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História Love Jokes - Capítulo VI - Risadas Planejadas


Escrita por: Bojack-senpai

Notas do Autor


Capítulo atualizado(09/10/2022)! Ah, o passado! Como irá se desenrolar as lembranças que o Coringa nos traz a tona? Ele já foi mesmo bom antes de tudo? Espero que gostem do capítulo! E não deixem de comentar o que acharam.

Capítulo 7 - Capítulo VI - Risadas Planejadas


  Era um dia agradável, o sol brilhava quente e o céu estava completamente limpo. Tão agradável quanto qualquer outro dia, aquele era um dia especial, um dia único e renovador. Era como inspirar a esperança, e expirar o recomeço de uma nova vida. Uma vida melhor.

  Os corredores daquele prédio nunca pareceram tão indiferentes, e as pessoas, nunca pareceram tão tolas. Eram como escravos patéticos. Ridículos. Agora podia ver, a verdadeira liberdade estava na independência. Esse era o plano.

  Sonhos podem se tornar realidade, acreditava nisto agora. Queria acreditar. Por esta razão estava tão imensamente feliz, naquele dia. Era a hora de tomar o próprio controle, seguir seus próprios planos, e ser quem desejava ser.

  Um colossal e singular sorriso havia tomado posse de sua face, de sua boca, e de lá não saíra mais. O motivo de sua felicidade era sentir as correntes caírem. Não o entenda mal, o emprego não era ruim, só não lhe deixava feliz. Não era divertido.

  A verdade é que sempre gostou de ouvir o som desvairado de uma boa risada. Entregue um sorriso, ganhe uma moeda. Nestes últimos anos a comédia tem crescido em Gotham. Talvez seja o ar das mudanças tidas por um justiceiro mascarado, ou o medo que vinha junto das mudanças causadas pelo mesmo, à comédia havia se tornado bastante requisitada naquela umbrosa cidade.

  Bares dos mais diversos, e destes, a grande maioria comandados pelos chefes do Crime de Gotham, Carmine Falcone e Salvatore Maroni, contratavam constantemente formas de entretenimento para seus clientes. Quanto mais capaz você fosse, no quesito “entretenimento”, mais luxuoso era o bar onde podia trabalhar, e com isso, maior era o cachê ganho com seus serviços.

  Saía do prédio com o queixo erguido, parecia ser a oportunidade da sua vida. A oportunidade perfeita. Sua mulher lhe apoiava plenamente, era o que bastava. Era tudo por ela. As risadas de sua mulher foram sua inspiração para tentar ganhar a vida na comédia.

  Uma noite estavam deitados em sua cama, em seu apartamento, ambos nus, apenas com um lençol fino sobre eles. Ele sempre estava a contar piadas, e naquela noite não foi diferente. Ela se divertia. E ao ver seu rosto sorridente, ele percebera: era aquilo que ele amava. O sorriso, a gargalhada, o som da diversão!

  Naquela noite, lamentou-se por não ser um comediante, e pensou que jamais pudesse sê-lo. Sua mulher tocou-lhe a face, e com um beijo em sua testa, disse-lhe algo que mudara tudo para ele. “Pegue o que é seu. Faça como quiser.” Ela disse enquanto o apertava contra seus seios macios.

  Ele estava lá agora, prestes a pegar o que era dele. O seu futuro. E faria como quisesse fazer, lutaria por isto. Sabia que seria árduo, não era conhecido, e nunca antes contara uma piada à um público maior que três pessoas; mas, sabia que conseguiria. Ela sabia que ele conseguiria.

  Um último olhar para aquele prédio prata reluzente em suas vidraças e janelas infinitas. Um adeus saboroso, e com as costas para o passado, pôs seus passos adiante, sem hesitar, sem sequer olhar para trás.

  Sabia que não poderia simplesmente ser contratado; não poderia simplesmente aparecer num bar e pedir para contar algumas piadas em troca de dinheiro. Não, um bom comediante não faria isto. Um homem de negócios não faria isto.

  O primeiro passo para o futuro havia sido desistir da vida anterior, desistir do Laboratório Químico Industrial da Cidade de Gotham, desistir do seu cargo como assistente de laboratório. O segundo passo seria decidir entre quais dos dois lados que dividiam Gotham escolheria.

  Gotham não era dividido de forma explícita, sendo assim, apenas os donos de negócios realmente lucrativos podiam enxergar essa divisão com clareza. O Laboratório Químico Industrial da Cidade de Gotham não criava apenas remédios, combustíveis ou qualquer outra das diversas necessidades químicas e industriais a quais a empresa era responsável para com a cidade, mas, também criava drogas das mais diversas para o cartel de tráfico de ambos os lados. Era uma forma lucrativa da empresa tirar um bom dinheiro extra.

  Graças a esses envolvimentos ilícitos com os maiores traficantes e mafiosos da Cidade de Gotham, muitos dos funcionários conheciam perfeitamente a localização das maiores redes lucrativas dos chefes do crime organizado. Sabiam também onde poderiam encontrar os líderes de ambas as “famílias”, como chamavam.

  Mesmo que fosse apenas um comediante, tinha de saber escolher sabiamente para qual família viria a trabalhar, ambas possuíam suas vantagens e desvantagens. A família Falcone tinha uma boa vantagem no quesito proteção e respeito, eram fatores importantes; em questão de desvantagens, Carmine Falcone acreditava que somente o trabalho duro e a experiência poderiam trazer um futuro estável e seguro para qualquer novo negócio, sendo assim, o tempo a qual demoraria para ganhar formidavelmente bem por seu trabalho, seria mais extenso. Por sua vez, Salvatore Maroni era um homem capaz de lhe fornecer um ganho rápido de dinheiro e reconhecimento; entretanto, como é dito naquele antigo ditado: “Tudo o que vêm rápido, vai rápido” assim, graças ao temperamento bipolar e explosivo de Sal Maroni, tudo poderia mudar do dia para a noite e não só seu emprego estaria perdido, como sua vida.

