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História Love Me If You Can - Algoz


Escrita por: Dark_Girl01

Notas do Autor


Tudo começou quando eu tive um bloqueio fudido, quase tinha desistido. Depois de 6 meses consegui escrever um capítulo de +8 mil palavras, mas quando fui revisar achei uma bosta e apaguei. Eu não estou mais acreditando tanto na minha escrita, mas prometi que ia terminar e prometi esse capítulo de +8 mil, só que hoje, após 84 anos, abri o Spirit e vi várias notificações perguntando por essa bagaça, decidi liberar logo o que escrevi até aqui... E é isso

Boa Leitura
(Não tá revisado, eu só decidi liberar agora)

Capítulo 67 - Algoz


Dia primeiro de janeiro de 2009. Para Elise era uma das datas mais odiadas de sua vida, onde ela descobriu que tudo não passava de uma mentira. Franco era seu pai e isso a deixou possessa. Seus amigos então? Sabiam mais de sua vida do que ela própria. Tudo era uma mentira até aquele momento. Manipulação. Franco queria sua filha e faria de tudo por ela, foi isso que ele disse. Contudo, se a história até agora era apenas um jogo de quem poderia ter mais, porque até mesmo seu pai não poderia ter mentido? 

Fevereiro, 1990.  

Paris, França

Para Franco, andar por aquelas bandas da cidade era inadmissível em qualquer época do ano, mas em seu aniversário, tudo que ele desejava era se livrar daquele monte de idiotas que seguiam suas ordens. Naquelas férias, não seria para a Torre Eiffel a vista que sua suíte lhe proporcionaria. Talvez alguns mendigos morrendo congelados, se tivesse sorte. 

Suas botas sujas de uma mistura de neve e lama derrapavam a cada dois passos e sua pesada mala não ajudava. Não sabia bem para onde deveria ir e os taxistas não pareciam contentes em ter que ir para aqueles lados. Estava sozinho. A ideia de ficar sozinho em sua cabeça não significava aquilo, nunca tivera preocupação em passar por baixo dos radares da polícia – pelo contrário – lhe satisfazia aquele jogo de perseguição em que seus jogadores sempre pensavam que o tinham em mãos, até o momento em que Franco se mostrava um verdadeiro demônio, se assim podemos dizer. Seu algoz.  

Tentando tirar o excesso de neve de seu sobretudo e verificando novamente o pedaço de guardanapo em que havia escrito o nome do lugar onde ficaria: Pousada Bussie. Um homem de seu nível jamais ficaria em uma pousada, era impensável, mas já estava tarde, se tivesse que pegar um táxi até um hotel cinco estrelas provavelmente xingaria o taxista, o recepcionista do hotel, o carregador de malas e até as camareiras. Seria bem mais irritante e trabalhoso e se ele até ali tinha chegado, até o final iria. Foram necessários mais 3 mendigos a quem perguntar e uma criança que pediu lhe um casaco para sua irmã menor a um pé da hipotermia, para finalmente encontrar o lugar no qual passaria seu próximo mês. O mofo era perceptível ao redor das janelas, a tinta descascada aparentava um dia ter sido verde e a pequena placa com o nome do lugar teria passado despercebido se o garoto não tivesse apontado em sua direção. Já sabia que mandaria matar pelo menos três homens quando voltasse para Roma, sua raiva não poderia ser expressada em palavras e muito menos em sua expressão. Fria, assim como o clima ao seu redor. Elise parece bastante com o pai nesse quesito, poderia explodir a qualquer momento, mas a expressão seria fria mesmo em meio aos gritos. Tinha saído ao pai e isso não poderia ser menos assustador. 

Voltando ao rígido inverno francês, a porta fez questão de mostrar sua presença no momento em que empurrada. O rangido chamou atenção da única pessoa que ocupava a recepção, seus olhos focaram-no com a mesma percepção que a jovem Bussie viria a ter no futuro.  

