseguiu fazer foi bufar irritado e lhe dar as costas, seguindo para o portão. Letícia suspirou aliviada por ele não ter insistido como ele pensou que faria, mas sua preocupação com Fernando ainda prevalecia. Imediatamente ela tirou o celular do bolso e tentou ligar para ele, mas sem sucesso. Ele desligava antes mesmo de atendê-la.

 

 

 

•••

 

 

 

               Durante o dia inteiro Letícia não teve notícias de Fernando, o que a preocupava ainda mais. Com o celular sempre em mãos, ela caminhava por toda a casa, buscando uma maneira de se entreter para não ficar tão apreensiva com a falta de notícias. Maria tentava acalmá-la algumas vezes dizendo que Fernando era assim mesmo, e que muitas vezes fez o mesmo com ela, e que com o tempo se acostumava. Mas, Letícia jamais se acostumaria com isso, principalmente depois do acidente, que aconteceu justamente quando Fernando saiu irritado em sua moto. A única maneira que ela encontrou de se acalmar, foi ligando para Carolina.

- Tudo bem, Lety. Eu busco as papeladas da livraria e amanhã nos encontramos. – Carolina disse ao telefone.

- Obrigada, Carol. Eu realmente não estou com cabeça para pensar nisso. Ao menos até Fernando dar notícias.

- Ele deve estar bem. Você já tentou ligar para o Omar? Eles não estão sempre juntos?

- Sim, mas Omar também não atende. Devem estar juntos e Fernando provavelmente pediu para ele não me atender.

- Então relaxa. Ele só deve ter saído para espairecer.

               De repente, Letícia ouviu o barulho do portão sendo aberto e Fernando passando por ele logo depois. Aliviada, ela suspirou e não pôde deixar de sorrir, feliz por ele parecer bem. Ao menos fisicamente.

- Ele acabou de chegar. – Ela comentou aliviada.

- Ah! Que bom!

- Eu te ligo depois.

- Certo. Um beijo!

- Outro!

               Letícia jogou o celular sobre o sofá e correu em direção à porta de entrada, esperando por Fernando. Quando ele entrou em casa já tirando sua jaqueta, mal olhou para ela. Letícia percebeu que ele ainda estava chateado com a visita de Nicolas, mas não conseguia esconder o seu alívio por Fernando estar bem.

- Onde você estava? – Ela não resistiu em perguntar.

- Por aí. – Respondeu sem olhá-la.

- Eu fiquei preocupada.

- Você não parecia preocupada quando estava conversando com seu amigo.

               Letícia suspirou.

- Nicolas só veio aqui por que...

- Não precisa se explicar. – Respondeu com frieza. – Não quero ouvir.

               Sem querer insistir, ela se calou. Preferia esperar Fernando se acalmar para que pudessem conversar. Fernando a deixou sozinha e seguiu para a sala e sua única opção foi ir para o quarto, esperando que em algum momento ele entendesse que não tinha motivos para ter ciúmes de Nicolas, e que como Lety havia dito antes, ela não sentia mais nada por ele. Quando entrou no quarto, Letícia andou de um lado para o outro, pensando se deveria dizer à Fernando tudo o que sente, e tudo o que mudou entre eles desde a viagem. Queria dizer que aquelas ultimas semanas foram as melhores da sua vida, e que ela não queria que aquilo acabasse de maneira alguma. Ela teve a oportunidade há duas semanas, mas não foi exatamente como ela imaginava.

 

 

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               Letícia continuou olhando-o, sem saber o que responder. Ela abriu a boca algumas vezes, mas não conseguiu produzir nenhum som. Não estava esperando que ele dissesse isso naquele momento, embora não fosse tão assustador, já que estava claro o que sentiam um pelo outro. Ela queria retribuir e dizer que sentia o mesmo, mas ele não parecia esperar por isso. Depois de dizer em alto e bom tom “eu te amo”, ele simplesmente voltou a beijá-la, como se não precisasse de uma resposta para aquilo. Mas, Letícia ainda estava surpresa, e não conseguia disfarçar isso.

- O que foi? – Ele parou o beijo olhando-a, notando que ela estava um pouco aérea.

- Nada. Eu... Só... Não esperava que fosse... Dizer isso. – Respondeu sincera, e ele sorriu.

- Mas é o que eu sinto.

- Eu sei. Mas... Não esperava que fosse dizer em voz alta.

- Se preferir, eu não digo mais.

- Não! – Respondeu rapidamente. – É só que... Eu...

- Não se preocupe, Lety. Não estou esperando que você diga o mesmo. – Ele sorriu puxando-a para mais perto. – Eu só senti que precisava dizer isso à você. Não falei esperando uma resposta ou algo do tipo.

               A única coisa que Letícia pensou naquele momento foi “ele é bom demais para ser verdade.” Qualquer um em seu lugar teria ficado irritado por ela não ter dito o mesmo, mas ele não. Ele não se preocupava com isso. Ele só queria dizer o que sentia por ela, resumido em três simples palavras.

- Tudo bem? – Ele perguntou.

- Sim. – Ela sorriu. – Está tudo ótimo.

- Que bom. – Ele sorriu. – Podemos continuar?

