- Yein, você gosta da minha boneca com vestido rosa ou bege? - perguntou Jiae, levantando os dois vestidos na altura de seus olhos.
- Hm... o rosa. - disse sorrindo para a amiga. - Na verdade, eu já estou cansada de brincar de bonecas. Vamos achar outra coisa para brincar.
- Ah, ainda bem que você disse isso. Não aguentava mais, minhas costas doem. - disse ela se levantando e alongando as costas.
- Doem? Quer que eu chame a mamãe? Ela pode te dar um remedinho.
- Não! Não quero parar de brincar, já está escurecendo, temos que aproveitar nossos ultimos momentos. - disse ela pegando a mão da amiga, a puxando para o jardim.
As duas saíram dando risadas, até se sentarem no chão, para ver as nuvens passando no céu rosado acima delas. Yein pegou o dedo mindinho de Jiae e disse:
- Prometa para mim, que quando crescermos, não vamos precisar nunca dizer adeus. - disse ela séria.
Jiae sorriu como costumava fazer:
- Boba, eu nunca digo adeus, você sempre está no meu coração e pensamentos.
Yein se lembrava da promessa. Sempre, todos os dias, desde que as duas disseram tchau... Algo aconteceu, com ambas, não podiam sustentar a antiga amizade que antes era tão forte. O que houve?
Quando tinha dezesseis anos, Yein foi a uma festa, a primeira que ia sem seus pais - e sem Jiae também - na casa de uma colega de escola. Jiae não pode ir porque estava doente e Yein só foi porque Jiae insistiu muito que ela ficaria bem sem os cuidados da amiga. E foi num porão, quando uma garrafa vazia de soju girou, e Yein deu seu primeiro beijo... numa garota. Depois disso, ela nunca mais olhou para Jiae da mesma forma.
Nos corredores, ela olhava para a amiga pelo cantos dos olhos, temendo descobrirem o seu desejo secreto. Era isso o nome: desejo. E demorou para ela aceitar.
Já com Jiae, um menino ultimamente fazia questão de mantê-la o mais perto possível, conversavam na escola, por mensagens, no caminho da escola e na volta. Yein morria de ciúmes, claro.
- Mas você não acha que ele está... não sei... próximo demais - perguntou Yein.
- Não. Só está sendo amigável. E mesmo que seja algo à mais, de que importa? Estamos maduras pra começar a namorar, não? - respondeu Jiae, casualmente.
- Depende, eu me acho nova ainda e você? Acha realmente que está na hora de namorar? Somos adolescentes, não temos certeza de absolutamente nada. Não temos certeza nem de que e nem de o quê gostamos.
- O quê gostamos? Como assim, o quê gostamos? Você fala como se tivesse insinuando que posso me sentir atraída à animais. - Jiae riu da própria piada. - De qualquer forma, eu não vejo dessa forma, na verdade, estou ansiosa a dar o meu primeiro beijo... já você... - Jiae revirou os olhos.
- Mas, eu tenho medo...
- Medo de que, Yein? Está parecendo minha mãe. - resmungou.
- De te perder, de você se afastar. - murmurou Yein.
Jiae virou-se para amiga e sorriu, estendeu o dedo mindinho e disse:
- "Sempre no meu coração e pensamentos " lembra?
Yein sorriu e apertou o dedinho também.
Pouco tempo depois, enquanto voltava da aula com Junghyun, ele se confessou e ela, como uma menina que ansiava conhecer o amor, aceitou-o. Isso rendeu a discussão e lágrimas com sua amiga, Yein.
- Você pelo menos o ama? - perguntou Yein de dentes tricados, e com lágrimas de raiva.
- Jesus! Quem está falando de amor, Yein? - respondeu irritada.
- Se não o ama, porque você o aceitou? - gritou Yein enciumada
- A quem eu amaria, se não fosse a ele? - perguntou.
Yein apenas a encarou, com desejo, e foi para casa. Deitar em sua cama e chorar em seu travesseiro.
Encontrou Jiae muitas vezes no corredor depois, de mãos dadas com Jonghyun e de cabeça erguida, o que machucou-a profundamente. Mas não podia negar, ela sempre estava em seu coração e pensamentos, como prometeram uma para a outra. Estaria Yein no coração de Jiae também? Yein preenchia a mente de Jiae como esta preenchia a de Yein? Quatro meses depois, um gatinho miava na janela de Yein, que fazia carinho no gato, olhando para a janela da frente presa em devaneios.
A janela da frente abriu subitamente:
- Supai! - gritou Jiae.
O olhar das duas se encontraram, e falaram quase ao mesmo tempo, um quase inaudível:
- Oi.
- Oi.
- Agora você tem um gato? - perguntou Yein, casualmente.
