História Lucid JK - Two

Acordo e em protesto me levanto da minha cama. Já faziam alguns dias desde que o vi pela última vez. Seu rosto já não estava aparecendo em meus sonhos e cada vez mais o desgaste tomava conta do meu corpo frágil. O garoto de lábios rosados fazia muita falta e me pergunto se tudo aquilo não fora apenas mais um sonho.

Confiro a hora em meu celular e vejo que já se passavam das sete. perdi o primeiro horário outra vez. me visto sem muita pressa e caminho até o banheiro observando meu rosto cansado em frente ao meu grande espelho. As olheiras profundas que cobriam meus olhos já a muito tempo ainda estavam lá e meus olhos escuros pareciam ainda mais escuros naquela manhã. Escovo meus dentes e lavo o rosto retirando a força alguma parte do meu cansaço e penteio meu cabelo que agora possuía um corte novo por sugestão de minha irmã mais velha com quem apenas posso conversar por mensagens graças à distância que vive nos cercando.

Arrasto meu corpo do banheiro até o quarto onde pego minha mochila e caminho até a escola com meus fones de ouvido a tocar minha música favorita.

[...]

Assim que chego na escola sou mandada direto para a sala do meu orientador. Seu rosto familiar aparece assim que fecho a porta de madeira e me sento na cadeira a sua frente enquanto este deixa seu computador de lado me enviando um sorriso reconfortante.

"Bom dia Myung-Hee." ele diz.

"Bom dia Ahjussi." sorrio.

"Atrasada de novo?"

"Sim. Desculpe." ele suspira.

"Sabe que não poderei te proteger sempre senhorita."

"Myung-Hee. Não precisa falar formalmente comigo ahjussi sabe disso." 

Seu sorriso aparece novamente.

"Não tem dormido outra vez? E quanto a sua alimentação? Ainda sem comer?"

Meus olhos vão até a minha saia e em um impulso levo meus dedos até a barra do meu uniforme tentando a todo custo evitar aquela conversa desconfortável.

"Não pode viver assim Hee-ah seus pais ficarão preocupados você se lembra do por que te mandaram pra viver aqui não sabe?"

"Sim. Pra poder viver a vida deles sem que eu interferisse em nada. Eu sei."

"Não. Para que se tornasse alguém independente e responsável. Para que construísse sua vida sem depender deles pra tudo. Eles se preocupam com você."

O silêncio invade a sala, gelada graças ao frio da cidade de Seul e tudo parece ficar menor ao meu redor me deixando ainda mais desconfortável.

"Meu aniversário foi a três dias. Eles não me ligaram uma vez sequer."

"Hee..."

"Recebi mensagens dos meus irmãos e dos meus amigos no dia seguinte e fiquei com um pouco de esperança de que eles poderiam me ligar ou mandar uma mensagem também mas nem isso fizeram."

"Mas-" 

Ouço o sinal a tocar indicando o início de outra aula e me levanto me curvando ao ahjussi.

"Tenho que ir não posso perder outra aula. Até depois ahjussi."

Mais uma vez ouço seu suspiro e saio de sua sala assim que recebo permissão indo em direção a sala onde teria minha próxima aula.

[...]

"Como sabem o sonho é uma atividade mental não dirigida, que se manifesta durante o sono, pelo menos nas suas fases menos profundas, e da qual, ao acordar, se pode conservar certa lembrança. E esse será o assunto do que quero para o seu próximo trabalho. Escrevam uma redação com o tema "sonhos" e me entreguem no fim desse semestre. A nota desse trabalho será muito importante para a soma de suas notas por isso recomendo que não deixem de entregá-lo. Espero que tenha ouvido senhorita Park Myung-Hee."

Desvio minha atenção da janela para o meu professor que me observava com atenção.

"Sim professor."

O sinal toca e todos saem da sala se despedindo do professor enquanto o mesmo retribui com um sorriso.

Pego meu celular e me despeço saindo da sala em direção ao corredor. 