  Talvez devesse esperar chegar até sua casa para decidir com calma junto a sua mulher. “Dois pensam melhor do que um” concluiu para si mesmo naquele momento enquanto esperava o ônibus parar no ponto. Embora já houvesse um preferido em sua mente, gostaria de ouvir a opinião de sua querida esposa.

  No ônibus, a caminho de casa, pôde ver a antiga Fábrica de Baralhos. Ela funcionava a todo vapor, tinha de funcionar, afinal, jogos de cartas eram uma das muitas jogatinas adotadas desde décadas, se não muito antes disso, pelas pessoas daquela cidade, principalmente pela máfia que desde tempos antigos, tomavam conta da cidade. Além da diversão proporcionada pelas cartas produzidas e que tanto os mafiosos gostavam, a fábrica também era um tradicional esquema de lavagem de dinheiro da família Falcone.

  Atualmente, embora houvesse apenas duas famílias que comandassem Gotham, vinha surgindo com cada vez mais força, um novo poder, um novo pilar naquela cidade perdida. Bruce Wayne, filho de Thomas Wayne, vinha investindo grande parte de sua fortuna em mudanças drásticas para a cidade de Gotham. Suas ações eram tamanhas, que era capaz de tomar bairros inteiros das mãos sujas da família Maroni, e em pouco tempo renová-los completamente.  O que causava um estresse tremendo em ambas as famílias.

  Um mal hábito e uma péssima ideologia, ao olhar dos donos da cidade. Seu pai, Thomas Wayne tomara atitudes tão drásticas quanto estas em uma tentativa de melhora da Cidade de Gotham há muitos anos, seu fim fora trágico. Todos conhecem. Agora, o filho órfão das empresas Wayne, havia retornado do exterior e iniciado uma continuidade para os projetos de seu pai. A tragédia viria a se repetir?

  Outras formas de emprego, fora da perigosa margem da criminalidade e extorsão, eram criadas pela empresa Wayne, e isto atrapalhava os negócios comandados pelos Reis de Gotham, em suma, acreditava que não muito mais duraria o anjo bilionário, assim como fora para Thomas Wayne. Não faria sentido buscar trabalhar neste terceiro núcleo, podia ver. Era inseguro e não duraria tanto quanto as palavras daquele homem de terno fino faziam acreditar.

  Enfim o seu ponto chegou, e após descer daquele ônibus velho, adiantou-se até sua casa. Estava ansioso para contar a novidade a sua mulher, sabia que ela iria amar. Era o seu futuro, o seu sonho, e ela sempre lhe apoiara em tudo! Ela era tudo para ele, e ele tudo para ela.

  Haviam casado cedo, haviam se apaixonado cedo, ao menos para seus pais. Não importava. Eram a vida um do outro, isto era a única coisa que lhes importava. Arrumaram trabalho e conquistaram a vida. Conquistaram a “independência financeira”, conquistaram um bom apartamento, conquistaram o que queriam conquistar. E agora, mais um passo seria dado a seguir.

  Estava próximo de casa, já podia ver seu prédio à poucos metros. Era como um enorme conjunto de prédios com acabamento de tijolos, estes que iam até o final do quarteirão. Morava no terceiro prédio à esquerda quando olhava a partir daquele que ficava em frente ao ponto de ônibus. Não era longe.

  Andou rapidamente até o portão de madeira escura, e com o pequeno molho de chaves, abriu a porta, ansioso para subir as escadas, chegar em casa e dar um grande abraço em sua mulher. Assim o fez, subiu rapidamente as escadas, fazendo barulho com seus passos rápidos e ouvindo os gritos de reclamação de um dos vizinhos.

— Eu também te amo, Senhor Romez! – Ele gargalhava enquanto continuava a subir aquela escadaria apressadamente.

— Moleque... – O senhor Romez era um homem de certa idade, impaciente e rancoroso, sempre estava a reclamar de qualquer som demasiadamente mais alto que o comum. Ninguém se importava realmente.

  Não se demorou até finalmente chegar à porta de sua casa, e menos ainda para abri-la. Em casa, sentindo o ar que de alguma forma parecia diferente, mais vivo, inspirou com força, sentindo aquele ar renovado entrar em seus pulmões. O mundo estava diferente agora, sentia.

  Gritou o nome de sua mulher, chamando-a para contar as boas novas. Sentia-se tão animado, como nunca antes! Sua mulher rapidamente parou o que estava a fazer naquele momento e apressou-se para ir de encontro ao seu marido que inesperadamente havia chegado tão mais cedo em casa.

— Querido? – Ela perguntara surpresa, estranhando o horário.

— Eu fiz, Jeannie! Eu fiz! – Ele sorria de forma bastante expressiva.

  Jeannie era uma linda mulher loira, com belíssimos olhos azuis esverdeados e um sorriso extravagantemente encantador. Ela estava confusa naquele momento, sem compreender perfeitamente sobre o que seu marido estava a falar, mas, sabia que de alguma forma, tinha haver com o horário em que chegara em casa.

— O que você fez, querido? – Seus olhos azuis brilhavam confusos, mas, não assustados. Sabia que seu querido marido jamais poderia fazer algo de errado, não que fosse meramente por sua natureza gentil, mas, ele não possuía este tipo de coragem.

— Eu pedi demissão! Eu estou livre, querida! – Ele estava tão animado, que embora aquela atitude houvesse sido completamente precipitada e tomada em um mal momento, Jeannie decidira contemplá-la, para deixar seu marido, que gargalhava como uma criança, aproveitar o momento.

— Ótimo, querido! Incrível! – Ela preferiu não fazer aquela pergunta óbvia: “E agora?” esperava que ele mesmo respondesse.

