História Love Me Like You Do - You're The Light, You're The Night

01 - You're The Light, You're The Night

A cidade estava calma e refletia a mais pura harmonia entre céu e terra, a mansão era uma das últimas casas da rua, as enormes grades pretas separavam o caminho da rua com casas simples e humildes do caminho para o "palácio", no topo de cada barra estava uma lâmina dourada criando uma proteção básica junto a algumas partes do enorme muro de fundo, o enorme jardim chamava a atenção de quem passava na rua, as esculturas de anjos espalhadas deixavam o local parecido com um refúgio espiritual, exceto uma que estava quebrada, as asas haviam sido arrancadas brutalmente deixando a escultura com um semblante assustador e ao lado havia uma placa dizendo: "Lúcifer mora aqui.", as poucas árvores e flores eram a natureza pessoal daquele espaço. A mansão pertencia antes a Giles Shurley e após sua morte foi entregue de herança para seu neto mais novo, o preferido Chuck Shurley, Chuck e Amara vieram ao mundo como gêmeos fraternos, as dificuldades no parto levaram sua bondosa mãe a falecer e seu pai que estava voltando de viagem morreu sem conhecer os filhos, por conta disso foram criados pelo avô paterno, que sempre cuidou e educou eles, porém Amara começou a ter surtos e querer matar o irmão por inveja e poder, queria herdar tudo sozinha, depois de muita relutância decidiram internar a maluca, Chuck então conheceu Kael Novak, a mulher da sua vida, se casaram e desse relacionamento nasceram os seus filhos e filhas: Michael, Lúcifer, Gabriel, Gadreel, Anna, Hester, Castiel, Hannah e Samandriel, sua esposa reformou a mansão e deu seu toque artístico, mas uma infelicidade abalou a família, Kael morreu no inverno e não pode acompanhar o crescimento dos seus filhos, a casa havia perdido a luz, a música que ela cantava antes de dormir para as crianças ficou gravada em suas memórias, Chuck passou meses em tratamento para se curar da depressão e foi assim que conheceu Naomi, sua atual esposa, ela o ajudou a colocar disciplina em casa e prosperar até mesmo os negócios da empresa, essa dividida em várias ramificações, Chuck passou a ter pouco tempo com os filhos e sempre que aparecia era respeitado e temido, agora na fase da juventude as coisas pareciam complicar...adolescentes, Michael com 22 anos está cursando Direito, Lúcifer com 21 anos está cursando Física, Gabriel com 20 anos está cursando Gastronomia, Gadreel com 19 anos está cursando Medicina, seus filhos mais velhos estão todos bem encaminhados, exceto Lúcifer que ainda apresenta rebeldia constante, os mais novos ainda estão no colégio, Anna e Hester são gêmeas fraternas apesar de serem MUITO diferentes e estão com 17 anos, ambas no 3º ano do Ensino Médio, Castiel com 16 anos se encontra no 2º ano, Hannah com 15 anos está no 1º ano e por fim Samandriel com 13 ainda no 8º ano do Ensino Fundamental II.

A manhã parecia calma demais e Castiel começou a estranhar, estava deitado, apenas descansando, ainda sonolento, lembrou que era fim de semana e poderia passar o dia relaxando, encarou as paredes azuis de seu quarto e pensou em como sua vida era tão agitada, ele parecia ser invisível dentro de casa, seus irmãos eram de fato muito barulhentos, mas ele amava cada um com seu jeito maluco e diferente de ser, seu pai mal ficava com eles e sua madrasta era rigorosa, apesar de ser uma "boa" pessoa, queria muito que tudo fosse diferente e sua mãe ainda estivesse viva, as vezes queria fugir e nunca mais voltar, pois a dor de olhar para o quadro dela no corredor machucava, machucava todos eles, ainda debaixo do cobertor puxou o celular do criado-mudo e visualizou as horas "08:30" após isso, o barulho do despertador localizado no corredor começou a acordar todos, que saiam de seus quartos sonolentos e de pijama, o enorme corredor tinha 10 quartos, cada um tinha o seu e mais uma vez Castiel se viu preso a rotina.

