1. Spirit Fanfics >
  2. Lunária >
  3. "— Mas era de morango..."

História Lunária - "— Mas era de morango..."


Escrita por: Thatavisk

Notas do Autor


Boa leitura.

Capítulo 14 - "— Mas era de morango..."


Não queria voltar para o hotel, Agnes perceberia que eu não estava bem, além de que ninguém precisava da atmosfera mais pesada do que já está com Helena naquele estado. Apenas não queria preocupar mais ainda ninguém. Nem que viessem me falar sobre o ocorrido quando tomassem conhecimento, o que pelo tamanho do acidente, não demoraria muito.

— Eu não consigo ouvir Namjoon. — Encostei na parede do beco ao lado do hotel.

— Você está brava. — Jungkook acariciou levemente meu ombro.

— Ele já sabia disso. — Abaixei o rosto. Já não conseguia mais chorar, não sabia o que sentir, então estava apenas sentindo nada, nem angústia, nem fúria, nada. Não compreendia.

— Se for culpar Deus por cada acontecimento assim, Ele será culpado de tudo. — Me puxou um pouco para si, apertando-me levemente em seu peito. — Os planos de Deus são perfeitos, Diana, Ele sabe o que faz — assegurou beijando minha testa e afagando meus cabelos.

— Lúcifer... — sussurrei um pouco receosa de chamá-lo diretamente pelo nome. — Por que continua me rondando? — perguntei encostando o rosto em seu peito. Não entendia o motivo por qual o senhor do lado escuro do segundo plano estava me segurando em seus braços, sendo que costumava ser rude.

— A sua presença é agradável — disse nos balançando um pouco, encostando seu rosto em minha cabeça enquanto os flocos finos e leves se prendiam em nossos cabelos.

Jungkook permaneceu alguns segundos me segurando até notar eu me encolher um pouco em si. Ele me estendeu seu sobretudo, dizendo que eu estava pouco agasalhada e que seria melhor caminharmos um pouco para que eu pudesse esvaziar a cabeça, o que seria impossível e ele sabia. Ao menos estava tentando me animar mesmo assim.

A presença de Lúcifer não me parecia tão pesada e prepotente naquele momento, ele estava calmo.

— Eu gosto dessa confeitaria. — Apontou um estabelecimento pequeno, parecia um local simples.

— Não estou com fome — digo observando as ruas um pouco vazias por conta da neve que estava aos poucos caindo com mais intensidade.

— Não precisa estar com fome 'pra comer doces. — Sorriu pegando minha mão. — Apenas prova alguma coisa, vai fazer desfeita de uma gentileza minha? — perguntou puxando-me pela calçada e não me dando muita escolha senão acompanhá-lo.

— Por que está fazendo isso? — indaguei acelerando um pouco o passo para conseguir andar ao seu lado.

— Isso o quê? — perguntou fitando-me desentendido. — Te puxar? Você é muito lerda — disse olhando os dois lados da rua antes de me puxar rapidamente até o outro lado.

— Não... Você 'tá me levando para comer doces e... Ficando perto de mim — expliquei vendo-o parar os passos por um segundo e me fitar sério, afastei um pouco, mas ele me puxou de volta para perto de si.

— Do jeito que você está, acabaria vindo de encontro a mim de qualquer forma. — Deu de ombros e voltou a andar de mãos dadas comigo. — Você está deprimida, indignada e magoada, temos bastante em comum, não acha? — Riu curto apesar de não ter feito piada alguma. Jungkook era estranho. — Eu sei o que você está sentindo, não tem como eu não... Você entendeu. — Suspirou fundo ao chegarmos na confeitaria. — E ou você prova ao menos o bolo de banana ou eu te esgano — avisou abrindo a porta e me empurrando para dentro, cumprimentando os donos assim que entrou.

Jungkook me convenceu a provar alguns doces, olhando chateado meu pescoço quando comi o bolo de banana primeiro por precaução. Não demorei para entender o motivo pelo qual ele gostava tanto do local, considerando que apenas o forma como o homem que nos servia me olhava, era óbvio que sabiam mais que os clientes humanos.