— Finalmente, querida! Vou poder perseguir o meu sonho! – Ele pegara em suas mãos delicadas, unhas feitas e pintadas; Jeannie havia começado a se aprontar, unhas, mãos, pés e cabelo, para algo especial, algo que pronunciaria aquela noite. Agora talvez fosse melhor esperar.

— Seu sonho, querido? Qual? – Ela esperava que fosse algo interessante, uma ideia que realmente lhe parecesse lucrativa, isto justificaria tudo!

— A comédia, querida! A comédia! Não se lembra? – Agora ele a girava em seu próprio eixo, como em uma dança, em seguida segurando forte em sua cintura, olhou-a nos olhos de forma penetrante.

— Que ótima notícia, Joe! – Ela não pôde evitar perguntar, estava preocupada. – Mas querido, como fará? Aonde irá trabalhar?

— Acalme-se, meu amor! – Ele a puxava para sentarem lado a lado no sofá da sala onde estavam. – Vou te explicar tudo! Lembre-se, seu marido é um gênio! – Ele gargalhava de suas próprias palavras.

— Ah, claro. – Ela não estava crendo tanto quanto ele precisava, mas, decidira ouvir.

— Vou trabalhar em um dos bares, de uma das famílias que comandam a cidade! Eles contratam entretenimento para seus clientes, sejam belas dançarinas, cantores ou comediantes, como eu! – Parecia simples ao seu dizer.

— E como fará para ser contratado? – Para ela, aquilo era pura utopia de seu eufórico marido.

— Todo dia, bem cedo, ambos os chefes de família costumam visitar alguns de seus bares mais lucrativos. Eu só preciso aparecer lá, e fazê-los rir! Eu tenho certeza que dará certo! – Joe realmente parecia uma criança correndo atrás de seus sonhos. Era inspirador e ao mesmo tempo amedrontador.

— Entendi. Não é perigoso? – Jeannie não havia gostado da ideia, mas, era a única forma de manter o apartamento e pagar suas dívidas.

— Querida... – Ele sorrira carinhosamente e tocara seu rosto enquanto olhava de forma reconfortante em seus olhos. –.... Como voar mais longe, como saltar mais alto, como derrubar grandes obstáculos, sem se arriscar? Sem pôr tudo a perder? Confie em mim, como sempre confiou, está bem? Eu tenho um plano. Dará certo.

  Joe era um homem que com o tempo aprendera a ter confiança em si mesmo, depender apenas dele mesmo e com isto enfrentar qualquer adversidade; era algo a qual Jeannie tanto amava em seu marido. Ele sempre se levanta, sempre volta mais forte do que quando caíra.

— Eu confio. Sempre confio. – Aquelas palavras seguras, como se tudo houvesse sido planejado, como se tudo fosse dar certo, era tudo o que Jeannie precisava ouvir. Nada mais a temer, porém, ainda assim, não queria assustar Joe com aquilo que tinha para dizer, afinal, não estava em seus planos.

— Seu querido Joe, irá fazer toda essa cidade rir, querida! Toda a cidade! Gotham irá gargalhar, com certeza irá! – Ele se divertia, ria como um louco.

— E quanto ganha com isto, tem alguma ideia, querido? – Ela não estava mais preocupada, e sim curiosa.

— Este é o único problema, querida. Veja, no início, vamos passar alguma dificuldade, acredito que irei começar com os bares menores, e não com os grandes. Afinal, quem sou eu, não é mesmo? – Ele sabia que seu sucesso não seria espontâneo. Não fazia mal. – Com o tempo, meu amor, irei sendo reconhecido, e conforme sou empregado em bares cada vez mais nobres, também serei cada vez mais bem pago! Entende?

— Entendi. Tudo bem. Se você estiver feliz, eu estarei feliz. Estaremos juntos. – Ela o abraçou enfim, sentindo a camisa social um tanto suada. Não importava. Era o suor do Joe, seu eterno marido.

— Eu te amo, querida. – Ele dizia abraçando-a de volta, sentindo seu corpo macio contra o dele, e seus cabelos longos e loiros sobre seus braços.

— Eu também te amo, amor. – Ela então se afastou um pouco de Joe olhando-o em seus olhos, com um sorriso brincalhão. – Mas, vá tomar banho, está bem? Está grudento.

— Claro, querida. É claro. – Ele sorria perdido em paixão. A ordem de sua mulher, era a ordem final.

  Naquela noite, enquanto assistiam a um programa qualquer, como de costume, ela em seu peito e ele com os braços ao redor dela, conversavam sobre o que esperavam do futuro. Sonhavam com a utopia de uma vida perfeita, como qualquer outra pessoa. Uma conversa comum de um casal apaixonado.

— Hei, Joe, querido, você já pensou em ter filhos? – Ela parecia sem graça por perguntar. Ele achou fofo.

— Filhos? Sim, eu já pensei. Em um futuro, talvez. É isto o que você quer? – Ele sorria de amável. – Quer ter filhos, Jeannie?

— Sim. Eu sempre quis ter filhos. Crianças correndo pelos corredores de nossa casa. – Ela parecia sonhar.

— Um dia teremos, querida. Um dia teremos. – Ele à abraçou gentilmente. – Assim que eu conseguir receber razoavelmente bem com esse novo emprego, teremos quantos bebês você quiser. Está certo? – Ele ria divertidamente.

— Ah, claro, querido... – Ela parecia tensa, mas, ele nem sequer percebeu que havia algo de errado.

  Naquela noite, aquele amável casal, repleto de sonhos e esperanças puseram fogo em suas almas ao juntar seus corpos com tanta vivacidade, uma comemoração pela liberdade de Joe, uma comemoração pelo sonho que se realizava. A caminhada era longa, mas, a iniciativa era excitante, ao menos para ele.

  Na manhã seguinte, antes mesmo do despertador tocar, aquele sonhador de cabelos ruivos já estava de pé. Pronto para lutar pelo futuro de sua família. Pelo seu futuro, e o de Jeannie. Agradecia todos os dias por tê-la consigo, sem ela, ele não teria nada, ele não seria nada.