- PORRA, QUE DROGA DE CASA, A PESSOA NEM PODE MAIS DORMIR. - falava Lúcifer escandalosamente.

- Lú...para de drama, você dormiu cedo ontem. - Gabriel ria enquanto todos se direcionavam para o enorme banheiro sofisticado para realizarem suas higienes matinais e economizarem tempo.

- Alguém viu minha escova de cabelo? - perguntava Hester enquanto parava arrumando o cabelo em frente ao espelho.

- Não fui eu. - dizia Hannah começando a escovar os dentes.

- Acho que vi a Anna pegando ontem no seu quarto. - Samandriel disse e todos pararam o que estavam fazendo para olhar Anna que penteava os fios ruivos delicadamente que parou na mesma hora ao ouvir tal acusação.

- Seu mentiroso! - falava tentando se defender. - Eu não peguei nada, essa é a minha escova. - mostrou a escova para os irmãos e cometeu uma falha ao fazer isso, pois acabou expondo a letra H em detalhes dourados gravado na parte de trás da escova, Hester tinha essa mania de colocar seu nome em todas suas coisas.

- É a minha sua vaca, devolva AGORA. - Hester pulou em cima de Anna e começaram a se estapear feito garotinhas na infância.

- Não é não, sua maluca. - Anna revidava começando a puxar o cabelo de Hester.

- Meninas parem logo com isso. - pela primeira vez naquela manhã Michael se pronunciava, nenhum dos meninos movia um dedo para interferir na briga das irmãs, apenas observavam.

- É tão raro ver briga aqui em casa, rsrsrs... - Gadreel começou a rir e gravar as meninas rolando no chão do banheiro.

- Aposto 10 potes de sorvete como Anna vai ganhar... - falou Lúcifer para Gabriel.

- Aposto 15 que vai ser a Hester... - sorriu devolvendo a proposta ao irmão, eles sempre faziam isso, apostavam tudo.

- Meninas parem logo antes que... - Michael foi interrompido ao sentir os olhos de alguém percorrer todo o lugar e procurar o problema.

- Posso saber o que está acontecendo aqui? - Naomi os encarava furiosamente, odiava barulhos, odiava desordem, odiava falta de responsabilidade, por isso criou as regras e os horários.

- N-nada...já resolvemos tudo. - Anna levantou entregando a escova para Hester e o silêncio prevaleceu no local.

- Ótimo, agora vão se arrumar, hoje é sábado, dia do passeio matinal com o pai de vocês, ele chegou cansado ontem, então não o importunem com assuntos desnecessários. - após falar, ela virou as costas e saiu.

- Me deve 10 potes de sorvete Lúcifer. - Gabriel sorriu e todos voltaram para seus afazeres.

O café da manhã estava perfeitamente arrumado sobre a mesa, todos estavam arrumados e sentados em seus lugares, quando viram o pai descer as escadas levantaram e aguardaram ele se aproximar.

- Bom dia crianças! - falou animado e sorridente, algo que era muito raro de acontecer.

- Bom dia pai! - responderam em coro, quando finalmente Chuck se sentou, eles o acompanharam, Naomi estava ao lado do marido, radiante e todos começaram a se alimentar.

- Como estão na faculdade? - ele perguntou tentando iniciar um diálogo.

- Está indo maravilhosamente bem meu pai. - respondeu Michael todo orgulhoso, ele amava ser reconhecido pelo pai como o filho obediente.

- A mesma merda de sempre... - Lúcifer falou ignorando todos, ele odiava esse tipo de conversa, não gostava de compartilhar, Chuck se culpava por não dar atenção suficiente para seus filhos, mas o trabalho o consumia.

- Indo bem! - falou Gabriel.

- Eu também, estou amando o curso. - completou Gadreel.

- E a escola? - dessa vez a pergunta era para os mais novos.

