História Lunor, the fire witcher - O bruxo de fogo

 

  Vellen, 14:00, ensolarado com poucas nuvens no céu.

  No meio de uma estrada pouco movimentada, há um garoto brigando com um cachorro de rua.

  -CAI DENTRO SEU VIRA-LATA IDIOTA!

   E então ele golpeia o cachorro várias vezes com um pedaço de madeira até conseguir afugentá-lo.

  -Maldito, tentando roubar meu almoço - diz o menino com uma cara de cansado.

  Enquanto o menino degustava aquela tão disputada carne crua, sorrateiramente, alguém chega por trás dele, até que segura no ombro direito dele e grita:

  -TE ACHEI PIVETE! - diz um jovem com uma cara de bravo. 

  O garoto se assusta, rapidamente se afasta dele, pega a madeira, fica em guarda e pergunta tremendo:

   -Q-Q-Quem é você?

   -Eu fui contratado pelos seus pais pra te levar de volta pra casa.

   -Hã? Você veio para me levar de volta? Pode esquecer, pois eu não vou voltar ainda.

  O garoto não queria voltar, além do mais, ele nem sabia que tipo de pessoa era esse jovem, já que,  quando você olha para suas vestes, você vê que ele tem um certo estilo, mas não parece protegê- lo dos ataques dos monstros; e quando você olha para seus equipamentos,você vê um guerreiro com duas espadas e uma besta, mas ele não tinha o porte de guerreiro que saberia manejar essas armas com maestria; e quando olha o rosto, tudo que se vê é um adolescente desleixado, o rosto dele passava a impressão de que ele parecia ser bem relaxado com as coisas que fazia, e o seu cabelo, bom, ele ficava na altura do ombro, mas era todo bagunçado e arrepiado, parecia que tinha acabado de acordar; resumindo: ele não parecia em nada com um guerreiro.

  -Você sabe lutar? - pergunta o menino com cara de desconfiado.

  -Acha que eu ando com essas espadas pra quê? - responde o jovem com uma cara de esnobe.

  -É que você não parece ser nada forte.

  -Pois saiba que eu sou muito mais forte que você! - diz o jovem, que parecia mais uma criança falando.

  O garoto se irrita e diz:

  -Fique sabendo que eu vou ser mais forte que todo mundo,e vou ser o melhor caçador de bruxas da história!

  Quando ouviu isso, o jovem caiu na gargalhada, e disse:

  -Você? Um caçador de bruxas? BWAHAHAHAHAHA! Impossível! 

  -Não tem graça! Eu sou forte, uma vez já matei um lobo!

  -Ui, me desculpa senhor caçador de lobos, mas eu não estou nem aí. Meu serviço é te levar de volta pra casa, seus pais estão preocupados.

  -Não posso voltar agora! Eu saí em uma viagem de treinamento.

  -Aff! Você ainda é muito novo pra sair de casa sem seus pais, se quiser treinar, treine em casa.

  -Já cansei de bater naquele espantalho, quero um desafio!

  Quando ouviu isso. o jovem deu um sorriso cínico e disse:

  -Quer um desafio? Vamos voltar para sua casa então, porém, vamos pelo pântano.

  -P-P-Pelo pântano?! - disse o garoto amedrontado.

  -Que é? Tá com medinho? Se quiser podemos ir pela estrada então. - disse o jovem com um sorriso de orelha a orelha.

  -E-E-E-Eu? C-C-C-Com medo? Mas é c-c-c-claro que não! - disse o garoto tremendo.

  -Então vamos! - exclamou o jovem enquanto andava em direção ao pântano.

  O pântano é um lugar muito perigoso, pois vários monstros vivem por lá, mesmo assim o misterioso jovem levou uma criança pra dentro desse covil de aberrações. Mesmo com todos esses perigos rondando eles, parece que tem outra coisa incomodando o garoto.

  -PORQUE NÃO PODEMOS IR PELA TRILHA? Veja, meus pés ficam presos no meio dessa lama toda, quase não consigo andar!

  -Você é um pirralho mesmo, já viu a sua perna? Parece que um cachorro te mordeu.

  -E daí? Não é a primeira vez que isso acontece.

  -Acontece que só de olhar consigo ver, aquele cachorro tinha raiva, uma doença contagiosa e que pode te matar.

  -QUÊÊÊÊÊÊ?! EU VOU MORRER?!

