História LoveSick - Capítulo 3 - Literatura e Yandere-chan

Taro Yamada bufava ao chegar na escola. Dessa vez, quem parecia não ter dormido era ele. O sol tinha acabado de nascer, ainda podia-se sentir o frio da madrugada mesmo que o dia já estivesse clareado tudo. Para não acabar encontrando Osana pelo caminho, o rapaz saiu de casa mais cedo que o costume.

Yandere-chan não estava esperando por isso. Hoje, ela não conseguiu stalkear o seu senpai pela manhã.

Taro bocejou. As olheiras escuras se destacavam em sua pele macia e branca. Seria difícil de prestar atenção na aula de literatura de hoje, que era a sua favorita. Uma pena.

- Minha nossa, sua cara está péssima. - Alguém falou com ele, estava tão perdido em seus pensamentos que sequer notou que seu amigo Budo havia se aproximado. Normalmente os líderes dos clubes chegam mais cedo, para organizarem tudo antes das aulas.

-  Ah, sim. Eu não dormi direito hoje, por causa daquela coisa com a Osana. - Taro respondeu, andando cabisbaixo e todo sonolento. - Por mais que ela tenha sido uma miserável, era uma das poucas amigas que eu tinha... Está sendo difícil pra mim.

- Ei, não fique tão pra baixo assim! Você ainda tem a mim, certo? Posso não ser tão próximo quanto a Osana era de você, mas sabe que de mim não virá mal algum.

- É... Pode ser. - Por mais que Taro apreciasse as palavras e o apoio de Budo, ainda estava inconformado demais por ter sido amigo por tanto tempo de uma pessoa tão baixa como Osana. Ele precisaria de um bom tempo até se animar novamente.

Ou quem sabe, precisando de uma nova melhor amiga. Ou até mesmo de um belo pedaço de torta, que é simplesmente a sua sobremesa favorita.

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- Ayano-san, tome cuidado com a sua força! Isso aqui é somente um treino! - Budo exclamava de braços cruzados e rosto sério, ao assistir a yandere quase quebrando o braço de Juku Ren, que estava quase chorando. Parecia que a yandere estava mais nervosa que o normal, coisa que ela acabou descontando nele.

Isso, claro, por ela ter visto o seu senpai no clube de culinária. Ele parecia estar se divertindo muito conversando com a líder do clube, uma moedere de cabelos curtos e mãos delicadas. Novamente, Ayano por mais que nunca tenha sentido emoções, após conhecer Taro, passou a odiar garotas assim.

Por sorte, a yandere já tinha uma carta na manga. E não precisaria sequer se aproximar da garota para que ela saísse de seu caminho.

- Sinto muito, sensei. - Ela saiu de cima do rapaz, o liberando. Seu rostinho delicado e expressão triste amansavam qualquer um, era impossível para Budo ficar com raiva dela.

- Certo, encerramos por hoje os treinos. Amanhã continuamos. - Budo encerrou a aula, então todos pegaram suas roupas e foram no pequeno vestiário se trocarem. Aos poucos todos foram embora, com exceção de Ayano e Budo.

- Sensei.. - Ela falava enquanto saía do vestiário, segurando seu uniforme branco na mão. - Você está livre hoje a noite?

- Uh? Estou sim, Ayano-san... Por quê?

- Eu estou com dificuldades na matéria de literatura... Como você já está no último ano, poderia me ajudar. Seria problema se eu fosse para a sua casa hoje? - Sua voz era dócil, um tanto tímida. Ela o olhava com uma certa incerteza, como se estivesse com medo da sua resposta. Aqueles gestos, por menores que sejam, faziam Budo se derreter.

Tirando o fato de que uma garota nunca havia entrado em sua casa antes e que Budo estava totalmente eufórico por dentro, ficando todo vermelho e se repreendendo ao se lembrar do que acontecia em seus mangás quando duas pessoas ficavam sozinhas em casa, não haveria problema algum naquilo.

- A-Ahn.. Mas é claro que não seria problema algum, Ayano-san!! Vamos agora, vou só trocar de roupa e guardar minhas coisas. - Ele tentava manter a calma, rindo de nervoso. Ayano sorriu para ele.