- Assim...eu meio que fiquei de recuperação em História, mas logo recupero. - Anna disse nervosamente.

- Só tiro 10 papai, sou a melhor da turma e ainda me chamaram para ser líder de torcida. - Hester se orgulhava, era sem dúvidas a princesinha do papai.

- Também estou tirando notas boas e ajudo Samandriel sempre que posso. - Hannah disse confiante.

- Exatamente papai. - Samandriel ficou com os olhinhos brilhando ao receber um sorriso do pai, o garoto era o mais carente de todos ali.

- Cas? Não vai falar nada filho? - Chuck perguntou e na mesma hora como coincidência seus irmãos passaram a encara-lo.

- ...nada demais... - falou sussurrando, estava feliz por ter o pai por perto, mas ainda assim era algo tão "artificial", sentiu o celular em seu bolso vibrar e quando leu a mensagem quase virou de costas, era de seu melhor amigo Brandon avisando que tinha sofrido um acidente e talvez não pudesse ir fazer o trabalho da escola no Domingo de manhã, Cas levantou no mesmo instante assustando todos. - Gadreel, pode me levar ao hospital? Aquele que você disse que ia começar a estagiar? - perguntou e o irmão parou de comer e o olhou.

- O que aconteceu? - seu pai perguntou.

- Meu amigo sofreu um acidente, o senhor permitiria que eu fosse o visitar? - perguntou rapidamente.

- Claro! Gadreel leve seu irmão, tomem cuidado e voltem cedo. - Chuck falou e ambos subiram as escadas correndo, pegaram suas coisas e foram direto para o hospital no carro de Gadreel.

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Castiel entrou vagarosamente no quarto em que o outro se encontrava e o mesmo abriu um enorme sorriso, se conheceram na infância e desde então se tornaram inseparáveis, Brandon tinha a pele branca, os cabelos castanhos em um tom escuro e os olhos verdes, porém existia pessoas que diriam que eles eram azuis, confuso...Cas se aproximou e sentou ao seu lado, Brandon se sentia mais confortável com Cas ali, isso o acalmava, o garoto contou como machucou a perna e depois de muito tempo os dois estavam rindo de piadas sem noção que Brandon insistia em fazer, após isso se despediram com um abraço apertado, pois Brandon ainda faria alguns exames no resto do dia, Gadreel aproveitou e foi até a direção do hospital confirmar seu estágio enquanto isso Cas passeava pelos corredores conversando com os idosos e crianças doentes, aquilo mexia com ele, era um lugar tão desconhecido, mas o convidava, seguindo esse instinto caminhou até a recepção onde pegou uma revista e sentou começando a procurar algo de interessante enquanto pensava na sua vida...

"Para onde correr? Para onde fugir? Qual o melhor lugar para se esconder dessa confusão que é o nosso mundo? Cansaço seria uma palavra tão comum no vocabulário, quem diria que um hospital poderia simplesmente guardar um mundo novo e diferente..." talvez a simplicidade da cor branca em harmonia com o bege acalmasse tudo, mas a parte externa exige sempre que um pouco de loucura modifique tudo, as paredes brancas não seriam nada comparadas a agitação dos olhos verdes que entraram apressados pelas portas acompanhados de uma garota ruiva que se dirigiu a recepção e definitivamente o bege do seu sobretudo não ocultaria o seu brilho azul em reflexo com a natureza calma e pacífica do seu ser...

- Algum problema? - perguntou o jovem, dono dos olhos verdes com o rosto machucado se sentando e o encarando de uma forma rude e feições brutas que se tornavam um tanto...engraçadas e foi aí que Castiel percebeu que o encarava.

- N-não...nenhum... - cochichou, quase falhando ao notar certa vergonha crescendo dentro de si.

- Humm...pare de ser estranho e ficar me encarando assim. - falou pensativo e logo após lançou um sorriso aberto e convidativo, mesmo com a face machucada o sorriso o deixava ainda mais belo.

- Eu não sou estranho...você que é... - falou se defendendo e decidiu continuar apenas a folhear a revista que estava em mãos, já que sua atenção estava presa a outra coisa...