  Buscou dentre suas roupas no armário, sem fazer barulho, um bonito terno a qual pudesse usar para causar boa impressão. Encontrou dentre os poucos que tinha, um antigo terno negro e vestiu-o com uma bela camisa social branca, para acompanhar, uma gravata borboleta igualmente negra. Estava pronto.

   Enquanto preparava seu rápido café da manhã, sua mulher, Jeannie, acordara para se despedir. Seminua, apenas com um roupão macio e sua calcinha fio dental de renda verde água, ela se aproximou encostando sua cabeça na parede próxima a porta.

— Para qual? – Ela perguntou de forma um tanto aleatória.

— Para qual o que? Por que está acordada? Está cedo! Seu trabalho é só daqui a algumas horas. – Jeannie trabalhava como garçonete em um restaurante italiano havia alguns meses. Recebera uma folga no dia anterior, mas, hoje teria de trabalhar.

— Para qual família vai trabalhar? Você nem me disse que já havia decidido. – Era verdade, na emoção do momento ele acabara esquecendo de perguntar a opinião dela sobre este quesito em essencial.

— Desculpe querida, eu me esqueci de te perguntar o que achava. Fiquei tão empolgado... – Sua comida estava pronta.

— Tudo bem, amor. Mas então? Para quem? – Ela torcia para que ele não dissesse Salvatori.

— Falcone, preferencialmente. Será duro, mas, ao menos ele não é louco, nem agressivo. – Joe dava suas mordidas rápidas no pão que aprontara.

— Entendi. Boa escolha, querido. – Ela então bocejou, e esticando seu corpo, pediu-lhe um abraço. – Boa sorte, meu amor. Eu vou voltar a dormir.

— Está certo. Obrigado, Jeannie. Logo estarei de volta, querida. – Despediu-se com o carinho a qual sua amada esposa merecia.

  O ônibus lhe deixara à duas esquinas de distância de seu objetivo; não costumava frequentar bares desde a faculdade, e ainda assim, naquela época suas não frequentes visitas eram apenas com o objetivo de socializar, não que fosse bom nisto, apenas tentava. Não conhecia grande parte dos bares de Gotham, não pessoalmente, claro; apenas imprimia e colava os endereços nas encomendas quando seu chefe pedia. Sabia todos eles por pura memória. Atualmente, buscava o bar mais lucrativo de Falcone: “Fish’s Bar”.

  De onde estava, podia vê-lo, era inconfundível com seu enorme peixe enganchado ao telhado. “Chamativo.” Pensou quase rindo do nome. Ficara curioso para entender o “por que” deste nome exótico. Começara a sentir-se nervoso conforme iniciava sua caminhada até o bar. Suava frio, tinha de suar, afinal, era com Don Carmine Falcone que iria encontrar, iria falar. O chefe desta parte de Gotham.

  Carmine Falcone era conhecido por ser um homem que fizera história em Gotham. Carmine começara sua carreira na criminalidade mafiosa de Gotham ainda muito cedo, quando sua mãe fora assassinada e seu pai buscara vingança. Como resultado, o pai de Carmine Facone, Vicent Falcone, morrera em meio ao tiroteio que ele mesmo provocara.

  Ainda novo, Carmine Falcone aprendera que emoções destroem negócios, e negócios destruídos podem te fazer perder a vida. Não demorou até que o pequeno Carmine se mostrasse notável, tão mais quanto seu pai; tendo tomado grande parte de Gotham, reorganizado o tráfico e aumentado os lucros das mais diversas formas de ganho de sua família e de outros criminosos de Gotham em uma taxa um pouco superior à cem por cento, Carmine fora tido como um gênio dentre os Falcones.

  Sua sagacidade não se limitava apenas aos negócios monetários da família; Carmine tinha uma lei própria: “A paz mantém-se firme, até que o desrespeito ou a desordem sejam evidentes” todos conhecem esta lei, quando se trata de Carmine Falcone, e todos os que não a conhecia, tiveram as mais cruéis e inimagináveis punições, muitas das vezes, até mesmo a morte.

  Joe não desrespeitaria de forma alguma Carmine Falcone, não era insano para isto. Não era insano. Quanto mais se aproximava daquele bar, mais sentia pingar suor de sua testa. Estava nervoso. Estava com medo.

  O Fish’s Bar era um imenso, extravagante e luxuoso bar, com sua decoração completamente Retrô, cujo muito lembrava a década de vinte. Suas cores em grande maioria eram de um vermelho pimenta e um dourado escuro que mostrava o quão antigo era aquele lugar.

  Chegando à frente do Fish’s Bar, pôde ver carros luxuosos estacionado, em principal, o famoso Cadilac Eldorado 1967 de Carmine Falcone, um belíssimo carro, mostrava poder e elegância. Ele estava lá, tinha certeza.

  Na porta, uma imagem semelhante, porém, claro, em uma proporção ridiculamente menor, de uma espinha de peixe. A porta era acolchoada com seu tom vermelho sangue, não havia janelas, apenas uma garagem e uma outra porta poucos metros de distância, esta por sua vez era quase invisível, da mesma cor acinzentada da parede.

  Empurrando as portas acolchoadas, finalmente adentrou naquele espaço feérico onde o dinheiro era feito como mágica. A mina de ouro de Falcone, sob os cuidados e administrações de Fish Mooney. Era lindo. Era elegante. Era um sonho a ser alcançado.

  Ao entrar não se demorou muito a perceber onde estavam todas as figuras importantes, figuras que comandavam o local. Carmine Falcone estava sentado com seus homens, admirando a cantoria de uma bela dama no palco. Ela tinha os cabelos negros em cachos que se estendiam até seus ombros, um olhar sensual e um vestido capaz de acentuar suas curvas de forma a hipnotizar qualquer homem.