               Letícia gargalhou e voltou a entrelaçar seus braços em seu pescoço. Fernando se inclinou sobre ela, fazendo-a deitar à cama. Novamente o calor tomou conta dos dois, e Letícia sentiu-se ainda mais animada. Sentia que o queria naquele momento, sem mais esperas. Ao interromper o beijo e olhar para ele, Fernando imediatamente inclinou-se, abrindo a gaveta da cômoda, tirando um preservativo e mostrando-o para Letícia.

- Não precisa pedir. – Ele sorriu divertido e ela riu, voltando a beijá-lo.

 

 

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Letícia já tinha certeza que naquelas ultimas semanas, o sentimento que surgiu durante a viagem apenas aumentou e se fortaleceu, e ela estava pronta para dizer isso à Fernando. Desde o dia em que ele disse “eu te amo” pela primeira vez, ela queria dizer o mesmo, mesmo que ele não a cobrasse ou parecesse se importar pelo fato dela ainda não ter dito. Mas, ela estava pronta para enfim dizer que também o amava, e assim, ele entenderia que nem Nicolas e nenhum outro homem faria ela querer deixá-lo. Enquanto estava pensativa no quarto, Letícia recebeu uma ligação inesperada, e quando viu o nome que apareceu à tela, suspirou impaciente.

- Alo?

- Oi Lety!

- Beth, como vai? – Perguntou desanimada.

- Ótima! E você? O que achou do presente que te enviei?

- Presente? – Letícia perguntou confusa. – Que presente?

- Deixei com a... Maria o nome dela, não é? Enfim... Deixei com ela toda a documentação necessária para a anulação do casamento! É só você e Fernando assinarem que está tudo certo!

               Letícia não sabia o que responder. Esqueceu-se de contar sobre seu relacionamento com Fernando para a única pessoa que realmente precisava saber.

- Não foi rápido? – Beth perguntou animada. – Você teve muita sorte. Bom, de qualquer maneira vou deixar que você dê uma olhada. Me ligue depois, ok?

               Letícia não respondeu.

- Até logo!

               Elizabeth desligou e Letícia jogou o celular com raiva sobre a cama. Como dizer à sua advogada que já não queria mais anular o casamento? Que estar casada com Fernando agora era a única coisa que a fazia feliz? Como dizer que queria anular a anulação? Mas, algo mais importante estava em jogo. Letícia teria que pegar aqueles papéis antes de Fernando, ou as coisas piorariam ainda mais. Imediatamente ela correu até o primeiro andar, à procura de Maria. Assim que desceu as escadas, para sua sorte, Maria estava carregando um cesto de roupas para levar ao jardim.

- MARIA! – Letícia gritou, assustando-a.

- Meu Deus, menina! O que aconteceu?

- Você recebeu alguns papéis da minha advogada?

               Maria olhou séria para Letícia.

- Sim. Coloquei em cima da mesinha de correspondência. Mas, Lety... Você não acha que deveria pensar melhor e...

- Falamos sobre isso depois, Maria.

               Lety imediatamente virou-se, seguindo até a mesinha. Ela revirou todos os papéis que havia em cima dela, mas nada se parecia com os papéis da anulação. Maria já estava no jardim, e Letícia não poderia gritar, ou Fernando ouviria tudo. Ela começou a revirar toda à casa à procura dos papéis, e quando chegou à sala de jantar, viu Fernando sentado à mesa, encarando alguns papéis em silencio. O coração de Letícia disparou, e ela implorou para que aqueles papéis não fossem a maldita anulação. Mas, quando Fernando ergueu o rosto para olhá-la, seus olhos estavam vermelhos e cheios de lágrimas, o que partiu o coração de Lety.

- Você realmente está tão infeliz assim? – Ele perguntou com a voz embargada.

- Não! – Letícia respondeu imediatamente. – É claro que não!

- Então por que continuou com isso? – Ele apontou para os papéis.

- Eu mudei de idéia, Fernando. Eu...

- Se mudou de idéia, por que sua advogada os deixou aqui?

               Ela não sabia o que responder. Realmente havia errado em não dizer à ela sobre ter mudado de idéia sobre a anulação.

- Foi por isso que você pediu à Carolina para avisar o Nicolas que queria vê-lo? Vocês queriam comemorar isso?

- Não, Fernando! – Ela respondeu com pesar, aproximando-se da mesa. – Tudo isso foi antes. Antes da nossa viagem, antes das coisas mudarem. Eu fiz isso quando estava com raiva, e quando não sabia que hoje estaríamos assim...

- Assim como, Letícia? – Ele perguntou magoado. – Me diz, como estamos?

- Você sabe como!

               Fernando balançou a cabeça e suspirou, passando a mão em seu rosto. Sem dizer mais nada ele se levantou e pegou uma caneta que havia sobre a mesa. Antes que Letícia perguntasse o que ele faria, ela foi surpreendida com Fernando assinando os papéis. Ela abriu a boca para tentar impedi-lo, mas já era tarde demais.

- Fernando! – Ela exclamou ao perceber que ele estava assinando cada um dos papeis.

- Agora você está livre. – Ele a olhou magoado, jogando a caneta sobre a mesa.

- Fernando... – Ela deu um passo à frente, mas ele tirou um objeto do bolso que chamou sua atenção.