"Hee! Meu deus que saudade. Por que não veio me visitar? Eu senti tanto a sua falta." De repente sou surpreendida por uma voz familiar e quase deixo o aparelho cair no chão e sou coberta pelos braços fortes em um abraço apertado. O cheiro familiar da camisa de meu irmão mais velho cobre as minhas narinas e sinto o mesmo levar embora as saudades que senti dele durante todo esse tempo. Um grande sorriso se desenha em meu rosto e retribuo com carinho seu abraço aconchegante afogando meu rosto em seu peito e deixando que ele levasse embora parte da dor de ter me levantado hoje.

"Também  senti sua falta oppa."

"O ChungHo-ssi me disse que você não tem comido direito. Hee você tem que se cuidar ou vai acabar ficando doente outra vez." Jimin continuava me protegendo em seus braços mas seu tom de voz era sério. Não o culpo. Eu realmente preciso me alimentar.

"Eu estou bem oppa." Em um instante sinto meu irmão a me soltar para segurar delicadamente em meu rosto observando este com atenção.

"Não você não está. Hee olha pra você. Está na cara que não dorme há dias e emagreceu um pouco também."

"Oppa, eu estou bem mesmo." Ele suspira.

"O que eu devo fazer com você garotinha? Eu tenho que ir mas vou te visitar assim que possível ou mando uma mensagem pra saber se está tudo bem. Prometo."

"Tudo bem. Eu te amo."

"Eu te amo mais. Até mais." Ele acena e logo some em meio a multidão.

Assim que meu irmão vai embora sinto a solidão a me tomar novamente e sigo em direção ao corredor à caminho do pátio da escola. Assim que saio por aquela porta suspiro de alívio ao sentir a brisa fria do inverno de Seul a bater contra minha pele pálida e caminho em direção a árvore onde costumo passar os meus intervalos. Me sento em um banco perto desta e levo meus olhos ao chão ficando então a observar os meus tênis vermelhos.

Me deixo distrair ao observar meus pés a balançarem de um canto a outro juntamente com o vento e alguns segundos depois sinto uma presença estranha sentada ao meu lado fazendo uma sombra ao lado da minha. E era como se estas se encaixassem uma com a outra.

Me viro pensando ser meu irmão a me trazer o que comer mas me assusto ao ver que não era ele. Sinto meu corpo a se congelar assim que vejo de quem se tratava e paraliso observando o garoto, calado com os olhos grudados ao chão.

"Não deveria pular as refeições assim. Devia comer alguma coisa." Sou surpreendida quando sua voz suave corta o silencio entre nós e sinto minhas bochechas a ganharem cor, como se por um instante me tornasse criança novamente. Uma criança inocente ao lado de um amigo de jardim de infância. "Aqui." Logo seus olhos saem do chão e suas grandes mãos tiram de sua mochila uma sacola que me é passada as mãos geladas como sempre. "Coma isso." Ele sorri.

"Obrigada." Coro novamente. "Mas como soube?"

"Nesse exato momento todos estão no refeitório enquanto você, é a única pessoa tirando eu que escolheu vir até aqui fora."

"Você estuda aqui?"

"Desde muito pequeno."

"Desculpe eu não sabia."

"Tudo bem. Eu não tenho vindo a escola e você é nova não poderia saber."

"Posso lhe fazer uma pergunta?"

"Claro."

"Qual o seu nome?"

"Jeong-guk. Jeon Jeong-guk. Costumo ser chamado Jungkook."

"Bonito nome. Meu nome é Park Myung-Hee." Logo, ouço sua risada e jungkook sorri me olhando de maneira diferente.

"Eu sei. Bom, tenho que ir. Suas amigas parecem estar a sua procura. Até depois Myung-Hee, e não deixe de comer."

E ele sai. 

Segundos depois vejo minhas amigas chegando todas juntas e se sentando alegremente ao meu lado.

"Por onde andou esse tempo todo? Ficamos preocupadas." Disse Won. "Oh você já tem o seu almoço. Então coma e vamos até minha casa não pode ficar aqui o dia todo. As aulas foram canceladas. Vamos." 

Sou levada por elas mas me viro olhando uma última vez para o banco onde me encontrei com o garoto. 

Jungkook é como uma brisa de verão. Chega de maneira tão despercebida e inesperada e logo, sai  sem deixar qualquer rastro.

[...]