  Joe não pôde deixar de notar atmosfera que mixava uma luxúria encantadora, com uma exclusividade hipnótica e ao mesmo que relaxante, extasiante. Talvez um fator interessante que logo lhe chamara atenção dentro daquele lugar, era a falsa sensação de que já era noite, mesmo sabendo o quão cedo ainda era; tal sensação definitivamente se dava pela ausência de janelas, iluminação leve, sombreada que dava a impressão de simplesmente existir e encaixar perfeitamente com as cores e sensações do ambiente. Era um bar inigualável e do mais alto luxo em Gotham, algo que apenas os mais poderosos e influentes tinham acesso.

  Um gentil Barman chamou-lhe a atenção perguntando se desejava algo. O mesmo girava uma espécie de coqueteleira prateada, parecia se exibir para atrair clientes, imaginava. Joe apenas negou com um sorriso de canto de boca e um aceno de palma aberta. Não gostava de bebidas alcoólicas.

— Está procurando a senhorita Mooney? – Perguntou o Barman, curioso.

— Mooney? – Naquele momento, Joe estava tão concentrado analisando consigo mesmo se era ou não uma boa hora para se aproximar de Falcone, que nem sequer lembrara da responsável pelo bar, Fish Mooney.

— Ela está ali, à direita, sentada na mesa próxima a do senhor Falcone. – O Barman apontava para uma mulher de costas sentada ao lado da mesa de Carmine Falcone.

— Não, eu vim falar com o próprio Falcone. – Joe parecia sem graça.

— É melhor falar com a Senhorita Mooney antes. – O Barman se aproximou da bancada e então com um tom mais sério, como um aviso, reafirmou. – É sério. Fale com ela, antes de falar com ele.

— Mas, ele não é o chefe dela? – Joe não estava entendendo tamanha preocupação, afinal, se pretende realizar negócios com a família Falcone, não é mais prático ir direto ao “cabeça” da mesma?

— Sim, rapaz... – O homem parecia estar começando a perder a paciência, como se falasse algo óbvio para uma criança. –..., Mas, se trata de respeito! Aqui é a “casa” da Fish Mooney, o Fish’s Bar! E não o Falcone’s Bar! Entende? Cumprimente-a, converse, conte o que quer, ela mesma te levará ao Senhor Falcone. Se você se aproximar do Falcone, sem antes falar com ela, o próprio Falcone irá tomar isto como desrespeito... – Ele agora fazia uma expressão de medo, como se encarasse algo assustador. –... E bem, todos sabem que Falcone não gosta de desrespeito. Dizem ainda, que Fish Mooney pode ser ainda mais cruel.

— Oh merda! – Joe sabia, havia sido por pouco! Graças ao Barman acabara de evitar um aprendizado doloroso! Tinha de tomar cuidado com essas pessoas! – Muito obrigado, você salvou a minha vida!

— Aqui é um território hostil, amigo. Nunca te vi por aqui antes, imagino que não conheça como é a realidade aqui dentro. Boa sorte.

— Obrigado. – Joe engolira em seco.

  Buscando onde seu salvador, o Barman, havia apontado para mostrar a localidade da Fish Mooney, encontrou-a sentada de costas com dois seguranças junto a ela. Também admirava o show com toda sua atenção, o que fez Joe hesitar em se aproximar. "É tudo ou nada!” Decidiu aproximar-se.

  Dois homens com ternos grafite, maiores do que Joe, levantaram-se imediatamente e bloquearam a passagem do magro aspirante a comediante. Aquilo quase lhe fizera evacuar em suas próprias calças. Joe tremia, suava e gaguejava.

— E-E-Eu só-só quero falar co-com a senhorita Mooney. – Dizia ele em gaguejos nervosos.

— Espere aqui. Ela está ocupada. – Disse um dos homens que o encarava com uma expressão séria e contundente.

— Sim, senhor. – Joe estava a um passo de recuar.

  Um dos seguranças após encará-lo por alguns poucos segundos, virou-se e agachou seu corpo na direção da suposta tão temível Fish Mooney, para dizer-lhe algo, provavelmente avisar que alguém a procurava.

— Diga-o para esperar. – Ela disse em um tom sem omissões, de forma a que o próprio Joe ouvira, mas, ainda assim, o homem obedecera às ordens de sua chefe.

— Ela ordenou que esperasse. – Disse o homem de forma seca.

  Joe assentiu, sentindo sua respiração ofegar cada vez mais e seu suor não parar de escorrer. Sabia que era meramente para demonstrar respeito, nada mais. Faria o jogo, claro, não queria perder a cabeça. Literalmente.

  Após o término da música, a cantora deixou o palco por de trás das cortinas carmesim, e uma salva de palmas, inclusive de Don Falcone e Fish Mooney conduziam sua saída. Em perfeita sincronia, quando Falcone parou de aplaudir, todos pararam. Respeito.

  Finalmente, Fish Mooney dera sua permissão para aproximar-se. Seu dedo indicador, agora elevado, dançava em um gesto comum e significado popular. Chamava-o sem sequer olhar para o amedrontado Joe.

— Vamos garoto, sente-se. – Disse um dos guarda-costas de Fish Mooney.

  Joe obedeceu rapidamente e sentou-se em frente aquela mulher tão poderosa. Finalmente pôde ver sua aparência. Sua pele morena parecia reluzir com a luminosidade dourada do local, seu vestido também dourado possuía o mesmo efeito; seus cabelos negros eram curtos, acompanhados de uma franja longa com um par de fios pintados de um vermelho vívido. Seus olhos foram algo que surpreendera Joe logo de cara. Ela possuía algum tipo de heterocromia, era quase que como se um de seus olhos não fosse realmente seu.

  Fish Mooney era uma mulher de certa idade, embora sua aparência sugerisse um bom desconto em suas muitas décadas. Era o braço direito de Falcone, a fonte de maior lucro, e também alguém próximo de ser considerada filha do grande chefe. Mooney era a preferida de Falcone, todos sabiam.