               Em silencio, Fernando colocou uma caixinha de veludos sobre a mesa, e saiu, deixando Letícia sozinha com sua culpa. Sem conseguir se conter, assim que Fernando saiu, as lágrimas correram em seu rosto. Magoada, ela pegou a caixinha sobre a mesa, e ao abri-la, a culpa ficou ainda maior quando ela viu um par de alianças de ouro dentro da caixinha.

 

 

 

•••

 

 

 

               Já havia alguns minutos que Letícia encarava a caixinha com as alianças em cima de sua cômoda. Fernando não dormiu em casa naquela noite, mas pelo menos dessa vez ela sabia onde ele estava, depois de receber uma ligação de Stella dizendo que ele estava na casa de seus pais. Apesar de aliviada por ter recebido notícias, ela sentia-se sozinha. Já estava acostumada a dormir na companhia dele, e aquela cama era grande demais para ela dormir sozinha, e ainda por cima, chorando.

               Abraçada ao travesseiro, ela chorava enquanto olhava para as alianças, e pensava no quanto Fernando havia se esforçado naquelas ultimas semanas para que a relação dos dois desse certo, e a culpa de ter destruído tudo isso a perturbava mais do que qualquer coisa.

 

 

               “Maldita hora que tive a idéia de correr atrás da anulação do casamento. Maldita hora que eu quis resolver tudo movida pela raiva, sem antes conhecer a pessoa maravilhosa que Fernando é. Maldita hora que pensei que jamais teria qualquer tipo de sentimento por ele, quando na verdade, eu tenho a certeza absoluta de que o amo. Sim, o amo. O que me dói é saber que eu o magoei, e que joguei fora tudo o que tivemos de mais bonito nesses últimos dias”.

 

 

               Abraçada ao travesseiro molhado pelas lágrimas, Letícia adormeceu.

 

 

 

•••

 

 

               A única coisa que conseguia acalmar Fernando naquela situação era pilotar sua moto. Enquanto isso, ele tinha tempo para colocar as idéias no lugar, e principalmente para tentar entender Letícia, por mais difícil que parecesse. Logo cedo, antes mesmo antes de seus pais e Stella acordarem, ele saiu para se encontrar com Omar a fim de desabafar o que o incomodava. Em sua cabeça, Letícia jamais se apaixonou ou se apaixonaria por ele, e por isso ele sentia-se um idiota. Quando chegou ao local marcado com Omar, ele desceu de sua moto e procurou um bom lugar para sentar-se, na esperança de que o som do mar o acalmasse e tirasse toda aquela dor em seu peito.

- O Senhor deseja alguma coisa? – A garçonete se aproximou quando ele sentou-se em uma mesa na orla.

- Uma água de coco, por favor.

- Certo. Trago em um minuto.

- Obrigado.

 

 

               “Parecia planejado. Alguém não queria me ver feliz. Quando enfim eu estava me sentindo bem, com uma felicidade inexplicável, tudo isso desmoronou em tão pouco tempo. Eu cheguei a pensar que poderia ser feliz ao lado de Letícia, do contrário não teria comprado as alianças. Mas, eu estava errado. Talvez um casamento que começou tão mal jamais conseguisse se tornar um bom relacionamento. Nós nos odiávamos, e aprendemos a conviver um com o outro. Eu só não esperava que essa convivência se transformasse em algo mais forte que chegava a me sufocar”.

 

 

 

- Ei! Desculpe a demora! – Omar sentou-se à mesa de Fernando.

- Tudo bem.

- Como você está? Não entendi muito bem o que me falou ao telefone.

               Fernando o encarou magoado e deu um longo suspiro.

- Eu assinei os papéis da anulação.

- O que? Por quê? – Omar perguntou perplexo. – Mas eu pensei que...

- Lety nunca vai deixar de se sentir presa naquela casa. Foi o melhor a se fazer.

- Melhor para quem?

- Melhor para ela! Se ela não está feliz, não posso obrigá-la a ficar.

- Mas, eu não entendo... – Omar disse confuso. – Eu pensei que estavam bem. Vocês pareciam bem. Você até comprou as alianças!

- Eu também pensei que estávamos bem, Omar! Até encontrar os malditos papéis da anulação em cima da mesa. – Fernando suspirou. – Ela sempre vai sentir-se presa, Omar. E eu fui um burro por pensar que ela estava... – Sua frase morreu, mas Omar o entendeu muito bem. – Há duas semanas atrás eu disse que a amava.

- Você disse? – Omar o olhou ainda mais perplexo.

- Sim! Eu! Eu disse. – Fernando o olhou. – E você como meu melhor amigo sabe que eu nunca disse isso à nenhuma mulher nesse mundo!

- Eu sei! Seu muito bem! Por isso meu espanto... Quero dizer, eu sei que você gosta muito dela, mas não sabia que era tanto.

- Mas é, Omar. E eu não me arrependi nem um minuto por ter dito isso.

- E ela? O que ela disse?

               Fernando o olhou ainda mais magoado.

- Nada.

- Ela não disse nada?

               Ele negou com a cabeça.

- Mas... É impossível!

