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História Lunária - "— Os planos de Deus são perfeitos."


Escrita por: Thatavisk

Notas do Autor


Boa leitura.

Capítulo 16 - "— Os planos de Deus são perfeitos."


— Não sabe o quanto eu senti sua falta... — Disse enquanto observávamos os humanos admirados com nosso eclipse.

— Eu nem demorei tanto assim lá embaixo. — Apolo trançava meus cabelos, decidi que não os cortaria dessa vez.

— Namjoon pôs Pandora para suprir sua falta enquanto estava andando em pés humanos. — Desfez a trança novamente e sacudiu de leve meu cabelo. — Ela é insuportável — resmungou suspirando fundo.

— Eu sei, ela é muito irritante, mas precisamos amá-la como todos os nossos irmãos — digo pegando sua mão e observando meu corpo reluzir ainda mais, era engraçado quando o Sol estava tão próximo de mim, eu reluzia quase ao ponto de cegar alguém.

— Eu estava muito feliz amando aquela coisa de longe. — Revirou os olhos. — Falando nisso, já se resolveu com Yoongi? — perguntou acariciando com cuidado meu braço. Apolo era, literalmente, muito maior que eu, tanto astronomicamente, quanto fisicamente.

— Ainda não... — resmungo fazendo um biquinho mínimo. Já havia séculos que eu havia voltado da Terra e eu ainda sequer havia trocado uma palavra que fosse com Yoongi, se muito, eu o via quando observava a Terra.

— Sabe que tem de perdoar ele — disse passando a mão em minha cabeça para jogar meus cabelos para trás.

— Algum um dia eu vou. — Ri fraco, provavelmente eu faria isso por não ter escolha, mas teria de fazer alguma hora.

A Terra não havia mudado muito nas últimas centenas de anos, algumas doenças diminuíram drasticamente a população mundial, os recursos naturais estavam cada vez mais valiosos e a poluição estava sendo tratada para que não houvessem mais problemas futuros. A tecnologia estava ainda mais avançada e os centros urbanos haviam tomado quase toda a terra presente, inclusive algumas áreas marinhas.

Lúcifer tomou uma forma semelhante a de Jimin durante uma vida apenas para me provocar, mas ignorei isso continuando meus afazeres, cuidar das noites humanas enquanto Apolo cuidava do dia.

Já havia muito tempo do que ocorrera quando eu era humana, lembrar de Jimin já não era mais dor, era privilégio. Eu aprendi tanto com aquele simples ser de aura e presença insignificante que chegava a ficar surpresa quando lembrava do tempo que passamos juntos. Foi tão pouco em comparação a todo o tempo que eu já vivi.

Eleanor continuava esperando Jimin no paraíso e eu continuava simplesmente o esperando, tendo em mente que provavelmente jamais viria, mas já havia aceito essa realidade, já era grata pelo tempo que pudemos nos ver.

Alguns astros de outros sistemas e até mesmo do meu vieram me perguntar sobre como era ser um humano comum e eu fui sincera, era um inferno. Tudo deles era muito complicado e a sociedade injusta, além de que as criaturas do submundo podem viver livremente entre eles e isso era muito desagradável para as entidades sensíveis à presenças como nós.

Tudo era movido por um tipo de moeda e papel, as pessoas matavam umas as outras todos os dias e era comum números altos de mortes e violência. As estatísticas pareciam absurdas para mim, mas Jimin assistia o noticiário passar todos os dias atrocidades diversas e não parecia se afetar.

No mundo deles a própria vida era algo banal, o que para seres eternos como nós, era algo estranho, talvez até inaceitável. Se nós já prezávamos nossa vida, que era eterna, como eles podiam desleixar tanto das suas temporárias?

Ainda mais com o risco de acabarem vivendo sua espiritualidade no inferno ou serem consumidos pelo regente do submundo.

Olharam-me de forma estranha quando eu comentei que Lúcifer não era um ser tão repugnante quanto parecia, dizendo que eu estava andando demais com Yoongi, ele quem defendia o lado dos caídos vez ou outra. Yoongi convive entre ambos os extremos do segundo plano, como uma criatura neutra, e assim também é sua opinião, neutra.