— E então? – Ela sorria para Joe, mas, seu sorriso era como de uma víbora prestes a devorar o rato em sua frente.

— Prazer, senhorita Mooney. Sou Joe, Joe Joseph Kerr. – Naquele momento, Joe se controlava o máximo que podia para não gaguejar.

— Prazer, Joe. Bem-vindo ao Fish’s Bar. – Ela estendia sua mão, para que fosse beijada. E ele o fez, sem hesitar um segundo sequer. – Ótimo, Joe. Diga, não está aqui para beber, não é? O que quer? – O olhar de Fish Mooney parecia analisá-lo até mesmo a alma.

— Sim, senhorita. – Joe ainda tremia.

— Hei! – Ela gritou de repente, amaciando sua voz em seguida. – Relaxe, garoto. Acalme-se. Por que está tremendo tanto? – Virou-se então para um de seus capangas e com um piscar de olhos, ordenou. – Vamos, traga um... – Olhou de volta para Joe, e então sem dar-lhe opção, continuou. –... Um Martini. Certo, Joe? Um Martini, sim?

— Sim, senhorita, obrigado. – Ele engolia em seco.

— Certo, aqui está. Prontinho, querido. – Ela lhe entregava a taça de Martini com a mais completa gentileza, como uma rainha entregando sua benção para um pobre súdito. – Agora, conte-me tudo.

— Senhorita, Mooney, eu gostaria de trabalhar aqui. – Ele disse em um único tiro. Mas, logo se corrigiu. – Na verdade, eu gostaria de um lugar para trabalhar, desculpe. – Naquele momento ele se perguntava se não havia acabado de marcar a data da sua morte.

— Trabalho, heim? Sabe, admiro homens trabalhadores. Homens que buscam vencer a vida! – Ela batia palmas enquanto o olhava com um sorriso superior e um olhar inclinado, como se pudesse conduzir toda a conversa para a direção que quisesse, como se mandasse no mundo ao seu redor. – Me diga, Joe. O que você faz?

— Eu conto piada, senhora... Piadas. – Ele engolira em seco, novamente.

— Um cara engraçado, heim? – Ela sorria magnificamente, enquanto o olhava de forma gentil desta vez. – Conte-me uma piada, vamos ver do que é capaz.

— Ah, certo. Agora? Bem... – Ele estava nervoso. Tinha de contar a piada, mesmo sob estresse, ou não conseguiria o emprego. Fechou então seus olhos e concentrou-se por alguns poucos segundos. –.... Eu vim de táxi até aqui, sabe? E bem, eu me sentei no banco traseiro, para ficar mais confortável, estava tenso. Não trocamos uma palavra a viagem inteira! – Dizia ele, mudando completamente sua personalidade, atuando perfeitamente. Seu gesto de pincelada enquanto dizia a última frase possuía uma sincronia perfeita. – Exceto sobre para onde eu queria que ele me levasse, é claro. Mas, isto não vêm ao caso. Quando estávamos chegando à esquina, eu pus minha mão sobre seu ombro, sabe? Para avisar-lhe que era o meu ponto logo à frente. O homem surtou! Em meio à berros desesperados, ele jogou o carro em cima da calçada e quase causara um terrível acidente! Após toda a confusão, eu ainda confuso, sem entender o que havia acontecido, furioso pelo susto, indaguei contra ele, perguntando o que havia se passado para que ele agisse daquela maneira. – Agora com um sorriso e um ar de desabafo, como se não pudesse crer na resposta do taxista, ele continuou. – Ele então me respondeu ainda nervoso, enquanto se desculpava: “Desculpe moço! Levei o maior susto da minha vida! Estou desempregado, e iniciei como taxista hoje mesmo. Até ontem eu dirigia o carro de uma empresa funerária, entende?”. – A piada havia acabado aí, e Joe podia mostrar isto com seu olhar enfadonho, como se aguardasse as risadas. E ele as teve após uma breve resistência, por sorte.

— Você é bom! – Fish Mooney agora o olhava diferente, como se olhasse uma pequena mina de ouro. – Precisamos mesmo de um comediante!

— Obrigado, Senhorita Mooney! Muito obrigado! – Faltava pouco para que lágrimas escorressem dos olhos de Joe.

— Calma, garoto. Eu não disse que está contratado, ainda. – Ela gostava de mostrar que tinha o controle. – Vou falar com Don Falcone, sobre você.

— Entendi. Obrigado! – Ele sorria ainda nervoso.

— Agora, se não for consumir, por favor, saia, deixe os adultos conversarem. Se as notícias forem boas, ligamos para você. – Ela ainda mantinha aquele sorriso de pura superioridade em seus lábios femininos.

— Mas, ainda não dei meu número, senhorita. – Joe esperava que aquilo não fosse um despacho gentil.

— Não se preocupe. Temos o seu nome, encontraremos você, senhor Joe Joseph Kerr. Apenas vá para casa, e relaxe. – Ela então acenara para Joe com a cabeça. Um pedido silencioso para que se levantasse e fosse embora.

— Por favor, não se esqueça de mim, senhorita Mooney. – Ele implorava enquanto se levantava.

— Nunca me esqueço, querido. Nunca me esqueço. – Foram as últimas palavras de Mooney para Joe antes de ele sair daquele bar cujo o próprio odor podia ser traduzido como: “Poderoso”.

  Era um dia feliz, ao menos parecia ser. Tinha de contar a boa notícia para sua esposa, Jeannie. Eram dias maravilhosos, dias de mudanças e transformações. Dias de um recomeço, dias de perseguir seus sonhos. Estava tão perto que já podia sentir. O cheiro do dinheiro e o som das gargalhadas. Estava feliz.

