História Love Me If You Can - Laços Rompidos

- Não se preocupe você não torceu, só está um pouco inchado. Bote uma compressa de gelo e tente descansar. – Ângelo explicava tudo enquanto enfaixava o meu tornozelo.

- Obrigada. – Murmurei e ele apenas moveu a cabeça.

Joguei minhas pernas para fora da cama, me sentando. O silêncio chato que nos assolou a seguir foi inevitável, não sabíamos nem para onde olhar, então apenas abaixamos a cabeça e nos contentamos com a visão do chão. Para nossa total tristeza, sabíamos que não éramos os únicos que estavam assim.

Se me perguntasse naquele momento o que nos faríamos, o que aconteceria, eu não saberia responder; pela primeira vez estava me sentindo perdida e as lembranças das ultimas horas insistiam em ficar se repetindo em minha mente como um filme horrível de terror.

- Lisa vai ficar bem? – O loiro quebrou o silêncio e me encarou.

- Não sei. – Não o encarei, estava exausta demais – Mas sei que ela ficara melhor com a Camile.

- Por que está confiando nela? Conhece-a ao que? Um mês? – Mesmo que parecesse, ele não me repreendia, estava apenas curioso assim como todos.

- Mais ou menos isso. – Suspirei – Confiei em Franco nesses sete anos achando que estava segura, mas no final ele só me provou que não é nada mais que um espectador que só quer ver o circo pegar fogo. – Desabafei e ele se levantou e se sentou ao meu lado – Não sei se devo confiar nele, mas sinto que nela eu posso confiar!

- Dizem que gêmeas tem esse sentido e... – O cortei.

- Não, é um pouco diferente, eu não sei por que, mas é como se eu devesse protegê-la... Esse normalmente não é o sentido do irmão mais velho? É isso que vejo entre a Adrian e a Luna! – Aquilo já estava na minha cabeça há certo tempo, e me senti confortável em falar isso com o Angel.

- Eu não entendo muito bem disso... Até porque fui traído pelo meu único irmão, todavia, você sente isso porque tecnicamente é a “mais velha”. – Fez aspas com os dedos e me olhou de forma estranha... Sério – Você já pensou que tem partes na sua história que são muito mal contadas?

Pensando por esse lado.

- Sim, certas partes não fazem sentido e... Algumas coisas são como um apagão em minha memoria!

- Você já falou com Camile sobre isso?

- Acho que ela não é a pessoa correta para me dar certa informação, ela tem é que estar comigo quando ela for dita! – Tentei me levantar, mas senti meu tornozelo doer e cai novamente na cama.

- Melhor esperar sentadinha! – Disse rindo da minha desgraça.

Revirei os olhos e peguei meu celular, mandei uma mensagem pra Luna e encarei o loiro que ainda ria.

- Você não tem outra pessoa para encher não? Vai conversar com sua crush vai! – Apontei para a porta, mandando que ele saísse, mas ele nem se mexeu.

- Ei, calma, ainda que... – Foi novamente interrompido, mas dessa vez pela porta sendo aberta e a Luna com cara de bunda adentrando o quarto.

- O que tu quer? Eu já ia dormir! – Revirou os olhos.

- Angel, sai, por favor. – Pedi dessa vez educadamente e ele percebeu que eu queria conversar em particular com a garota.

Ele desejou boa noite e se retirou, me deixando com a garota mal humorada que vestia um pijama de... Estrelinhas.

- Legal o pijama. – Debochei.

- Quando você tiver uma filha, terá que aturar esse tipo de presente no Natal... Segundo ela e a louca da outra mãe, eu sou uma lua, no entanto me faltavam as estrelas. – Explicou ainda mal humorada me fazendo rir novamente.

- Bem criativo da parte das duas. – Ironizei e ela já ia virar com a cadeira de rodas, perdendo a ultima gota de paciência, quando desembuchei– Iremos sair amanhã, apenas nos duas.

Ela parou de repente, se virou e me encarou confusa.

- Eu? Você geralmente não sai com a Adrian? – Levantou uma sobrancelha e eu bufei.

- Adrian não concordaria com o que iremos fazer, Rachel é uma pessoa muito sentimental e impulsiva, não pensaria pelo lado logico do meu plano e sim pelo que seus “instintos” diriam e Ângelo, Caleb e Nick seguiriam a Adrian sem pensar. – Expliquei.

