História Luz ou Trevas - Coração Palpitante

Eu certamente não sei o que é esse sentimento estranho que sinto crescer na boca do meu estômago, não sei explicar esse arrepio que sobe pela minha espinha todas as vezes que estou perto dele. Esse sentimento é estranho, mas não é tão ruim. Acho que gosto de estar perto dele.

Appolo nos deixou tão rápido quanto surgiu, era estranho pensar em como seu cabelo desarrumado era tão atraente caindo por suas sobrancelhas grossas e bem desenhadas, seus olhos, um abismo de emoções que me puxa cada vez mais, sinto em meu coração umas batidas diferente, sinto como se estivesse prestes a cometer um crime de nível máximo, coração palpitante. Escutei lá no fundo do meu subconsciente uma risadinha. Virei-me em um gesto automático para Luna que estava de braços cruzados me encarando com cara de quem que sabia ler mentes.

 
- É melhor nem dizer uma só palavra! – Ameacei tentando esconder as bochechas que começavam a corar.
- Vamos, antes que seja tarde de mais. - Luna me apressa. 
Saímos do campo em direção a estufa principal onde as ervas e flores medicinais estariam plantadas, eu não entendia absolutamente nada de plantas, mas Luna estudou a vida toda em segredo da família, era nela que eu podia confiar em momentos como esse, corremos o mais rápido que nossas pernas podiam agüentar, dando a volta pelo lado de fora do castelo, a alguns metros a nossa frente estava a estufa em forma de um globo, o cheiro das flores emanava de dentro das paredes completamente de vidro, é de se perder o fôlego. Ver como a luz do sol entra pelas paredes e em como as flores absorviam cada vitamina que podem... Por mais que eu amasse a natureza, não tinha tempo para admirar a beleza dela.  Eu precisava impedir Kelly, e precisava fazer isso rápido.

  
- Então, qual é o plano? - Luna pergunta.

- Não tive tempo para pensar em um plano, precisamos impedi-la o mais rápido possível.

 
Entramos na estufa olhando em cada canto possível a procura de Kelly e Brook e nada delas, apenas a Sra. Shell, uma professora de mais ou menos cem anos, com uma aparência de uma pessoa com metade de sua idade. Sua especialidade era em plantas curativas, não se deixe enganar pelo seu cabelo esbranquiçado e sua pele levemente enrugada, suas habilidades eram as melhores de toda a Hydalon, não existe uma doença por feitiço a qual ela não tenha a cura.

A Sra. Shell estava terminando de plantar a erva sonífera quando se deu conta de que estávamos na estufa.

- Estão procurando por alguma planta especifica para o trabalho de ervas medicinal? - perguntou a Sra. Shell com a voz um tanto quanto rouca.
- Na verdade, estamos procurando nossas colegas, Kelly e Brook. Elas estavam demorando muito, por acaso elas passaram por aqui?
- Ah.. Sim, sim. Há uns cinco minutos atrás.  - A Sra. Shell respondeu inocentemente.
Agradecemos e caminhamos para fora da estufa andando normalmente, assim que saímos das vistas da Sra. Shell, corremos fazendo todo o  percurso de volta, meus pulmões queimam com a falta de ar.
- E agora, onde será que elas podem estar? - Pergunto a Luna arfando assim que chegamos às grandes portas marfim que estavam abertas. - Como vamos achá-las?
- Você tem algo que pertence a uma delas? - Luna pergunta com os olhos brilhantes.
- Não, mas dividimos  o mesmo quarto ainda... 
- Perfeito! - Luna me puxa pelo braço correndo para dentro do castelo, meus olhos se ajustam a diferença de iluminação e tomam foco aos poucos alunos perambulando a caminho das aulas que nós estamos faltando. Eu sempre fui uma aluna exemplar, tirava notas excelente e acompanhava todas as aulas, o semestre mal começou e eu provavelmente tenho mais faltas do que presença.
Seguimos em direção aos dormitórios andando apressadamente para não chamarmos muita atenção, minha cabeça começa a latejar de repente, flashes de luz surgem diante dos meus olhos, uma voz lá no fundo incita minha mente com imagens borradas que não consigo decifrar, a voz me chama como um sussurro persistente, uma dor lacerante dança por minhas têmporas, o sussurro se transforma em uma voz feminina, cansada e embevecida. "Lembre-se". 
tudo some em questões de segundos , a dor lacerante, as imagens borradas, os flashes de luz e a voz... tão familiar que me assusta pensar em qualquer coisa no momento. Sinto o sangue do meu rosto esvair-se, me deixando completamente pálida como a neve.
- Amy, responde... Por que nunca me escut... - Luna para de falar assim que olha para mim, seus olhos se arregalam de tal forma, como se tivesse visto um dos monstros de seus pesadelos mais ocultos. Ela para bruscamente colocando a mão macia em minha testa esbranquiçada. - Mas... Quando... - Pela primeira vez Luna fica sem falas.
- Está tudo bem, continue andando. - Disse dando um leve empurrão para que ela começasse a andar. Logo chegamos ao quarto 202, confesso de que tinha esperanças de achá-las aqui. Começo a vasculhas as coisas de Kelly tentando achar alguma coisa realmente importante para ela, mas Luna me detém.
- Deixa que eu faça isso. - Sua voz é terna e acolhedora, ela me guia até a minha cama e me faz sentar, em seguida se vira vasculhando as gavetas da cômoda ao lado da cama de Brook seguro o medalhão esfregando o polegar sentindo-o aquecer. Não queria pensar no que aconteceu agora a pouco, mas com Luna calada, fica difícil. Três batidas na porta me tiram do transe, Luna abri a porta revelando Appolo, os olhos dele saem de dela para mim, ele entra no quarto seguido por Jason, eu franzo o cenho, a expressão em seu rosto é como um pedido de desculpas silencioso. E eu soube. Mas mesmo assim eu pergunto: - Onde ele está? - Meus olhos queimam, não quero acreditar no meu melhor amigo preso nas garras de uma sirigaita feito ela. Appolo desvia o olhar e faz um sinal com a cabeça, Jason pega a mão de Luna, ela me dá um olhar significativo e desaparece porta a fora, me sento na cama com as pernas babas ainda esperando a resposta de Appolo, mas ela não chega, seus olhos negros fixam em mim,  me estudando, eu fico imóvel pensando em como reverteremos uma Poção Do Desejo sem a lágrima de uma sereia, ele se aproxima de mansinho e afaga minha cabeça desajeitado, quase com medo. Seu toque me causa um tremor na espina, tento ficar o mais imóvel possível, ele se ajoelha na minha frente ficando da mesma altura que eu, meu coração da uma cambalhota no peito com sua proximidade, seu cheiro de hortelã invade minhas narinas. Minha respiração se acelera com um simples toque de uma mão na minha mão. Meus olhos cravam em nossas mãos unidas.
- Vai ficar tudo bem. - Sua voz é doce e segura, reconforta meu coração, e eu acredito nas palavras que saem da boca dele. Quando finalmente olho pra ele, fico hipnotizada, presa em seus lindos olhos negros, os segundos parecem se arrastar e eu me esqueço completamente do real motivo de ele estar no meu quarto. Tento acalmar meu coração que bate descontroladamente e pensar com clareza, mas tudo que consigo pensar é em quão perto Appolo está de mim, seus hálito se mistura com o meu, eu olho instintivamente para os seus lábios com uma súbita vontade de encostá-los nos meus.