  No caminho para casa, enquanto o ônibus fazia o caminho contrário ao de sua vinda, refletia sobre o quão fácil havia sido aquela curta “entrevista”. Havia pela primeira vez conhecido pessoalmente o chefe da grande família Falcone e seu braço direito, Fish Mooney. Era inacreditavelmente impressionante o quanto o poder poderia ser amedrontador.

  Acreditava firmemente que Fish Mooney havia gostado de sua piada, precisava que ela houvesse gostado. Antes mesmo de receber o tal grandioso telefonema, teria de estar preparado. Novas piadas, grandes piadas, muita coragem e preparo. A primeira parte de seu plano para o recomeço de sua vida havia sido concluído com sucesso.

  Tentava ser o mais racional, o mais paciente possível, mas, não podia evitar de sonhar. Uma casa nova, móveis novos, roupas novas, muitos presentes para Jeannie e claro, num futuro próximo, um pequeno garoto, ou garota, um filho, ou uma filha. Jeannie parecia querer muito ter um filho, podia ver isto naqueles enormes olhos azuis esverdeados como o mar; podia ver este desejo materno em suas palavras na noite anterior. Ele também queria ser pai, na hora certa.

  Apagou de sua mente os sonhos que montava, peça por peça, sem perceber. Retornou aos pensamentos racionais, retornou ao plano. Aparecer, crescer e ganhar. Eram as três etapas deste plano. “Vou criar uma vida ideal, minha querida. Vou criar esta vida para você.” Disse Joe na noite anterior durante uma conversa com sua esposa.

  Embora ela estivesse apreensiva, Joe podia ver o quanto sua esposa acreditava nele. Era isto o que ele tanto amava nela, sua fé em seu querido marido. Joe e Jeannie se conheceram ainda jovens na faculdade, ela era a típica garota popular e ele nem tanto, embora ambos já houvessem conhecido um ao outro anteriormente, apenas tiveram seu primeiro contato no terceiro período da universidade. Ele estudava Química Industrial e ela Ciências contábeis; ela o encontrou em um bar onde todos os universitários costumavam a frequentar, vendo aquele garoto triste sentado sozinho, decidiu puxar assunto. Para sua surpresa, havia sido a conversa mais hilariante e interessante que jamais tivera. Estava apaixonada.

  De volta à realidade, Joe pôs-se a olhar pela janela para memorizar a vizinhança pela qual percorria até aquele bar. Memorizava cada rua que a qual o ônibus passava, cada prédio de aparência minimamente incomum; era o seu mapa mental. Foi quando que por alguns poucos segundos, durante uma das muitas paradas do ônibus, avistou um senhor de avançada idade, sentado aos trapos, magro, completamente imundo. Sua atenção foi tomada por um grupo de jovens que se aproximava daquele senhor, vestiam-se bem, camisas de panos caros, cores fortes e joias no pescoço. Um deles até mesmo carregava um bastão de Beisebol nos ombros.

  Um pouco antes de seu ônibus voltar a acelerar, pôde ver aquela cena horrenda. Uma cena com a qual já estava acostumado, infelizmente. O pobre senhor, um simples e penoso mendigo, estendeu sua mão ossuda para os jovens, como quem parecia pedir alguma ajuda; esmolas talvez. Triste e inocente velho. Sua última vista daquela cena fora de um dos garotos levantando seu bastão bem alto acima de sua cabeça. O ônibus já estava muito à frente para saber com certeza o que havia acontecido em seguida. Infelizmente, era normal. Gotham não era uma cidade para os fracos e oprimidos.

  Aquela cena também não ficara em sua cabeça por muito tempo, cenas assim nunca ficavam. Não era apenas ele, todos os cidadãos de Gotham possuíam esta mesma indiferença desumana com as frágeis vidas dos incapazes. Todos sabiam, ninguém se movia, talvez esta fosse a razão daquele monstruoso e sombrio homem ter nascido, talvez esta seja a razão do apelidado cavaleiro das trevas, Batman, saltar telhados e espancar criminosos durante as audazes madrugadas.

  Seu ônibus lhe deixara naquele mesmo ponto, próximo à sua casa. Olhara seu relógio de pulso naquele momento, havia tudo se desenrolado tão rapidamente que nem sequer lembrara-se da hora. O relógio preso ao pulso de Joe era um relógio barato, suas braçadeiras de couro sintético e material de alumínio mostravam que não havia custado mais do que vinte dólares. O que chamava a atenção naquele relógio, porém, era a imagem do desenho de um personagem amplamente conhecido mundialmente: o Pernalonga; os números responsáveis por indicar as horas, estavam à circular a enfadonha imagem do risonho personagem. Era uma pequena inspiração para a sua comédia.

  De volta ao lar, surpreendeu-se com a presença inesperada de sua mulher deitada com a barriga para cima e um dos braços sobre a face. Parecia dormir. “O que está havendo? Ela deveria estar trabalhando.” Ele se aproximou sem compreender a cena que via. Questionava-se se por algum acaso ela não teria perdido o horário. Não era normal da parte de Jeannie.

— Querida? – Ele a chamou enquanto agachava ao seu lado e tocava seu cotovelo gentilmente. Nenhuma resposta. Agora podia ver, ela realmente aparentava dormir. – Jeannie, querida, acorde. – Novamente tocou seu cotovelo, agora com um pouco mais de força numa tentativa de acordá-la.

  Abrindo os olhos vagarosamente, ela sorrira para seu marido. Este belo sorriso se transformara em questão de um mero segundo, em uma expressão triste. Um biquinho irresistível. Ela parecia doente, agora percebia.

— Estou passando mal, querido. – Sua expressão pedia para que ele cuidasse dela. Era adorável.

— Avisou sua chefe, amor? – Aquela pergunta fizera com que Jeannie arregalasse os olhos ao perceber o risco a qual corria.

— Puta merda! Joe, pegue o telefone! Eu acabei apagando depois de vomitar no banheiro! – Ela gritava desesperada. – Roberta vai me matar!