Já havia novamente me habituado aos céus, Yoongi já havia conversado comigo e chegamos a nos tornar amigos, depois de conviver com todos os tipos de vida, não é difícil ver o lado bom e ruim de ambos, mesmo o mundo humano sendo conturbado, possuía sua beleza e mesmo o submundo sendo obscuro e inexplorado por muitos de nós, Jungkook não me pareceu um monstro descontrolado e agressivo que descreveram. Ele era, sim, muito bravo e arrogante às vezes, mas seu toque possuía suavidade quando lhe convinha e por trás de todo seu egocentrismo, eu pude um lado de Jungkook que ninguém acreditava mais existir.

— O que acha do meu novo corpo? — perguntou da janela de seu apartamento, ciente de que eu o ouvia e, diferente dos humanos, Lúcifer me ouvia como se estivesse ditando cala sílaba ao pé de seu ouvido.

— Bonito... — sussurro dando de ombros, Lúcifer não perdia uma chance de tentar me perturbar.

— Sinto sua falta. — Apoiou os braços no parapeito da janela.

— Podemos nos falar todas as noites — digo apoiando o rosto numa nuvem temporal. Estava deitava no jardim do templo e as flores de um branco cintilante cresciam nas videiras douradas repletas de uvas, eu passei a comê-las quando descobri que comer era divertido, os outros astros acharam estranho eu consumir alimento, mas não questionaram.

— Eu posso falar contigo apenas em corpo humano e humanos precisam dormir — resmungou parecendo chateado.

— O que está fazendo? — Namjoon perguntou se sentando ao meu lado.

— Falando com Lúcifer — digo observando-o erguer levemente uma sobrancelha.

— Lá vem o intrometido... — reclamou revirando os olhos.

— Mais respeito, rapaz — murmurou fazendo Lúcifer suspirar. — Como vão as coisas no submundo? — perguntou enrolando a densificação temporal no dedo.

— O clima lá já foi mais fresco. — Forçou um sorriso.

— Sente falta daqui? — perguntou com um sorriso de lábios no rosto, Ele sabia.

— O que o Senhor acha? — disse baixo, respirando fundo.

— Sabe que pode voltar quando se arrepender — disse fazendo Lúcifer engolir em seco.

— Você era um querubim... Não era? — indaguei um pouco pensativa. Os querubins, mesmo que criaturas estranhas, parte animais e parte homem, eram as mais belas do templo. Eram mimadas pelos anjos e exibiam um poder absurdo, não era de se surpreender que Lúcifer, mesmo após ser banido da presença do Pai e ter suas asas arrancadas, ainda fosse tão forte.

— Eu já fui muitas coisas, Luna — disse chamando-me pelo apelido que recebi na Terra.

— Não pode voltar a ser um querubim? — Pendi levemente a cabeça.

— Você não entenderia meus motivos, sua fé te cega. — Riu fraco, fazendo o sorriso de Namjoon se formar largo.

— Ainda és uma criança, Lúcifer, aprenda a engolir seu orgulho e abaixar a cabeça quando falo. — Namjoon disse ríspido, apesar do sorriso divertido nos lábios.

— Dá 'pra parar com isso? — Franzi o cenho ao ver Lúcifer fazendo caretas para Deus.

— Se conhecesse Ele o tanto que eu, não o defenderia tão fortemente — murmurou irritado. — Além de que está tarde aqui e minha carne estúpida de forma horrenda precisa descansar — diz sorrindo ao me ouvir resmungar que Jimin não era horrendo.

Séculos. Fazia séculos que eu não o via.

E mesmo lembrando de seu rosto como algo vago, sabia que o corpo novo de Lúcifer não estava exatamente igual ao de Jimin. Não possuía as mesma pintinha fofas espalhadas em sua pele, nem os lábios tão carnudos e rosados quanto, além de que Jimin possuía uma comissão traseira de se invejar.

Namjoon que me perdoe, mas possuía sim.

Era noite de Lua cheia e o Sol me iluminava com mais força, fazendo-me parecer uma lâmpada acesa no jardim do templo. Apolo aproveitou que poderia estar próximo para vir conversar comigo, seu fios ruivos pareciam chamas finas e longas preso no rabo de cavalo que sempre usava.

Poucos astros cortavam os cabelos, apenas eu fazia isso no nosso sistema, mas Apolo se alegrou ao ver que eu não pretendia cortar tão cedo quando viu que as mechas pálidas já alcançavam quase os meus pés. Era um hábito estranho de Apolo trançar os cabelos dos outros para se distrair.