  -Não estamos indo pela trilha para evitar isso, tem uma velha amiga minha que mora aqui no pântano, ela é meio biruta, já que gosta de morar pra cá, mas é uma herbalista de primeira, com certeza lá vai ter uma erva capaz de curar raiva.

  Enquanto andavam, um monstro humanóide azul surgiu de dentro da lama.

  -Um afogador. - disse o jovem nada surpreso.

  O afogador avançou na direção do garoto, que não conseguiu sair do lugar por causa da lama.

  -Merda! - pensou o garoto.

  E então, no último segundo, o jovem cortou o afogador no meio, salvando a vida do menino.

  -Acho que é melhor te levar nas costas. - disse o jovem, enquanto tirava o menino da lama.

  Finalmente eles chegaram na casa da herbalista, uma cabana solitária no meio de uma gigantesca poça de lama. E então, o jovem bate na porta e diz:

  -Karen, está em casa?

  A porta se abre, e quem atendeu os dois foi uma senhora que parecia ser idosa (cabelos brancos e rosto cheio de rugas), mas enérgica demais pra uma velha qualquer.

  -Senhor Luzinho! O que te traz aqui?

  -Já disse pra não me chamar de Luzinho!

  -O apelido pegou, fazer o quê, não é? Hahaha.

  -Eu vim por causa desse menino, um cachorro com raiva mordeu a perna dele.

  -Oh, meu Deus! Entrem, vou fazer um curativo!

  Enquanto, o jovem foi pegar a erva, a velha Karen estava fazendo um curativo pra perna do menino. O garoto estava observando a casa, que era muito simples, mas uma coisa chamou a atenção dele, era uma foto muito antiga, nela estavam alguém muito parecido com o jovem guerreiro e uma criança, os dois fazendo sinal de V com as mãos e sorrindo em frente a uma vila.

  -Aquele moço da foto ... quem é? - perguntou o garoto.

  -É o senhor Luzinho, não é óbvio? Só o cabelo que cresceu, oras.

  -E aquela garota?

  -Sou eu.

  O menino caiu pra trás, por causa do susto.

  -VOCÊ?! - perguntou o menino assustado.

  -Qual o problema? Eu era criança antes de envelhecer. - disse a Karen meio indignada.

  -Quantos anos você tem? - pergunta o garoto tentando entender a história.

  -Isso é coisa que se pergunte a uma dama?

  Nessa hora chegou o jovem.

  -Trouxe a erva. - disse o jovem, que não tinha ideia do que estava acontecendo.

  Durante o tratamento que durou 1 hora, o garoto não disse mais nada. Quando eles foram embora da casa da Karen, o menino estava cheio de dúvidas, então no meio da caminhada ele perguntou:

  -Quantos anos você tem?

  -Hã? Por que isso de repente? - disse o jovem, um pouco apreensivo.

  -Quero saber. - disse o menino.

  -Bom... quantos anos você acha que eu tenho?

  -Pela cara ... diria que tem 15 anos. - disse o menino convicto.

  -Quase! Errou por um dígito!

  -Ah! Droga! ... Espera! Por que ainda estamos fora da trilha? Já fomos na herbalista, não tem motivos pra ficar pisando na lama! - disse o menino que estava um pouco assustado.

  -Lembra o porquê de termos vindo pelo pântano? Disse que te daria um desafio. Lembra daquele afogador?

  -Fala daquele monstro azul?

  -Sim, acha que pode derrotá-lo?

  -Não - disse o menino com uma expressão triste.

  -Afogadores vivem em lugares onde tem água, é bastante comum pescadores serem atacados e mortos por eles. Não é difícil dar de cara com um desses por aí, se você se encontrasse com eles teria sido morto facilmente.

  O menino não podia discordar, agora ele sabe o quanto foi imprudente, ele não tinha chances de sobreviver sozinho.

  -Aqui nesse pântano tem bastante água e por causa disso ...

  O menino estava ouvindo vários passos de todas as direções, e quando ele percebeu, os dois já estavam completamente cercados.

  -... tem muitos afogadores!!! - disse o jovem com um sorriso de matador.

  O menino estava paralisado, não conseguia se mexer, não só por causa da lama, mas também pelo terror de morrer.

  -Vamos cancelar o desafio, parece que você já entendeu que não pode mais ir embora sozinho, como recompensa... - parou de falar enquanto desembainhava a espada - ...vou te mostrar o nível que você tem que chegar pra poder sobreviver sozinho.

