História Luneardi: a profecia - Passe para outro mundo

Meu nome é Watanase Juno, tenho 17 anos e sou uma garota do terceiro colegial. Sonho em ser uma grande escritora ou até mesmo uma cartunista, tenho meus dons com o lápis. Porém, atualmente apenas escrevo algumas histórias de fantasia em sites na internet. Estudo de manhã em uma escola particular que fica perto do apartamento em que eu moro e trabalho a noite em um restaurante como garçonete. Recebo menos que um salário-mínimo, porém tenho direito a levar arroz de graça para casa, o que é algo ótimo para alguém que não sabe cozinhar absolutamente nada. Enfim, tenho uma vida normal de uma adolescente normal que resolveu morar sozinha na gigantesca cidade de Tokyo. Não tenho muitos amigos. Na verdade, acho que só tenho um amigo. O nome dele é Hashi. Sim, como os palitinhos de comer sushi. Até hoje não entendo o que deu na cabeça dos pais dele para por um nome desses, mas parece que ele não se incomoda, muito pelo contrário. Está sempre sorrindo e fazendo piadas sobre si mesmo, e acredito que esse seja um dos fatores que contribui para nos darmos tão bem. Hashi é o único que me entende e sabe dos meus segredos mais profundos, é o único em que confio cegamente.
Bom, hoje é dia 17 de maio de 2017 e é meu aniversário. Estamos em uma quarta-feira e eu sinceramente gostaria de estar morta. Aqui no Japão não existe essa de faltar por que é aniversário, infelizmente. Mas tudo bem. Ontem comecei a escrever uma nova historia online e tive um ótimo retorno dos meus leitores, o que normalmente me deixa muito feliz. Acordei pronta e disposta a dar o meu melhor na escola e no trabalho. Sinto que poderia correr o dia todo sem cansar.

Bom, acabei de sair da escola e sinceramente? Estou exausta! A única coisa que quero fazer é chegar em casa e dormir a tarde inteira. Mas eu não posso. Tenho que estar no restaurante às quatro da tarde e preciso estar acordada.

Indo para casa, me sinto em um anime de verdade. Meus pais são japoneses, porém até meus 13 anos morei na Austrália e sempre sonhei com o Japão. Amo animes e sempre quis fazer parte de um. Pode parecer um pouco infantil, mas eu realmente gostaria de fazer parte de um deles. Daqueles em que as garotas são lindas e perfeitas, e que todos os caras estão sempre aos pés delas. Bom, eu com certeza seria a garota chata e irritante que sempre bate neles, mas não custa sonhar.
Tento parecer uma garota frágil e inteligente por fora. Me visto como uma colegial fofa dos animes e finjo ter uma vida perfeita. Normalmente as pessoas realmente acreditam, mas no fundo elas me vêem como uma garota superficial. O único que sabe como realmente sou é o Hashi. Nos conhecemos por acaso a alguns meses atrás na escola e sempre voltamos juntos para casa. Inclusive, ele está se aproximando.

- Ei, Juno!

- Olá Hashi. Como vai?

- Estou ótimo, e você?

- Cansada, mas estou bem. Desculpe não te esperar hoje, realmente estou com pressa. Quero descansar o máximo que eu puder, não posso trabalhar morrendo de sono todos os dias.

- Ééé.. Eu ia te chamar para sair hoje a noite, pensei que pudesse escapar ao menos hoje que é seu aniversário. Mas parece que estão pegando no seu pé lá no restaurante.

- Tsc. Nem me fala. O senhor Dori não está me dando sossego esses últimos dias. Realmente não consigo sair. Bom, estamos chegando, preciso ir. Até mais Hashi, se divirta hoje a noite. - Acenei, tomando meu rumo.-

- Até mais Juno! Bom trabalho e cuidado a noite.

