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História Lunária - Do Céu ao Submundo


Escrita por: Thatavisk

Notas do Autor


Primeiro bônus.
Boa leitura.

Capítulo 17 - Do Céu ao Submundo


— Ela está brava comigo — disse observando os bombeiros apagarem as chamas de seu feito mais recente.

—  Direito dela. — Namjoon sussurrou ao ouvido do pálido que andava em passos despercebidos entre os humanos, enquanto seu manto se continha para não emaranhar nos pés de todos ao seu redor, furtivo e faminto por uma nova ceifa.

— Eu entendo... — murmurou em tom indiferente, mesmo que seu peito apertasse apenas de lembrar de como Diana repudiou seu toque, como se fosse um ser imundo, como se aquilo fosse sua culpa e, de fato, era.

Yoongi pensou que quando tomasse a alma daquele ser minúsculo e insignificante que Jimin era, teria aquela raiva cessada em seu peito. Como pudera um humano, imundo e pecador desde antes ser gerado, tomar a pureza da dama alva que o encantava todas as noites? Era um absurdo de desrespeito, antes soubesse seu lugar, que os astros são soberanos e que Diana... Deveria lhe pertencer.

Mas não pertencia.

Nem poderia, os astros são santos e Yoongi não é sequer corrompido, é um meio termo perdido, um julgamento nunca findado. Não possuía direito nem ao céu, nem ao inferno, nenhum descanso seria entregue à sua alma por ordem de seu próprio Criador e regente, o mesmo que lhe arrancou a vida e nega a morte.

Lembrava-se da primeira vez que levantou sentindo sua pele gelada, ficou desesperado, achou ser um pesadelo, antes fosse. Quanto tempo faz que Yoongi não dorme? Sentia saudades inclusive de seu maldito irmão e das noites de sono perdidas entre a culpa e desespero. Sentia falta de sonhar e de ter pesadelos, sentia falta de não estar na realidade perpétua e concreta que Deus lhe construiu.

O único momento em que se sentia vivo, calmo, era quando a luz refletida em sua alva menina iluminava a Terra, quando ele a via de longe no Salão Celeste, no templo e ela se escondia de sua presença. Tão pequena, tão delicada e tão distante. Diana era quase uma ilusão, um ideal.

— Já soube? — Lúcifer perguntou animado, animado até demais para o gosto de Yoongi.

— Como não saber? — Soprou o ar e olhou o tempo parado. Estava pensando em como executar bem aquilo, não gostava de causar dor, tentava ao máximo ser fatal de uma única vez, mas às vezes a situação não favorece.

— Acha que ela aguenta? — Riu fraco olhando Yoongi trabalhar, Lúcifer transitava entre os humanos, rondando algum "lanchinho" novo. Adorava acompanhar Yoongi em seus serviços.

— A Lua é mais determinada do que pensa. Já ouviu aquela garota questionando Deus como se essa fosse à altura d'Ele? — Yoongi comentou suspirando fundo, teria de ser isso mesmo.

— Meio que eu não visito muito o templo, sabe? — Lúcifer disse se afastando um pouco para observar aquela mulher ser atingida por facadas diretas no tórax. A força dos golpes forçavam os ossos de suas costelas ao ponto de as quebrar conforme a lâmina perfurava seu pulmão e lacerava sua carne, o sangue começou a pingar de seus lábios quando preencheu sua garganta e a essa altura ela já enxergava Yoongi. — Pegou pesado... — Fez uma careta leve. A garota se engasgou no próprio sangue enquanto seu assassino corria pelas ruas, deixando-a jogada na poça vermelha escura, quase preta do fluído ainda quente.

— Não posso controlar as pessoas, apenas posso acompanhá-las nessa hora. — Se agachou ao lado da menina que tentava implorar desesperadamente por socorro. — Não precisa sentir medo... — sussurrou acariciando os cabelos da pobre garota, mal terminava o primeiro período de seu curso, ainda era tão nova e agora seria levada.

— O que está fazendo aqui? — Hoseok perguntou olhando com desgosto Lúcifer.

— Vai querer me expulsar da Terra também, é? — questionou erguendo as mãos levemente em deboche.