- Sinceramente, eu não achei que importasse tanto que ela dissesse. Eu disse porque estava me sentindo bem para isso. Eu não queria forçá-la a nada, e apenas o fato de estarmos indo bem me deixava feliz. Mas, agora eu sei porque ela não conseguiu dizer.

               Houve alguns segundos de silencio.

- Eu fico triste por você, irmão. – Omar bateu em seu ombro. – Mas vou estar do seu lado.

- Obrigado, amigo. – Fernando sorriu triste.

- Quer sair para extravasar hoje? Beber umas... Ouvir Bruno e Marrone e dormir na praça?

               Fernando riu.

- Não, eu não tenho mais pique pra esse tipo de coisa. Além do mais, daqui a duas semanas começam minhas aulas. E eu realmente quero me formar logo para realizar o meu sonho, sabe?

               Omar sorriu.

- Eu te admiro e te invejo. O seu sonho é muito bonito, e você esta mesmo correndo atrás dele.

               Fernando sorriu agradecido.

- Quer saber? Esse momento está muito gay, Carvajal. – Fernando riu.

- Sai pra lá! – Omar tirou sua mão do ombro de Fernando. – Você ainda está casado!

               Os dois riram, e Fernando sentiu-se um pouco mais leve depois do desabafo. Mas, o momento foi interrompido por seu celular tocando. Ao olhar o numero na tela, rapidamente ele o reconheceu como sendo de sua casa.

- Acho que é ela... – Comentou com Omar.

- Oras, então atenda.

- Não sei se quero atender.

-Ela só deve querer saber se você está bem, como ontem. Coitada, Fernando! Não precisa fazer isso com ela também.

               Ele suspirou e deslizou o dedo pela tela do celular.

- Alo! – Disse sem animo.

- FERNANDO! GRAÇAS A DEUS! – Era Maria.

- Maria? O que foi? – Perguntou preocupado.

               Ela falou tão rápido e estava tão nervosa que Fernando não conseguiu ouvir absolutamente nada. Já preocupado com a situação, ele se levantou.

- Maria... Maria! – Ele aumentou a voz. – Eu não estou entendendo absolutamente nada. Fale com calma, por favor.

- É a Lety!

               O coração de Fernando disparou.

- O que tem ela?

- Ela desmaiou! Eu não sei o que aconteceu. Só ouvi um barulho e ela estava caída no chão. Ela está muito mal, eu não sei o que fazer!

- Eu estou indo para casa! Chego em dez minutos.

               Sem esperar uma resposta ele desligou o celular, com as mãos tremulas por conta do nervosismo.

- A Letícia não está se sentindo bem. Preciso ir. – Ele disse à Omar.

- Claro! – Ele também se levantou. – Me dê notícias.

- Certo. Até logo.

               Fernando não se despediu direito do amigo, apenas correu até sua moto, e em poucos segundos deu partida.

 

 

•••

 

 

 

- Ele já está vindo. – Maria disse se aproximando de Lety. – O que você está sentindo ainda, Lety?

- Náusea, tonteira e uma dor fraca aqui. – Ela apontou para sua barriga. – Não precisava ter ligado para ele, Maria.

- É claro que precisava! Ele tem que estar aqui ao seu lado! E você precisa ir ao médico.

- Não é nada de mais. Logo vai passar.

- Você não é medica para saber disso, menina. – Maria ralhou. – De qualquer maneira, ele já deve estar chegando.

               No mesmo instante, as duas ouviram o barulho do portão. Maria olhou pela janela da sala e viu Fernando chegando. Mal desligou sua moto e desceu às pressas, correndo em direção à casa.

- Graças a Deus! – Maria exclamou.

- MARIA! – Fernando gritou assim que entrou em casa.

- ESTAMOS NA SALA! – Maria também gritou, e logo ele apareceu.

               Assim que olhou para Lety, ele não pensou duas vezes e se aproximou, abaixando-se ao lado dela.

- O que foi que aconteceu? – Perguntou com a respiração ofegante.

- Ela não está nada bem. Quando ela acordou eu consegui ajudá-la a vir para o sofá, mas ela não teria forças para ir para o quarto. – Maria respondeu. – Ela não está nada bem. Olha como está pálida!

- O que você está sentindo? – Ele perguntou à ela.

- Fraqueza. Náusea...

- E dor! – Maria disse rapidamente. – Ela acabou de se queixar de dor.

- Não está tão forte assim. – Respondeu fraca, quase sem conseguir abrir os olhos.

- Já liguei para Stella. Ela vai nos dar uma carona até o hospital.

- Não precisava disso.

- Não seja teimosa. Você comeu alguma coisa?

- Não. Só... Vomitei desde quando acordei.

               Fernando e Maria se olharam.

- Eu vou buscar um copo de água. – Maria disse, saindo da sala e deixando os dois a sós.

- Eu não queria que ela te ligasse. – Lety disse.

- É claro que ela tem que me ligar. Eu sou o responsável por você agora.

               Ela sorriu fraca.

 - Você... Pode fazer um favor para mim?

- Qual?

               Ela tentou se levantar, mas ainda estava muito fraca para isso.

- Pegue aqueles papéis ali. – Ela apontou para a mesinha de centro.