-Deixe as botas do lado de fora. – A voz cortante da jovem foi a recepção que um homem como ele jamais teria se estivesse em outro lugar, mas o olhar dela dizia que não teria um cortês “boa noite, senhor” – Deve ser Franco Menier, eu imagino. Está bem mais atrasado do que o horário em que sua secretária disse que chegaria. 

Após tirar suas botas e deixar no pequeno degrau do lado de fora da porta – com receio de não vê-las mais pela manhã -, Franco finalmente pode encarar aquela jovem petulante que não parecia ter qualquer resquício de bons modos. 

-Me chamo Francesca Bussie e so...  

-Ma soeur, escutei você conversando com alguém. – antes que Francesca conseguisse terminar sua apresentação, uma garota muito parecida com ela desceu correndo as escadarias que pareciam dar acesso aos quartos – Ah, olá... senhor. Me chamo Lorena Bussie e você com certeza é o Franco. 

A garota lhe presenteou com um sorriso simpático, bem diferente de sua cópia rabugenta que sentava atrás do balcão. Tão parecidas e ao mesmo tempo tão diferentes. Foi a primeira coisa que passou em sua cabeça. As duas jovens não pareciam ter mais do que vinte anos. O bom humor daquela que lhe tinha sorrido foi contagiante, a vontade de xingar meio mundo não mais existia naquele momento. 

-Posso saber o porquê de tanta certeza? – 

 Devolveu o sorriso. 

-Bem... Não temos muitos hospedes e quem falou com sua secretária fui eu e só o fato de você ter uma já demonstra que você não é o tipo de hospede habitual, sua entrada aqui confirma minhas suspeitas. 

-E posso saber qual eram?  

Para a Lorena uma brincadeira, mas para o homem mais de uma década mais velho se desenrolava em um agradável flerte. 

-Você com certeza parece se bem ri... 

-Lorena! – a segunda garota que a certo tempo já tinha tido sua presença esquecida, cortou o raciocínio da irmã – Sabe que esse tipo de conversa não é agradável. Agora que ele chegou, volte a nosso quarto e ajeite minha cama, trancarei a porta e levarei Franco até seu quarto. 

Lorena que antes estava radiante, parecia ter murchado como uma criança levando bronca da mãe. Um tímido “boa noite” foi direcionado a Franco antes de seguir as ordens da irmã. O silêncio reinou entre os dois restantes na sala, Francesca encarava Franco com desconfiança, afinal não era tola como a outra Bussie, percebeu o flerte discreto do homem bem mais velho com sua – em sua cabeça - inocente irmã. Levantou-se bruscamente e foi até a porta para tranca-la, passando como um raio ao lado do homem que não se mexeu, mas viu com surpresa a jovem baixinha levantar sem qualquer dificuldade sua mala – que em seu subconsciente se permitia admitir, estava dando trabalho. Não moveu um dedo para ajudá-la, até porque não poderia, ela estava se saindo bem melhor do que ele. Vendo Franco ainda parado no mesmo lugar, a garota que já estava na metade da escada, fez sinal com a cabeça para que ele a seguisse. As escadas eram de uma madeira velha que rangiam tanto quanto a porta, mas pareciam ser resistentes para aguentar seu peso. Existiam algumas poucas fotografias pregadas nas paredes e em todas, duas garotinhas idênticas estavam sempre abraçadas. 

-Vocês são gêmeas? – não teve como não perguntar ao chegarem em uma porta que como toda a madeira do local, parecia maltratada. 

-Descobriu isso sozinho? – a resposta não poderia ter sido mais simpática – Sim, gênio, somos. – e empurrando a porta – Aqui é o seu quarto, fique à vontade e espero que curta a vista para o Cliv. 

-Cliv? – entrou no quarto e olho pela janela sem ver nada além de uma casa na mesma condição daquela que habitava naquele momento. 

-Sim, o mendigo que dorme na porta do nosso vizinho. – e sorrindo debochadamente – Boa noite, senhor Franco. 