— Sua presença está leve hoje. — Um rapaz sentou-se à nossa mesa.

— Eu sei. — Jungkook respondeu desinteressado enquanto tirava o chantilly de seu bolo, ele não gostava.

— É por causa daquele loiro desgraçado? — perguntou olhando-me com um sorriso divertido no rosto, fitei Jungkook um pouco confusa.

— Não diz essas coisas na frente dela, já basta o que ela viu — repreendeu o rapaz recebendo um suspirar do próprio.

— Então, Diana, como tem sido andar em pés humanos? — questionou se voltando para mim, apoiando os cotovelos na mesa.

— Se retire. — Jungkook ordenou sério e o rapaz resmungou ao se levantar. Afastei-me um pouco quando ele passou a mão em meus cabelos antes de retornar para a cozinha da confeitaria. — Essas crianças... — resmungou mordendo um pedaço de kiwi.

— O que aquilo era? — perguntei observando o rapaz me apontar da cozinha para os outros lá dentro, onde me olhavam curiosos.

— Nunca chegou a sentir ele? — perguntou parecendo surpreso, rindo após. — Não sabia que a sua presença sobressaía a dele — comentou parecendo animado com a descoberta. — Aquela coisa ali sobe à Terra apenas para observar suas noites. — Meneou a cabeça em direção ao rapaz que ainda me olhava de sorriso largo no rosto. — Quando soube que você desceu do templo para viver uma vida humana, se estabeleceu aqui também — disse enxotando os rapazes com gestos para que voltassem aos seus afazeres.

— Ele é... Algo ruim? — perguntei largando o doce que iria comer. Não comeria aquilo sabendo que era feito por algo semelhante a Lúcifer e sentia calafrios apenas de pensar num demônio me observando esse tempo todo.

— É um de meus irmãos — disse me olhando empurrar a comida para si. — Pode comer, ele é limpinho, eu juro — prometeu pegando uma tortinha de limão e a encostando em meus lábios. — Come. Vai. — Pendeu levemente a cabeça.

— O que tem nisso? — perguntei o observando sorrir largo.

— Leite condensado, limão, farinha, açúcar, manteiga, uma pitada de sal. Tem alergia a glúten? — Esticou devagar o braço livre, passando delicadamente os dedos longos por meu queixo, ainda segurando a tortinha em meus lábios.

— Por que faz questão que eu coma? — questionei sentindo sua mão segurar meu maxilar.

— Abre a boca ou eu te faço abrir — avisou sem se desfazer do sorriso meigo, abri a boca receosa e ele empurrou uma parte do doce por entre meus lábios, subindo meu maxilar e o pressionando numa mordida. — O único momento em que eu e Jimin conseguíamos conversar decentemente, era quando marcávamos de falar sobre algum contrato numa confeitaria. Ele nunca veio aqui, pretendia dizer para ele te trazer — disse me observando manter a boca parada, com a mordida da torta ainda inteira sobre a língua, e franziu o cenho. — Mas como ele não pôde, estou me redimindo por ter judiado tanto dele nesses anos que trabalhamos juntos. — Suspirou fundo, pegando minha mão que estava sobre a mesa. — Qual é o problema de vocês para acharem que tudo meu é uma artimanha? — indagou suavizando a expressão ao me ver mastigar o doce.

— Por que você habita entre os humanos? — perguntei ainda de boca cheia, olhando um demônio brincar sorridente com o bebê que estava no colo de uma humana. O doce não era ruim, mas ainda me dava náuseas pensar que era um alimento servido por seres do mundo inferior.

— É divertido... Ao menos era, eu vivia perfeitamente bem até um astro decidir que viveria uma vida humana e acabou nas minhas costas — disse terminando seu café. Jimin gostava sem açúcar, mas Jungkook havia posto três cubos.

— Eu não estou pedindo para você cuidar de mim — sussurro olhando meu chocolate quente com uma película de nata formada na superfície, não queria bebê-lo.