- Esses? – Fernando apontou para alguns papéis e ela balançou a cabeça afirmando. – O que é isso?

               Mas, não precisou que ela respondesse. Ao pegar os papéis, ele logo percebeu do que se tratava.

- Para que você quer isso? – Ele perguntou com certa frieza.

- Quero que você rasgue.

- O que? – Perguntou abismado. – Rasgar?

- Sim!

- Não, eu não vou fazer isso!

- Eu não vou assiná-los de qualquer maneira.

- Letícia...

- Por favor, Fernando. Se você não rasgá-los, eu vou fazer isso.

               Fernando olhou para os papéis, e logo depois olhou para Letícia.

- Tem certeza disso?

- Mais certeza do que qualquer outra coisa.

               Fernando sorriu e respirou fundo, rasgando os papéis logo depois.

 

 

•••

 

 

 

               Não demorou muito para Stella chegar à casa de Fernando. Ele ajudou Lety a chegar até o carro, já que ela ainda estava fraca, e achou melhor ir ao banco de trás com ela. Quando entraram, Stella logo quis saber o que aconteceu.

- Ela passou mal e está muito fraca. – Fernando resumiu.

- Ela está mesmo muito pálida. – Ela disse olhando pelo retrovisor.

- Vamos logo, Stella. Por favor.

               Imediatamente ela ligou o carro e deu partida. Letícia deitou-se no ombro de Fernando, ainda sentindo-se mal.

- Você precisa comprar outro carro com urgência. – Stella comentou enquanto dirigia.

- Eu vou providenciar isso.

               Enquanto os dois conversavam, Letícia respirava fundo na tentativa de tentar controlar o mal estar, mas estava sendo impossível.

- Stella, pare o carro! – Ela falou segurando no banco.

- O que? Por quê?

- Por favor!

               Stella encostou o carro, e assim como Fernando, olhou confusa para Letícia, até ela abrir a porta e se debruçar para o lado de fora, vomitando. Stella virou o rosto e Fernando se apressou em segurá-la, pensando que a qualquer momento ela pudesse cair para fora do carro. Quando terminou, Stella tirou um lenço do porta-luvas e entregou à ela.

- Obrigada. – Ela disse limpando a boca. – Desculpe por isso.

- Imagina. Carros servem para isso.

               Stella voltou a dirigir, e Fernando olhou para Letícia ainda mais preocupado do que antes. Ela estava visivelmente fraca, e muito pálida. Ele temeu que a próxima vez que ela colocasse tudo para fora, não agüentasse a fraqueza e desmaiasse novamente. Mas, para o seu alívio, não demorou muito para chegarem ao hospital. Imediatamente os três desceram do carro e Fernando ajudou Letícia a andar até a recepção.

- Espere aqui. – Ele disse para Lety. – Fique com ela, Stella.

- Tudo bem. – Stella se aproximou dela.

               Fernando seguiu até o balcão de recepção do hospital e escorou-se olhando para a recepcionista.

- Bom dia. – A moça o olhou.

- Bom dia. Eu preciso de um atendimento de urgência.

- Para o Senhor?

- Não. Para minha esposa. Ela está fraca e está vomitando.

- Precisa passar pela triagem.

               Fernando a olhou indignado.

- Que porcaria de triagem? Ela está fraca! Precisa de um atendimento rápido!

- Mas eu não posso oferecer um atendimento para ela sem antes passar pela triagem!

               Irritado, Fernando bateu ao balcão, chamando a atenção de todos.

- Essa porcaria de saúde do Brasil!

               Stella e Letícia se aproximaram.

- Fernando, calma. – Stella disse.

- Ela está dizendo que ela precisa passar pela triagem.

- Então vamos. – Letícia disse. – Não arrume confusão aqui, por favor. Não quero aparecer no balanço geral.

               Impaciente, Fernando concordou com Letícia, e a ajudou a ir até a sala de triagem. Não demorou, mas eles ainda tinham que aguardar atendimento, já que a situação de Lety não foi considerada de emergência. Quando sentaram-se para esperar, Fernando estava nervoso o suficiente para conseguir ficar calado, e a todo tempo reclamava de alguma coisa.

- Aposto que para ser atendido na emergência tem que chegar aqui com uma perna a menos. – Ele resmungou de braços cruzados.

- Bem vindo ao Brasil. – Stella comentou.

- Isso é um absurdo! – Ele disse irritado.

- Fernando, fica calmo. – Stella disse. – Se você quer mudar isso, vira Presidente.

- Eu estou calmo! Vocês ainda não me viram nervoso! – Ele falava em voz alta.

               Letícia segurou em seu braço em um pedido para que ele se acalmasse. Um enfermeiro percebeu que Fernando estava resmungando e se aproximou de onde estavam.

- Algum problema? – Perguntou com certa arrogância.

- Não... – Letícia falou, mas Fernando a interrompeu.

- Sim! Nós temos sim! Minha esposa está fraca e com mal estar, e mesmo assim não a atenderam ainda. E essa porcaria de lugar está VAZIO! O atendimento daqui é uma MERDA!

- Fernando! – Stella o repreendeu.

- Senhor, peço para se acalmar e abaixar o tom, por favor. – O enfermeiro disse.

