História Love with lights on - A primeira vez é incidente

Uma semana passou e eu ainda não tinha visto Clarke, nenhum vislumbre sequer. No meu primeiro fim de semana, Indra uma amiga antiga da família, apareceu com um convite para comer e jogar um pouco de boliche. A noite terminou com Indra e eu comemorando nossa vitória de lavada sobre Anya, Raven e tio Gus.

No final da noite, já deitada no quarto de hóspedes fiquei lembrando dos momentos que compartilhei com Jake, e como tudo o que as meninas haviam falado ainda parecia irreal. Não ver Clarke só piorava a situação, conhecendo ela como eu fazia, me dava a sensação que minha amiga não deveria estar em seu melhor momento. Aquilo me deixava inquieta, sem conseguir uma posição confortável para dormir, levantei para abrir a janela e sentar no vão para observar o céu, quando percebi a luz do quarto de Clarke acesa.

Sem pensar muito, me movendo por instinto saí pela janela e caminhei pelo telhado em direção ao quintal tentando não fazer barulho. Usar a árvore que ficava no fundo da casa como escada foi a parte mais complicada, já fazia algum tempo desde a última vez que fiz isso, mas para minha sorte a descida terminou com um baque surdo na grama do quintal. Pular a cerca que dividia os gramados foi fácil, assim como escalar as trepadeiras que levavam até o telhado da casa.

- Clarke? – chamei ao chegar na janela do quarto dela.

Eu não estava preparada para ver a cena que se desenrolava através da janela aberta. Clarke que estava montada em um cara, só com suas roupas de baixo e ao escutar som da minha voz ela saltou caindo ao lado da cama. O cara que ainda estava deitado não poderia parecer mais ridículo, puxando os lençóis para se cobrir.

- Lexa!

- Clarke...eu...me desculpa, eu não sabia que você tinha...merda...eu só vou voltar... – tentei me desculpar desequilibrando um pouco do lado de fora da janela.

- Lexa, respire – Clarke instruiu agarrando a parte da frente da minha blusa e me puxando para dentro do quarto.

Atravessei o vão da janela sem saber ao certo para onde olhar, o cara na cama bufou audivelmente fazendo Clarke lançar um olhar irritado em sua direção.

- Vamos – ela me guiou para fora do quarto.

O percurso para fora do quarto foi rápido e estranho. De alguma forma Clarke conseguiu agarrar uma blusa jogada pelo caminho e caminhar balançando os quadris despreocupadamente, enquanto me guiava.

- Eu não queria interromper seu encontro, Clarke...

- Não se preocupe com isso – Clarke encolheu os ombros – Mas o que exatamente você veio fazer aqui Lexa? – ela perguntou confusa.

- Eu não conseguia dormir, aí levantei para abrir a janela e ver as estrelas um pouco quando vi sua luz acesa...eu não estava pensando quando apareci na sua janela, só que já faz uma semana que cheguei aqui e ainda não tinha te visto...e eu soube o que aconteceu...

- Lex? – Clarke interrompeu colocando uma mão no meu ombro – Respire.

Fiz o que ela pediu e aproveitei para encarar Clarke corretamente pela primeira vez. Ela como Anya também havia crescido e bem...no segundo que meu olhar fixou em seu rosto, um sorriso ameaçava surgir no canto dos lábios de Clarke.

-Isso foi constrangedor – comentei coçando a parte de trás do pescoço.

-Só um pouco – Clarke sorria divertida – Eu não sabia que você estava visitando.

-Uma semana...faz uma semana e eu ainda não tinha te visto, acho...acho que deixei a saudade falar mais alto – confessei sem jeito.

Clarke sorriu me puxando para um abraço, ninguém poderia me culpa por sentir meu corpo esquentar sob o toque dela e também não ajudava que as pernas despidas dela estavam roçando nas minhas. Suspirei profundamente tentando me controlar e amenizar as reações do meu corpo, ao mesmo tempo que Clarke se afastava.

-Sua amiga vai participar também? - a voz do cara que estava com Clarke cortou o ar.

-Acho que é melhor eu voltar antes que ele venha propor isso cara a cara – Clarke disse sem jeito.

-Isso sim seria constrangedor.

-Você não pode culpar ele poder imaginar uma coisa dessas, depois de ver você invadindo o quarto pela janela vestida assim – Clarke disse e pude sentir seu olhar queimando pelo meu corpo – Vamos, vou te levar até a porta.