— Mas não está reclamando. — Deu de ombros. — Devia ser um pouco mais grata pelo que tenho feito por ti. — Levantou-se e me estendeu a mão. Sua pele estava gelada e acabei olhando seu sobretudo quase arrastando no chão de enorme em meu corpo, mas ele não parecia se importar com o frio.

— Diana! Espera, eu fiz isso 'pra você! — O rapaz de mais cedo veio apressado, trazendo consigo uma caixa da confeitaria, enfeitada com um laço. — Eu sei que é o seu favorito — disse a abrindo, havia um bolo confeitado com chantilly, com morangos envolvidos em caramelo no topo.

— Eu não quero, mas obrigada. — Forcei um sorriso, vendo o rapaz murchar um pouco.

— É especial, eu fiz pensando na sua melhora — insistiu me estendendo a caixa.

— Eu faço ela comer, obrigado e ignore a arrogância dela. — Jungkook pegou a caixa, me fitando de cenho franzido após, como se me desse uma bronca muda. Jimin fazia isso às vezes. — Obrigado, tenham uma boa noite — diz andando comigo para fora da confeitaria. — Ele detesta estar nesse plano, fez algo para te ver melhor e fez questão de que eu te trouxesse aqui algum dia para te conhecer. Não pode ser grata ao menos alguma vez? — reclamou enquanto me levava para algum outro lugar.

Pensei em me justificar, mas ele virou o rosto e soprou o ar quando abri a boca, estava chateado, mas não soltou minha mão. Suspirei fundo apenas seguindo Jungkook quando ele voltou a andar.

Ao menos eu estava me mantendo em movimento, distraindo a cabeça com pequenas coisas, como observar meus pés que afundavam levemente na cama fofa e recente de neve, fazendo um barulho engraçado. Até observar a respiração de Jungkook ou a minha condensar no ar gelado era engraçado, parecia fumaça.

Como os cigarros que Jimin fumava vez ou outra.

Senti Jungkook acariciar levemente as costas de minha mão com o polegar quando me lembrei de Jimin. Sentia-me um pouco culpada por tratá-lo de forma tão inferior e ele apenas continuar ali, estava sendo ingrata de todas as formas num único dia, fosse com ele, com Namjoon ou qualquer outro.

Jungkook estava tentando me animar, visto que eu já não possuía mais meios para me apoiar em Deus, não depois do que presenciei.

Não conseguia entender os motivos de se criar vidas para arrancá-las depois, era como tortura, eles eram apenas brinquedos que você troca quando se cansa?

Eu não havia me cansado de Jimin.

Namjoon havia se cansado dele?

Não é justo arrancar alguém que amamos assim de nós. Sentia falta de Jimin, de seu calor, mesmo que ele já não possuísse nenhum mais e apenas de imaginar seu corpo sendo levado como um pedaço de carne congelada para um necrotério, sentia náuseas.

Jungkook parou os passos e apoiou um joelho no chão á minha frente, secando meu rosto ao notar que eu havia voltado a chorar em silêncio, mas logo outras lágrimas tomavam o lugar das secas, fazendo o moreno suspirar fundo e se erguer um pouco para encostar sua testa na minha, como Jimin fazia quando eu estava chateada.

Mas ele não era Jimin.

— Quer passar a noite comigo? — perguntou acariciando levemente minha bochecha, sem separar seu rosto do meu. — Não dessa forma. — Riu fraco ao notar minha surpresa. — Eu não quero que você passe a noite toda ouvindo as outras garotas falando merda. — Umedeceu os lábios levemente arroxeados ao se afastar de mim.

— Não... Eles vão pensar que eu e você temos algo... — Esfreguei os olhos, estavam ardendo um pouco.