- Calma... – Lety segurou em seu braço e Fernando bufou, ficando em silencio.

- Essas duas pessoas que estão aqui também estão esperando para serem atendidas, e não estão fazendo todo esse escândalo. – O enfermeiro apontou para outras duas pessoas que aguardavam atendimento. – Espera que logo ela vai ser atendida.

               O enfermeiro lhe deu as costas, mas antes de se afastar o suficiente, ouviu Fernando resmungar mais uma vez.

- Lety, se for vomitar, vomita no sapato desse cara.

- Fernando!

- Com licença? – O enfermeiro virou-se. – O Senhor se referiu a mim?

- Sim, eu me referi! – Ele se levantou, e nem mesmo Letícia conseguiu acalmá-lo dessa vez.

- Desculpe. – Stella também se levantou. – Ele só está nervoso e preocupado. Não é nada pessoal.

               O enfermeiro pareceu se acalmar, e novamente virou-se de costas. Stella olhou brava para Fernando, e então ele voltou a sentar-se, dando um longo suspiro demonstrando sua impaciência. Não precisou de mais tempo para Fernando resmungar, já que poucos minutos depois Letícia foi chamada para o atendimento. Fernando a acompanhou, e Stella ficou para levá-los embora depois que Lety fosse consultada. Fernando a ajudou a andar até a sala indicada, e quando entraram, o médico muito mais educado do que o enfermeiro que quase brigou com Fernando os cumprimentou.

- E então, Letícia. O que você está sentindo? – Ele perguntou.

- Eu estou um pouco tonta ainda, e sinto muitas náuseas. – Ela respondeu.

- Inclusive já desmaiou hoje, e vomitou também. – Fernando enfatizou.

- É, você realmente parece fraca. Pode deitar ali, por favor. Eu vou examiná-la.

               Fernando a ajudou a se deitar na maca e imediatamente o médico começou a examiná-la.

- Sua pressão está um pouco baixa. – Ele disse enquanto a examinava. – Você comeu alguma coisa durante esse tempo?

- Não. – Respondeu ela. – Não consegui comer nada.

- Sua fraqueza pode ser por isso, mas ainda precisamos ver o motivo das náuseas. Você vai precisar ficar em observação por um tempinho, tudo bem?

               Letícia olhou para Fernando e ele segurou sua mão.

- Acho que sim.

- Ótimo. Eu vou fazer o pedido dos exames, e depois disso enquanto aguardamos os resultados, você pode ficar em uma sala descansando. E também precisa ficar no soro.

               Letícia suspirou desanimada. Já tinha tido a experiência de ficar no soro, e isso não a agradava.

- Mas infelizmente você não pode ficar aqui enquanto isso. – Ele disse educadamente à Fernando. – Mas, assim que ela fizer os exames e for repousar, você pode acompanhá-la de novo.

               Letícia apertou a mão de Fernando, tensa.

- Não vai. Por favor. – Ela implorou.

               Fernando olhou para o médico na esperança de que ele pudesse abrir uma exceção.

- Desculpe, mas infelizmente não posso permitir.

- Eu volto logo. – Fernando disse à ela. – Prometo.

               Letícia afirmou com a cabeça, e antes de sair, Fernando beijou sua mão. Foi difícil para ele deixá-la sozinha na sala, mas o médico era tão educado que ele não teria coragem de discutir como fez com o enfermeiro minutos antes. Assim que voltou para o local de espera, Stella se levantou ansiosa por notícias.

- E então? – Perguntou ela.

- Não posso ficar lá dentro. Ela vai fazer alguns exames, e só depois posso entrar.

- Que pena... – Stella exclamou desanimada.

- Bom... Vou aproveitar e ligar para os pais dela. É bom que eles saibam por mim.

- Sim, tem razão. Acha que ligo para os nossos pais?

- Seria bom. Somos todos uma família agora.

- Certo. Vou ligar.

- Obrigado.

 

 

•••

 

 

               Já estavam ali há quase uma hora, e a tensão de Fernando apenas aumentava. Nem mesmo Stella pedindo várias vezes ele conseguia se acalmar, e ficava apenas perambulando pelo local de espera. Enfim, depois de tanto nervosismo, médico que atendeu Letícia o chamou. Fernando rapidamente o seguiu até a sala em que Lety estava repousando, e ao entrar, ele não resistiu em lhe dar um beijo demorado, aliviando toda a preocupação que o perturbou enquanto esperava.

- Como você está? – Ele perguntou segurando sua mão.

- Melhor. – Ela sorriu. – Melhor agora.

               Fernando retribuiu o sorriso, depositando um beijo em sua mão.

- Eu vou pedir para trazerem algo para você comer.- O médico disse. – A fraqueza que ela está sentindo é por não ter se alimentado ainda, e conseqüentemente causa as tonturas.

- Mas ela vai ficar bem, não é? – Fernando perguntou.

- Ah sim! Vai sim! – Ele sorriu, tranqüilizando-os. – Agora que ela ficou alguns minutos no soro, vai ficar melhor.

- Que bom! – Fernando sorriu aliviado.

- Mas ela confessou que já estava sentindo-se mal à um tempo, não é Letícia? – O médico a olhou. – Não precisava ter chegado à esse ponto se ela tivesse vindo logo quando sentiu os primeiros sintomas.