- E a Anna?

- Falarei com ela mais tarde.

- Okay... Mas o que quer comigo e por que comigo? – Novamente a confusão veio em seu rosto.

- Você assim como eu vai pensar pelo lado logico. Luna você com certeza já percebeu que já estamos quase perdendo, certo? – Ela assentiu – Precisamos virar isso logo e só conseguiremos com a Camile.

- Agora entendi o motivo pelo qual a Adrian surtaria. – Disse mais para si mesma.

- Já sacrificamos uma peça e...

- Precisamos dar logo o xeque-mate! – Concluiu.

Sorri.

- Por isso precisarei de você. – Ela sorriu e afirmou com a cabeça.

- Pode contar comigo... Mas como vocês fugiram? A Rachel se trancou no banheiro e não me disse nada.

- Com a ajuda da Camile e... Você já soube que a Lisa está grávida? – Perguntei alegre e ela me olhou incrédula.

3 Horas Atrás...

- GRÁVIDA? – Gritei sem conseguir acreditar naquilo.

Tínhamos conseguido fugir do baile com a ajuda da Camile e seus amigos que nos trouxeram para o hotel onde estavam. Durante minha corrida desenfreada pela mansão atrás do Corvo, tudo que consegui foi machucar meu tornozelo esquerdo, quando cai da escada principal. Eu seria presa, já que não conseguia me levantar e já podia ouvir as sirenes da policia ao longe, entretanto a Camile que havia surgido do nada – coberta de sangue – me ajudou a levantar e disse que seus amigos iriam guiar Adrian, Caleb e Anna até o hotel onde estavam – já que vieram de táxi e não teriam como voltar sozinhos.

Não entendi porque ela não incluiu o Robert na contagem, mas meus olhos se arregalaram ao perguntar por ele e ela apenas apontar para a própria roupa. Não! Era a única palavra que conseguia balbuciar.

Agora eu, Adrian, Caleb, Anna, Camile, Diane, Matt e Harry estávamos no quarto de minha irmã, em total silêncio tentando digerir todos os últimos acontecimentos.

Lisa estava grávida. Lisa estava grávida e o pai era um grande amigo. Ele estava morto e a responsabilidade era minha. Unicamente minha.

- Então... – Matt quebrou o silêncio sendo o primeiro a falar – O que iremos fazer?

- Não sabemos nem quem é o verdadeiro inimigo! – Diane disse desolada.

- Não, não fazemos a mínima ideia. – Adrian, que até então estava encostada na porta de braços cruzados, se aproximou de todos que estavam no centro do quarto – Mas acho que não somos tão inimigos assim!

Tivemos que concordar. Todos! Mesmo que houvesse certa desconfiança da parte de alguns, sabíamos que nos não deveríamos nos matar! Seja lá quem estivesse por trás de tudo, estava nos manipulando. Mas agora a grande pergunta era: quem?

- O que acontecerá com o Robert? – Caleb perguntou em um fio de voz, se o quarto não estivesse em silêncio, nem teríamos escutado.

- A policia o levara, no entanto não precisam se preocupar vamos dar a ele um enterro digno assim como Martin teve. – Camile garantiu.

- Como assim? – Encarei-a, mas quem respondeu foi Diane sorrindo orgulhosa.

- Manipulando alguns documentos fizemos parecer que o Martin foi apenas uma vitima de tudo, e Harry arcou com todas as despesas do enterro. – Olhou para Harry que sorriu para mim.

Então desde o inicio eles estiveram nos ajudando? Não faz sentido! A missão deles não era nos prender?

- Somos procurados pela Interpol, seria um grande feito se vocês conseguissem nos prender! – Murmurei e eles se entreolharam sorrindo.

- Mas você é a irmãzinha da nossa chefinha, o que ela decidir sobre você seguiremos. – Matt, que parecia estar à vontade já que falava um pouco diferente de antes... Afeminado, apoiou Camile que sorriu para o melhor amigo.

- Irmãzinha não! Eu sou a mais velha. – Corrigi.

- Vocês são gêmeas! – Todos falaram ao mesmo tempo, se entreolharam e o quarto explodiu em uma grande gargalhada. Do que esses palhaços tanto riem?