  -Espera! - disse o garoto - É impossível vencer, você é só um enquanto eles são 50 ou mais!!!

  -Relaxa! - disse o jovem - Você quer ser o melhor caçador de bruxas do mundo, certo? Nesse caso você deveria saber também, que os bruxos tem poderes especiais.

  Os afogadores, avançaram pra cima do jovem guerreiro.

  -Entre esses poderes tem os sinais, uma espécie de magia - disse o jovem sem se importar com os monstros.

  -FUJA!!! - gritou o menino.

  -Vamos começar com ... - dito isso o jovem esticou os braços para os lados e apontou a palma das mãos pra mesma direção. - Aard! - e das palmas das mãos saiu uma explosão telecinética que repeliu todos os afogadores.

  O garoto estava abobalhado.

  -Esse foi o Aard, resumindo, é uma explosão telecinética, ou seja, não mata, só atordoa por um breve momento.

  Os afogadores começaram a se levantar aos poucos.

  -Agora vai ser Axii! - o jovem moveu o braço, fazendo com os dedos, uma linha entre ele e um afogador, nisso a cabeça do afogador brilhou por um breve instante. - Mate todos eles! - o jovem disse, e foi o que o afogador começou a fazer, atacar e matar seus ex-companheiros.

  O menino estava chocado.

  -Esse foi o Axii, eu posso controlar a mente de alguns monstros e até de pessoas, porém, no meu nível, só posso controlar um por vez.

  Quando eles mataram o traidor, os afogadores avançaram com tudo pra cima do guerreiro.

  -Yrden! - cinco pequenas colunas de luzes roxas apareceram  ao redor do guerreiro, formando um pentágono, todos os afogadores dentro do pentágono ficaram paralisados e, em um instante, foram fatiados pelo guerreiro.

  O garoto estava impressionado.

  -Este foi Yrden, funciona como uma armadilha mágica, de acordo com seu nível de magia, a área e o tempo de duração aumentam, tem alguns monstros que não ficam presos nesse tipo de Yrden, nesse caso, é melhor fazer o Yrden manual, é só fazer o símbolo do sinal Yrden cinco vezes no chão, logicamente, os cinco tem que formar um pentágono, e tudo dentro dele ficará paralisado, o Yrden fica bem mais poderoso assim, podendo aprisionar qualquer criatura normal, mas fazer os desenhos durante a luta é difícil, então é melhor usar somente em ciladas.

  Os afogadores nem se atreveram a interromper a explicação enrolada do guerreiro, sabendo que não tinham chances com ele, eles partiram pra cima do garoto. Porém, o guerreiro foi muito mais rápido que eles, parou bem na frente do garoto, posicionou a palma da mão pra frente e disse:

  -Qwen! - uma barreira protegeu os dois dos ataques.

  O garoto estava sem palavras.

  -O Qwen serve como escudo protetor, posso fazê-lo assim como um escudo, ou posso revestir meu corpo como se fosse uma armadura invisível. Quanto maior o Qwen mais fraco ele será, tem como fazer ele ser grande e resistente, mas isso demanda mais energia.

  Os afogadores estavam tremendo de medo.

  -Sobraram ... 17, ótimo! Preste bem atenção, todos os bruxos escolhem algo pra se especializar, pode ser luta corpo-a-corpo, espadas, ou alguns dos sinais. No meu caso sou especialista em combates corpo-a-corpo, técnicas de espadas e Igni, o sinal das chamas.

  O escudo se desfez mas os afogadores nem tentaram fugir, eles já haviam aceitado a morte. Novamente, o guerreiro estende a palma da mão para frente, e diz:

  -Igni! - uma enorme rajada de chamas saiu da mão dele e queimou tudo em sua frente, os afogadores, as árvores e até um pedaço da montanha.

  O menino sorriu.

  -O Igni funciona como um lança-chamas, queimando e destruindo tudo pela frente.

  O garoto parecia ter descoberto a força do guerreiro contratado pelos seus pais, e não conseguia esconder a feição de admiração.

  -Esses foram os cinco sinais básicos, praticamente todos os bruxos do mundo sabem usar esses, tem alguns outros sinais que eu ainda não aprendi a usar, mas ainda tenho muito chão pra andar, já que tem muitos bruxos mais fortes do que eu. - disse o jovem, encerrando suas explicações.

  -Você é um bruxo? - perguntou o garoto.