- Lety! – Fernando a olhou. – Por que não me contou?

- Achei que não era nada de mais...

- E é esse o risco. Por sorte não é nada grave, mas vamos aguardar o resultado dos exames para confirmar isso. Mas, da próxima vez, aconselho a contar ao seu marido quando se sentir mal.

- É! – Fernando a olhou. – E conversaremos sobre isso depois.

- Desculpe. – Letícia suspirou.

- Bom... De qualquer maneira é bom ela ficar de repouso até sair o resultado dos exames. Não deve demorar, mas você pode fazer companhia para ela.

- Tudo bem.

- Vou deixá-los a sós agora, se precisarem de alguma coisa, podem me chamar.

- Obrigado, Doutor.

- Não há de que. – Ele sorriu.

- Obrigada! – Lety agradeceu.

               Ele apenas balançou a cabeça e saiu da sala, deixando os dois a sós.

- Você está mesmo bem? – Fernando perguntou olhando-a.

- Sim, muito bem. – Ela apertou sua mão e sorriu. – Obrigada por estar aqui.

- Eu não estaria em outro lugar. – Ele sorriu, beijando sua mão.

               Fernando se ajeitou em uma cadeira ao lado da cama de Lety, e enquanto conversavam sobre o fato dela ter escondido que estava mal há alguns dias, ela adormeceu. Fernando continuou ali, ao lado dela, suprindo a falta do que fazer mexendo em seu celular. Já que Stella não podia entrar para lhe fazer companhia, ele trocava mensagens com ela. Por fim, decidiram que não era necessário ela esperar por tanto tempo apenas para lhes dar uma carona, e Stella concordou que iria embora, com a condição de que Fernando lhe daria notícias sobre Lety.

               Depois de alguns minutos que Lety dormiu, ela se mexeu à cama e olhou diretamente para Fernando. Ele estava entretido em seu celular e não percebeu que ela já havia acordado, até ela tocar em seu braço sorrindo divertida.

- Oi! – Ele a olhou, guardando o celular.

- Oi.

- Está se sentindo mal? Precisa de alguma coisa?

- Não. Só queria ter certeza de que você ainda estava aqui.

- Eu prometi que ficaria aqui. – Ele sorriu, entrelaçando sua mão à dela.

- Obrigada por ser tão atencioso comigo.

- É meu dever, não é? – Ele riu. – Mas realmente fiquei bastante preocupado com você. Ainda estou um pouco, na verdade. Só vou conseguir relaxar quando sair o resultado desses exames.

               O sorriso dela diminuiu, mas antes de Fernando perguntar o que aconteceu, ela soltou um longo suspiro.

- Me desculpe pelo que aconteceu. – Ela disse com pesar.

- Pelo que? Por você não ter dito que estava se sentindo mal? Lety, não precisa se desculpar por...

- Não. – Ela o interrompeu. – Pela discussão que tivemos. Sobre o Nicolas, e sobre os papéis da anulação.

               Fernando sorriu triste.

- Não pense mais nisso, Lety. Eu já me esqueci.

- De verdade?

- Sim. – Ele acariciou seu rosto. – Vamos deixar isso pra lá.

               A conversa foi interrompida quando o médico abriu a porta. Os dois o olharam apreensivos, mas ele não parecia preocupado. Pelo contrário. Estava sorrindo.

- Um dos resultados saiu. – Ele se aproximou.

- E então? – Fernando perguntou tenso.

- Bom... Ela está muito saudável para dizer a verdade.

- Mas o que eu tenho? – Lety perguntou. – É alguma virose?

- Não. – Ele riu. – Não é uma virose. Na verdade, é uma boa notícia.

               Os dois se olharam confusos.

- Você está grávida, Letícia!

- GRÁVIDA? – Letícia e Fernando praticamente gritaram.

- Sim! – O médico riu.

- Mas... Não! Isso é impossível! – Lety disse desesperada. – Nós sempre... Nós sempre... Não é, Fernando?

- Doutor, isso está mesmo certo? – Fernando perguntou apreensivo.

- Sim. Fizemos um teste rápido, mas é 95% de certeza. Mas provavelmente o outro exame que ela fez irá indicar a mesma coisa. Você está grávida, Lety.

- Mas quando foi que nós...

Fernando a olhou, e imediatamente os dois se lembraram.

- A viagem. – Disseram em uníssono.

 

 

 

•••

 

 

 

               Fernando abriu a porta de casa e fez sinal para que Lety entrasse em sua frente. Os dois permaneceram em silencio, assim como ficaram todo o caminho de volta para casa. Nenhum dos dois sabia exatamente o que dizer, ou sequer o que pensar. Foi uma notícia inesperada, que mesmo tendo todos os sinais e motivos para que isso acontecesse, parecia inacreditável.

- Ah! Graças a Deus voltaram! – Maria surgiu, olhando para os dois. – E então? Como foi? O que você tem Lety?

               Nenhum dos dois respondeu. Letícia prendeu o choro e passou por Maria sem dizer uma palavra, subindo as escadas em direção ao quarto.

- Mas o que foi que aconteceu? – Ela perguntou confusa, olhando para Fernando.