— Logo a notícia deve chegar até Taehyung, eles vão entender — diz bagunçando meus cabelos. — E eu duvido muito que você queira ficar lá para de manhã todos virem falar sobre o quanto sentem muito por você e outras mentiras — disse passando o braço sobre meus ombros e me puxando para próximo de si. — Eu não vou te forçar a nada, nem tentar te tocar, não é  tramoia minha nem nada do tipo — assegurou apertando-me levemente.

— E eu deveria confiar no que diz? — desconfiei fitando-o, enlaçando sua cintura com um braço para andar decentemente, já que ele se recusava a me soltar.

— O que eu ganharia te enganando? — perguntou descendo a mão até minha cintura, colando a lateral de meu corpo com o seu.

— Não sei, o que você ganha enganando os humanos? — questionei vendo-o sorrir largo.

— Você é muito chata — resmungou risonho.— Eu prometo por De- Nossa. — Fez uma breve pausa para tossir. — Deus, que não te forçarei a nada — prometeu fazendo uma leve careta após.

— É muito longe do lugar do desfile? — perguntei suspirando fundo apenas de pensar em fazer tudo aquilo. Se eu chorasse e borrasse a maquiagem, tomaria uma bronca daquelas.

Sinto faltas das broncas de Jimin também, nós passamos uma semana longe e quando... Ele viria...

— Para de pensar nele, só vai piorar as coisas — disse limpando a neve que estava acumulada em meu cabelo. — E você não pode desfilar assim, por isso eu te levei mais cedo — diz ficando surpreso ao eu bagunçar seus fios curtos, tirando a neve de seu cabelo como fez comigo.

— Eu entendi isso quando vi Jimin pálido no carro — digo segurando seu rosto. Jungkook possuía feições delicadas, não era de se surpreender que era um dos anjos mais belos quando era merecedor dos céus.

— Desculpa não ter dito nada... — sussurrou segurando minhas mãos em seu rosto, ele estava gelado e seu lábios ficando quase azulados.

— Eu entendo. — Forcei um sorriso antes de soltar seu rosto. — Vamos rápido, você 'tá muito gelado — resmunguei retornando a andar.

Jungkook demorou um pouco para retornar ao meu lado, puxando-me para a direção certa quando tomei a rua errada. Eu não sabia onde ele havia se estabelecido, mas não estávamos longe do local.

Era um edifício alto como os outros que abarrotavam os terrenos da cidade densa, o apartamento que Jungkook havia alugado era enorme, não entendi por qual motivo alugar um tão grande, mas não era alugado, ele morava ali e alugava um apartamento quando era necessário estar na empresa em que Jimin trabalha em dias sucessivos.

Na verdade, em que Jimin trabalhava.

Jungkook pediu que eu ficasse à vontade e me deu uma roupa sua para que eu dormisse, oferecendo-me seu quarto, mas eu deitei no sofá da sala e me recusei a levantar. Agarrei-me no braço do móvel quando Jungkook tentou me colocar no quarto, dizendo que era melhor que eu descansasse bem.

Não tive muita escolha no final, Jungkook conseguiu me carregar até o quarto e me jogou na cama, fechando a porta e seguindo para a sala após. O quarto de Jungkook era até que aconchegante, ele e Jimin possuíam gosto parecidos e personalidades parecidas também, isso era no mínimo bizarro.

Andei pelo cômodo tentando procurar algo para ocupar a mente, caso contrário eu perderia a voz e ficaria com os olhos ainda mais vermelhos de chorar. Sentia falta de Jimin, ainda mais agora por saber que não o veria novamente.

Havia uma algema numa das gavetas de Jungkook, ela tinha pelinhos pretos e era dourada, havia vários pacotes de camisinha também. Jimin havia me explicado para o que elas serviam quando ele havia me visto com uma sua na boca por ter morangos desenhados no pacote.

Não era de comer e eu senti nojo de ter posto aquilo na boca, fazendo uma careta apenas de lembrar, contraindo levemente os lábios ao lembrar do quanto Jimin riu quando fiquei surpresa com aquilo ter sabores.

Sentia falta de seu riso meigo, a risada de Jimin era tão gostosa.