O clima no quarto estava descontraído... O que era estranho... Alguém já percebeu que um grande amigo acabou de morrer? Do que estamos rindo mesmo?

- O que faremos com a Lisa? – Caleb, Que parece que foi o primeiro a ser puxado de volta a nossa temida realidade, perguntou.

- Eu não... – Camile me cortou.

- Ela ficara comigo! – Disse.

 Todos olharam surpresos para a morena que não parecia estar brincando, Ela não brincaria com algo tão sério... Certo?

- Por quê?

- Eu prometi a ele, por favor, eu sei que é sua melhor amiga, mas você sabe que se ela estiver comigo estará mais segura!

- Porém vamos dar muita bandeira! – Anna interviu.

- Ahn? Por quê? – Matt resmungou.

- Seja lá quem estiver por trás de tudo, quer que nós nos matemos, seria estranho se do nada ficássemos amiguinhos! – Ela explicou e todos tiveram que concordar.

Aquilo era um problema. Lisa não poderia mais correr tanto risco, porque agora não era só ela, era ela e um bebê... Usem camisinha crianças! Principalmente se sua vida corre perigo, porque será um péssimo momento para engravidar! Camile tinha razão, ela ficaria mais segura se estivesse com ela.

- A pessoa que criou todo esse jogo doente usa como base xadrez, e no xadrez dependendo da sua jogada para alcançar a vitória você tem que sacrificar peças! – Afirmei.

- Lisa será nosso sacrifício. – Adrian concluiu e eu assenti.

Todos concordaram e decidimos que já era hora de irmos. Adrian me ajudou a caminhar - me abraçando pela cintura e eu enlacei meu abraço em seu pescoço - já que não estava aguentando o meu tornozelo e antes de sair, Camile me abraçou e perguntou quando traríamos a Lisa.

- Já mandei uma mensagem para a Rachel, ela deve estar chegando.

Tempo Atual...

- Agora entendi porque a Rachel chegou tão estressada, acho que Adrian ainda está digerindo a “bondade” da sua irmã e a minha queridíssima mulher, simplesmente não quer engolir! – Luna concluiu sarcástica.

- Você sabe o que isso significa? – Sorri marota.

- Sua melhor amiga está com ciúmes de você. – Confirmou meu pensamento e gargalhamos.

- Minha melhor amiga? Sua mulher! – Debochei e ela me lançou o meu travesseiro.

- Quem praticamente a criou foi você! – Jogou na cara e eu tive que levantar as mãos em rendição.

O clima entre nós era divertido, no entanto nos sabíamos que aquilo era porque a ficha ainda não havia caído. Robert estava morto. Eu não o veria mais. O meu Roby. E sem perceber as lagrimas começaram a escorrer pelo meu rosto e o soluço que escapou, foi o primeiro de vários. Era um choro desolado, finalmente eu percebia e isso doía muito.

Luna ao ver o meu pranto, parou a cadeira de rodas ao lado da cama e usou os braços como apoio para se sentar ao meu lado. Eu me joguei no colo dela e percebi que ela também chorava, porém diferente de mim, era silenciosa.

- De novo, Luna... – Solucei – Eu não pude fazer nada, de novo fui inútil.

- Não... Não foi sua culpa. – Ela alisava meus cabelos – Não foi!

P.O.V Lisa

- Por que estamos indo pra lá? – Perguntei pela milésima vez e novamente não obtive resposta.

Já estava ficando nervosa, era como se a cada vácuo que levava uma paranoia nova era criada. Pelo que entendi Elise já estava voltando para casa, mas deu a ordem para a Rachel me levar para algum lugar “seguro”. O que estava me dando mais medo do que deveria.

Não levou muito tempo até que chegássemos a um luxuoso hotel. A porta do carro foi aberta e a Camile me ofereceu a mão para me ajudar a levantar.

Sail!

(Navegue!)

Mas o que está acontecendo? Sem questionar eu aceitei e antes que eu pudesse falar qualquer coisa, Rachel foi embora sem dizer nada – Paranoia 2.0 – e Camile me guiou para dentro do lugar sem dizer nada, Será que todo mundo vai ficar mudo hoje?

Quando entramos em seu quarto, ela fez sinal para que eu sentasse na grande cama e se escorou em uma pequena mesa redonda, cruzou os braços e me encarou. Era engraçado, porque naquele pequeno gesto eu vi a Elise.