— Deus ainda é piedoso de te permitir existir — disse ríspido,  pegando com cuidado a alma da jovem mulher que já começava a esfriar no chão cinzento da calçada, que agora era tingido devagar de sangue. — Lua está correndo pelas ruas da Coréia, vá ajudá-la — pediu num tom que Yoongi reconhecia não ser de Hoseok, era Namjoon.

— Sim, Senhor. — Abaixou o rosto antes de se materializar em outro continente.

— Coréia?! O quê?! A do sul? Sabe que estou vivendo lá! — Lúcifer reclamou indignado, não queria dividir seu território com outra entidade.

— Do que está reclamando? É maior o direito dela de estar aqui que o seu. — Voltou-se para o homem que suspirou irritado.

— Ótimo, ela irá culpar o Senhor quando eu estiver infernizando a vida dela. — Deu de ombros e suavizou a expressão.

— Duvido muito que vá odiá-la — comentou risonho, observando a alma se enrolar levemente nos dedos de Hoseok. Namjoon ainda ficava bobo de ver sua criação manhosa procurando outra forma de se tornar física. Aquela alma estava tentando se apossar do corpo de Hoseok e voltar a viver, não era lá um instinto muito fofo, mas Namjoon ainda achava meigo. — Permito que a ronde, mas se tentar tomá-la, haverão devidas consequências — disse permitindo que Hoseok retornasse ao seu corpo após.

— Isso é tão desagradável... — resmungou sentindo-se um pouco tonto. Poderiam se passar todos os anos existentes, que a presença de Namjoon ainda seria pesada demais até para uma parte sua.

— É bom vigiar sua garotinha. — Lúcifer avisou com o sorriso presente na fala antes de retornar ao seu corpo físico, olhando o teto de seu apartamento enquanto pensava numa forma de se aproximar da pequena astro.

Enquanto que nisso, Yoongi conversava com a Lua num cruzamento de rua onde havia a livrado de ser estuprada e morta. Parecia tão perdida que até mesmo Yoongi se sentiu mal ao vê-la confusa e desnorteada, assustada. Mas lembrou rápido que se tratava da Lua quando ofereceu a mão e ela simplesmente o deu um tapa, vociferando ríspida que Namjoon não havia o permitido tocá-la. Ah... Uma graça de mulher, ou deveria ser, pois estava com seu corpo ainda infantil.

Os cabelos cortados um pouco acima do ombro estavam extremamente bagunçados, as bochechas rosadas e o nariz vermelho de tanto correr e chorar. Yoongi não deixava de admitir, não gostava de crianças, mesmo que fosse sua amada diante de si.

Fazer acidentes tão grotescos não era característico de Yoongi, mas queria impressioná-la, tanto que conseguiu. Aquela cena jamais sairia da cabeça de Diana e outra que também não sairia da cabeça de Yoongi, seria a de Diana tão animada em conhecer um humano.

Nojo.

Uma simples palavra definia o que Yoongi sentiu ao ver aquele humano se aproximar tão facilmente de Diana.

— Ela está na casa de Jimin! — Jungkook riu alto, parecia eufórico.

— E o que tem de engraçado nisso? — resmungou o pálido, não via graça alguma em ver a Lua toda fascinada com um humano qualquer.

— Jimin é um dos meus empregados. — Sorriu largo, divertia-se atazanando a vida do loiro, ainda mais agora sabendo que ele estava com a Lua em sua casa. — Isso será interessante... — sussurrou de sorriso largo tempo o suficiente para lhe causar dor nas bochechas.

Lúcifer apenas queria pôr as mãos naquela malditazinha e mostrar à ela que o submundo manda lembranças, ao menos pretendia. Ao ver a pequena criança albina no escritório de Jimin, apenas engoliu em seco e ficou confuso ao sentir algo que há muito tempo não lhe preenchia. Jungkook sentiu conforto.

Diana era linda, sua aura transbordava pureza e sua presença acalmou inclusive a raiva que Jungkook possuía do Criador. Seus planos de esganar o pescocinho alheio derreteram junto do desejo de expulsar Diana de seu "território“, pelo contrário, a queria mais próxima.

