História Lucy: O nome do Caos - Yeeaaahhhh!!!

“Ei garota, se você quer se sentir sexy

Você sempre pode chamar um profissional

Eles furam alfinetes em você como um vegetal

(Ha, ha)

Crianças para sempre, crianças para sempre

Pele macia de bebê se transforma em couro

Não seja dramática, é só plástico

Ninguém irá te amar se você não for atraente”

A moça pegou o dinheiro que estava no caixa e colocou nos bolsos da jaqueta da mamãe, enquanto eu olhava ao redor, procurando entender o que estava acontecendo.

- Mami…? - perguntei - Isso é certo?

Ela sorriu para mim e piscou.

Sem respostas.

Talvez seja, mamãe nunca faria nada de errado!

Algumas pessoas vinham parar atrás de nós, esperando a sua vez de serem atendidas, mas logo corriam porque mamãe fazia questão de rir conforme apontava a arma para cada um sem apertar o gatilho.

A moça terminou de colocar o dinheiro do caixa na jaqueta da mamãe e ela rapidamente agarrou o carrinho em que eu estava e disparou em direção ao corredor que nos levaria para o lado de fora.

- Mami, vamos para casa?

Não sei bem, mas ela parou, parecendo apreensiva.

Havia um policial de sobretudo e bigode engraçado ajeitando o óculos quadrado enquanto falava com um outro policial. Eles arrumavam uma coisa parecida com um telefone, era estranho, mas mesmo assim, eu gostei de ver como vozes robóticas saíam de dentro dele.

- Temos outros planos, docinho, vamos voltar! - disse mamãe, recuando, dando passos longos para trás.

- Mas Mami eles tem coisas legais! - gritei, apontando a marreta para os policiais.

Os dois homens olharam para nós, de início, passivos, mas depois mais do que isso, como se houvessem empalidecido, e com certeza, ficamos mais brancos do que eu.

- Harley…? - ouvi o policial de bigode olhar para além e acima de mim.

- Olá Gordonzinho, como vai? - mamãe sorriu, acenando para ele, se apoiando no ferro do carrinho, ao meu lado.

- Tem dois minutos para me dar uma razão para eu não te prender!

- Ahn… - ela parou para pensar, batendo o indicador no queixo enquanto olhava para o teto - Estou limpa a quase quatro anos e tenho uma filhinha agora, conhece? - trouxe-me para perto, me abraçando forte - Lucy, o nome.

Gordonzinho puxou o carrinho em sua direção, quase me desequilibrando de dentro dele, soltando-me da mamãe.

- O que você está fazendo? - gritou ela.

- Criança! - o policial olhou para mim - Você está bem? Ela te sequestrou!?

- Mami, eu estou com medo! - olhei para ela com os olhos arregalados.

- Está tudo bem, querida, ele é um comissário legalzinho, dá para engolir.

O policial olhou para mim com cautela, depois, para mamãe com impaciência, encarou o homem ao seu lado com um chapéu reto e assentiu.

- Vamos conversar em um lugar mais reservado. - ordenou para mamãe.

X

Um cafeteria na esquina da rua dois de Gotham City, foi o que eu ouvi o comissário pedir para nós irmos.

Mamãe deixou a comida na viatura e entrou comigo, me colocando pra sentar no banco de couro vinho ao lado da parede de vidro, dando vista para a rua. Ela se sentou ao meu lado, enquanto o comissário e o homem de chapéu se sentavam à nossa frente.

Ficamos em silêncio por alguns instantes. Acho que ninguém aqui queria conversar.

O cheiro de café quase me deixava enjoada. Arrrgh.!!!.

- Então… -  disse eu, mexendo os dedos sobre a mesa de madeira - Você já matou alguém?

O Comissário me olhou com uma sobrancelha arqueada.

- Você já?

- Mamãe não me deixa… Não, ela diz ser ruim.

- E ela está certa. - sorriu um sorriso acanhado para mim.

- Desde quando ficou grávida? - perguntou ele, agora olhando para a mamãe.

Mamãe se encostou no banco, tirando um pirulito do bolso, desembrulhando-o e o colocando na boca, cruzando os braços logo em seguida.

- Ei! - reclamei - Esse pirulito é meu!

- Perdeu playboy. - disse ela, sorrindo.

- Desde quando ficou grávida? - o homem de chapéu perguntou alto, batendo as mãos na mesa.

- Desde um tempo atrás. Querido, eu não devo explicação para vocês. Sou mãe de uma filha linda!

- Pensei que o Coringa tinha dado cabo de você. - informou o Comissário - Ele não é uma pessoa muito gentil com as companheiras dele.

- É o Papi, Mami? - perguntei, me interessando - Mami disse que ele vai gostar de me ver!

Gordonzinho olhou para mamãe, quase pude vê-la negar levemente com a cabeça, como se ela quisesse que ele omitisse algo para mim.

- Com certeza vai!

Abri um sorriso, rindo.

- Ele dever ser tão legal!

O comissário tirou os óculos e limpou as lentes na gravata, negando a cabeça enquanto sorria.

- Que foi? - perguntei sem entender.

Ele voltou a colocar os óculos.

- Você me lembra a minha filha…

- Ah, Comissário, não comece! - reclamou a mamãe.

- Ela também gostava de se fantasiar, sabia? - sorriu para mim, ignorando a mamãe - Uma vez ela se vestiu de zumbi e quase matou a Bárbara, mãe dela, de susto.

Eu ri.

- Mamãe já me vestiu de tubarão, mas eu não consegui tirar a roupa depois, ela teve que jogar fora.

- Você é muito espertinha, Lucy.

- Já chega! Lucy, vamos embora. - mamãe disse, parecendo frustrada, pegando-me pelo pulso.

- Mas Mami…

- Vamos!

Segui-a para o lado de fora da cafeteria, enquanto Gordonzinho e o homem de chapéu nos seguiam, abrindo o porta-malas da viatura e nos dando todas as compras.

- Cuide bem dela, Harley. Não é só por causa dela que eu vou baixar a guarda para você! - disse o homem de chapéu.

Mamãe afirmou, segurando minha mão firmemente, enquanto seus braços se enchiam de sacolas.

Andamos, enquanto vez ou outra eu olhava para o comissário, sorrindo e acenando, vendo-o apenas afirmar com cabeça.

- Mami, ele parecia ser bom!

- Eu não quero que você vá para o Lado Bom da Força! Você tem que ser como o Darth Vader construindo a Estrela da Morte!

- Eu quero ser como a filha dele!

Mamãe franziu a testa e puxou-me para a frente dela, parando-nos perto de um beco.

- Você não quer nada disso, está bem? Você não quer ser ninguém, você quer ser você!

Ela estava brigando comigo! Porque estava brigando comigo?

- Mami…?

Ela suspirou. Os olhos furiosos se suavizaram rapidamente.

- Vamos para casa! - voltou a andar, segurando as minhas costas - Vou tentar fazer panquecas hoje!

- De novo? - perguntei - Elas são horríveis!

- Eu gosto! - deu de ombros - E Bud e Lou também… Ou talvez eu faça brigadeiro!

- YEEAAAHHHH!!! - gritei, esticando os braços para cima, animada.

- YEEAAAHHHH!!! - gritou ela também.

E saímos gritando com os braços esticados pela rua.