Todos se reuniram numa mesa e começaram a beber, Malu ficava bebericando e enrolando com o copo nas mãos, Julian estava mais concentrado em mexer no celular, Priscila puxou Benício para conversar e Giovana levou Valíria para dar uma volta.
— Benício, vou ser logo direta: você tem namorada? – ele riu.
— Não. – Priscila sorriu.
— Ficante? – ele arqueou as sobrancelhas.
— Na verdade, esses dias eu fiquei com alguém. Pedi o número dela porque eu queria continuar mas ela não me deu. – Malu o olhou, mas ele estava conversando com Priscila e não a viu.
— Bem, isso é um ponto final, não?
—É, eu não paro de pensar nela. – Priscila murchou o semblante.
— Que pena! – ele a olhou e sorriu como quem se desculpa. Ficaram em silêncio e ela foi encontrar Giovana e Valíria. Ao vê-las, foi logo dizendo.
— Estou chateada com o Benício.
— Por que? O que ele fez? – Giovana quis saber.
— Ele não está disponível.
— Ele tem namorada? – Valíria questionou.
— Não, mas disse que esses dias ficou com alguém e não consegue esquecê-la. – O coração de Valíria bateu mais forte ao ouvir essas palavras, Giovana riu da amiga.
— Ah Pri, desencana! Vamos dar uma volta e flertar. – elas saíram e Valíria ficou sozinha pensando. Benício a viu e pediu licença, saindo da mesa e deixando Malu sozinha com Julian. Ela suspirava triste, pensava em ir embora, realmente aquele tipo de programa não era para ela, e ainda por cima, Julian ignorava sua presença totalmente, envolvido naquele celular, até que por fim, ele o deixou em cima da mesa e a olhou, sorrindo.
— Acabei de receber uma ótima notícia! – ela o olhou sem muito entusiasmo.
— Foi?
— Minha noiva acabou de me dizer que vai começar as ver os vestidos para o casamento. – Malu o olhou como se não o visse, como se olhasse através dele, até que se recompôs e sorriu.
— Que bom!
— É. Ela estava protelando essa tarefa, mas disse que vai começar amanhã. – Malu deu um sorriso fraco, suspirou e decidiu perguntar.
— Você está mesmo animado para o casamento?
— Sim. É o que eu sempre quis. – Malu apenas o olhava. — Sabe, eu sempre achei que um relacionamento amoroso tem que ter um propósito, um fim, não ficar por ficar. Não que eu não tenha feito isso, acho que tem a época para diversão, mas a verdade é que sempre pensei assim.
— E acha que ela é a pessoa certa? – ele o olhou por longos segundos, olhos azuis nos olhos castanhos e pela primeira vez, Malu não se sentiu impelida a desviar o olhar, ele quem fez isso primeiro e disse.
— Acho que sim. Tem uma frase do Saint Exupéry que diz: “amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção”. Eu acredito que a Scarlet seja essa pessoa que quer o mesmo que eu. – Malu baixou os olhos, mas disse.
— Desejo que seja feliz. De verdade. Você é uma pessoa legal, boa. Gosto muito de você Julian. – ele sorriu.
— Também gosto muito de você, Maria Lúcia, você é uma garota muito gentil. – ela sorriu de canto. — Tem namorado? – Malu negou com a cabeça, Julian pareceu surpreso. — Como podem estar deixando alguém como você escapar? – ela deu de ombros e permaneceu calada, observando as gotas de água que se formavam do lado de fora do seu copo. — O que foi?
— Não é nada. – Julian tocou sua mão e Malu sentiu o calor passar pelo seu corpo.
— Me fala. – a voz dele era baixa, quase sussurrada, Malu sentiu o coração acelerar e o olhou, embora soubesse que encará-lo seria sua ruína.
— Eu queria poder te falar. – ele a olhou com uma expressão de quem tenta entender e acariciou a mão dela, Malu entreabriu os lábios e arfou baixinho.
— Olha, eu sei que não temos a mesma relação que você tem com a Valíria, mas se quiser conversar, pode confiar em mim.
— Não é nada. Mas eu agradeço. – ele sorriu de canto e ela puxou a mão da dele. — Tenho que ir. Lembra que falei que esse tipo de lugar não é minha praia? – ele assentiu sorrindo. — Tchau!
— Tchau!
*****
Valíria encontrou-se com Benício que a chamou para sentarem numa mesa, eles foram e começaram a conversar amenidades, Malu aproximou-se.
— Eu já vou.
— Mas já? – Valíria admirou-se.
— Tenho dor de cabeça.
— Tenho uma aspirina aqui, se quiser. – Benício ofereceu.
— Não, obrigada. Sou um pouco avessa a ficar tomando remédio assim, vou pra casa fazer um chá. Até amanhã e você juízo. – disse para Valíria que sorriu. Enquanto Malu se afastava ela olhou e viu que Julian ainda estava na mesa e comentou em voz alta.
— Ela estava com o Julian e já vai? Achei que não ia querer ir embora nunca!
— Como assim? – Valíria olhou para Benício que tinha um sorriso malicioso.
— O quê?