— Ela vai. – Ele confirmou, já esperando uma possível demissão.

  Após pegar o telefone, Jeannie realizou sua desesperada ligação para sua chefa Roberta. Após algumas falsas lágrimas, muitos pedidos de desculpas e explicação do ocorrido, Jeannie finalmente desligara o telefone. Seu rosto mais aliviado mostrava que tudo havia terminado bem. Ótimo, seria catastrófico se não houvesse terminado desta maneira.

— O que você andou comendo, heim? – Joe ajudou-a a sentar-se. Examinou sua esposa por alguns segundos, checara os olhos, suor, língua e correra para pegar um termômetro. Como se realmente fosse ser capaz de dar uma conclusão médica sobre o que supostamente sua mulher teria. Não era médico, era um comediante!

— Como foi, querido? Chegou mais cedo do que imaginei. – Jeannie lhe perguntava enquanto encaixava o termômetro cilíndrico por baixo do braço.

— Foi ótimo, querida. Foi ótimo! – Joe parecia animado.

— Não te ameaçaram, nem nada, não é? – Jeannie estava preocupada.

— Claro que não, querida. Por que viriam a ameaçar alguém que está indo lhes pedir um emprego? – Ele fingiu rir.

— Eles são gângster, Joe! Sabe-se lá o que eles pensam! – Ela tinha razão.

— Por sorte, não. – Ele não pretendia contar os detalhes.

— Por sorte? O que houve, Joe? O que o senhor não está me contando? – Ela o olhava com seus olhos semicerrados, aquele olhar de desconfiança e fúria por haver um segredo o qual ele não pretendia contar.

— Nada demais, querida. Um barman me explicou sobre “respeito” dentro da máfia, dentro das famílias. Deu-me a dica de falar com a dona do bar, antes de falar com Don Falcone. – Ele levantou sua mão esquerda em sinal de juramento.

— Entendo. Então se você houvesse ido até o Falcone, e não à dona do bar, provavelmente não teria conseguido o emprego, certo? Você conseguiu o emprego, certo? – Ela havia percebido que ele não dera confirmação alguma.

— Então, pois é... – Ele parecia um tanto sem graça, como que se temesse a perda de fé da mulher. –... A senhorita Mooney disse que me ligariam, me encontrariam, se Falcone me aceitasse, claro.

— Então há chance dele não te aceitar? – Ela parecia começar a se preocupar de verdade.

— Não exatamente... – Ele começara a ficar nervoso. – Ela me pediu para contar uma piada. Se risse, eu estava dentro. Se não...

— E ela riu? – Jeannie o olhava como se implorasse para que ele dissesse que sim.

— Sim! Ela riu! Confie em mim, querida! – Joe segurava no rosto branco e magro de Jeannie. Seus cabelos loiros agora estavam jogados sob seu pescoço e cobria também parte de seu rosto, enquanto seus olhos azuis gritavam uma fé abalada, preocupada.

— E se não ligarem, Joe? Como faremos com o bebê? – Ela propositalmente soltara a bomba. Precisava que ele entendesse o seu medo, e não pensasse que simplesmente não acreditava nele.

— Espera, espera, espera! – Joe ficara completamente catatônico naquele momento. Sentira o mundo abaixo de seus pés desabar. “O que ela acabou de dizer? Eu entendi errado?”.  – Querida, não brinque com uma coisa destas. – Ele realmente preferia crer que era uma simples brincadeira inapropriada.

— Não, Joe! Eu pretendia te contar ontem, mas... – Ela não pôde evitar que lágrimas começassem a escorrer. –.... Você estava tão feliz, Joe! Parecia uma criança! E não havia o que fazer, não é?

— Jeannie, você está grávida? – Ele ainda não era capaz de deglutir aquela ideia. – Como Jeannie? Como?

— Eu só fiquei sabendo ontem, também, Joe. Estes dias eu estive muito enjoada, tonta, e sensível também. – Suas lágrimas não paravam. – Minha chefe perguntou se eu estava grávida, de repente. A possibilidade nem sequer havia passado em minha cabeça, para dizer a verdade.

— Um bebê? – Joe ainda estava perdido.

— Foi quando resolvi fazer o teste, Joe. – Ela tinha medo de sua reação quando saísse daquela imersão onde havia se perdido por alguns instantes. – Um bebê, Joe. Nosso bebê.

  Ele a olhara assustado, como se tudo houvesse se desfeito. Para Joe, todo o plano que havia construído para o sucesso de sua futura família ao lado de Jeannie, havia sido destruído. Era como saltar cinco anos no tempo e ainda assim, se manter no mesmo lugar. “O que eu faço? Como vou cuidar desta criança? Por que pedi demissão?” Sua mente fervia com tantas perguntas aflitas.

— Jeannie... – Repentinamente ele sabia o que fazer. Era uma habilidade única de Joe, esta capacidade de avaliar a situação e encontrar uma saída. –... Caso Carmine Falcone não me ligue dentro de dois dias, irei até Salvatore Maroni. É um trabalho arriscado, ele é um homem perigoso, mas... – Joe abraçara repentinamente sua mulher com toda a força e calor que podia sem feri-la. –.... Agora teremos o nosso bebê. Temos de cuidar e proteger esta criança, está bem?

  Jeannie não pôde evitar despedaçar-se em lágrimas. Seus soluços intermináveis foram abafados pelo ombro de seu marido naquele abraço caloroso. Um abraço de esperança. Um abraço de recomeço. Um abraço de vida! Sabiam que a vida seria difícil para eles, mas, não desistiriam um do outro, e agora, não desistiriam daquela criança. Talvez a vida fosse uma piada, a qual você deveria saber contar.


Notas Finais


Ah, Joe... Alguém mais se apaixonou? Alguém teve o coração tocado? Uma criança está vindo! Um filho! Me contem tudo, o que acharam do nosso Joe?


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