História Luz entre Escuridão - Muito antes de conhecê-lo

☽ Capitulo O ☾

Muito Antes de Conhecê-lo

Entre um sonho bom e um pesadelo ruim

A chuva, tão comum chuva, mais gélida que o normal, atormentado os pobres desprezados que procuravam um pouco de calor no mínimo que tinham.  Encolheu as pequenas pernas para de encontro da cabeça fechando, assim, como uma concha contra o tórax de um rapaz que a abraçou deixando seu logo cabelo azul cair como cascata sobre os dela já que toda forma de aquecimento era bem vinda. Tirou do bolço desengonçado uma sacolinha que continha três pedaços de won tong[1]dando a pequena dois e ficando apenas com um, aquilo já era o jantar precioso dos dois.

Queria desabar em lágrimas, porém não queria preocupa-lo de suas ainda não amadurecidas expectativas para o futuro... Ou na verdade qual futuro? O que mais temeu era que ele nem chegasse a existir da forma que as coisas iam, abafando isso ela desceu ainda mais ao encontro de seu irmão. Um passado a qual mal se lembra, apenas soube que seu irmão mais velho sempre estava em seu lado zelando por ela e até se machucando por isso.  Largados por ai... Sem saber o que era um lar aconchegante para lhe dizer bem vinda de volta.

Sentiu uma lágrima salgada cair em seu rosto e policiou-se imediatamente achando que fosse dela, entretanto vinham dele que o  fazia pequenos soluços. Sua mão fez caminho ao rosto dele que se ergueu um pouco, o sorriso iluminado da menina mesmo em meio de tanta desgraça o acalmou fazendo seu rosto se aliviar. Afagou-a em sua cabeça bagunçando eventualmente os finos cabelos azuis assim como o seu.

“Um dia eu lhe darei uma vida descente Mizuki, em que não precisaremos mais ter que nós esconder ou ter que se alimentar do que nos faz mal para simplesmente não morrer”, encorajou tendo a resposta de um aceno com a cabeça da criancinha que provavelmente não havia entendido o que ele dizia, embora apoiasse de qualquer maneira.

Era jovem demais para não entender o que ele falava, mas madura especialmente para saber que estava numa situação delicada num planeta em que não se tinha pena ou piedade de fracos e estes mesmos assim como eles estavam por ai esperando a morte busca-los. A esperança por dias melhores ainda assim não sumiu, ela nunca sumiria... Jamais!

Assim que depois de muito tempo a chuva tempestuosa se resumiu a uma simples garoada e eles saíram do abrigo improvisado, carregando a menina em suas costas ele seguiu em frente. Lutar para ter um simples prato inútil de comida, lutar para sobreviver, era uma situação completamente miserável a quem nunca desejou machucar a ninguém. E assim se perpetuou durante anos.

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“Irmão, irmão”. Uma jovenzinha com a sua media de oitos anos corria para garoto que a recebeu em seu abraço carinhoso.

“Mizuki!”, chamou o homem de cabelo azulado e olhos verde floresta. Este pegou a pequenina e pondo sem suas costas após o breve abraço fazendo uma careta se mostrando descontente. “É perigoso ficar andando por ai só”.

“Eu sei, desculpa irmão”, falou ela fazendo cabisbaixa ouvindo a risada dele em seguida.

“Não precisa ficar assim, sabe que eu falo isso porque me preocupo muito com você”, disse mostrando um belo sorriso nos lábios.

Depois de uma longa caminhada ele a deixou sob um latão virado ao contrário no meio de um beco escuro, agachou-se para vê-la do mesmo ângulo. Ela o vê dando-lhe a afagada inconfundível que sempre bagunçava suas madeixas, de sempre um sorriso amigável ficaram estáticos de repente com um som de uma explosão próxima. Ele a segurou nos braços pelos braços para que ela não apavora-se, falando num tom sério que ela nunca havia ouvido.

“Escute Mizuki, haja o que houver jamais saia desse beco até sentir que tudo está tranquilo. Seu irmão ficará bem, portanto, fique atenta em se esconder e pense somente em si por favor”,  ele então rasgou com suas unhas uma grande marca de cruz no braço da menina, o que a fez começar a  chorar de dor. “Está marca fará você lembrar de que eu estou com você, que você tem uma família que te ama muito”.

Já separados ele saltou fora do beco, e desde lá seguindo das instruções Mizuki escondeu-se dentro do latão de lixo agarrada firmemente a uma sacola plástica. Chorava de medo a ouvir os altos gritos, ela estava apavorada a morder o lábio, e os gritos continuavam a perpetuar enquanto tremia. Aquietou-se quando ouviu novamente os paços na direção ao corredor, que vendo pela fresta do latão não pertenciam ao seu irmão, fazendo-a congelar de medo.

Outro grito veio ecoar em seus ouvidos de forma mais intensiva até que enfim parou, remotamente parou e não ouviu mais nenhum ranger. Foi o suficiente para que saísse ainda desconfiada com a cabeça para fora do latão, vendo que estava seguro ela saiu a segurar o braço ardido pela grande ferida que ainda não estava totalmente estancada pelo lenço que compensou que se pintou ao seu vermelho carmesim.

Olho para aquela devastação, a qual misteriosamente não encontrou corpo algum, só havia uma imensa mancha de sangue ao centro. Certamente sinal de um massacre que cobriu-se rapidamente, mas como tão ligeiro? Tão pouco importava a uma reles criança que se viu sozinha em tão poucos instantes, olhou novamente para a ferida que havia parado de sangrar com seus verdes marejados.

“Você prometeu não me deixar só, você prometeu irmão”, ela juntou suas mãozinhas à lama suja junto ao pequeno coelho de pano que segurava do lado esquerdo, lamentar enquanto olhava para o céu, este seria seu único companheiro até prolongados anos. 

“O esperado nos manténs fortes, firmes e em pé. Os inesperados nos torna frágeis e propõem recomeços”. (Machado de Assis).

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