— Eu ouvi e não sou bobo.
— Não te acusaria disso. – ele riu.
— Me explica, sou uma boa pessoa. – Valíria sorriu.
— Sei que você é legal, gato, gostoso, mas não sei se sabe guardar segredo.
— Sangue italiano minha filha, sangue de mafioso. – ele disse apontando para o braço, Valíria riu alto. — Brincadeira, não tem nenhum mafioso na família.
— Ai, tá bom. Mas tem que prometer que não vai falar disso com ninguém!
— Lo prometto.
— Desde que entrou na Thunder a Malu tem um tombo, uma queda em parábola pelo Julian.
— Sério?
— Uhum.
— Que pena! Quero dizer, por ele ser comprometido.
— Pois é. Ela sofre muito, a Malu é quase um anjo, inocente, meiga, romântica. Já disse para esquecê-lo, que não vale a pena ficar sofrendo assim, mas ela diz que não consegue porque gosta muito dele.
— Poxa, fiquei triste agora pela Maluzinha. Ela é uma garota tão legal e o Julian é um cara super bacana, acho que eles poderiam dar super certo.
— Também shippo eles, mas fazer o quê?
— Ele vai casar.
— Pois é. O que acha da dita cuja?
— Sinceridade?
— Óbvio!
— Acho ela pedante, esnobe. Eu e outros amigos nos perguntamos o que alguém como ele, faz com alguém do tipo dela, eles não tem muito em comum. Mas o cara apaixonado né. – deu de ombros.
— É, perde a oportunidade de olhar ao seu redor.
— E o Julian é sério nessas coisas, traição não é com ele.
— Nem com a Malu, pode apostar.
— É a vida! Não podemos perder as oportunidades que surgem. – ele disse a encarando profundamente, Valíria desviou o olhar e falou.
— Essa garrafa ainda está no início, vamos fazer um jogo?
— Eu nunca? – ela sorriu.
— Exatamente.
— Só se for agora. – e serviu os copos. — Primeiro as damas.
— Eu nunca viajei para outro país. – Benício bebeu. — Pra onde você foi?
— Itália! Eu não menti sobre o sangue italiano. Minha vez. Eu nunca... eu nunca fingi estar doente pra faltar o trabalho. – nenhum dos dois bebeu e eles sorriram. — Honestos!
— Claro! Hã, eu nunca peguei uma caneta emprestada e não devolvi. – Benício sorriu e bebeu. — Cadê a honestidade?
— Foi só uma vez. Eu nunca... nunca traí. – ninguém bebeu. — Honestos de novo! – ela sorriu.
— Eu nunca fiquei com um primo. – Benício bebeu de novo. Valíria riu dele.
— Eu nunca... – ele a olhou e não conseguiu pensar em mais nada. — Nunca vi ninguém tão bonita quanto você. – Valíria o olhou.
— Não vale!
— Pra mim vale. – ela passou o dedo pela água que se acumulava na garrafa.
— Eu nunca enrolei no trabalho. Mentira, enrolei sim. – eles riram e beberam.
— Eu nunca fiquei com mulher de amigo. – ninguém bebeu.
— Eu nunca fiquei com alguém do trabalho. – Benício bebeu e Valíria o olhou questionando.
— De fato nunca fiquei com ninguém do trabalho, mas ficamos antes da entrevista e eu consegui o emprego, então.
— Meu Deus! – Valíria riu.
— Minha vez. Eu nunca fui casado. – Valíria hesitou, mas bebeu. Benício arregalou os olhos.
— Eu quase casei.
— Quer explicar?
— Eu era mais nova e comecei a namorar com um rapaz de uma igreja, perdemos a virgindade, a mãe dele ficou sabendo e ela era cheia de certezas, de preconceitos, enfim. Ela disse que não podíamos viver em pecado e que tínhamos que casar, ele me pediu em noivado e eu aceitei, resolvemos tudo, eu estava nas nuvens, chegou o grande dia e lá estava eu, de véu, grinalda e tudo que tinha direito, parecia uma princesa, quando o carro estacionou na igreja, ele ainda não tinha chegado, eu fiquei nervosa, mas achei que era normal, até que ele chegou e foi até o carro, eu pirei porque ele não podia me ver antes e blá, blá, blá. Mas ele disse que precisava falar, que era urgente e eu o deixei entrar, então ele me disse que não podia casar, que era uma loucura, que ele não estava preparado, que não tinha certeza sobre o que sentia, que não seríamos felizes desse jeito, pediu perdão e saiu. E assim acabou o meu conto de fadas, desde esse dia eu decidi não me envolver mais com ninguém.
— Que babaca! Fazer isso com você!
— Foi melhor assim! Tem coisa que não é pra ser. – ele segurou sua mão.
— E tem coisa que a vida nos traz e não devemos ignorar. – Valíria o olhou nos olhos. — Abre uma exceção pra mim! Eu não sou um babaca. – ela sorriu.
— Eu não sei.
— Me deixa te convencer.
— Não quero me magoar de novo.
— Nem eu quero te magoar. – eles continuaram se olhando.
— Vou pensar. – ele sorriu.
— Já é alguma coisa.
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