- Certo... Uh, Sensei... Você está com febre? - Ela delicadamente encostou as costas das mãos em seu rosto, devido a vermelhidão. - Você está quente.

- É febre sim... B-Bom, eu vou me apressar antes que fique tarde. 

Após se organizarem, ambos caminharam juntos até a saída da escola. Eles dialogavam um pouco, Budo era muito bom de conversa e seus olhos brilhavam a cada vez que ele mencionava algo sobre artes marciais. Era a novata admirada por todos e o rapaz mais forte e um dos mais interessantes da escola, qualquer um que os olhassem diria que eram o casal perfeito.

Ao passarem pelo corredor, Ayano pode observar seu senpai conversando com a tal líder do clube de culinária. Pelo o que ouviu falar, se chamava Amai Odayaka. Era da mesma turma dele e de Budo e aparentemente o convidou para que passassem um tempo no clube de culinária, visto que ela havia percebido a tristeza de senpai.

- [...]  "Como é horrível e belo o dia que eu ainda não vi" - Ayano pôde ouvir as palavras de seu senpai, seguidas de uma resposta admirada de Amai. Pelo pouco que pode entender, os dois estavam falando da matéria de literatura, mais específicamente de Shakespeare. Entretanto, o fato de parecer que ambos estavam quase que flertando causava ânsia à yandere.

Ah, se o seu senpai soubesse como aquela frase lhe faz tanto sentido...

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A casa de Budo era consideravelmente longe da escola, somando ao fato de que os dois caminharam conversando, quando chegaram já havia anoitecido. Havia sido uma conversa bem produtiva, a yandere descobriu detalhes sobre ele que nunca iria descobrir somente pela internet.

Por mais popular que fosse e que garotas sempre lhe apareciam com certo interesse, Budo nunca chegou realmente a ficar com alguém. Por mais que adorasse estar rodeado de pessoas, ele preferia esperar por alguém especial. Sua força e corpo definido sempre chamaram atenção, mesmo assim, sua timidez inexplicável com garotas o impediam de se aproximar, romanticamente, de alguém. E da última vez que tentou, foi por alguém que preferia o seu amigo.

Ele era o completo oposto de Taro, chegava a ser cômico. Talvez seja por isso que os dois se dão bem, visto que um completa o outro. Sempre respeitando o espaço entre si.

Quando Ayano entrou no quarto dele, a primeira coisa que veio em sua mente foi "Ok, esse, definitivamente, é o quarto do Budo". Posters do Bruce Lee, uns provébios antigos sobre bravura, força e defender quem for preciso. Uniforme de luta jogado pela cama e um retrato dele quando criança, segurando um gatinho, em cima de sua cômoda. Um quarto característico e que remetia bem a sua personalidade, tudo o que a yandere sempre quis ter em sua vida.

- Seus pais não vão se importar de você ter levado uma estranha para o quarto sem eles saberem? Na verdade, onde estão eles? - Ayano perguntava ao mesmo tempo em que se acomodava, se sentando no carpete no chão enquanto abria os seus livros. Budo entrava no quarto com dois copos de chá em uma bandeja.

- Eles não estão em casa, saíram para jantar e fazer coisas de adulto. - Ele colocou a bandeja no chão, até sua cabeça lerda e mente poluída processarem o que Ayano havia acabado de falar. - E não é como se você fosse uma estranha, certo? Quero dizer... A gente só está aqui para estudar, tem um fator importante! - Ele exclamava, sentindo as bochechas esquentarem. - B-Bom, de qualquer forma... O que você quer estudar, exatamente?

- Shakespeare. - Ela respondeu, Budo acentiu e começou a explicação, lendo os livros e comentando sobre algum detalhe importante.