Suspirei fundo sentando na cama após não encontrar mais nada para mexer, peguei meu celular que ainda estava com a aba do contato de Jimin aberto, olhando nossas mensagens, que não eram muitas. No chat apenas apareciam os registros das chamadas de horas que fizemos durante essa uma semana que havia passado. Jimin dormia pouco para falar comigo mais tempo, agora ele dormiria para sempre e não falaria mais comigo.

Soltei o aparelho na cama respirando pesado e abraçando minhas pernas. Achei que quando dormisse a sensação de ter perdido os rumos até de meus pensamentos passaria, mas ela apenas piorou e agora não consigo dormir.

As emoções humanas eram muitas e eu descobria mais e mais a cada dia, mas sempre uma emoção era maior que outra e eu achava ser a raiva a maior de todas. Mas não era. 

Tentei fazer um montinho de travesseiro ao meu lado, mas não era a mesma coisa, na verdade, me deixa ainda pior ver que eu já estava acostumada com o corpo de Jimin em minhas costas e seu braço em minha cintura, que ele era um costume que eu não conseguia negar.

Fiz uma oração para Namjoon pedindo tanto pela alma de Jimin quanto perdão, mesmo que eu não fosse ouvi-lo, ele ainda me ouvia. Ouvi algo bater na janela e vi Hoseok sentado no parapeito, ele entrou fechando-a em seguida e eu levantei do chão onde estava ajoelhada para sentar na cama.

— Yoongi que costuma entrar pelas janelas — comento observando-o se sentar ao meu lado.

— Namjoon quer saber o que houve com sua fé — disse me observando curvar os ombros e respirar fundo. Eu precisava ser sincera se quisesse voltar aos caminhos certos, mesmo que agora eu tivesse caminho nenhum.

— Por que fez isso comigo? — perguntei quase num sussurro, ouvindo Hoseok suspirar.

— É necessário, meu amor, você entenderá os planos de Deus se tiver paciência e permitir que Ele aja — disse afagando meus cabelos. — E Lúcifer, entre logo de uma vez ou saia da porta, é feio espionar — diz sendo seguido pelo som da porta abrindo.

— Só o seu cheiro já me incomoda, que abuso é esse de invadir minha casa? — Jungkook perguntou indignado, se sentando do outro lado da cama.

— Quero saber o que acha que está fazendo trazendo ela para cá — disse sério, fitando o moreno.

— Tentando amenizar o que Namjoon fez. — Jungkook deu de ombros. — Não posso mais fazer boas ações? — perguntou debochado, vendo Hoseok menear a cabeça em reprovação. — Eu não ia fazer isso! — reclamou alto repentinamente, me assustando por um segundo. — O quê?! Eu nem pensei em tocar nela! — gritou apontando o ruivo que ria da indignação do rapaz. — 'Tá... Eu pensei... Mas foi só isso... — resmungou um pouco vermelho.

— Do que estão falando? — perguntei um pouco confusa, não conseguia ouvir o mundo da mesma forma que eles.

— Jungkook tem bilhares de anos e ainda não passou da puberdade. — Hoseok disse observando o moreno franzir o cenho.

— Puberdade? — repeti confusa, murchando um pouco quando pensei em perguntar sobre isso para Jimin, mas não havia mais como...

— Lua, sua presença parece tão fosca... Precisa focar no que veio fazer, não quer receber seu favor? — perguntou tentando me encorajar. — Afinal, você pode pedir o que quiser — diz se levantando.

— Sério que essa anta recebeu um acordo assim e eu sequer recebo perdão? — Jungkook perguntou parecendo irritado. — Ah, Diana, desculpa... — disse ao me ver chatear mais ainda com seu insulto. — Não... Diana, para... — reclamou quando meus olhos encheram d'água. Sentia saudades de Jimin, Jungkook não era carinhoso como ele.