Aos poucos a astro foi atraindo mais e mais as entidades e espiritualidades ao seu redor. A cidade ficou densa em tanta presença, tanto divina, quanto obscura e as mortes subiram rapidamente em números por conta da influência do segundo plano contrastando no primeiro. A mídia achava ser o momento mais agitado das estatísticas desde o último século. Os demônios, anjos, até espírito causavam uma degradação absurda do espaço tempo que se contorcia tentando suportar todo aquele peso sobre si.

Até que as coisas simplesmente se acalmaram.

No dia em que o sangue de Jimin deslizou suave pelo vidro filmado do interior de seu carro, quando o impacto lateral recebido pelo veículo fez seu corpo ser arrancado para o lado onde não havia muito espaço, seu crânio não suportou a força da colisão, nem seu cérebro, o cinto de segurança não pareceu tão útil naquele momento.

E mesmo a morte sendo o momento mais confuso e às vezes assustador para um humano, Jimin se demonstrou forte ao ver seu próprio corpo começar a esfriar e simplesmente erguer o queixo, pedindo à Morte, com um sorriso melancólico, uma última palavra com quem ele havia feito uma promessa que não poderia cumprir. Mesmo rangendo os dentes diante da audácia daquele ser, Yoongi o atendeu.

A presença de Diana se contorceu em angústia, como chama em ventania, até quase se apagar. 

Yoongi nunca havia se sentido daquela forma, tão pesado, culpado, ao ver a menina chorar por um humano. Não apenas naquele momento, por dias, semanas, arrastando-se aos meses, um mero e patético humano, mas que parecia bilhares de vezes mais importante para ela que Yoongi um dia jamais seria.

E isso doeu tanto, o suficiente para Yoongi sentir seu coração parar, mesmo que já não estivesse batendo fizesse milhares de anos.

Lúcifer se compadeceu da jovem furiosa, revoltava, magoada, assim como ele era. Via nela o que via em seu reflexo, alguém afetado pelo egoísmo do Criador, alguém que podia ser mais que as rédeas celestes permitiam. Diana tinha tanto potencial, uma força tão grande, tê-la consigo seria algo tão essencial, perfeito, que Hoseok precisou rondar Diana para mais que mantê-la inteira, precisaria vigiar a criatura caída que estava fascinada com a menina, mas que não sabia o tanto que poderia causar destruição ao tomar Diana para si.

Para Jungkook era simplesmente uma tortura vê-la chorar por alguém tão energúmeno quanto Jimin, se soubesse com o que loiro ocupava suas noites livres antes de sua chegada, teria nojo de ter beijado aquela boca imunda e permitido que lhe tocasse. Mas Jungkook não poderia fazer isso, apenas causaria mais dor e talvez a afastasse de si.

E Jungkook jamais iria a querer distante.

Porém estava sendo tão difícil se controlar vendo seu peito subir levemente enquanto respirava, aquele pescoço alvo que suplicava por suas marcas, aquele suspirar pesado e melancólico que Jungkook queria ouvir se transformar num gemido arrastado e sôfrego. Apenas uma vez, apenas uma, queria sentir Diana por inteira, fazê-la sua, por uma eternidade infindável. Seria seu paraíso particular, danem-se os céus, a glória e seu ódio por entidades puras e privilegiadas, apenas queria fundir sua carne à dela e tornar-se um.

Mas não aconteceu, a fé de Diana era petrificada como as rochas de seu corpo astronômico. Mesmo magoada, decepcionada e brava, não negava o nome de Deus e Lúcifer viu a diferença gigantesca que havia entre si e Diana, lealdade.

Jungkook precisou repreender-se mentalmente todas as vezes que pensou em tomá-la à força para si, todas as vezes em que pensou em rasgar suas vestes e fazê-la gritar enquanto a devorada de corpo e alma, cada pedacinho daquele ser maravilhoso que Diana compunha. Desejava marcá-la com mais que chupões e mordidas, mas controlava isso com saídas noturnas para deitar-se com qualquer uma que encontrasse disposta a isso e descontava sua fúria nos demônios ou qualquer coisa que ousasse o atiçar.

Mas nunca, jamais em Diana, jamais na pura.

Mesmo depois de tudo o que Jimin havia feito, a aura de Diana era limpa, perfeita, agradável e estupidamente bela, mesmo fraca e desanimada, continuava sendo um imã de demônios e potestades, como uma fogueira aquecia os abandonados ao frio. Diana supria a necessidade de luz dos obscuros e tê-los ali, tão próximos de si, estava acabando com ela sem que percebesse, sem que ninguém percebesse.