- [...] Em Ótelo, Iago era tão invejoso da situação dele que fez de tudo para destruir sua vida. Incluindo fazê-lo matar a própria esposa devido um mal entendido que o próprio Iago tramou, usando também o próprio amigo como isca. - O garoto explicava, pausando apenas para virar a página. - Esse tipo de coisa acontece até hoje em dia, não é atoa que as obras dele continuam sendo muito atuais. Assuntos como inveja, ciúmes, sede de poder e traição sempre serão assuntos atuais.

- Criar um mal entendido e fazer com que as próprias vítimas se façam culpadas, usando pessoas que confiam em ti como gatilho... 

- Sim, a mente do ser humano é uma loucura quando se trata de conseguir algo. Na nossa própria escola, por exemplo, já vi várias pessoas assim. Você deveria tomar cuidado com esse tipo de pessoa, Ayano-san...

- Bem... De qualquer forma, o sensei estaria aqui para me proteger, certo?~ - Aquela frase pegou Budo de surpresa, ele não esperava uma atitude daquelas. Não naquela hora. Ayano o olhava com doçura, sorrindo de maneira gentil enquanto colocava uma mecha de cabelo atrás da orelha.

Normalmente, a garota costuma usar meias longas que cobrem toda a sua perna. Diferente das outras garotas cujas meias iam somente até o joelho e início das coxas. Porém, por algum motivo hoje ela usava meias como todas as outras. Pretas e opacas, cobrindo até o joelho e deixando parte das suas coxas amostra. Dando a obrigação da saia curta do uniforme escolar de (tentar) cobrir o restante. Por mais que ainda estivesse no colegial, Ayano tinha um corpo bonito e pernas esbeltas. Budo adorava como as meias apertavam a suas coxas, e em como conseguia apreciar um pouco da sua pele branca até seus olhos subirem para a maldita saia que escondia o que não deveria.

- Sensei, você está me ouvindo?

- U-Uh? Ah, estou sim... - Sentindo as bochechas esquentarem, Budo engoliu seco e voltou à explicação. Estava sendo difícil de se concentrar, seus olhos sempre voltavam a dar atenção ao que era proibido.

Apesar disso, tudo ocorreu bem. Ayano voltou para a sua casa depois de insistir estranhamente, onde foi acompanhada dele. A yandere sentiu falta de seguir o seu senpai antes e depois da escola, apesar de estar com ódio demais da nova amiguinha dele para pensar em qualquer outra coisa. Amanhã será um dia longo.

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No dia seguinte, havia uma aura estranha pela escola Akademi. Kokona Haruka, a aluna até então desaparecida, voltou depois de duas semanas. Magra, abatida e de mente corrompida, a garota de maria-chiquinhas encaracolada estava sentada perto do portão da escola. Abraçando seu próprio corpo e de cabeça baixa, balbuciando algumas frases. As que até então se diziam amigas dela, sequer ousaram se aproximar para perguntar o que houve. Todas a olhavam como um fantasma, aterrorizadas.

Eram pessoas realmente desprezíveis, no final todos a deixaram. Ayano olhava para elas com nojo, até porque o único perfeito ali era o seu senpai. Qualquer outro ser humano é nojento e digno de pena.

- Você já sabe o que deve ser feito. Faça. - Sem ninguém ver, a yandere ofereceu uma faca à Kokona. Se afastando logo depois, juntando-se à Budo e os outros integrantes do clube que haviam acabado de chegar.

Em passos lentos, a garota torturada encaminhou-se até Amai Odayaka. Ela havia acabado de trocar de sapatos e, depois de trocar algumas palavras com Taro, estava se direcionando ao pátio, quando, de repente, foi ferozmente atacada. Um grito agudo saiu da garota moe, atraindo todos ao local. Quando menos percebiam, Kokona já estava desferindo a sua quinta facada no peito da adolescente. O cheiro de sangue impregnava o local e sujava a grama, assim como os últimos gritos dela se misturaram com os gritos apavorados dos outros estudantes. Que, atônitos, não conseguiam se mexer para intervir.

Após matar a líder do clube de culinária à multiplas facadas, Kokona Haruka comete suicídio. Fincando a arma do crime em seu próprio pescoço. Senpai assistia tudo e Budo consolava Ayano, que chorava de terror nos braços de seu sensei.