Na hora do almoço a porta da frente abriu num estrondo e a figura de Anya entrou em foco. Ela parecia estar mais alta do que a última vez que nos encontramos e estava acompanhada de um semblante conhecido.
- Lexie! – Raven gritou do corredor de entrada.
A risada que preencheu a casa foi alta e barulhenta. Raven era a melhor amiga de Anya e sempre que eu estava visitando a casa, ela fazia questão de aparecer para implicar comigo. Eu sabia que no fundo aquela era a forma dela demonstrar que gostava de mim.
- Você não está carregando nada mortal nesses bolsos, está? – perguntei séria ao observar ela se aproximando.
- Com medo de me abraçar, Lexie?
- Não, mas tenho medo de ficar sem um membro se fizer isso – impliquei.
Ouvi Anya e Tio Gus rirem com mais vontade, ao mesmo tempo que senti os braços de Raven me apertarem em um abraço.
- Você sabe que não foi minha intenção deixar você para trás da última vez.
- Claro...por isso tive que gastar minhas economias comprando uma caixa de correio nova para os Griffin.
- Você não precisava fazer isso – Anya se pronunciou – Era o seu último dia aqui de qualquer forma.
- Eu teria coberto vocês, se as mocinhas tivessem assumido a culpa.
- Isso não seria justo com o senhor, tio – retruquei – E Jake sempre foi tão legal comigo, que era uma questão de honra pagar pelo prejuízo.
O clima na cozinha mudou depois da minha declaração, de repente Raven não estava mais sorrindo divertida e caminhava para a bancada no meio da cozinha em silêncio. Ninguém falou nada por um bom tempo e a cada segundo eu ficava mais confusa.
- Vamos comer – Tio Gus quebrou o silêncio.
- Eu acho uma ótima ideia – Raven se adiantou para pegar os pratos no armário.
Durante o almoço Raven e Anya me entreteram com as novidades do penúltimo ano do colégio e como elas tinham conseguido fazer um dos armários de limpeza ir pelos ares. Tio Gustus não estava muito feliz ao escutar a história, mas admitiu estar aliviado que dessa vez elas não foram pegas.
Quando finalmente fomos liberadas da cozinha, depois de organizá-la, só esperei o suficiente para sairmos do alcance do meu tio para perguntar:
- Vocês vão me contar o motivo daquele clima estranho na cozinha ou vão fingir que ele não aconteceu?
Observei Anya e Raven trocarem um olhar cansado, antes que minha prima falasse:
- Vamos para o meu quarto.
A caminhada até o quarto me pareceu uma marcha fúnebre e quando chegamos ao cômodo o clima não mudou. Anya pulou e sua cama, Raven sentou na cadeira do computador e eu caminhei para sentar no vão da janela. Minutos se passaram até que Raven não suportasse.
- Vamos logo acabar com isso.
- Isso o que? Primeiro, minha mãe falando para não entrar em confusões com Clarke e depois o aquele clima estranho quando falei do Jake. Está acontecendo algum problema com seus vizinhos? – falei de forma apressada.
- Está – Anya falou – Jake não está mais aqui.
- Como não está aqui? Abby e ele estão se divorciando, é isso? – perguntei de forma inocente.
- Seria melhor se eles estivessem.
- Ele morreu, Lexa – Raven disse olhando para o chão – E Clarke não tem sido a mesma desde o acidente.
Meu cérebro congelou com a nova informação, aquilo não poderia ser verdade. Olhei a casa ao lado pela janela, silenciosa demais se comparada ao início das férias do ano anterior.
- Isso não pode ser verdade – me recusei a aceitar.
- Eu sei, mas o que Raven disse é verdade – Anya confirmou – As coisas na casa dos Griffin começaram a ficar ruins quando Clarke começou a namorar Finn Collins a alguns meses.
- Abby não estava feliz com isso, ela e Clarke viviam brigando.
- Finn Collins? O seu ex-namorado encrenqueiro? – perguntei chocada apontando para Raven.
- O próprio.
- Voltando a história – Anya chamando nossa atenção de volta – Elas viviam brigando como Raven disse, um dia Clarke acabou saindo de casa depois de uma discussão e sumiu. Os Griffin estavam desesperados, até que Bellamy escutou um dos caras que andava com Finn comentar sobre Clarke.
- Não foi um comentário lisonjeiro e Bellamy acabou saindo no soco com o cara – Raven acrescentou.
- A questão é, assim que Bellamy se livrou do cara avisou para Abby e Jake, ou melhor, ele tentou avisar Abby – Anya narrou – Ela estava em cirurgia, então Jake foi sozinho até o local buscar Clarke, mas nossa vizinha não queria voltar. A polícia foi chamada até o local e ela acabou dentro do carro com o pai, quando o acidente aconteceu.
- Um motorista da faixa contrária fez uma ultrapassagem de risco e para tentar não bater de frente, Jake puxou o carro para o acostamento – Raven informou – Segundo os policiais tudo aconteceu muito rápido, no momento em que ele parou o carro e tirou o cinto para verificar como Clarke estava, um caminhão bateu na traseira deles.
- Foi uma morte instantânea, pelo que escutei da conversa de Abby com meu pai – Anya completou a história.
- Eu não posso acreditar – murmurei.
- Ninguém parece acreditar ainda – Raven admitiu – Parece que foi ontem que ele veio me dar dicas de aerodinâmica.
- Ou sobre como montar aquela porcaria de prótese que você passou meses enchendo o saco – Anya implicou.
Observei as duas com sorrisos tristes. Claro que elas ainda estavam, elas diariamente viam Jake, eu que o via poucas vezes ao ano estava. Jake Griffin era o tipo de homem que nasceu para ser pai, assim como tio Gus. Cresci com a imagem dele figurando minhas fantasias de ter um pai e agora ele estava morto.
- Como...como foi o funeral?
- Emocionante, mas nada bonito – Raven falou rapidamente.
- Clarke e Abby brigaram durante o funeral, e se antes elas não estavam bem, agora elas definitivamente não estão melhores – Anya disse encolhendo os ombros.
Voltei a encarar a casa ao lado imaginando como aquela família poderia ter desmoronado de forma tão rápida, não faziam nem seis meses da minha última visita e as coisas estavam boas naquela época. As meninas me deram tempo para processar a nova informação e depois voltaram para assuntos mais leves, como a paixão de Raven pelo irmão Blake mais velho.
- Eu sabia que toda aquela tensão era paixão reprimida – impliquei.
- Cala a boca! – Raven atirou um travesseiro em mim.
Depois disso a tarde passou voando com travesseiros cortando o ar quando nossas opiniões divergiam.
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