O tom dela era algo que demonstrava que ela queria tudo, menos que ele tivesse um boa noite. Até hoje, Franco não sabe dizer de onde veio essa antipatia entre os dois, talvez Francesca apenas soubesse que ele era o tipo de homem que destruiria a sua vida e Franco idem. Talvez se ambos tivessem seguido seus instintos, nada demais teria acontecido, por outro lado por justamente seguirem esses instintos tudo aconteceu. Elise aconteceu. 

Tomar banho não foi um grande sacrifico quando percebeu que pelo menos direito a água quente ele teria. O banheiro não distorcia tanto do lugar, mas reclamar era tudo que ele menos queria naquele momento, dormir parecia uma ideia mais agradável. A cama dura não foi um empecilho para seu sono lhe arrebatar rápido. Um último pensamento foi confuso, ao mesmo tempo que o incomodava ver alguém como Francesca diariamente, era agradável por conviver com Lorena. Dormiu sorrindo. 

No quarto ao lado, o sono demorou a vir para uma das irmãs. Francesca não conseguia deixar de pensar em o que um homem como aquele fazia em um lugar pobre e descaído. O relógio em seu pulso valia mais do que aquele lugar, só tinha visto um daqueles em revistas e em uma das suas andadas pelo centro. Era um homem rico como a própria Lorena diria e seus instintos diziam para mantê-lo longe.  

Mas como poderia? 

A senhora Bussie preparava mais um de seus chás de canela, na manhã seguinte, fazia parte de sua rotinha. Acordava, colocava um de seus vestidos floridos, um perfume forte e adocicado – que para Francesca, era de coçar os olhos –, descia e preparava o café dos hospedes e enquanto a água fervia, ia até a porta da frente para pegar o jornal das mãos de Cliv – que sempre era mais rápido, mas um dia ela o pegaria antes daquele homem sujo – e jogava-lhe um pedaço de pão comprado na noite anterior. Assim que sua chaleira dava sinal, ela separava as xicaras e subia para bater na porta do quarto das netas – com cuidado se houvesse algum hospede. 

Aquela foi uma manhã em que os rituais diários foram quebrados, já que Francesca foi a primeira a acordar e descer para tomar café com a avó - aquilo raramente acontecia, talvez no natal e com muita insistência da irmã. 

-Bom dia, grand-mère

-Bom dia. – A avó deu um carinhoso beijo em sua testa antes de entregar uma das xicaras com o chá já morno – Vi que a porta ao lado da sua estava trancada, o tal do Franco chegou bem tarde, eu suponho. 

-Sim. Já era meia noite, chegou todo sujo, mas suas roupas não condizem muito com o ambiente. – disse e deu um longo gole no chá, mas um motivo de estranheza para a senhora, Francesca odiava seus chás – E não se preocupe, minha irmã fez o papel da anfitriã simpática. 

-Francesca! – a senhora jogou um pedaço de seu pão em sua neta, não era a primeira vez que ela tinha sido mal-educada com um hospede e tinha certeza que não seria a última – Criança incorrigível, o motivo de meus cabelos brancos. – A senhora esbravejava, o que arrancava risadas da mais nova. 

-Grand-mère, tenho certeza que os italianos são mais pontuais do que ele foi, então quem deveria ser corrigido é ele e não eu. 

-Francesca, ele... 

-Tenho que concordar com ela, acabei por não ser pontual e tenho certeza que sua neta tinha mais o que fazer do que me esperar. – as duas Bussies pularam da cadeira com o susto que o homem silencioso as fez sentir. – Não queria faze-las se sentirem vigiadas. 

-Mas já fazendo... – Francesca tentou sussurrar, porém os ouvidos sempre aguçados de sua avó não permitiram que o comentário zombeteiro passasse despercebido.  

Foi com uma cotovelada em suas costelas que a jovem finalmente calou a boca. 