— Me fala sobre o seu humano — disse puxando-me feito uma boneca para próximo de si.

— Não era meu humano... Era só um amigo... — digo dobrando as pernas e as abraçando.

— Um amigo qualquer não era, ele tomou sua pureza. Devia ser bem especial — comentou rindo ao me ver corar.

— Ele era muito especial... — sussurro suspirando fundo. — Era mandão também, mas eu gostava dele. — Ri um pouco, ainda lembrava muito das broncas.

— Ele se parecia com alguém daqui? — perguntou arqueando as sobrancelhas. Apolo não era puro e isso era mais que óbvio por sua fama em Andrômeda.

— Não... Ele era único... — sussurro sorrindo um pouco abobada.

— Não vai me dizer que voc-

— Eu o amava... — digo pendendo um pouco a cabeça, rindo ao me sentir um pouco triste apesar de ter se passado tanto tempo. Apolo fitou algo atrás de mim, sentia a presença de um serafim, eles sempre nos observam de longe, eram criaturas um pouco tímidas, então apenas ignorei.

— E como era o físico desse humano? Você se atraiu pelo corpo dele? — perguntou voltando seu olhar para mim.

— Ah... Eu não lembro muito bem... — comento balançando-me um pouco, lembrar de Jimin me deixava agitada. — Os lábios dele eram tão... Macios... — digo emoldurado meu maxilar com minhas mãos. — Ele usava lentes, mas os olhos dele eram de um castanho escuro tão lindo — sussurro lembrando com ternura do dia que o convenci a usar os óculos ao invés das lentes.

— Você achava ele bonito? — perguntou sorrindo minimamente.

— Jimin era lindo, Apolo. Ele era perfeito. — Ri um pouco melancólica, mas estava feliz por ao menos me lembrar decentemente dele.

— Eu te ouvi discutir com ele algumas vezes do dia — comentou pendendo levemente a cabeça. Senti a presenta do serafim se aproximar, provavelmente era Sitael, ele sempre me pegava de surpresa e jogava para o alto antes de voar para me pegar antes de cair. Ele se divertia me fazendo gritar, era um pouco sádico.

— Jimin vivia brigando comigo por tudo! Ele era tão chato... Às vezes eu achava que ele fazia de implicância... — resmunguei manhosa, tirando os cabelos que me cobriam o rosto, estava praticamente os comendo sempre que entravam em minha boca, começava a lembrar os motivos por quais cortava tanto o cabelo.

— Achei que gostasse dele — disse rindo de minha manha.

— Eu gostava... Mas ele era muito mandão... — reclamei suspirando fundo ao ver os três pares de asas me fecharem, revirei os olhos antes de erguer o rosto e perder a fala.

Seus fios estavam no tom preto natural e sua pele alva como a neve, os olhos de um castanho penetrante pareciam ainda mais fundos enquanto sua pupila dilatava e retraía observando minhas feições. As asas longas e arrojadas se moviam devagar, parecia ainda estar se acostumando, seus lábios rosados subiram levemente nos cantos e os olhos fecharam devagar no sorriso tímido que eu tanto amava.

Ele sempre ria quando encarava demais alguém, continuava o mesmo, era o mesmo, o meu.

O sorriso satisfeito de Namjoon atrás do ser renovado tornou-se um riso quando me viu simplesmente paralisar observando o serafim à minha frente. Apolo sorria abobado diante de mais uma obra de Deus que estava debruçada sobre mim, não conseguia me mover, nem falar, o nó que se formou em minha garganta logo subiu a ardência em meu peito e as lágrimas transbordam o meu ser, mas nunca foi tão aliviante sentir minha respiração descompassar daquela forma.

Foram séculos, quase um milênio, até que eu pudesse ver aquilo que mais queria em algo além de memórias soltas e incompletas.

E quem diria que um dia essas palavras teriam coerência.

Lúcifer tinha razão.

Os planos de Deus são perfeitos.

Mas não apenas para Ele.

— Eu sou mandão, Diana? — perguntou sorrindo largo.


Notas Finais


Eu gostaria de saber se vocês querem um capítulo especial de perguntas e respostas narrado em estilo programa de auditório, onde vocês poderiam perguntar "diretamente" ao personagem e não a mim.
Se sim, deixem suas perguntas aqui ou no capítulo temporário para isso.
Senão, de boa.

Obrigada por me acompanhar até aqui.


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