This is how an angel dies

I blame it on my own sick pride

Blame it on my A.D.D., baby

(É assim que um anjo morre

Eu ponho a culpa no meu próprio orgulho doentio

Culpe o meu transtorno de déficit de atenção, querida)

- Deve estar confusa e querendo resposta, certo? – Ela perguntou e eu não respondi – Eu acho que você está com raiva e – Ela me encarou e eu fingia não prestar atenção – poderia dizer alguma coisa? – Eu neguei com a cabeça – Está se sentido bem?

Eu ri com sua frustração e peguei meu celular, abri o bloco de notas, digitei rapidamente e entreguei para ela que leu e riu.

“Já que vocês tiraram a noite para me dar vácuo, vou dar em vocês também!”

Maybe I should cry for help

Maybe I should kill myself

Blame it on my A.D.D., baby

(Talvez eu devesse chorar por ajuda

Talvez eu devesse me matar

Culpe o meu transtorno de déficit de atenção, querida)

- Okay, desculpe acho que deveríamos ter te falado antes, mas eu insisti em te contar! – Ela começou nervosa e eu levantei uma sobrancelha, sem entender – Lisa eu sei que você está grávida... Todos sabem.

- Não! Era para ser uma surpresa. – Levantei-me indignada, Não acredito... Aquele filho da mãe fofoqueiro!

- Lisa... – Ela parecia criar coragem... Para dar a pior noticia da minha vida – O Robert morreu!

Eu andava de um lado para o outro no quarto, mas senti minhas pernas fraquejarem e iria cair se a Camile não tivesse me segurado pela cintura.

- Lisa... Calma! – Ela tentou me abraçar, mas eu comecei a socar os ombros e braços dela...

Eu não sabia de onde veio tanta raiva, mas ela veio e eu queria botar para fora. Para a minha surpresa, Camile não reagia, deixou que eu colocasse para fora toda a minha raiva e frustração...

- Eu ia me casar com ele, teria um filho com ele... Eu o amava. – Minha voz era esganiçada e eu soluçava compulsivamente – Doe tanto... É tão frustrante... Por que ele não cumpriu a promessa? Ele disse que ficaria comigo!

- Eu... – Ela parecia hesitante – Eu prometi a ele que ficaria com você... Eu não vou quebrar a promessa, Lisa! Você e essa criança vão ficar seguras enquanto estiverem comigo!

Silêncio... Apenas soluços.

E dessa vez eu não me importei, ela estava me dando espaço para digerir tudo e ao mesmo tempo me reconfortava com um abraço quente! Lembrei-me de Lise e sua mania de silêncio em certos momentos... Nem Franco poderia negar o parentesco delas e isso me fez sorrir.

- Espero que isso seja um sinal de melhora. – Ela comentou.

- Nah... Eu ainda vou demorar um tempo para melhorar, mas...

- Você não está sozinha!

E como eu não perco a chance.

- Claro que a Lise não seria filha da puta de me abandonar agora! – Empurrei-a e sorri antes de me trancar no banheiro – EU QUERO ROUPAS!

O luxuoso banheiro tinha uma enorme banheira já cheia, Parece que alguém previu minha reação. Tirei minha roupa e entrei lentamente, aproveitando a sensação da água morna e a sensação de estar sozinha novamente. Eu fechei meus olhos com força e apertei minhas mãos sobre minha barriga.

- VOCÊ NÃO TINHA O DIREITO DE ME DEIXAR SOZINHA! – Gritei com toda minha força e tinha certeza que todo aquele andar pode escutar, mas eu não me importei.

Eu estava em prantos pela primeira vez em minha vida, e do nada a lembrança da velha mais filha da puta... Quero dizer, minha querida avó, veio como uma brisa fria em minhas memorias.

- Cachinho lembre-se sempre que você nunca deve chorar a não ser que seja de alegria.

- Nem por aquelas pessoas que viram estrelas? – A mais nova encarou a avó confusa.

- Não, por essas você pode chorar, e mesmo assim você chora com as lembranças boas da pessoa e pelo fato de que não vai poder vive-las novamente, mas a cima de tudo sorri-a, sorri-a por tudo que aquela pessoa especial te fez passar e sentir; você não deve guardar lembranças ruins de alguém importante, porque de onde quer que ele esteja ele vai torcer por você e te proteger!