- É, talvez eu seja... - encarou o menor com um olhar triste e desviou logo em seguida, olhando para a sua amiga que tinha o ajudado a chegar ao hospital ainda na recepção - Mas e você? O que faz aqui? - perguntou após fazer uma análise do garoto e constatar que fisicamente ele parecia...saudável.

- Eu? Bom...visitando um amigo, ele sofreu um acidente, mas já está bem. - o sorriso que acompanhou a frase foi doce e delicado e tinha uma ponta de alívio, ao observa-lo o outro sentiu algo o incomodar, de uma forma diferente e que mexeu com seu emocional, talvez estivesse ficando louco, mas teve certeza que estava reparando no garoto de uma forma rara, do jeito que jamais olhou para outro alguém...estava fascinado.

- Dia agitado não acha? - perguntou tentando prolongar a conversa.

- Verdade, parece que o clima vai esfriar. - falou olhando através dos vidros o céu ficar nublado.

- Gosta de chuva? - perguntou retirando a jaqueta de couro.

- Acho que falar sobre as coisas que eu gosto não são necessárias para um...estranho. - sorriu timidamente. - O que aconteceu com você? - perguntou não aguentando mais a curiosidade.

- Me envolvi numa briga, mas então...não vai me dizer nem mesmo seu nome? - perguntou insistindo e o garoto estava corando, Cas não tinha muita facilidade em conversar com garotos e do nada um estranho com a face arrebentada começa a puxar assunto com ele, talvez o outro só estivesse precisando relaxar e acalmar os nervos, esfriar a cabeça e Cas de certo modo atraía as pessoas com seu olhar calmo transmitindo paz.

- M-meu nome é...Castiel Novak. - falou por fim largando a revista e disposto a conversar com o seu colega tagarela e estranho. - E o seu?

- Dean Winchester e aquela ali é a Charlie Bradbury, minha amiga de infância, ela me ajudou a sair da briga.

- Nossa! Seu rosto está muito machucado... - falou se levantando e por instinto tocou a face do outro preocupado e nem mesmo percebeu a proximidade dos corpos ou simplesmente como o outro o observava.

- Estou tão feio assim? - perguntou fazendo um pequeno drama e sorriu logo após fazendo o garoto se afastar ao perceber onde estava.

- Não...digo, você está machucado... - olhou em volta querendo sumir dali, maldita hora que começou a conversar com o outro, estava totalmente envergonhado, percebeu seu irmão se aproximando e finalmente suspirou aliviado.

- Então? Poderia me contar onde você mora? Ou me passar seu número? Gostei de conversar com você, me deixou mais calmo, eu agradeço. - falou mordendo o lábio inferior, uma mania que segundo Charlie era "Gay demais".

- Meu número? - Cas estava ficando confuso com o rumo da conversa rápida.

- Sim, não se preocupe não vou te sequestrar, apenas gostei de você e quero ser seu amigo... - ele falou quase perdido no olhar do garoto bondoso.

- Cas! Vamos? Já visitou seu namoradinho, agora vamos para casa. - Gadreel falou se aproximando.

- Gadreel! - Cas ficou totalmente vermelho de vergonha e sabia que estava sendo encarado por Dean.

- Vamos logo... - Gadreel falou saindo e Cas sentiu-se obrigado a finalizar o diálogo.

- Até qualquer dia Dean, me perdoe por sair assim as pressas e espero que melhore. - Castiel pegou suas coisas e saiu correndo para fora do hospital, ao chegar em casa uma coisa diferente o abraçava, pela primeira vez alguém pareceu querer saber sobre ele, mesmo que esse alguém fosse um estranho do hospital, talvez uma nova luz se acendia em seu coração o enchendo de esperança e naquela noite mesmo com o sangue sobre a face do garoto, ele lembraria apenas dos olhos verdes e fortes que conheceu naquele dia, quem diria que uma conversa de alguns minutos poderia gerar esperança.