  -Sim. - respondeu o bruxo.

  -Você usa fogo pra lutar?

  -Sim.

  -Seu apelido é Luzinho.

  -NÃO É NÃO, E PORQUE JUSTO ESSE ÚLTIMO NÃO FOI UMA PERGUNTA?!

  -Você por acaso não seria o Lunor, o bruxo de fogo?

  -Eu mesmo. - disse Lunor com uma cara de convencido.

  -Agora aquela foto faz sentido, bruxos vivem muito mais do que os humanos.

  -Sim, e a propósito, tenho 215 anos.

  -215?! Isso que você quis dizer com um dígito?!

  O garoto estava pasmo, ele nunca imaginou que esse jovem que aparentava ter 15 anos, fosse um bruxo extremamente poderoso e famoso.

  -Essa não! - disse Lunor - temos que voltar pra sua casa antes de anoitecer, temos que nos apressar!

  Eles atravessaram o pântano correndo, e chegaram na casa do garoto.

  -Aqui está, são e salvo. - disse Lunor.

  -Muito obrigada por trazer Kenta de volta. - disse a mãe do garoto.

  -Oh, é verdade, eu nem sabia seu nome! - disse Lunor com cara de idiota.

  -Aqui está, não é muita coisa, mas é tudo que temos. - disse a mãe de Kenta, entregando um saquinho para o bruxo.

  -Muito obrigado, mas tem certeza de que toda essa quantia é necessária? Vocês parecem estar passando fome. - disse Lunor um pouco preocupado.

  -Claro que é necessário! - disse a mãe de Kenta. - Você trouxe meu filho de volta, e eu não tenho dinheiro suficiente para demonstrar minha gratidão.

  -Bom, se você diz, aceito com prazer. Se cuida moleque. - diz Lunor enquanto sai da casa.

  Quando Lunor estava quase saindo da vila, Kenta gritou seu nome lá de longe.

  -O que foi, moleque? Crianças tem que dormir. - disse Lunor.

  -EU VOU SER O MELHOR CAÇADOR DE BRUXAS DO MUNDO! - disse Kenta com uma expressão séria.

  Lunor deu as costas pra ele e continuou a caminhar em direção à estrada.

  -PARA ISSO... - continuou Kenta, já com uma voz trêmula - ... VOU TER QUE MATAR MONSTROS, E ATÉ MESMO BRUXOS!

  Lunor sequer parecia estar ouvindo.

  -MESMO ASSIM... - disse Kenta, chorando desesperadamente - ... NÓS PODEMOS SER  AMIGOS?

  Lunor parou, e permaneceu parado por uns segundos enquanto Kenta chorava.

  -HÁ! Um caçador de bruxas?! Você?! Nunca ouvi falar de um caçador de bruxas que luta com um pedaço de madeira e chora em despedidas.

  Enquanto Kenta tentava enxugar suas lágrimas, Lunor jogou algo na sua direção, era o dinheiro que sua mãe tinha dado ao Lunor como recompensa.

  -Ao menos compre uma espada de verdade, com o que sobrar, compre algo pra comer, saco vazio não para em pé. - disse Lunor enquanto olhava para Kenta.

  Keita viu que no saquinho, tinha bem mais do que sua mãe tinha colocado lá, foi como se Lunor não pretendesse aceitar a recompensa, e usou Kenta como desculpa para ajudar os que necessitam.

  -OBRIGADO! - disse Kenta, que começou a chorar ainda mais.

  -Não chora, seu idiota! Isso é um empréstimo, venha me devolver com juros quando for famoso! - disse Lunor com cara de bravo.

  Kenta acenou com a cabeça, concordando com Lunor.

  -Treine bastante pra ganhar dinheiro e pagar essa dívida... - disse Lunor enquanto retomava seu caminho- ... e quando esse dia chegar, vamos beber juntos, afinal de contas, somos amigos, não é mesmo? - disse Lunor com um sorriso calmo e alegre.

  -SIM! - gritou Kenta, com um sorriso determinado.

  Lunor que já havia se distanciado bastante da vila de Kenta, parou pra descansar embaixo de uma árvore.

  -Ainda falta muito pra chegar em Pomar Branco. O que é tão importante pro John mandar a coruja dele me chamar? Espero que não tenha acontecido nada grave.

  Dito isso, Lunor deitou sob a árvore enquanto observava as estrelas tentando não se preocupar demais.