-Deixe-me me desculpar pelo comportamento sempre insolente de minha neta. – A senhora ofereceu-o uma xicara de chá – Espero que goste de chá de canela, é o que normalmente servimos para os hospedes no inverno. – Puxou uma cadeira ao lado oposto da sua na mesa e gentilmente o empurrou pelo ombro. 

Francesca internamente ria da expressão clara de desconforto do homem, mas não moveria um dedo para mudar aquilo, estava sendo uma ótima diversão matinal. 

-Grand-mèredeixe o pobre homem. – Lorena, como uma salvadora para Franco, novamente o tirou das garras de outra Bussie – Espero que tenha dormido bem, essa noite foi bastante fria.  

-Todas foram. – O comentário de sua irmã não foi o suficiente para tirar o sorriso do rosto de Lorena. Franco ficaria muito mal-acostumado. 

-Os cobertores fizeram bem o seu papel. – Devolveu o sorriso com um que quase fez Francesca vomitar. 

-Tá, tá. Eu vou vomitar. – Engolindo o resto do seu pão, a gêmea rabugenta empurrou a cadeira e se encaminhou para o quintal – Lo, as folhas do quintal são suas, vou ver se o Cliv não roubou os panos de chão de novo. 

“Folhas no inverno?” esse provavelmente foi o pensamento de Franco. Mal sabia que essa era a atividade de Francesca no outono e que ela esperou a hora certa de empurrar pra irmã – alguns meses depois.  

-Não esqueça do seu casaco. – Não teria como esquecer, já que o mesmo foi arremessado em sua cara por sua avó – Cuidado, Cesca, esses estupidos estão ficando mais violentos. 

-Se não tivesse onde morar e fosse inverno, eu também ficaria. – E com esse corte, a porta foi fechada bruscamente. 

Franco a olhava fixamente como se a qualquer momento um animal selvagem fosse entrar e devora-los, já Lorena não demonstrava surpresa alguma, o comportamento selvagem da irmã a muito não incomodava, pelo contrário, para ela aquele era o charme da “mais velha” - como sua avó costumava chamar. 

Para a matriarca Bussie, o que Lorena tinha de passividade e frieza, Francesca tinha de fogo, imperativa. Tais características só voltariam a linhagem com sua descendente. Se Elise soubesse de toda história desde o começo, não a julgaria, ela é idêntica à sua mãe

Talvez tenha sido o “bom dia” ou o sorriso não tão simpático, mas a pegada de panos no quintal se transformou em um passeio no subúrbio com Cliv, que fazia muitas perguntas inconvenientes. 

-Qual é, fille, eu te ajudei tantas vezes. 

 O homem parecia um segurança malvestido que cercava a garota e não deixava que ninguém se aproximasse. As Bussies eram bem conhecidas por ali, talvez por serem as únicas “bem sucedidas” entre todos os outros, e por conhecer as gêmeas desde que eram pequenas, Cliv fazia questão de cuidar delas – mesmo que a única que mostrasse qualquer simpatia pelo mendigo fosse Francesca. Não via diferença entre aqueles desabrigados, ajudava-os sempre que possível e apesar de ser vista com maus olhos por sua avó e pelas poucas amigas pomposas dela, era amiga de boa parte do bairro – entre aqueles que tinham casas e os que não tinham. 

-Te pago um chá com Maria. 

-Que tal comprar um cobertor? – Foi rápida em retrucar, aquela conversa já estava dando-a dor de cabeça. – Talvez já tivesse uma casa se parasse de gastar dinheiro com besteiras. 

-Tentar te agradar é uma besteira? 

-Sim, a partir do momento que você não tem condições para faze-lo. 

-Preocupação, jovem senhora? – Sorriu, era raro Francesca demonstrar preocupação. 

-Sensatez, eu diria. – usando o homem como apoio, passou por cima de uma poça de lama – O que eu mais odeio na neve é quando ela derrete. Lindo, mas podre. 