Senti minhas orelhas esquentarem, percebendo pela primeira vez que o que estava vestindo não era exatamente a roupa mais adequada. Encarei as costas de Clarke se afastando no corredor e senti meus olhos mais uma vez caírem nos quadris dela, gingando preguiçosamente a cada passada.

-Lexa, você vem?  

-Claro – respondi piscando rápido e acompanhado ela.

Caminhamos em silêncio pela casa escura e mesmo sem um boa olhada no local como aconteceria se fosse mais claro, a casa ainda gritava a presença de Jake. Pensar nisso me fez lembrar da história que Raven e Anya contaram sobre o acidente, de como as coisas estavam ruins entre Abby e Clarke, naquele momento desejei que fôssemos só eu e minha amiga na casa, mas ela já estava acompanhada.

-Chegamos.

O anúncio de Clarke trouxe minha atenção de volta e percebi que estávamos na porta de entrada da casa, mais uma vez naquela noite senti a vergonha tomar conta do meu corpo.

-Bem...eu não saí de casa pela porta da frente, então...se você pudesse abrir a porta do fundo seria mais fácil para mim.

-Você fez o percurso do telhado a essa hora? - Clarke perguntou surpresa.

-Eu não estava pensando, lembra?

Clarke riu e nos guiou até a varanda no fundo da casa, onde paramos em silêncio por alguns segundos encarando o quintal escuro.

-Acho melhor voltar.

-Vejo você por aí Lexie – Clarke disse me puxando para um último abraço.

-Boa noite, Clarke – desejei virando para fazer meu percurso.

-

A última coisa que eu imaginava passar nessas férias era um momento constrangedor como o de ontem com Clarke. Mas lá estava minha mente revivendo cada detalhe, minha cabeça não conseguia parar de pensar na forma como Clarke estava diferente e ao mesmo tempo igual e isso me fez demorar a dormir, já que a cada dois segundos a imagem da vizinha só de calcinha e uma camiseta folgada ficavam voltando em minha memória.

-Droga – gemi frustrada com a pequena dor de cabeça que começava a surgir pela noite mal dormida.

Fiquei rolando na cama tentando achar o sono, mas não funcionou e pouco tempo depois de admitir essa derrota a cabeça de Anya apareceu na porta do quarto.

-Vamos lá Homem-Aranha, é hora do café da manhã.

Senti meu sangue gelar com as palavras da minha prima e mais uma vez a imagens de Clarke voltaram aos meus pensamentos. Quando cheguei a cozinha Anya já estava comendo, me fazendo questionar quanto tempo levaria para ela perguntar o que estava fazendo andando pelo telhado tarde da noite.

-Relaxe, Lexa – Anya disse de forma tranquilizadora enquanto me observava - Não vou perguntar nada, mas vou aconselhar para ter mais cuidado, poderia ter sido meu pai vendo você se esgueirando.

-Esgueirando – repeti a palavra concordando com a cabeça e montando meu próprio desjejum - Eu sei que você disse que não ia perguntar, mas só para deixar claro que não estava fazendo nada errado, eu estava na casa dos Griffin.

-Dos Griffin...nossos vizinhos?

-Exatamente.

-Vai me dizer que você viu a luz do quarto da Clarke acesa e resolver fazer uma visita? - Anya ironizou.

-Bem...foi exatamente isso que fiz.

Anya, que desde a minha entrada na cozinha comia uma tigela de cereal ainda com cara de sono, descansou a colher na tigela e me encarou.

-Você achou mesmo que isso era uma boa ideia? - ela perguntou erguendo uma sobrancelha.

-Eu não estava pensando em nada quando fiz isso Anya – disse encolhendo os ombros.

-Você sempre está pensando Lexa – Anya disse tamborilando os dedos na borda da tigela.

-Parece que ontem eu não estava – falei baixo – Toda a história sobre o Jake e uma semana que não vi nenhum sinal da Clarke...

Anya ergueu uma mão cortando meu discurso, eu podia ver o sorriso que se formava nos cantos da boca da minha prima. Não consigo imaginar como ela poderia estar se divertindo com isso, mas também não estava com cabeça para pensar sobre isso.

-Você não precisa se explicar – Anya disse – Sei que você se preocupa com a Clarke, só siga o meu conselho sobre ter mais cuidado, ok?

Concordei e por sorte o resto do café da manhã não falei mais nada comprometedor, como a surpresa que ao encontrar Clarke seminua ou como a imagem ficou gravada a ferro no meu cérebro.