E foi numa noite que o tecido espaço tempo suspirou aliviado ao Diana retornar. Yoongi não sabia se ficava alegre por ver seu sofrimento em Terra finalmente acabar, ou se entristecia-se sabendo que não a veria mais com tanta frequência. Até quando não se mostrava para ela, estava a observando, afastando os demônios de tão próximos da pequena e alva, fazendo-lhe companhia mesmo nos momentos em que ela mais o detestou.

Jungkook viu a garota se prostrar aos pés do Pai enquanto pedia perdão por algo que não lhe era culpa, suspirando fundo antes de tentar esquecer o que ainda ansiava mesmo sabendo que jamais poderia ter. Consolava-se conversando com Diana durante as noites, às vezes sentia raiva de Apolo por passar tanto tempo nos céus até finalmente anoitecer. E mais um pecado foi autuado pelo próprio pai do pecar, vício, Lúcifer se via viciado na risada de Diana, em seu tom de voz suave, em sua luz serena, em sua pequena Luna, aquela que jamais poderia ser sua de fato.

— Acha justo brincar assim comigo? — Lúcifer perguntou com um sorriso fraco no rosto, enquanto voltava em passos lentos do velório de quem possuía vida eterna.

— Sendo sincero, acho. — Namjoon respondeu nostálgico ao ouvir Lúcifer falar consigo por iniciativa própria.

— Lembrarei disso no juízo final. — Ergueu o rosto e olhou as nuvens nubladas começarem a distribuir mais uma nevasca pela cidade já polvilhada em gelo fino e delicado, sorrindo abobado ao lembrar de Diana comendo neve por curiosidade, reclamando que tinha gosto de nada após.

Passaram-se séculos, beirando um milênio, quando Lúcifer sentiu uma pontada no peito, funda em seu âmago. Alguém ocupava um lugar antes seu.

O inferno ferveu naquele segundo, como pôde? Substituí-lo com algo tão baixo, algo tão estúpido, mas a raiva se abrandou em mágoa ao ver Diana derramar lágrimas confusas entre alegria e tristeza ao ver o rosto do maldito agora vestido num manto puro e presenteado com os dois pares de asas que lhe haviam sido cortados por simplesmente querer provar seu valor, mais um par que Deus havia feito especialmente para aquele ser insignificante.

Um serafim, Jimin havia sido glorificado a um serafim, que agora estava tão próximo de Deus quanto um dia o querubim nomeado Lúcifer já esteve. Jungkook queria estar bravo, sentir ódio, mas não conseguiu sentir algo além de tristeza. Ela estava alegre, parecia calma, finalmente em paz e ele nunca faria parte de sua felicidade.

Hoseok sorria orgulhoso ao ver o trabalho de séculos pronto, não havia sido fácil fazer Jimin digno, um diamante bruto como aquele precisava de ser lapidado com maestria, caso contrário, a alma de Jimin possuía potencial para se tornar qualquer criatura, poderia ser um demônio do pior tipo se sua alma fosse entregue a Jungkook e Diana se veria em angústia eterna ao se obrigar a repudiar seu amado. Deus é piedoso, como ninguém jamais reconheceria.

— Ela te perdoou? — perguntou arrancando Yoongi de suas memórias, o pálido estava observando Jimin e Diana havia alguns minutos e mal notara que estava novamente fazendo algo que a albina detestava, estava a encarando.

— Apenas por obrigação — resmungou um pouco cabisbaixo, fazendo uma careta ao Namjoon bagunçar seus fios curtos e negros. — Eu não queria ter levado Jimin, mesmo que ela não vá mais me culpar por isso, não será a mesma comigo mais — disse chateado, observando o sorriso largo de Diana enquanto Jimin levantava emburrado do chão temporal após outra queda. Ainda não sabia voar muito bem.

— Achei que gostasse de matar, Caim. — Se afastou aos risos ao ver Yoongi se afetar, ficando surpreso ao ser chamado diretamente pelo nome após milênios.


Notas Finais


Obrigada por ler até aqui.


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