-Não acha que é negativa demais? 

-Eu te vi gastando todo seu dinheiro com bebidas no último mês e nem por isso estou te criticando... – Cliv nem teve como argumentar – Mesmo que eu sinta que devesse. 

A preocupação de Francesca era palpável, porém a frieza fingida não deixava que essa sua parte aparecesse. Cliv percebeu que não teria mais chance com aquele assunto, falar sobre o homem misterioso e rico não era algo que a jovem estivesse disposta a fazer e, pela raiva demonstrada, era óbvio que tinha discutido com a irmã. 

-Não, eu não discuti com ela. – Prevendo o pensamento do amigo, ela falou – Talvez seja isso que esteja faltando na minha semana, uma discussão com aquela idiota. 

Ambos riram. Era verdade, raramente aquelas duas não estavam discutindo pelos mais diversos motivos, o mais recente tinha sido a cor das cortinas – Lorena queria um amarelo claro, já Francesca achava que o azul marinho faria jus ao seu dever de escurecer o quarto. Como não chegaram em um consenso, elas continuam sem cortina. Apesar das brigas, as garotas eram melhores amigas, ninguém se atrevia a mexer com a “irmã da Francesca” pois sabiam que sofreriam as consequências, apesar de não ser naturalmente briguenta, ela não levava desaforos então acabava por voltar com um nariz sangrando para casa. Cliv, seu fiel escudeiro, sempre que podia estava ajudando a colocar os idiotas daquela região para correr. Enquanto Francesca era paparicada pela irmã em casa, Cliv tinha que esperar a garota fugir durante a noite com uma caixa de remédios e ataduras para limpar suas feridas, mesmo assim ele não se arrependia de estar com ela, “no dia em que eu morrer, você será a única a sentir minha falta” era o que ele sempre dizia e para a melancolia da mais nova, ela sabia que era verdade. 

Não fizeram nada produtivo naquele dia, Cliv até tentava trabalhar em alguns bicos e se Francesca estivesse com ele, com certeza o ajudava – mesmo contra a vontade do mais velho. Eles engraxaram alguns sapatos no centro, como não tinham um banquinho, Francesca se ajoelhava e segurava os sapatos do cliente – o estado em que seu vestido chegava em casa já era outra história que, muito provavelmente, lhe renderiam alguns gritos da avó. Muitos agradeciam e parabenizavam Cliv pela boa criação da filha, o que o enchia de orgulho e fazia a garota rir, mas, por outro lado, se o agradecimento viesse seguido de um galanteio para a mais nova, Francesca tinha que segurar o amigo para que ele não desse um soco bem dado na cara do sem vergonha. Uma vez chegaram até a elogiar a “esposa devota que ajudava seu marido em todas as ocasiões”, ambos não sabiam se riam ou se batiam no cliente que teve a coragem de imaginar um relacionamento entre eles – Cliv tinha idade para ser pai da mais nova. 

No final do dia, Franco que tinha dado uma volta pela região, tinha se esbarrado com uma cena um tanto inusitada: uma das Bussies – a mais resmungona e chata na opinião dele – montada nas costas de um mendigo, enquanto o mesmo corria e tentava não derrubar a garota e uma mochila rasgada. Os dois riam como se não fossem vistos com estranheza pelos olhares de todos. 

Naquele momento Franco não viu Francesca só como uma resmungona, ela parecia mais humana do que os outros ao seu redor. Tão semelhante a outra Bussie... 

-Grand-mèrevocê sabe como é minha irmã, deixe que eu lavo as roupas dela.  

Quando voltou para a pousada, Franco deu de cara com a senhora Bussie xingando aos quatro ventos a neta rebelde. Lorena tentava acalmar a senhora que esmurrava um vestido sujo de lama e, pela água em toda cozinha, ele presumiu que estava sendo lavado. Na pia da cozinha. 