- Sim, ganhei de aniversário... - respondeu Jiae se debruçando na janela. - Primeiro aniversário que papai veio celebrar.
- Que legal, você recebeu meu presente? - perguntou Yein.
- Ah, era seu! - exclamou Jiae. -Eu estava tentando adivinhar, Jonghyun quase queimou a caixa, pensando que era de um admirador secreto... Obrigada, eu adorei as cores dessa nova paleta.
- Assim que vi na loja soube que você gostaria.
- E porque não veio na festa? Eu... achei que pelo menos na festa você viria.
- Estava doente. - mentiu Yein.
- Ah... bem, espero que o Supai não tenha incomodado.
- Não, ele é bem fofo. - sorriu Yein. - mas acho que já está na hora de ir, não é, Supai?
O gatinho pulou para dentro da casa e saiu correndo.
- Ai meu deus, ele resolveu ir dar um tour pela casa. - informou Yein.
Quando foi olhar para a janela novamente, Jiae já tinha saído, provavelmente a caminho da porta de entrada. Mesmo já passando pouco mais da meia-noite. Yein desceu as escadas, ouviu uma batida suave e baixinha na porta. Abriu e lá estava ela, como se nada tivesse acontecido e o tempo nunca tivesse passado. Jiae tremia, vestindo apenas uma camisola, congelando na porta.
- Oi. - sorriu, Jiae.
- Você saiu de pijama nesse frio? Você achou que eu fosse um monstro e fosse comer seu gato? - disse Yein, puxando Jiae para dentro. - Eu vou pegar um cobertor.
Jiae sentou no sofá, tremendo e Yein subiu as escadas de duas em duas. Desceu com um cobertor e cobriu Jiae.
- Obrigada. - disse Jiae.
- Obrigada nada, tá pensando o quê? Vai dividir a coberta. - disse, sentando do lado da amiga, pegando parte do cobertor.
- Senti saudade. -admitiu, Jiae, deitando no ombro da amiga. - Muita saudade. Principalmente no meu aniversário, eu chorei muito nesse dia.
- Você não devia chorar. Eu que fui uma amiga ciumenta demais, querendo te proibir de namorar e argumentando suas escolhas.
- Não, você estava certa, eu não devia namorar com ele se não o amava, isso só o magoou mais ainda quando terminamos.
- Vocês terminaram? - perguntou Yein, afastando-se minímamente para a olhar.
- Sim, faz dois meses já. Você não sabia? - perguntou, a encarando.
- Não... Eu não te via fazia muito tempo.
- É, quando você quer desaparecer... você consegue.
- E agora? - perguntou, Yein, sentindo o corpo ferver.
- E agora o quê? Podemos ficar juntas. Pra sempre, no coração e no pensamento, aonde você sempre esteve.
- Ah, ótimo, odiava a ideia de ter de dividir meu lugar com mais alguém. - sorriu, Yein.
E Jiae sabia que ela estava sorrindo, percebia em sua voz.
- Você nunca dividiu e nem dividirá. Nem por um instante Junghyun esteve perto disso, ainda mais quando nos beijamos.
- Porquê?
- Ah, foi estranho, na verdade... estou com uma sensação estranha até hoje, mesmo depois de tê-lo beijado alguma vezes... Você sentiu isso no seu primeiro beijo?
- Não... Quero dizer, sim. Mas pra mim pareceu mais certo, mesmo que tivesse tudo para achar errado por ser com uma garota.
- Hm... eu senti o contrário, senti que era errado, por mais que tivesse tudo para achar certo. Na verdade... Ah, não. Esquece.
- Diga!
Neste ponto, ambas estavam agora, encarando uma a outra, sentadas lado a lado, com um coração imparável no peito, um coração com medo, mas que ainda pertecia a uma a outra.
- Eu... queria que fosse você.
Yein sorriu, aproximou-se e disse, pouco antes de seus lábios se encostarem:
- Sempre foi você.
Beijaram-se. Lentamente, respirando e deixando o gosto peculiar e doce de suas línguas se fundirem. Deixando que naquele beijo, se permitirem e se aceitarem. Tocaram-se, inexperientes e puras, com apenas a intenção de amar, com apenas a intenção de suprirem em seu coração a curiosidade que era o amor. O mundo girava depressa, e a mente delas amadurecia naquele momento, cresciam.
O gatinho pulou no colo de Jiae e ronronou, elas interromperam com uma pequena resistência e riram. Riram de suas próprias caras por notarem agora o que realmente significava aquela promessa:
Ela não precisam dizer adeus, pois quem tem o amor como acompanhante, nunca passa um minuto se quer sem estar nesse mundo que girava depressa em torno delas.
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