- Eu falo com você em um minuto.

               Sem esperar mais perguntas, Fernando subiu atrás de Lety, seguindo-a até o quarto dos dois. Ao parar à porta, ele viu Letícia deitada à cama, abraçada à um travesseiro. Ele não queria vê-la daquela maneira, mas também entendia o motivo dela estar assim. Ao se aproximar da cama e sentar-se ao lado dela, ele acariciou seu ombro, fazendo-a olhar para ele.

- Você está bem?

- Sim. – Ela respondeu desanimada.

- Desde que saímos do hospital você não disse nada.

- É que não sei o que dizer. – Suspirou.

               Fernando deitou-se ao seu lado, sustentando seu corpo em um dos braços, de maneira que pudesse ficar ainda mais próximo de Lety.

- Nós fomos irresponsáveis. – Disse ela. – Por não usarmos preservativo da primeira vez. E eu que sempre sou tão neurótica com esse tipo de coisa! Me sinto tão idiota!

- Hey! Não diga isso. Eu sei, fomos irresponsáveis por não termos pensando nisso da primeira vez, mas foi apenas... Como acertar na loteria.

- Acertar na loteria?

- Sim! Veja só... Nós não usamos preservativo da primeira vez, mas desde que voltamos de viagem e você começou a dormir aqui comigo, nós temos feito isso pelo menos três vezes por semana. Exceto a primeira semana... Que para falar a verdade eu perdi as contas. – Ele sorriu divertido. – Sinceramente, não sei de onde tiramos tanta energia...

- Fernando! – Letícia o repreendeu, mas não conseguiu segurar o riso. – Melhor voltar ao seu raciocínio.

- Certo. Então... Três vezes por semana, e nos prevenimos todas às vezes. Então, apenas uma vez que não usamos... Bem... Acertamos em cheio.

- Você tem um jeito muito estranho de tentar resolver as coisas, sabia? – Ela sorriu, acariciando seu rosto. – Mas... Eu não digo só por isso. – Seu sorriso diminuiu. – Fomos irresponsáveis a ponto de não pensarmos em outras coisas, por exemplo, em doenças.

- Sim, eu sei. Mas, por sorte nós dois estamos muito saudáveis.

- É, e eu estou saudável até demais. – Ela suspirou.

- Ah, Lety... – Fernando a puxou, aninhando-a em um abraço. Letícia repousou sua cabeça sobre o corpo dele, enquanto ele a tranqüilizava acariciando seu cabelo.

- Como vamos criar um filho, Fernando? Nós ainda estamos nos adaptando um com o outro. É como se estivéssemos acabado de começar um relacionamento. Quero dizer... De fato foi assim.

- Nós vamos conseguir, Lety. Não deve ser tão difícil assim.

               Lety ergueu a cabeça para olhá-lo.

- Eu quero ver você dizer isso quando tiver que acordar de madrugada com um bebe chorando, quando tiver que trocar fralda às três da manhã, quando...

- Tudo bem! Pode... Não ser tão difícil assim.

- Ai meu Deus! E nossos pais? O que eles vão dizer?

- Lety... – Ele sentou-se à cama e a olhou. – Nós já somos casados. Ninguém tem o direito de dizer nada.

- Nós somos casados, mas ainda estamos nos acostumando com isso.

- Eu estou pronto para me esforçar muito mais, isso é, se você também estiver.

               Letícia sorriu e o admirou.

- Você realmente não tem nenhum problema com isso?

- Você sabe muito bem que eu sempre quis ser pai. Eu só nunca tinha encontrado a mulher ideal para isso... – Ele segurou sua mão e sorriu. – Até agora.

- Mas talvez você pense que está muito cedo para isso.

- Lety, você acha que se eu não quisesse formar uma família com você, eu teria comprado isso? – Ele apontou para a cômoda, onde havia a caixinha com as alianças.

               Letícia o observou pegar a caixinha e abri-la em sua frente.

- Eu as encomendei na semana passada. Omar foi comigo e me deu total apoio. Eu fiquei com medo de estar sendo muito precipitado, mas... Espero que você não pense assim.

               Lety sorriu emocionada.

- É isso mesmo o que você quer?

               Fernando tirou as alianças da caixinha, segurando a mão esquerda de Lety carinhosamente.

- É o que eu mais quero. – Sorriu.

               Ele colocou a aliança no dedo de Lety, e ela fez o mesmo com ele.

- Agora estamos oficialmente casados. – Ela riu, entrelaçando sua mão à dele.

- E com uma família completa.

               Letícia abriu um largo sorriso e o abraçou logo depois, fazendo com que os dois deitassem à cama meio à gargalhadas. Seus olhares se cruzaram e Letícia sentiu que aquele era o momento ideal para ela dizer o que realmente sentia por Fernando.

- Eu também te amo. – Ela disse olhando-o e Fernando abriu um largo sorriso. – Eu não sei porque não tinha dito isso antes. Mas... Só espero que você saiba. Eu... Realmente te amo.

               Fernando acariciou seu rosto, colocando um dos fios de cabelo dela por detrás da orelha.

- Agora minha felicidade está completa.

               Letícia sorriu satisfeita, beijando-o logo depois. A felicidade dela também estava completa.



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