— Por isso tu não recebe perdão. — Hoseok disse empurrando o moreno que tentava me acalmar e me abraçou forte, seu toque era tão leve que a angústia suavizou até eu quase sentir nada, mas era impossível não sentir um nó na garganta ao lembrar da forma linda como os olhos de Jimin se reduziam a risquinhos quando as bochechas fofinhas subiam num sorriso largo. Ou como seus braços me enlaçavam perfeitamente e como apertava suavemente minha cintura ou... Apenas sua voz, eu apenas queria poder ouvir de novo sua voz.

— Hoseok... Jimin está bem? — perguntei apertando levemente suas costas.

— Eu não sei... — admitiu sincero, fazendo-me suspirar pesado. — Namjoon não me disse o que faria com a alma dele e eu ainda não o encontrei no paraíso, talvez esteja aguardando a decisão de Namjoon. — Acariciou os cabelos de minha nuca, segurando minhas costas para me manter colada consigo.

— Ele pode me ouvir? Que nem os outros espíritos do céu? — Afastei-me um pouco para secar meu rosto na manga do moletom de Jungkook que eu estava usando.

— Não, Jimin está descansando agora — disse segurando meu rosto e beijando demorado minha testa. — Lua... Toma cuidado daqui para frente... Com a sua fé fraca, eu não posso interceder. — Comprimiu um pouco os lábios e se levantou. — E se você ousar encostar um dedo que seja nela, quem descerá para te dar correção não será um mero arcanjo — avisou fitando Jungkook que abriu um sorriso.

— Que isso, Hoseok? Eu sou um anjinho... Era. — Observou o ruivo suspirar fundo antes de deixar o primeiro plano numa névoa suave. — Você estava mexendo nas minhas coisas — diz notando a gaveta um pouco aberta na cabeceira.

— Você me trancou aqui — resmunguei a fechando direito, estava aberta por parte da corrente da algema estar para fora. Peguei o objeto o segurando e esperando Jungkook explicar para o que ele tinha aquilo. Ele não era policial.

— Ah, Diana, você não vai querer saber... — Entortou um pouco a boca e negou com a cabeça.

— É de prender — digo lembrando do moço algemado no banco no meu primeiro dia, foi quando eu conheci Jimin.

— Vai lembrar dele até quanto tomar água? — perguntou erguendo levemente uma sobrancelha.

— Passávamos o dia todo juntos, é difícil não ficar pensando nele... — resmungo me ajeitando deitada na cama.

— Se te anima um pouco, ele também pensava muito em você — diz se deitando ao meu lado.

— Sério? Muito? — perguntei ficando boba por um segundo.

— Sim. Como acha que eu descobri que vocês tinham transado? — indagou fazendo meu sorriso bobo desmanchar.

— Você... — Ele assentiu devagar.

— Não foi culpa minha, ele estava lembrando e eu não consigo deixar de ouvir, é algo chato às vezes. — Pareceu lembrar de algo desagradável. — Mas entrar na memória dele, isso fiz por escolha própria mesmo — diz fazendo-me encolher um pouco de vergonha. — Não precisa se envergonhar, vocês se amavam, não foi tão errado assim. — Jogou meu cabelo na frente de meu rosto, rindo quando reclamei por isso. — Você fica vermelha muito fácil, Luna — disse sorrindo largo e se levantando, andando até o armário para pegar alguns cobertores.

— O que vai fazer? — Perguntei observando-o escolher seu lençol.

— Dormir e você também — disse seguindo para a porta.

— Espera! — gritei engatinhando sobre a cama e recebendo um olhar confuso do moreno. — Fica aqui só até eu dormir, por favor — pedi batendo na beirada da cama.

— Você está brincando com o que não deve — murmurou franzindo o cenho.

— Eu não 'tô conseguindo dormir... Jimin sempre ficava comigo... — resmunguei sentindo minha voz começar a embargar novamente. Jungkook revirou os olhos e apagou a luz, deixando seus cobertores no pé da cama e se deitando ao meu lado.

Jungkook ficou alguns minutos cantarolando qualquer coisa em sua voz suave e acariciando meus cabelos até que eu começasse a sentir sono. Ele não brigou comigo por eu ter voltado a chorar enquanto ele cantava uma música que Jimin gostava, apenas me abraçou e continuou.

