"Smoking too much, it's starting to fog up my clarity."
Já estava arrumada. Harry me buscaria em casa exatamente as 20:15, sem nenhum atraso. Harry era realmente bem pontual — pelo menos comigo.
Olho no relógio e vejo que são exatamente 20:00. Pego minha bolsa em cima da cama e quando passo pelo espelho do meu quarto dou uma olhada para ver se meus cabelos loiros estão arrumados.
Desço as escadas me encontrando com a minha mãe sentada na sala assistindo algum programa qualquer.
— Onde está o pai?— Pergunto olhando pra ela.
— Saiu. — Ela simplesmente diz enquanto se remexe no sofá.
Normalmente todas as noites ele sai deixando eu e a minha mãe em casa sem saber onde ele está. Em dias da semana ele volta por volta das 23h e vai direto para o quarto, não falando absolutamente nada. Já sexta e sábado ele sai e só volta no outro dia de manhã, trazendo consigo pão, chocolates e rosas para minha mãe e para mim.
Fico alguns minutos parada em pé olhando para ela, mas enfim digo: — O Harry vai me buscar daqui cinco minutos — Digo confirmando o horário olhando para o relógio que tem na sala. — Mas se a senhora quiser eu posso ficar aqui em casa mesmo.
Ela olha para mim e dá um sorriso fraco: — Não, querida. Pode ir, eu vou ficar bem.
— Tudo bem então, mas qualquer coisa me liga que eu venho correndo pra casa. — Digo enquanto me abaixo dando um beijo em sua bochecha.
— Pode deixar. — Diz — Te amo.
— Também te amo, mãe.— Digo enquanto ando em direção a porta, abrindo a mesma em seguida.
Minha relação com minha mãe nunca foi muito boa, muito pelo contrário disso. Mas nós sabemos conversar e ás vezes até que nos damos bem. Eu a amo muito e sei que ela me ama muito também, só pelas demonstrações de carinho que ela faz todas as vezes em que eu vou sair já é um grande sinal que ela me ama tanto quanto eu a amo.
Já o meu pai nunca demonstrou nenhum tipo de sentimento quanto a mim e, consequentemente, eu nunca demonstrei nada a ele também. Na maioria das vezes não o chamo de pai, mas sim de Roberto — seu nome.
Minha mãe me teve com 16 anos, quando ainda existia paixão entre os dois. Meu pai não ficou muito feliz, fazia de tudo para a minha mãe desistir da ideia "maluca" — palavras dele — de me ter, mas mesmo assim ela lutou e me teve.
A pior parte foi contar para os meus avôs, mas pelo contrário que eles pensaram, eles apoiaram minha mãe, ajudaram eles a conseguirem um emprego e compraram um apartamento com móveis para nós morarmos.
Sempre que minha mãe precisava, eu ficava na casa da minha vó. Eu passei a maior parte da minha infância lá, já que meu pai não me aceitava e nos piores dias minha mãe me levava para lá e eu ficava por dias. Tenho até meu quarto na casa deles, pois sei que sempre que as coisas estiverem pesadas em casa, eu posso ir lá e sei que eles vão me acolher.
Estou em frente de casa, o vento frio da noite bagunça meus cabelos e eu me arrependo de não ter pego outro casaco. Janeiro costuma ser a época mais fria de Londres, principalmente a noite.
Ainda podia ver alguns resquícios de neve no chão, tinha nevado alguns dias atras, mas a neve já está derretendo, normalmente não passa muito tempo sem derreter.
Logo, vejo um carro preto parar na minha frente e buziar chamando minha atenção. Entro rapidamente no carro e dou de cara com o Harry com um sorrisinho feliz.
— Qual o motivo da felicidade?— Digo enquanto coloco o meu cinto e ele dá partida no carro.
— Pela primeira vez desde que eu te conheço você não se atrasou.— Ele diz soltando um riso deixando a mostra suas covinhas.
— Sem graça.— Digo e dou um leve tapa em seu braço enquanto o mesmo ri da minha cara.
Harry é um moreno de olhos verdes, com cachinhos em seus cabelos e sorriso encantador que o deixa ainda mais bonito com suas covinhas.
Ele é um menino com aparência e jeito fofo, tem 16 anos assim como eu e estudamos juntos na mesma escola, temos a maioria das aulas juntos e nunca nos desgrudamos.
Várias garotas suspiram só de vê-lo passar e algumas até têm raiva de mim por ser melhor amiga dele. E sempre pra provocar essas garotas, ele vive entrelaçando nossos dedos e me abraçando, o que faz elas terem mais raiva de mim.
Por mais que praticamente todas as garotas da escola implorem para ele pelo menos conversar com elas, o mesmo nunca quis saber delas.
Meu primeiro beijo foi com ele e o primeiro dele foi comigo, mas nunca ouve mais que amizade entre nós dois. Tinhamos apenas 12 anos, nunca tinhamos beijados e decidimos que seria melhor aprendermos um com o outro e foi isso que aconteceu. Foi na casa da minha vó e depois disso nunca mais nos beijamos de novo.
Somos amigos desde os seis anos, ele foi meu primeiro amigo e desde então nunca mais nos afastamos. E eu pretendo nunca me afastar dele.
— Seu pai tá em casa?— Ele pergunta enquanto para num farol.
— Não.— Eu digo me virando pra ele.
— E como sua mãe tá?
— Mal, cada dia pior. Acho que ela não irá aguentar por muito mais tempo.— Digo enquanto o farol fica verde.
Harry apenas pega na minha mão a apertando e eu solto um suspiro, olhando para a janela logo em seguida.
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