-Não, essa pirralha só me dá trabalho. – Virou-se tão bruscamente para neta, que molhou o vestido dela – Fica correndo por aí com aquele homem, quando não chega com o vestido sujo, volta machucada como se tivesse entrado em uma briga, o que, com certeza, faz. Só me dá trabalho. TRABALHO! 

Franco preferiu não interromper o momento de fúria da senhora, afinal, sua neta já estava tendo trabalho. Quando subiu em direção a seu quarto, ainda pode ver a outra gêmea em seu quarto, penteando os cabelos recém lavados. 

-Ela ainda está brava?  

A pergunta veio daquela que ele preferiu não perturbar. Não se aproximou, apenas encarou a jovem que ainda tentava desembaraçar o cabelo, sentada na cama. Ela também não o encarou diretamente, o chão parecia ser mais interessante. 

-Está, mas sua irmã parece ser uma boa advogada. – O tom passivo fez com que Francesca finalmente o encarasse.  

-Ela seria, mas o que tem de bondade e lábia, tem de inocência. 

-Achei que para se ter lábia, não seria cabível ter inocência. 

-Ela consegue ter os dois e, às vezes, ser horrível em ambos. 

Para a surpresa de Franco, o comentário veio acompanhado de uma suave risada. Francesca parecia estar desarmada naquele momento, seu amigo deve ter feito um bom trabalho em diverti-la. 

-Então, fale a verdade, o que um homem rico como você faz em um lugar decadente como esse? E não venha me dizer que não é, só o seu relógio já compraria esse lugar. 

-Bem, exagero da sua parte, mas tem razão na parte do rico. – Franco sorriu – Queria um lugar calmo para passar meu aniversário e aproveitar para tirar umas férias, acho que para meus companheiros de profissão, lugar calmo é a mesma coisa de lugar abandonado, em minha cabeça eu estava imaginando uma praia caribenha. 

-Não temos uma praia, mas teremos uma poça d’água naquele amontoado de neve daqui alguns meses. 

Os dois riram alegremente, com certeza estavam se entendendo, lentamente, mas estavam. Depois do pequeno diálogo, um “boa noite” soou dos dois lados e Franco se trancou em seu quarto, aquela garota talvez não fosse tão inconveniente, apenas presa em uma gaiola enferrujada. 

A primeira semana de Franco na pousada passou como a neve que caiu mais intensamente naqueles dias. Francesca não demonstrava tanta simpatia, mas Franco logo percebeu que era só o jeito da garota, o completo oposto da irmã. Lorena era simpática e preocupada, não só com Franco, mas com outro hospede que dormia no quarto ao lado. A senhora Finnigan, estava de passagem pela cidade e não tinha muito dinheiro, amiga de longa data da senhora Bussie, sempre corria para lá em seus rompantes de viajante falida.  

Todas as manhãs, Lorena ajudava a avó a servir os hospedes com seu não-tão-bom-assim chá de canela e alguns pães que Francesca ia comprar na padaria com a companhia de seu fiel escudeiro – que não era tolo e cobrava alguns pães. Em seu pouco tempo ali, percebeu que Francesca era, em uma visão rasa das mulheres, o “homem da casa” – como a senhora Finnigan chamava –, era ela que fazia os trabalhos mais pesados e saia sem medo pelas ruas perigosas. Em seu ponto de vista, Francesca era a mulher da casa, com toda a maturidade que aquele título lhe daria. 

A responsabilidade que Francesca assumiu era tão parecida com a dela. 


Notas Finais


Tanta coisa aconteceu... Eu entrei na faculdade, ainda quero ser escritora, mesmo com o medo de morar de baixo da ponte... Prometo não publicar só no próximo ano agora :v
Desculpem pelo hiato supremo, eu não dou conta da minha insegurança...

Link pra quem quiser entrar no grupo do Whats: https://chat.whatsapp.com/FxP9BIHFnsO19lYmhKiNKf

Até a próxima (fazia tanto tempo que não dizia essas coisas)


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