Senti meu corpo pesar um pouco e eu conseguir descansar o corpo, pois a mente revivia até nos sonhos o momento do acidente, onde eu caminhava sozinha entre os carros já vazios e carbonizados. As faixas amarelas e pretas limitando o acesso ao local e havia muito vidro quebrado no chão. Estava tudo vazio, a cidade, os carros e os céus.

Acordei estranhando o cheiro doce que sentia e a respiração quente no topo de minha cabeça e afastei-me um pouco retirando o braço de Jungkook de cima de mim. Não lembrava de ter dormido abraçada com ele, mas acordá-lo para discutir não parecia algo muito certo.

Jungkook dormia calmo com os lábios levemente entreabertos, os cobertores que usaria para dormir no sofá continuavam no pé da cama e ele havia dormido descoberto ao meu lado, provavelmente havia pego no sono enquanto tentava me acalmar.

Esfreguei os olhos e me ajoelhei ao lado da cama para orar a Namjoon e apenas em eu pensar o nome de Deus, Jungkook acordou num salto, olhando ao redor confuso, parecendo demorar para raciocinar ao me ver ajoelhada de mãos juntas e cotovelos sobre a cama.

— Argh... Sério que tinha que fazer isso do meu lado? — resmungou manhoso, se jogando novamente na cama.

— Eu não posso começar o dia sem falar com Deus — digo retornando à minha oração, pedindo por mim, por Jimin, por Agnes e Helena, por Jin e Taehyung, que já deveriam ter tomado conhecimento do que aconteceu.

— Ele sabe sim, me ligou ontem de madrugada — Jungkook diz fitando o teto. — Como eu disse, você não vai ao desfile hoje e Taehyung concordou. — Suspirou fundo, esperando que eu acabasse de falar com Namjoon. — Ele disse que te ama — repassou com desgosto, me observando sorrir minimamente. — E pediu para você confiar n'Ele... — resmungou em tom debochado.

— Você ouve Deus, então. — Abri os olhos para fitar o moreno.

— Infelizmente. — Desceu da cama e veio até meu lado. — Vamos tomar café, você deve estar até desidratada — disse me estendendo a mão para que eu levantasse, despedi-me de Namjoon e peguei a mão de Jungkook.

Achei que Jungkook iria cozinhar, mas ele apenas pediu algo numa cafeteria pelo telefone.

Estava começando a ver as gritantes diferença entre Jungkook e Jimin, começando por Jungkook me empurrar da bancada ao invés de me dar uma bronca por eu estar acima dela, em como gritava comigo num momento e no outro estava me abraçando e dizendo que ficaria tudo bem. Ainda mais em como entrou no banheiro enquanto eu tomava banho e tirou suas roupas para tomar banho comigo com a maior naturalidade possível.

Eu corri para a sala molhando o carpete e de cabelo ainda cheio de espuma enquanto ele ria de como eu estava tentando cobrir desesperadamente meu corpo com as almofadas do sofá.

— Eu juro que não foi por mal — diz ainda rindo ao lado de fora do banheiro enquanto eu enxaguava meu cabelo.

— Nem Jimin tomava banho comigo, que se diga você! — reclamei revirando os olhos ao ele rir de meu tom irritado.

— Vai me dizer que não gostou do que viu? — perguntou debochado, com o sorriso ainda presente na fala. Jungkook era bonito, muito, mas eu não queria vê-lo como além de alguém de boa aparência, Jimin era carinhoso, engraçado, fofo, mandão e... Ele era lindo, muito mais que apenas de físico. — Ela pensa nele até quando vê o caralho de outro homem. Que tipo de ritual ele fez para tomar seu cérebro? — questionou parecendo um pouco irritado.

— Você não para de dizer palavras feias? — resmunguei enquanto vestia uma camisa de Jungkook, ele iria buscar minhas roupas no hotel para que eu passasse alguns dias ali até que ele me ajudasse a encontrar um bom apartamento para ficar.