A escola é muito perto de onde eu moro, o que facilita que todas as pessoas vejam que não sou o que aparento. Afinal, morar em um apartamento velho não é onde uma garota perfeita de animes moraria.
Entrei em casa e tirei meus sapatos. Deitei em minha cama gelada, e nossa, como eu amo minha cama. Ela não chega nem perto da que eu usava quando morava com meus pais, mas mesmo assim é a coisa mais confortável que eu tenho no meu apartamento.
Meus pais não são pobres, muito pelo contrário. Vivíamos muito bem. Porém se separaram e como era de se esperar, tudo mudou. Nunca me dei bem com eles, principalmente pelo descontentamento de ambos por conta do meu sonho de ser escritora. Então, quando eles se separaram, decidi morar sozinha e cuidar da minha propria vida. É claro que eles me enviam dinheiro, mas não o suficiente para eu viver no mesmo conforto que vivia antes. Eu dou meus pulos.
Já são 3 horas da tarde e eu peguei no sono. Estou atrasada para o trabalho e ainda nem tomei um banho, muito menos comi alguma coisa. Fiz tudo correndo e saí de casa já com meu uniforme quase pronto. No restaurante não é tão rígido com uniforme. A única obrigação que as garçonetes precisam seguir, é usar saias na cor preta e principalmente, precisam ser curtas. Sim, meu chefe é um pervertido e consequentemente, os clientes também. O que me deixa totalmente desconfortável naquele lugar. Mas foi o único trabalho que encontrei e não estava em condições de dispensar.

Depois de trabalhar das 4 até as 8 da noite, eu realmente estava acabada! Acho que a disposição de hoje de manhã era só uma ilusão. Agora eu só precisava ir para casa e dormir até amanhã, começando o ciclo todo novamente.
O restaurante também não ficava muito longe do meu apartamento, porém havia muitas curvas e avenidas para atravessar, o que fazia parecer ser muito mais longe do que é. Ainda mais que a noite os carros não param. Quer dizer, estamos falando do Japão. Nunca para.
Normalmente não ando a noite com fone de ouvidos, porém havia baixado o novo álbum do Girls Generation e estava viciadissima nas músicas, então fui para casa ouvindo. Ao atravessar uma das avenidas, já perto do meu apartamento, eu não devo ter olhado muito bem para ambos os lados da rua, o que acabou resultando no que resultou. Quando percebi, o carro já estava praticamente em cima de mim e eu não podia fazer nada. Nem ir pra frente, nem pra trás, afinal, antes que eu pudesse pensar em algo, alguém pulou em cima de mim, me empurrando. Eu não entendi nada do que aconteceu, foi muito rápido e eu estava tonta, mas sei que quando abri os olhos, tinha um garoto lindo em cima de mim e aparentemente, suas mãos estavam onde não deveriam estar.

- O-oque significa isso? - perguntei assustada, olhando o garoto nos olhos, e que olhos!-

- E-e.. Droga. - resmungou, tirando as mãos de mim e se levantando, batendo em suas poucas roupas, como se estivesse se limpando.-

- O-oque está acontecendo aqui?! Onde eu estou?! - observei ao redor, era um lugar lindo. Acredito que estavamos em algum lugar alto. Estava sentada na grama, e era muito verde e macia. Estava quente.

- Bom, eu provavelmente fiz a coisa mais estúpida que alguém poderia ter feito. - disse o garoto, coçando a cabeça. Tentava disfarçar a cara de preocupado com um sorriso fajuto. Ele era lindo.-

- Isso não respondeu nenhuma das minhas perguntas! Bem... você deveria me ajudar a levantar!! - falei desviando o olhar dele.-

- Tsc.. tudo bem. - estendeu sua mão para mim, me puxando bruscamente para cima.- Tudo certo agora? Está mais calma?

- Calma? Como eu poderia estar calma? Onde eu estou? Quem é você? O que aconteceu?

- São muitas perguntas. Quanto você pretende me pagar por todas essas respostas? - sorriu maliciosamente.-

- T-te pagar? Do que você está falando? Eu não te devo nada! A única pessoa que deve alguma coisa aqui é você! Preciso de uma explicação!!

- Você precisa se acalmar, foi apenas uma brincadeira. Bom, não podemos conversar aqui. Vamos para um lugar mais calmo e no caminho eu te explico. - disse o garoto, se virando e descendo do lugar alto como se estivesse surfando pela grama.-

- Eu não consigo descer daqui! Estou de saia! - gritei envergonhada.-

- E qual o problema? Pode descer. Prometo não olhar. - sorriu novamente.-

Depois de ter certeza que o garoto havia se virado, peguei uma grande folha que estava no chão, sentei e desci. Porém não aconteceu como eu previ e acabei não conseguindo parar na hora certa. Resultado: cai em cima dele novamente. Dessa vez, quem estava com a mão onde não devia era eu, e nossa.. quer dizer.. prefiro não comentar.

- AAAAAA!!! - gritei ao perceber que estava com a mão lá.-

- Não se preocupe. Agora estamos quites. - sorriu.-

- Q-quites? Cala a boca! Esqueça isso. Vamos logo.