Eu me recusava a ficar no apartamento de Jimin, se já estava sendo difícil num ambiente diferente, andar por aqueles cômodos sem os passos do loiro juntos dos meus seria impossível.

Jungkook saiu pouco tempo depois de me explicar que se eu abrisse a porta para alguém ou atendesse o telefone fixo de sua casa, teríamos uma conversa seríssima quando ele chegasse. Aproveitei estar sozinha para conversar com Namjoon e pôr os acontecimentos em dia, mesmo que eu ainda não conseguisse o ouvir, sabia que estava me respondendo.

A única coisa que me impedia de me desfazer em lágrimas naquele momento, era saber que Deus estava comigo, mas ainda era difícil manter o semblante inteiro quando lembrava de Jimin, de seus fios descoloridos e da raiz escura em seu tom natural, das pintinhas espalhadas pelo corpo das quais eu beijava todas com carinho, de seus lábios carnudos e macios, mas principalmente da forma como me fazia sentir segura e amada.

O som dos números sendo pressionados e a porta destravando me fizeram secar rapidamente o rosto e endireitar a postura, abaixando o rosto ao ver Jungkook pelo canto da visão. Ele soltou minhas malas e as sacolas no chão, vindo devagar até mim e sentando-se no chão à minha frente. Ele segurou meu rosto e forçou-me a fitá-lo.

— Eu não gosto de te ver triste. —Disse secando a lágrima que descia por minha bochecha e apertando levemente meu nariz avermelhado após. Ele mordeu levemente o lábio inferior e suspirando fundo. — Eu vou cozinhar hoje para você, quer me ajudar? — perguntou sorrindo, ainda segurando o lábio entre os dentes.

Assenti avisando que iria colocar uma roupa minha, mas Jungkook disse para eu fazer isso depois, pegando-me pela cintura e me pondo sentada sobre a bancada. Ele começou me ensinando a como temperar devidamente a carne.

A culinária de Jungkook era mais complicada que a de Jimin, segundo o próprio Jeon, a única coisa da humanidade que ele admirava, era como a culinária era característica familiar e cultural, contando-me um pouco sobre os vários anos que viveu entre os humanos. O tempero de Jungkook também era diferente do de Jimin, mas a comida dele também era gostosa.

Estávamos arrumando a cozinha quando Jungkook me abraçou sem motivo aparente, eu não estava chorando e meus pensamentos sobre Jimin estavam me causando menos dor, mas o moreno continuava me apertando em seus braços, afagando meus cabelos e beijando minha testa. Até quando esbarrávamos no corredor entre o quarto e a sala ou simplesmente ele passava andando perto de mim e me agarrava do nada.

Vimos um bom apartamento perto do estúdio onde eu trabalhava e ele me levaria para visitar e ver o local antes de eu fechar um acordo, mas isso apenas poderia ser feito quando os desfiles acabassem por Jungkook ser um dos organizadores, então eu teria de passar duas noites ainda em sua casa.

Ao menos ele era uma companhia que não ficava falando em tom manso e baixo palavras melancólicas, como todos os que ligaram até eu cansar dos "— Eu sinto muito... " e desligar meu celular.

Sentei-me no sofá para assistir um filme com Jungkook e o próprio deitou a cabeça em meu colo, parecendo me desafiar a reclamar pela forma como me encarou sério quando o fitei confusa. Suspirei fundo, tentando prestar atenção na tela, acariciando e puxando levemente os fios curtos e escuros de Jungkook por costume, como eu fazia com Jimin quando assistíamos TV juntos.

Eu sintia tanto a falta dele...

— Diana... — resmungou manhoso quando puxei seu cabelo forte demais, desculpei-me afastando a mão de sua cabeça e tentando parar de pensar no que já se foi.

Em quem já se foi.

Mesmo que eu também já estivesse com vontade de ir.


Notas Finais


Obrigada por ler até aqui.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...